RELATÓRIO. A Excelentíssima Senhora Desembargadora Federal Relatora, Dra. Vesna Kolmar:

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1 APELAÇÃO CÍVEL Nº /SP RELATORA APELANTE ADVOGADO APELADO ADVOGADO No. ORIG. : VESNA KOLMAR : MOTO CHAPLIN LTDA : ESPER CHACUR FILHO e outro : Uniao Federal (FAZENDA NACIONAL) : MARLY MILOCA DA CAMARA GOUVEIA E AFONSO GRISI NETO : Vr SAO PAULO/SP EMENTA PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PARA O SEGURO DE ACIDENTE DO TRABALHO. CONSTITUCIONALIDADE DA EXAÇÃO. LEGALIDADE DO DECRETO. HONORÁRIOS - CUSTAS. 1. A contribuição para o seguro contra acidentes do trabalho - SAT foi prevista na Emenda Constitucional nº 01/69 e instituída pela Lei nº 5.316/67, alterada pela Lei nº 6.367/76, que estabeleceu um percentual adicional sobre a folha de salários das empresas a ser aplicado de acordo com o risco da sua atividade. 2. O parágrafo 2º do artigo 15, da Lei nº 6.367/76 conferiu ao Poder Executivo competência para classificar os graus de risco para o trabalho conforme a natureza de respectiva atividade, o que restou regulamentado pelos Decretos /67 e /76, não se vislumbrando qualquer ilegalidade quanto a sua exigência. 3. O artigo 7º, inciso XXVIII, da Constituição Federal de 1988 assegura a todos os trabalhadores o seguro contra acidente do trabalho, encargo que deverá ser suportado pelo empregador. 4. O Decreto nº 3.048/99, que revogou o Decreto nº 2.173/97, não trouxe qualquer inovação à lei, limitando-se a repetir a base de cálculo e alíquotas da exação estabelecidas na Lei nº 8.212/ As alíquotas fixadas na lei serão aplicadas de acordo com o risco da atividade preponderante do contribuinte, cuja enumeração e classificação, em razão da sua amplitude, serão definidas em norma infralegal, não caracterizando inovação da lei. 6. É válida a instituição da contribuição por meio de lei ordinária, vez que não se trata de exação nova, mas de contribuição previdenciária vinculada à prestação de benefício decorrente de vínculo empregatício. 7. Honorários fixados nos termos do artigo 20, 4º, do Código de Processo Civil. 8. Apelação parcialmente provida. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar provimento parcial à apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. São Paulo, 06 de abril de APELAÇÃO CÍVEL Nº /SP RELATORA : VESNA KOLMAR APELANTE : MOTO CHAPLIN LTDA ADVOGADO : ESPER CHACUR FILHO e outro APELADO : Uniao Federal (FAZENDA NACIONAL) ADVOGADO : MARLY MILOCA DA CAMARA GOUVEIA E AFONSO GRISI NETO No. ORIG. : Vr SAO PAULO/SP RELATÓRIO A Excelentíssima Senhora Relatora, Dra. : Trata-se de apelação interposta pela autora contra a r. sentença proferida pelo MM. Juiz Federal da 11ª Vara Federal Cível de São Paulo (fls. 114/116) que julgou improcedente o pedido formulado na inicial. A apelante, em suas razões de recurso, sustenta a ilegalidade da aplicação de alíquota linear no cálculo do Seguro de Acidente do Trabalho - SAT - uma vez que o Decreto nº 2.173/97, que

2 determinou seu recolhimento por meio da graduação de risco da empresa em sua integralidade, consoante sua atividade preponderante, não possui o condão de revogar a Lei Federal nº 8.212/91, que, por sua vez, prevê o recolhimento do referido seguro conforme a efetiva atividade desenvolvida individualmente pelos empregados. Afirma que a legislação tributária não pode alterar regras de direito privado expressas no texto constitucional, como estabelece o art. 110 do próprio Código Tributário Nacional, bem como que a Constituição Federal assegura aos trabalhadores, vítimas de acidente, um seguro proporcional ao grau de risco da atividade desempenhada pelo empregado em seu local de trabalho, e não na respectiva empresa como um todo, de forma que a observância do citado Decreto provoca o desvirtuamento da lei constitucional. Por fim, impugna o valor dos honorários de advogado fixados em favor do réu, qual seja, três vezes o valor do salário mínimo de advogado constante na tabela da Ordem dos Advogados do Brasil, o que perfaz o total de R$ 6.180,00 (seis mil, cento e oitenta reais). Aduz que tal valor é exorbitante e incompatível com o valor e o trabalho desenvolvido na presente demanda. Requereu, caso a sentença seja mantida, a redução dos honorários de advogado para 10% (dez por cento) do valor dado à causa (fls. 119/135). Contra-razões pelo apelado (fls. 139/150). É o relatório. VOTO A Excelentíssima Senhora Relatora, Dra. : A contribuição para o seguro contra acidentes do trabalho - SAT estava prevista na Emenda Constitucional nº 01/69, tendo sido instituída pela Lei nº 5.316/67, alterada pela Lei nº 6.367/76, que estabeleceu um percentual adicional sobre a folha de salários das empresas a ser aplicado de acordo com o risco da sua atividade. O 2º do artigo 15 da Lei nº 6.367/76, conferiu ao Poder Executivo competência para classificar os graus de risco para o trabalho conforme a natureza de respectiva atividade, o que restou regulamentado pelos Decretos nos /67 e /76, não se vislumbrando qualquer ilegalidade quanto à sua exigência. Tal contribuição foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, no artigo 7º, inciso XXVIII: Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos, além de outros que visem a melhoria de sua condição social: XXVIII - seguro contra acidente do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. A Lei nº 8.212/91 define o tributo ao dispor no artigo 22 que: Art A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art.23, é de: II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. 3º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social poderá alterar, com base nas estatísticas de acidentes do trabalho, apuradas em inspeção, o enquadramento de empresas para efeito da contribuição a que se refere o inciso II deste artigo, a fim de estimular investimentos em prevenção de acidentes."

