APRESENTAÇÃO. afetos. Petrópolis/RJ: DP et Alii, 2009.
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- Evelyn Aranha Madeira
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1 APRESENTAÇÃO Este livro nasce da experiência de pesquisa e extensão voltada para o exame da potência das redes de conversações e ações complexas na produção do currículo no cotidiano escolar, focando, especificamente, a relação currículo e infância. Insere-se em pesquisa mais ampla intitulada Potência das redes de conversações e ações complexas na produção do currículo praticado no cotidiano escolar e as políticas curriculares em ação: entre formas, forças e modos de constituição, 1 coordenada por mim, financiada pelo CNPq ( ), realizada com a participação de alunos de doutorado, mestrado e de graduação em Pedagogia e vinculada aos grupos de pesquisa cadastrados no diretório do CNPq: Currículos, cotidianos, culturas e redes de conhecimentos e Formação de professores e práticas pedagógicas. A intencionalidade do projeto foi realizar um trabalho preocupado em compreender os processos curriculares desenvolvidos nos cotidianos de escolas, nas redes de conhecimentos e significados que seus praticantes, professores e alunos, em suas conversações e ações, formam com os outros tantos cotidianos que os atravessam em zonas interpenetradas. A intervenção no campo ocorreu na intercessão entre procedimentos dos estudos com os cotidianos e a pesquisa cartográfica, tendo acompanhado fluxos de conversações tecidas em redes de subjetividades ao longo do ano de 2010, em encontros de compartilhamento das vivências dos alunos, professores e equipe técnico-administrativa de uma escola pública de ensino fundamental (1ª. a 8ª. série), situada na periferia. Assim, o enfoque de trabalho visou, conforme apontado por Alves (2010), 1 aos múltiplos contextos cotidianos, à formação de professores e à aprendizagem expressiva dos alunos em comunidades compartilhadas 2 em que vivenciamos as práticas discursivas 1 Projeto de pesquisa em desenvolvimento Potência das Redes de Conversações e Ações Complexas na Produção do Currículo Praticado no Cotidiano Escolar e as Políticas Curriculares em Ação: Entre Formas, Forças e Modos de Constituição. Vitória/ES: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ); PPGE/UFES, Coordenadora: Profª Drª Janete Magalhães Carvalho. 1 Trabalho apresentado por Nilda Alves no XV ENDIPE denominado Redes educativas dentrofora das escolas, exemplificadas pela formação dos professores. Publicado em SANTOS, Lucíola Licínio de Castro Paixão et al. (Org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, p Conceito desenvolvido por Janete Magalhães Carvalho no livro: O cotidiano escolar como comunidade de afetos. Petrópolis/RJ: DP et Alii, 2009.
2 político-pedagógicas, atravessado por algumas pistas que nos levaram a refletir com alunosprofessores e professoresalunos: como os professores veem e falam os alunos e os processos do aprenderensinar; Como os alunos veem e falam os professores e os processos do aprenderensinar? Como se constituem os currículos escolares fundados na dimensão da conversação para a recriação de saberes e fazeres da escola como uma territorialidade nômade? Por onde deslizam as redes de conversações e ações no cotidiano escolar? Como dar visibilidade às forças e fluxos de afetos e afecções na produção dos bons encontros entre infância e currículo? Tendo em vista que o currículo e a aprendizagem mudam à medida que nos envolvemos com ele, refletimos sobre ele, consideramos sua complexidade e agimos em direção à sua realização, buscamos, pelos saberes, fazeres, linguagens, afetos e afecções, a realização inventiva de um currículo não burocratizado e normalizado. Desse modo, constituíram-se como campo problemático de escrita deste livro os possíveis de produção no cotidiano escolar do estabelecimento de outras relações entre aprendizagem, currículo e infância em suas consequências nas teoriaspráticas de educação escolar. Enfim, o projeto se desenvolveu em encontros quinzenais com os professores e alunos da EMEF Tancredo de Almeida Neves (EMEF TAN), durante todo o período letivo de 2010, totalizando 200 horas, por meio de conversações referentes a questões curriculares, buscando, também, estabelecer consonância com as realidades vividas pela comunidade escolar. Assim, as conversas temáticas foram desenvolvidas com os professores e os alunos de 1ª. a 8ª. séries com a utilização de diferentes linguagens, como o cinema, a contação de histórias, a música, o desenho e a cultura corporal do movimento. Os resultados mais tangíveis foram relativos ao envolvimento de toda a equipe da escola e dos alunos nas atividades desenvolvidas. Os estudos, problematizações e novas alternativas pontuadas como experimentações desembocaram na produção de textos que foram socializados e debatidos com a escola. Os textos produzidos e as temáticas correspondentes à relação currículos e infâncias emergiram do processo de conversações, problematizações e levantamento de alternativas teoricopráticas. São eles:
