UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE
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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE A DESMATERIALIZAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO, FRENTE AO PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE Por: MIGUEL ANGELO FIGUEIRA FERREIRA Profª. LIANE LINHARES Rio de Janeiro 2008
2 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE A DESMATERIALIZAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO, FRENTE AO PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Empresarial e dos Negócios. Por:. Miguel Ângelo Figueira Ferreira
3 3 AGRADECIMENTOS Aos amigos colegas de turma K092, corpo docente do Instituo A Vez do Mestre, a professora Liane Linhares pelo auxilio na formatação.
4 4 DEDICATÓRIA Dedico a minha esposa Rosangela; os meus agradecimentos pelo inestimável apoio e incentivo.
5 5 RESUMO A presente monografia foi elaborada com objetivo de proporcionar ao leitor, um tema atualizado, didático, critico, moderno, sem prejuízo de conteúdo, confrontando princípios basilares dos títulos de crédito, com a atualidade frente a modernos meios tecnológicos de emissão de títulos de crédito, diante do predomínio massivo da informática nas diversas relações sociais, comerciais, cambiárias. O objetivo deste trabalho monográfico é tratarmos de um tema em especial: os títulos de crédito em face da revolução eletrônica, em confronto com o princípio da cartularidade. Qual o significado de tais documentos, agora, diante de uma nova ciência que ignora os papéis? Os títulos de crédito são considerados, pelos doutrinadores e estudiosos, um dos institutos mais importantes do Direito Comercial, por permitir de forma eficaz a mobilização da riqueza e a circulação do crédito. A palavra crédito provém do latim creditum, credere, e significa confiança, crença, ter fé, a partir de conotação moral, de conteúdo religioso. No aspecto jurídico o crédito é a faculdade que o credor tem de haver de determinado devedor, um direito, prestação de obrigação.os títulos de crédito surgiram como forma ágil e segura de circulação do crédito na economia. São ágeis porque, consubstanciadas em papel, propiciam circulação de riquezas de forma mais rápida do que aquela permitida pela moeda manual 1. O conceito que melhor definiu os títulos de créditos, de Cessare Vivante título de credito é o documento necessário para o exercício do direito literal autônomo nele incorporado. A palavra documento tem origem do latim e "designa qualquer base de conhecimento, fixado materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo, prova, etc 2." 1 J. Petrelli Gastaldi, Elementos de Economia Política, p LUCCA, Newton de / FILHO,Adalberto Simão- coordenadores. Direito e Internet- aspectos jurídicas relevantes. p.43
6 6 A questão controvertida desponta, quando confrontamos com o princípio da cartularidade, correspondente ao papel ou documento, que em tese, corporifica o direito originário objeto da relação jurídica, com a evolução tecnológica as cártulas passaram a ser documentos eletrônicos meios magnéticos. O que nos remete a uma reflexão, sobre os princípios da literalidade, autonomia e principalmente cartularidade, destacando como a moderna doutrina enfrenta o dilema. O posicionamento do novo Código Civil de 2002, Lei nº /2002, dedica no seu Título VIII, nos artigos 887 a 926, a disciplina "Dos Títulos de Crédito". Que inovou ao regular ainda que de maneira incompleta a emissão de títulos por via eletrônica, em conformidade com o artigo 889, 3º. O Código adotou o princípio da liberdade de criação e emissão de títulos atípicos ou inominados, resultantes, com base no princípio da livre iniciativa, o pilar da ordem econômica (Constituição de 1988, arts. 1º e 170), visando a atender às necessidades econômica e jurídica, tendo em vista a origem consuetudinária da atividade mercantil. Continuam vigentes as normas das leis especiais que regem os títulos de crédito nominados, como por exemplo, letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata. Essas normas devem ser aplicadas quando dispuserem diversamente das normas do novo Código Civil, por força do seu art Salvo disposição diversa de lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto no novo Código 3. Para o ilustre Douto Fran Martins, em sua obra "TÍTULOS DE CRÉDITO", para ser título de crédito é necessário que a declaração obrigacional esteja exteriorizada em um documento escrito, corpóreo, em geral uma coisa móvel (cartularidade). Tal documento é necessário ao exercício dos direitos nele mencionados. E continua a expor que a literalidade, por sua vez, reside no fato de que só vale o que se encontra escrito no título 4. Conforme ensinamentos de Luis Emygidio Rosa Júnior. O novo Código Civil também definiu títulos de crédito, tendo como objetivo restringir a sua 3 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V.1. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, MARTINS, Fran. Títulos de Créditos. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 53
7 7 aplicação aos títulos atípicos ou inominados, ou seja, títulos de crédito criados pela prática, sem lei específica, mas que se subordinam a alguns dos princípios reguladores dos títulos típicos ou nominados 5. O trabalho se desenvolvera, focalizando principalmente a Duplicata Virtual, com uma breve apresentação do surgimento dos títulos de crédito, aspecto histórico econômico, em torno dos princípios, em confronto com a modernidade e agilidade das relações comerciais, que não esperam questões doutrinárias teóricas, para desenvolver-se, em um mundo em que as fronteiras se dissipam diante do comercio globalizado, e empresas que ampliam seus negócios além de sua bandeira de origem, o direito não poderá ficar estático, esperando que a sociedade se molde, a conceitos passados que não reflete e acompanha mais a realidade de seu tempo. O que por sinal observamos em várias áreas do ramo jurídico, a legislação tem que atender aos anseios do seu tempo, espaço, a tecnologia avança a passos largos, relações sociais modificam-se, conceitos, princípios terão que ser revistos sob pena de tornarem-se letra morta, ou perderão o principal objetivo que é regular, balizar, a legislação vigente e a própria sociedade, a tendência e o caminho natural de toda ciência é a evolução e o aprimoramento 6. 5 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V.1. 8ª ed. Saraiva, 2004, p Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p. 120
8 8 METODOLOGIA A proposta deste trabalho monográfico, Por indicação da Professora PATSY SCHLESINGER, propõe-nos Miguel Ângelo F. Ferreira, estudante da Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Empresarial e dos Negócios., envolvendo o tema A DESMATERIALIZAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO, FRENTE AO PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE, desenvolvido em IV capítulos, transcrevendo a opinião segundo a doutrina mais adequada, este trabalho pretende esclarecer, de maneira sucinta, um tema atual, polemico e, infelizmente, mal disciplinado pelo ordenamento jurídico pátrio e pouco comentado pelos doutrinadores brasileiros, que é a desmaterialização dos títulos de crédito, dando maior ênfase à duplicata mercantil, criação do legislador pátrio e utilizada em sua forma eletrônica, a chamada duplicata virtual. Desenvolvido em, pesquisa bibliográfica, pessoal, e através de documentos e artigos eletrônicos consultados.