3 Depreende-se da leitura do dispositivo legal acima que a contribuição para o seguro contra acidentes do trabalho tem destinação, base de cálculo e alíquota definidas, esta última variável conforme o grau de risco gerado pela atividade predominante do contribuinte. Por outro lado, o Decreto nº 3.048/99, advindo após a propositura desta lide e que revogou o Decreto nº 2.173/97, tampouco trouxe qualquer inovação à lei, limitando-se a repetir a base de cálculo e as alíquotas estabelecidas na Lei nº 8.212/91. A enumeração das atividades e a classificação do risco de acordo com a atividade preponderante cabem à norma infralegal, não caracterizando inovação da lei. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu pela legalidade da exação de estabelecer-se por decreto os graus de risco fixados a partir da atividade principal exercida pelo contribuinte, consoante ementas abaixo elencadas: ADMINISTRATIVO - SEGURO DE ACIDENTE DO TRABALHO (SAT) - ART. 22, II DA LEI 8.212/ Questão da legalidade da contribuição ao SAT decidida em nível infra constitucional - Art. 22, II, da Lei 8.212/ Atividades perigosas desenvolvidas pelas empresas, escalonadas em graus pelos Decretos 356/91, 612/92, 2.173/91 e 3.048/ Plena legalidade de estabelecer-se, por decreto, o grau de risco (leve, médio ou grave), partindo-se da atividade preponderante da empresa. 4. Recurso especial improvido. (Superior Tribunal de Justiça, 2ª Turma, Resp /GO, j , v.u., DJ , p. 282, Rel. Min. Eliana Calmon) ADMINISTRATIVO - SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO (SAT) LEGISLAÇÃO PERTINENTE. 1. Questão decidida em nível infra constitucional - art. 22, II, da Lei 8.212/91 e art. 97, IV, do CTN. 2. Atividades perigosas desenvolvidas pelas empresas escalonadas em graus pelos Decretos 356/91, 612/92, 2.173/91 e 3.048/ Plena legalidade de estabelecer-se, por decreto, o grau de risco (leve, médio ou grave), partindo-se da atividade preponderante da empresa. 4. Questão fática e circunstancial pela universalidade das atividades empresariais e que, desde 1979, esteve sob a competência do Executivo (Decretos /79 e /85). (Superior Tribunal de Justiça, 1ª Turma, Resp /SC, j , v.u., DJ , p. 264, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros) Assim, resta claro que as alíquotas fixadas na lei serão aplicadas de acordo com o risco da atividade preponderante do contribuinte e a classificação da referida atividade, em razão de sua amplitude, será definida em norma infralegal. Dessa forma, não há como acatar a tese da autora de que nem todas as atividades exercidas pela empresa têm grau igual de risco, vez que se deve considerar sempre a atividade principal para fixar a alíquota do tributo, levando em conta o objeto social que não poderá ser fracionado. Também não procede a alegação de que o tributo em questão somente poderia ser instituído por lei complementar, vez que não se trata na hipótese de exação nova, mas de contribuição previdenciária vinculada à prestação de benefício decorrente de vínculo empregatício. Ademais, cabe ressaltar que o Colendo Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade da contribuição ao SAT ao julgar o Recurso Extraordinário nº /SC, cuja ementa transcrevo a seguir: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO - SAT. LEI 7.787/89, ARTS. 3º E 4º; LEI 8.212/91, ART. 22, II, REDAÇÃO DA LEI 9.732/98. DECRETOS 612/92, 2.137/97 E 3.048/99. CF ART. 195, 4º; ART. 154, II; ART. 5º II; ART. 150,I. 1. Contribuição para o custeio do Seguro de Acidente do Trabalho - SAT: Lei 7.787/89, art. 3º, II; Lei 8.212/91, art. 22, II; alegação no sentido de que são ofensivos ao art. 195, 4º, c.c. art. 154, I da Constituição Federal: improcedência. Desnecessidade de observância da técnica da competência residual da União, CF, art.154,i. Desnecessidade de lei complementar para a instituição da contribuição para o SAT. 2. O art. 3º, II, da Lei 7.787/89, não é ofensivo ao princípio da igualdade, por isso que o art. 4º da mencionada Lei 7.787/89 cuidou de tratar desigualmente aos desiguais. 3. As leis 7.787/89, art. 3º, II e 8.212/91, art. 22, II, definem satisfatoriamente, todos os elementos capazes de fazer nascer a obrigação tributária válida. O fato de a lei deixar para o regulamento a complementação dos conceitos de "atividade preponderante" e "grau de risco" leve, médio e grave, não implica ofensa ao princípio da legalidade genérica, CF., art. 5º, II e da legalidade tributária, CF., art. 150, I. 4. Se o regulamento vai além do conteúdo da lei, a questão não é de inconstitucionalidade, mas de ilegalidade matéria que não integra o contencioso constitucional. 5. Recurso extraordinário não conhecido.