3 CARVALHO, Janete Magalhães. Potência do olhar e da voz não dogmáticos dos professores na produção dos territórios curriculares no cotidiano escolar do ensino fundamental HOLZMEISTER, Ana Paula; LOPES, Sammy William. Currículo como corpo afetivo: aprendizagem e diferença em uma educação para a potência DELBONI, Tânia Mara Frizzera Guerra Zanotti. Movimentos de corpos de alunos que vibram na criação do conhecimento como o mais potente dos afetos SILVA, Sandra Kretli da. Fragmentos de vida: segredos e astúcias de alunos nos usos de produtos culturais compõem o mosaico da escola PEREIRA, Dulcimar. Entre conversas, bonecos e currículo GOMES, Marco Antonio Oliva. Sobre cores, seres, tintas e vida nos muros da escola: o grafite como potência para uma estética da existência RODRIGUES, Larissa Ferreira; PRATES, Maria Riziane Costa. Colorindo o currículo: outros possíveis pela experiência MACHADO, Sandra Maria. O povo criança no universo estranho da escola FARIA, Ana Paula Ribeiro; LOURENÇO, Suzany Goulart. Por uma política do sensível na experiência do currículo: encontros e desencontros Tais textos, que constituem este livro, foram agrupados em dois capítulos, envolvendo duas dimensões entrelaçadas entre si, o olhar e a voz dos professores e o olhar e a voz das crianças no encontro entre os dois termos que são chave nesta composição: infância e currículo. Buscamos, desse modo, inverter as premissas usualmente utilizadas nesta relação, ou seja, ao invés de apresentar um currículo para educar a infância, procuramos apresentar imagens infantis para revigorar o pensar sobre currículo, com o propósito de contribuir para pensar o espaço da infância nos estudos sobre o currículo. Com Manoel de Barros, 3 poeta mato-grossense, procuramos achadouros de infância para fazer vicejar e trepidar a tríade: infâncias, currículos e aprendizagens Afirma o poeta: 3 Manoel de Barros. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, Memória XIV.
4 Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava. Pombada contava aos meninos de Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na fuga apresada do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de grandes baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles buracos. Mas eu estava a pensar em achadouros de infância. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e enxada às costas a cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. Hoje encontrei um baú cheio de punhetas. Esperamos com este livro que, como educadores, nós também possamos descobrir achadouros de infância como memórias de lugares de encontros que nos permitam olhar e ouvir, de modo não dogmático, as experiências que envolvem os currículos com as infâncias. Necessitamos de uma outra visão da infância, como espaço de liberdade e inventividade. Segundo Kohan 4 (2003), em educação, associamos infância à primeira idade, pensando os seres humanos atravessando estágios, etapas, fases, cujas travessias costumam ter o signo do progresso, da ascensão. A infância seria o primeiro degrau, degrau, esse, [...] associado a uma marca do ser em potência e não em ato, do que pode ser, mas ainda não é, do que virá a ser, se acompanhamos a infância com um bom currículo, com uma boa educação (p. 3), referindo-se, entretanto, sempre a potências definidas de fora, de uma exterioridade à própria infância. A tarefa parece ser não só a de encontrar uma infância para si, mas ir ao encontro da infância do mundo e restaurá-la. Buscar propiciar relações infantis com os outros e com o mundo, encontrar o que o mundo tem de novo, inventar um novo mundo, encontrar um outro mundo. Necessário se faz pensar, em vez de um currículo para as crianças, um 4 Walter Omar Kohan. Imagens da infância para (re)pensar o currículo. Texto apresentado no I Fórum Amazônico de Educação, O pensamento Brasileiro em Currículo, Belém, Pará, de outubro de 2003.
5 currículo infantil? O que seria achar uma nova infância para o currículo? Invertendo a lógica de pensar um currículo para a infância. Inverter a lógica de pensar infância e currículo envolveria, porém, uma ruptura com um modo dominante de pensar a infância e o currículo, pois o enfoque mudaria de um currículo para educar a infância para uma infância que educasse o currículo e, para isso, precisamos, como sugere Kohan (2003, p. 5) [...] esquecer nossa obstinação por educar as crianças e alimentar nossa paixão de encontrar infâncias que nos eduquem. Janete Magalhães Carvalho
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