Seminário: emissão de valores mobiliários e. António Soares

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1 Seminário: emissão de valores mobiliários e ofertas públicas em tempos de crise Ofertas Públicas de Aquisição de Acções António Soares 3 e 4 de Junho de 2013 Sala Conferência Hotel Praia Mar

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3 As Ofertas Públicas de Aquisição OPAs são formas de aquisição de grandes quantidades de valores mobiliários que se encontram dispersos por um número vasto de investidores. Modelo de origem anglo saxónica que surgiu nos anos 40 não se sabe bem se em Inglaterra se nos Estados Unidos (ambos os países reclamam a paternidade) como técnica para adquirir o controlo de sociedades com capital disperso pelo público. Já na altura, quer nos Estados Unidos quer em Inglaterra, existiam sociedades com grande dispersão de capital pelo público Permitia que o respectivo controlo fosse exercido por accionistas que não detinham a maioria do capital.

4 A forma como inicialmente se conquistou o controlo destas sociedades foi através de compras maciças de acções em bolsa processo que ficou conhecido por ramassage mas que tinha alguns inconvenientes: Era lento Porque era necessário que os compradores estivessem por um grande período de tempo a comprar acções na bolsa; Era caro Porque a manutenção de grandes ordens de compra em bolsa fazia subir as cotações; Era de resultado incerto Porque não permitia ii garantia antecipadamente que o controlo iria ser obtido; Tratava de forma desigual os accionistas Porque nem todos os accionistas vendiam ao mesmo preço.

5 Uma forma alternativa de alcançar o controlo destas sociedades, utilizada sobretudo nos Estados Unidos, consistia em solicitar publicamente aos pequenos accionistas que emitissem procurações a favor de determinada pessoa para os representar em Assembleia Geral acto que ficou conhecido por Proxi Contest. Esta técnica não era muito eficaz porque obrigava à sua repetição antes de cada assembleia geral, o que a tornava dispendiosa e igualmente de resultado incerto. Acresce que foi objecto de rigorosa regulamentação por parte da SEC (a Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários Americana) o que passou a exigir o cumprimento de inúmeras formalidades relacionadas com publicidade, informação aos accionistas e documentação exigida.

6 Tornou se necessário inventar uma outra forma mais rápida e eficaz de adquirir as acções dispersas pelo público para obter o controlo destas sociedades, a custos controlados. Publicitar a intenção de comprar essas acções, através de um único acto, ao mesmo preço e convidando os accionistas que quisessem vender as suas ações a fazerem no ao mesmo tempo e em determinado momento. As primeiras OPAs (denominadas Takeovers) eram batalhas para adquirir o controlo das sociedades cotadas em que havia uma grande dispersão de capital pelo público e em que o controlo se exercia com menos de metade de direitos de voto.

7 Nos restantes países as primeiras OPAs só começaram a surgir mais tarde, e também só mais tarde é que começaram a merecer consagração legal. Na Europa eram sobretudo vistas como forma de assegurar um tratamento igualitário a todos os accionistas e de proteger os accionistas minoritários. Hoje é frequente encontrar consagrado na lei dois regimes de OPAs: a) um para viabilizar as aquisições de controlo por via de compras de ações dispersas pelo público; b) outro para assegurar os direitos dos minoritários quando há mudanças de controlo.

8 OPAs Processos destinados à aquisição de acções a destinatários indeterminados, integrados por vários actos: 1. Anúncio preliminar Promessa do Oferente de vir a proceder se ao lançamento de uma OPA Art.º 222 do CMVM; 2. Anúncio dfiii definitivo Após aobtenção de umregisto na AGMVM Descrição iã do conteúdo da declaração negocial de compra do Oferente Art.º 230 do CMVM; 3. Contratos de compra e venda ou de troca das acções objecto da OPA que ocorrem no final do período da oferta, se forem preenchidas as respectivas condições.

9 Em Cabo Verde também temos: a)um regime de OPAs facultativas Destinado a ser usado como técnica de compra de acções para alcançar o controlo de uma sociedade com o capital disperso pelo público Art.ºs 221 e seg. do CMVM; b) Um regime de OPAs obrigatórias Destinado a assegurar um direito de saída aos accionistas minoritários depois de alguém ter alcançado o controlo de uma sociedade aberta Art.º 236 nº 1 do CMVM.