4 (Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, RE /SC, j , p.u, DJ, , Rel. Min. Carlos Velloso) Resta, assim, reconhecida a constitucionalidade da contribuição para o seguro de acidentes do trabalho - SAT. Quanto aos honorários de advogado, assiste razão à apelante. A matéria discutida nestes autos está pacificada na jurisprudência, e o valor fixado pelo magistrado de 1ª instância de fato é excessivo, razão pela qual fixo a condenação da empresa Moto Chaplin Ltda. ao pagamento de honorários de advogado em R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), nos termos do que dispõe o art. 20, 4º, do Código de Processo Civil. Por esses fundamentos, dou provimento parcial à apelação. É como voto. Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº /2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por: Signatário (a): VESNA KOLMAR:60 Nº de Série do Certificado: 4435A036 Data e Hora: 30/6/ :17:18 APELAÇÃO CÍVEL Nº /SP RELATORA : VESNA KOLMAR APELANTE : MOTO CHAPLIN LTDA ADVOGADO : ESPER CHACUR FILHO e outro APELADO : Uniao Federal (FAZENDA NACIONAL) ADVOGADO : MARLY MILOCA DA CAMARA GOUVEIA E AFONSO GRISI NETO No. ORIG. : Vr SAO PAULO/SP EMENTA PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PARA O SEGURO DE ACIDENTE DO TRABALHO. CONSTITUCIONALIDADE DA EXAÇÃO. LEGALIDADE DO DECRETO. HONORÁRIOS - CUSTAS. 1. A contribuição para o seguro contra acidentes do trabalho - SAT foi prevista na Emenda Constitucional nº 01/69 e instituída pela Lei nº 5.316/67, alterada pela Lei nº 6.367/76, que estabeleceu um percentual adicional sobre a folha de salários das empresas a ser aplicado de acordo com o risco da sua atividade. 2. O parágrafo 2º do artigo 15, da Lei nº 6.367/76 conferiu ao Poder Executivo competência para classificar os graus de risco para o trabalho conforme a natureza de respectiva atividade, o que restou regulamentado pelos Decretos /67 e /76, não se vislumbrando qualquer ilegalidade quanto a sua exigência. 3. O artigo 7º, inciso XXVIII, da Constituição Federal de 1988 assegura a todos os trabalhadores o seguro contra acidente do trabalho, encargo que deverá ser suportado pelo empregador. 4. O Decreto nº 3.048/99, que revogou o Decreto nº 2.173/97, não trouxe qualquer inovação à lei, limitando-se a repetir a base de cálculo e alíquotas da exação estabelecidas na Lei nº 8.212/ As alíquotas fixadas na lei serão aplicadas de acordo com o risco da atividade preponderante do contribuinte, cuja enumeração e classificação, em razão da sua amplitude, serão definidas em norma infralegal, não caracterizando inovação da lei. 6. É válida a instituição da contribuição por meio de lei ordinária, vez que não se trata de exação nova, mas de contribuição previdenciária vinculada à prestação de benefício decorrente de vínculo empregatício. 7. Honorários fixados nos termos do artigo 20, 4º, do Código de Processo Civil. 8. Apelação parcialmente provida.

5 ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar provimento parcial à apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. São Paulo, 06 de abril de Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº /2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por: Signatário (a): VESNA KOLMAR:60 Nº de Série do Certificado: 4435A036 Data e Hora: 30/6/ :17:22