9 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I - O CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO 13 CAPÍTULO II - TÍTULOS DE CRÉDITO 25 CAPÍTULO III PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO CAMBIÁRIO 33 CAPÍTULO IV A DESMATERIALIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS 40 CONCLUSÃO 57 BIBLIOGRAFIA CITADA 66 ANEXOS 61 ÍNDICE 73 FOLHA DE AVALIAÇÃO 75
10 10 INTRODUÇÃO Um novo modelo de economia surge, atrelado a tecnologia da informação, a informática como engrenagem mestra, tecnologia que cria direitos e obrigações entre nós, a dúvida é latente a ciência do direito já tem condições de resolver e interpretar tais relações? E possíveis conflitos oriundo de um novo direito comercial virtual 7. Na metade do século passado, VIVANTE desenvolveu toda sua teoria sobre os títulos de crédito. Coube a ele o mérito de tentar construir uma teoria unitária, fixando os critérios comuns aos títulos (...). Definiu o título de crédito e ninguém ousou, até hoje, discordar de suas palavras 8. A palavra título tem sua origem, do latim títulos (inscrição, marca, sinal), é a expressão que, mesmo na linguagem jurídica, é empregada em vários significados. Assim título significa: A causa à origem, ou o fundamento jurídico de um direito. Neste aspecto, pois, o título mostra-se o modo de transmissão, o fundamento de aquisição, ou a própria causa dos direitos; a título gratuito, ou a título oneroso; Extensiva, e objetivamente, designa o próprio escrito, ou o instrumento, em que se redigiu o ato jurídico, de que se deriva o próprio direito, e para que, se possam fazer valer os efeitos legais: títulos de propriedade, títulos de créditos. A palavra documento tem origem do latim e "designa qualquer base de conhecimento, fixado materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo, prova, etc. 9 " 7 Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p COSTA. Wille Duarte. Títulos de Crédito. Belo Horizonte:Del Rey, p LUCCA, Newton de / FILHO,Adalberto Simão- coordenadores. Direito e Internet- aspectos jurídicas relevantes. São Paulo: Edipro, p. 43
11 11 A palavra crédito, como foi dito anteriormente, provém do latim creditum, credere, e significa confiança, crença, ter fé, a partir de conotação moral, de conteúdo religioso. Como ensina Luiz Emygdio Franco da Rosa Júnior, além do aspecto moral, o crédito possui também outras acepções: [...] podendo, no entanto, ter outros significados, como por exemplo, o direito que o credor tem de receber do devedor a prestação objeto da obrigação (significado jurídico), a confiança que uma pessoa inspira em outra baseada em seus atributos morais (significado moral), ou pode ainda consistir na importância que constitui objeto da relação crédito/débito 10. A principal essência do título de crédito deve ser em primeiro lugar e certamente o título e, sendo título, entre seus vários significados será documento que autentica um direito como definiu Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. No mesmo sentido de acordo com ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS JURÍDICAS cujo dicionário afirma que título é: Documento que autentica ou formaliza um direito. Título de crédito é o documento indispensável para que se faça valer um direito autônomo e literal, nele prescrito. É, portanto, um documento formal com força executiva, representativo de dívida líquida e certa, e de circulação desvinculada do negócio que o originou 11. O crédito não seria aplicável em tão larga escala, na economia moderna, se as riquezas futuras, de que se constitui, não pudessem ser representadas por títulos, geralmente negociáveis, por meio dos quais se processam as operações creditórias. 10 COSTA, Wille Duarte. Títulos de Créditos. Belo Horizonte: Del Rey, 2003 p48 11 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS JURÍDICAS. Organizador Othon Sidou, 9ª Edição, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 855.
12 12 Tais títulos são representados por documentos nos quais estão consignadas e caracterizadas as pessoas do devedor e do credor, a importância do empréstimo, a vigência deste e a praça onde deverá operar-se a devolução do crédito concedido. Por intermédio de tais documentos é que grandes quantidades de riquezas futuras passam a circular, antecipadamente, sob a forma de títulos negociáveis Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p. 279
13 13 CAPÍTULO I TÍTULOS DE CRÉDITO O CONCEITO...Deus é maior que todos os obstáculos. Segundo De Plácido e silva: O título de crédito é a designação, de natureza genérica, dada a todo documento, ou escrito, em que se firma um direito creditório, ou uma obrigação de receber certo valor, ou certa prestação, que se estima pecuniariamente, ou que tenha por objeto coisa de valor certo. Por essa forma, o título de crédito pode assentar-se em quantia pecuniária, como em mercadorias, ou coisas em comercio. A origem da palavra titulo, do latim títulos (inscrição, marca, sinal), é a expressão que, mesmo na linguagem jurídica, é empregada em várias acepções. Assim título significa: A causa à origem, ou o fundamento jurídico de um direito. Neste aspecto, pois, o título mostra-se o modo de transmissão, o fundamento de aquisição, ou a própria causa dos direitos; a título gratuito, ou a título oneroso; Extensiva, e objetivamente, designa o próprio escrito, ou o instrumento, em que se redigiu o ato jurídico, de que se deriva o próprio direito, e para que, se possam fazer valer os efeitos legais: títulos de propriedade, títulos de créditos. Origem Etimológica da palavra - CREDITUM - CREDERE (latim) =CONFIANÇA. 13 O que nos remete ao conceito de crédito, o que vem a ser o crédito? Significa confiança e constitui um alargamento da troca; a troca e o crédito, por sua vez, constituem as partes essenciais da circulação das riquezas. Kleinwachter o define como a confiança na possibilidade, vontade e solvência de um indivíduo, no que se refere ao cumprimento de uma obrigação assumida. Diz-se, ainda, que existe um negócio de crédito quando uma das 13 SILVA, De Plácido e. Verbete Documento in Vocabulário jurídico. 15ª edição, Forense, p. 287.