10 Haverá lugar à obrigação de fazer uma OPA geral e assim permitir a saída de quem não queira ficar na sociedade quando o respectivo controlo muda quando alguém passar a controlar mais de 1/3 ou mais de 1/2 dosdireitosdevotodeumasociedadeaberta. Determinação deste controlo sobre direitos de voto é feito não apenas com base na titularidade das acções mas num sistema de presunções sobre o controlo de direitos de voto inerentes a acções alheias Art.º 93º do CMVM.

11 Mas as OPAs têm também vindo a ser consagradas nas várias legislações, incluindo na de Cabo Verde, como forma de: a) legitimar pedidos de perda de qualidade de sociedade aberta Art.º 101 nº alínea a) do CMVM; b) legitimar aquisições potestativas Art.º 238º nº 1 do CMVM;

12 Legitimação de pedido de perda de qualidade de sociedade aberta Do Artº 101 nº1 alínea a) do CMVM decorre que: Uma sociedade aberta pode perder essa qualidade se, em consequência de uma OPA, um accionista passar a deter, diretamente ou por via de imputação, mais de 90% dos direitos de voto inerentes ao capital da sociedade; Esta perda de qualidade não implica expulsão dos accionistas minoritários que continuam accionistas da sociedade - só que esta passa a ser sociedade de capital não aberto ao público. Implica, porém, a exclusão da negociação em bolsa das acções daquela sociedade - Art.º 103 nº3 do CMVM.

13 Processo de perda de qualidade de sociedade aberta A perda da qualidade de sociedade aberta é requerida à Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários (AGMVM), pela sociedade ou pelo acionista com mais de 90%; Poderes da AGMVM Verificar o preenchimento dos requisitos e declarar a perda; Perda de qualidade de sociedade aberta - publicada no boletim da Bolsa de Cabo Verde e através de um meio de grande difusão em Cabo. Verde - Art.º 102 do CMVM; Momento em que se torna efectiva - Data da publicação da decisão favorável da AGMVM - Art.º 103 do CMVM.

14 Legitimação de aquisições potestativas Do Artº 238 nº 1 alínea a) do CMVM decorre que: Um acionista que, na sequência do lançamento uma OPA: a) atinja ou ultrapasse, diretamente ou por via de imputação, mais de 90% dos direitos i de voto correspondentes ao capital da sociedade; d e que, também, b) adquira nessa OPA mais de 90% dos direitos de voto objeto da OPA, pode, nos três meses seguintes, adquirir compulsivamente e mediante contrapartida justa em dinheiro - as acções dos accionistas minoritários que restarem na sociedade Squezze-out.

15 Contrapartida justa em dinheiro: a) Se a oferta tiver sido voluntária e o oferente tiver conseguido adquirir acções que representem pelo menos 90% do capital da sociedade A contrapartida igual à da Oferta presume-se justa nº 2 do Art.º 238º do CMVM; b) Se a oferta tiver sido obrigatória, presume-se logo que a contrapartida da oferta é um preço justo para o squezze out Porque a contrapartida da OPA já teve e que obedecer ao disposto no Art.º 237º do CMVM - nº 2 do Art.º 238º do CMVM.

16 A presunção de preço justo no caso de squezze-out após OPA obrigatória decorre do facto do preço da OPA já ter que ter que sido igual ou superior ao: i. Preço mais alto pago pelo Oferente por aquelas acções nos 6 meses anteriores à publicação do anúncio preliminar; ii. Preço médio daquelas acções em mercado nos 6 meses anteriores à publicação do anúncio preliminar. i Estas presunções de preço justo podem ser ilididas, mas o ónus da prova pertence agora a quem quiser contestar a justeza da contrapartida

17 Processo de aquisição potestativa Art.ºs 238º nº 3 e 239ºdo CMVM 1. Sócio dominante publica, dentro dos três meses após o encerramento da OPA, um anúncio preliminar a anunciar a sua intenção de adquirir compulsivamente as acções dos sócios minoritários; itá i 2. Sócio dominante envia o anúncio preliminar para registo para a AGMVM; 3. Sócio dominante procede ao depósito da contrapartida em p p p instituição de crédito à ordem dos accionistas minoritários.