14 14 partes contratantes realiza uma prestação presente, aceitando a promessa de contraprestação futura. Quando uma pessoa empresta, ela dá ou fornece crédito, e a que recebe por empréstimo recebe crédito. 14 O principal meio formal de pagamento, a moeda de origem remota, sempre representou o instrumento de troca por excelência. Uma vez que desde os primórdios da civilização os homens já trocavam objetos que lhes sobravam por outros que não tinham. A evolução da moeda passou por diferentes fases, como a utilização do sal, do gado e de outros bens como meio de pagamento. Posteriormente, foram criadas as moedas metálicas. Na seqüência, foi criado o papel-moeda que se convertia em metal, uma vez que era lastreada em metal 15. A provável origem dos títulos de crédito repousa Idade Média, no século XIII, surgindo com a exigência de um documento para firmar acordos financeiros. Com as feiras de mercadores existentes neste período, foi necessário ter uma forma de trocar os vários tipos de moeda que circulavam, além de que na época os assaltos eram freqüentes 16. Título de crédito é o documento indispensável para que se faça valer um direito autônomo e literal, nele prescrito. É, portanto, um documento formal com força executiva, representativo de dívida líquida e certa, e de circulação desvinculada do negócio que o originou. São considerados títulos de crédito a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque, e as duplicatas. Além disso, a lei civil impõe: o título de crédito somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Esses requisitos são aqueles fixados nas leis especiais, para os títulos típicos ou nominados e que podem variar de acordo com a lei e o título. Títulos atípicos ou inonimados, nos termos do art. 889 do Código Civil são os seguintes: 1) a data da emissão; 2) a indicação precisa dos direitos que confere; e 3) a assinatura do emitente. São tais requisitos que tornam o documento autêntico, verdadeiro, capaz de aperfeiçoar o direito nele existente e dão ao portador a garantia de 14 Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. São Paulo: saraiva, p. 358
15 15 que necessita. Sem os requisitos impostos pela lei, o papel não será título de crédito As conseqüências da formação do comercio De maneira marcante podemos distinguir, na economia dos povos, três períodos ou fases bastantes características: a da economia natural, quando o valor das coisas que se desejava permutar era aferido pelo confronto das necessidades das partes permutantes. A troca se fazia de coisa por coisa; era o escambo. Deparamos depois com a economia monetária, quando o valor das coisas permutadas era aferido pela moeda, mercadoria representativa do valor. Hoje, porém, as trocas se exercem também mediante o crédito e representativos títulos, que exercem funções e poderes aquisitivos e de pagamento. É a economia creditória, a qual tende a predominar 18. Nos primórdios do Direito Cambiário os títulos dividiam-se em dois tipos de câmbio, o manual e o trajetício A partir do século XV, os títulos de crédito foram evoluindo em diferentes lugares da Europa, buscando satisfazer os interesses dos comerciantes da época. Em Roma, não tinha documento que provasse a existência dos títulos de crédito, mas, no chamado período italiano (até 1673), o comércio funcionava com base na confiança, ou seja, usava-se do câmbio trajetício apenas para trocar documento por moeda. Já no período francês (1673 a 1848), os títulos de crédito passam a ser instrumento de pagamento, nessa época surge o endosso, e não podiam ser abstratos, teriam que apresentar causa específica e provisão de fundos, ou seja, apenas com saldo disponível o título seria pago. Na Idade Média que se começou a usar um documento chamado carta de câmbio que era o que representava o dinheiro, usava-se o câmbio manual, que consistia na troca de moeda na própria feira e câmbio trajetício onde usava-se um documento para representar o crédito, e ainda trazia maior 16 MARTINS, Fran. Títulos de Créditos. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V.1. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, p Dallari, Dalmo de Abreu, Elementos de Teoria Geral do Estado, 20ª, Saraiva, p. 186
16 16 segurança. Entende-se como câmbio manual, a manutenção do dinheiro, implicando os riscos até sua troca efetiva, e o trajetício, O câmbio trajetício tornou a circulação de moedas mais segura, pois, difundiu o uso de carta, de banqueiros conhecidos, representando os valores da transação e servindo como moeda (moeda-documento-moeda) A evolução histórica dos títulos de crédito Vale ressaltar a posição do ilustre doutrinador Luiz Emygdio: A doutrina já pacíficada em relação ao surgimento dos títulos de crédito permite analisar de forma clara a evolução das obrigações até o surgimento desses institutos. Tomando as palavras de Waldirio Bulgarelli, em relação à criação do primeiro dos títulos de crédito, a letra de câmbio, da qual diz-se que as origens mais remotas nos remetem a sua utilização na Índia, na China, na Grécia, até período mais recentes, atribuindo a sua criação aos judeus, e hoje, quase unanimemente tem-se que elas se desenvolveram e consolidaram na Idade Média 20. No direito romano desenvolveu-se à idéia da cessão de crédito, porém não era admitida a circulação dos direitos sobre esse crédito. Conforme Luiz Emygdio, às seguintes razões: (a) a obrigação do devedor consistia em vínculo meramente pessoal e não de natureza patrimonial, tendo o credor direito sobre a própria pessoa do devedor e não sobre o seu patrimônio, disso resultando que a mudança da pessoa do devedor implicava na extinção da obrigação; b) o excessivo formalismo das regras do direito comum e a falta de proteção ao terceiro adquirente do crédito 19 Fazzio JR., Waldo. Manual de direito comercial. 3ed. São Paulo: Atlas, 2003 p BULGARELLI, Waldírio. Direito Comercial. 8ª. Ed. São Paulo. Atlas, p. 126
17 17 obstavam a efetiva circulação do crédito, porque o devedor podia opor ao terceiro exceções pessoais baseadas na relação causal entre ele e o seu credor primitivo; c) a não aplicação à circulação do crédito do princípio peculiar aos bens móveis (...) fazia com que o adquirente do crédito corresse o risco da aquisição a non domino 21. Segundo Mauro Brandão Lopes, os primeiros fatores básicos da motivação humana são o hedonismo e o idealismo. O primeiro explica que o homem não ama a dor e o desconforto, mas o prazer e o conforto. Eis aí a razão dos conselhos acerca de como tornar agradáveis as condições e o ambiente de trabalho, a fim de que aquele fator seja satisfeito, resultando no aumento da motivação 22. Provavelmente entre 428 e 441 a.c, há divergência doutrinária quanto ao momento da edição, Com o advento da Lex Poetelia Papiria, diploma sobre o qual, as obrigações deixaram de ter vinculo pessoal e se tornaram patrimoniais, dando fim à execução pessoal. A doutrina é pacifica quanto às fases do direito cambiário, o direito cambiário pode ser dividido em quatro fases em relação à criação dos títulos de crédito, sobre as quais faz-se breve exposição a seguir. O período italiano, na Idade Média, precisa a decisiva influência dos mercadores italianos na evolução do título de crédito, pois nas cidades marítimas italianas ocorriam transações comerciais bastante significativas, e havia diversidade monetária, já que cada feudo possuía uma moeda. Esse período foi marcado por saques e violência, tornando o trajeto entre as cidades bastante arriscado, fazendo surgir o Câmbio Trajectício. Nesse período a letra de câmbio era considerada mero instrumento do contrato de cambio, meio de troca da moeda. Os Franceses consagram a letra de cambio na Ordenação do Comércio Francesa, de 1763, passa a ser utilizada nas mais diversas situações 21 ASCARELLI, Tullico; Teoria Geral dos Títulos de Crédito - São Paulo: Red Livros, 1982 p LOPES, Mauro Brandão. Observações sobre o Livro I, Título VIII ( Dos Títulos de Crédito ).