18 4. A AGMVM procede ao registo da aquisição potestativa Poderes da AGMVM Verificar o preenchimento dos requisitos da aquisição potestativa e proceder ao seu registo se estiverem preenchidos. 5. O sócio dominante publica a decisão de registo da AGMVM. A aquisição potestativa torna-se eficaz com a publicação deste anúncio - nº 1 do Art.º 239º do CMVM.

19 Consumação da aquisição potestativa implica a transferência das acções dos accionistas minoritários para o adquirente ou a perda de validade dos anteriores títulos e a sua substituição por outros que irão ser entregues ao acionista i dominante. Para isto: a) Sendo as acções tituladas e não estando integradas em sistema centralizado, as acções antigas deixam de ser representativas as do capital da sociedade e são emitidas novas acções pela sociedade que as deverá entregar ao acionista dominante; b) A AGMVM envia a informação necessária à entidade gestora do sistema centralizado ou à entidade registadora das acções para que a entidade em causa possa transferir as acções das contas dos accionistas minoritários para a conta do accionista dominante; Títulos antigos só servem de comprovativo da qualidade de anterior acionista para efeitos de levantamento da contrapartida respectiva.

20 Efeitos da aquisição potestativa Art.º 103 nº3 do CMVM a) A sociedade perde a qualidade de sociedade aberta; b) A sociedade deixa de ter as suas acções admitidas à negociação em bolsa; c) A sociedade passa a ter um só acionista (ou um grupo de acionistas coligados).

21 OPAs Podem ser forma de comprar barato empresas em tempos de crise, porquanto: a) Em tempos de crise ocorre normalmente uma desvalorização acentuada dos mercados de capitais com impacto significativo no preços de mercado das acções; b) As acções passam a ser negociadas a preços inferiores aos que resultariam de outros critérios de avaliação normalmente usados por auditores ou por bancos de investimento e, às vezes, até abaixo do seu valor contabilístico.

22 Torna-se muito mais fácil a um investidor com disponibilidade de fundos pagar um prémio por acção em face do preço actual de mercado dessas acções. Mesmo que esse investidor tenha que fazer uma OPA obrigatória, bi tói a determinação da contrapartida mínima a pagar será feita com base em referenciais de mercado cfr Art.º 237º do CMVM que fixa como contrapartida mínima de uma OPA obrigatória: i. Preço mais alto pago pelo Oferente por aquelas acções nos 6 meses anteriores à publicação do anúncio preliminar; ii. Preço médio daquelas acções em mercado nos 6 meses anteriores à publicação do anúncio preliminar.

23 As OPAs podem também servir para resolver, em tempos de crise, problemas de financiamento com anteriores compras de acções, porquanto: a) Um oferente pode ter comprado anteriormente acções com financiamento bancário mas a preços mais altos e ter dado em garantia desse financiamento as acções compradas; b) Com a desvalorização das acções haverá também uma desvalorização das garantias do financiamento inicial dado que quando as acções estão cotadas os bancos financiadoresi tomam como referência do valor das acções recebidas em garantia o respectivo preço de mercado e não o valor da empresa determinado com base em outros critérios de avaliação.

24 Uma forma possível para resolver problemas causados pela desvalorização das acções poderá então ser por via da compra de mais acções, uma vez que: a) Comprando mais acções, agora a preço mais baixo, o oferente fica também com um preço médio de aquisição das acções do seu bloco acionista mais baixo; b) Se a compra for ao ponto de o oferente conseguir obter a perda da qualidade de sociedade aberta e a sua consequente exclusão da cotação, então a forma de apurar o valor das suas acções, mesmo para os bancos financiadores, deixa de ser opreçode mercado das acções que deixou de haver para ser o que vier a resultar de avaliações feitas com base em outros critérios que em alturas de crise são, normalmente, mais favoráveis que os preços de mercado.