18 18 comerciais, como meio de pagamento, inclusive de mercadorias a crédito, e deixa de estar vinculada ao contrato de câmbio para ser utilizada simplesmente como instrumento de crédito e é criada e incorporada a cláusula à ordem, que se torna obrigatória, com a indispensável assinatura do sacado. No Período Alemão, que tem início com o surgimento de uma Ordenação Geral do Direito Cambiário em 1848 (Algemeine Deutsche Wechsel Ordnug), a cambial se torna um título abstrato, motivo pelo qual passou a haver inoponibilidade das exceções pessoais, tornou-se, portanto um valor por si mesmo, desvinculado do contrato. Surge o endosso para preservar e promover a circulação do crédito, e a cambial adquire as características que encontramos na legislação contemporânea. Evoluindo para o período Uniforme, por volta de 1930, com a Convenção de Genebra, que resultou na criação da Lei Uniforme de Genebra LUG, acerca da letra de câmbio e nota promissória, e em 1931 da LUG cobre cheques, correspondendo ao período de uniformização da legislação cambiária. Esse contexto proporcionou a internacionalização do Direito Empresarial, com exceção aos países signatários do Common Law que utilizam uma carta de troca ou câmbio, o Bill of Exchange 23. Importante ressaltar a evolução do instituto: o período italiano, onde se trocava o valor moeda pela carta de câmbio; o período francês onde tal carta passou a servir como forma de pagamento. No período alemão (1848 a 1930) surgiu o título de crédito propriamente dito. Nessa época, o título se tornou abstrato, não tinha causalidade e nem exigência de fundos, mas existia o aceite, dado pelo sacador, atribuindo responsabilidade de pagamento ao sacado. Começou, assim, o processo de conceituação dos títulos de crédito, além de conferências para elaborar uma legislação uniforme, realizadas na cidade de Haia, Suíça. 23 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
19 19 No período alemão surge o título de crédito propriamente dito e já no período moderno, com o surgimento da Lei Uniforme de Genebra em 1930 os títulos passam a ser amplamente utilizados 24. Segundo Rubens Requião, a circulação de crédito se deu nos primórdios do direito romano, e de forma complicada, assim o elucida: A obrigação constituía, em princípio, um elo pessoal entre credor e devedor. Segundo a forte expressão dos glosadores, a obrigação aderia ao corpo do devedor, (assibus haeret). No primitivo direito romano o credor não se podia cobrar nos bens do devedor; daí a forma de cobrança cruel, admitida na Lei das XII Tábuas, que consistia em matar o devedor (in partes secare), ou vendê-lo como escravo (trans Tiberim) 25. Posteriormente como discorre o próprio autor, a garantia pessoal e corporal do devedor foi substituída pela de seu patrimônio (...) Com o desenvolvimento do comércio internacional, passou a ser necessária a regulamentação padronizada dos instrumentos que possibilitavam a realização de relações comerciais. Essa necessidade culminou, em 1930, com a Convenção de Genebra, que apresentou o texto da chamada Lei Uniforme, valida para 25 países 26. Luiz Braz Mazzafera, elucida que o homem após a era metálica (...) finalmente chegou-se a uma ECONOMIA DE CRÉDITOS, surgindo então os títulos de crédito onde o dinheiro em espécie, dinheiro contado, é substituído por títulos negociáveis Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 20ª. Ed. São Paulo. Saraiva, p REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. São Paulo: saraiva, p mazzafera, Luiz Braz. Básico de direito empresarial. Bauru, SP, edipro, 2003, p. 140
20 20 O que nos remete ao conceito de crédito, o que vem a ser o crédito? Significa confiança e constitui um alargamento da troca; a troca e o crédito, por sua vez, constituem as partes essenciais da circulação das riquezas. Kleinwachter o define como a confiança na possibilidade, vontade e solvência de um indivíduo, no que se refere ao cumprimento de uma obrigação assumida. Diz-se, ainda, que existe um negócio de crédito quando uma das partes contratantes realiza uma prestação presente, aceitando a promessa de contraprestação futura. Quando uma pessoa empresta, ela dá ou fornece crédito, e a que recebe por empréstimo recebe crédito As vantagens e os inconvenientes do crédito Conforme Heller, originariamente o crédito está revestido, também, de uma forma natural, isto é, crédito natural. Os bens de uso constituem os seu objeto. À medida, porém, que progrediu a economia do dinheiro ou monetária, o crédito adquiriu uma importância decisiva, pois o dinheiro transmite ao crédito aquela mobilidade. Gide assinala o beneficio que os títulos de crédito prestam à circulação, facilitando-a: É, sobretudo pelo cheque e pelas compensações que o crédito se substitui à moeda. Sem estes poderosos auxiliares ela não bastaria, não obstante as novas minas de ouro, para atender ao acréscimo geral das necessidades do comércio e, provavelmente, teríamos visto o movimento inverso daquele que assistimos até hoje, isto é, veríamos o encarecimento notável da moeda e a baixa consecutiva dos preços 29. Na economia atual, mediante os títulos negociáveis e ao portador, vale ressaltar que a Lei n 8.021, de 1990, o legislador adotou uma série de vedações relativamente a alguns documentos representativos de obrigação pecuniária ou investimentos, com o objetivo de identificar o respectivo titular Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V.1. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, p 256
21 21 Tais títulos de crédito, representações jurídicas do mesmo instituto, submetidos a leis e regulamentos ou normas que os cercam de todas as garantias, ora representam mercadorias, ora representam a própria moeda, como ocorre, por exemplo, com o warrant ou certificado de depósito de bens ou produtos e a letra de câmbio, que significa um saque contra o devedor. O volume do crédito deve estar, forçosamente, em correlação não apenas com o volume total da riqueza existente (pois tal volume representa a transferência de um preço no tempo), como, sobretudo em correlação com o volume da riqueza formada ou por formar. Havendo excessiva facilidade na concessão de crédito, poderá haver, também, formação ou expansão excessiva da riqueza conforme as necessidades de consumo normal, surgindo uma superprodução que irá afetar a relação entre a oferta e a procura, desnivelando os preços e causando fenômenos idênticos ao da inflação monetária. Jevons acreditava que uma das maiores vantagens do crédito, aquela que lhe confere maior importância, é que ele coloca a propriedade nas mãos daqueles que melhor poderão utilizá-la. Em geral os que possuem propriedades, dizia, pouco se interessam por transações comerciais, enquanto outros indivíduos, desprovidos de meios, podem, uma vez investidos de capital, mediante o crédito, reproduzi-lo com proveito social. O crédito, assim, facilita a associação do capital ao trabalho, permitindo que os capitais sejam transferidos daqueles que os possuem e não os empregam com fito reprodutivo àqueles que deles estão privados, permitindo um vantajoso emprego pra ambas as partes e para a coletividade em geral 31. Finalmente, chegou-se à fase atual, a fase da moeda-papel, não conversível em metal. O transporte de moeda, porém, muitas vezes mostro-se complicado, motivo pelo qual foram criados os chamados títulos de créditos, que substituíram a própria moeda. Os títulos de créditos caracterizam-se, assim, por serem documentos que representam determinadas obrigações pecuniárias. Desempenham função econômica à medida que substituem a 31 Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p 277
22 22 própria moeda em sua função de instrumento de troca. No entanto, ao contrário da moeda, não possuem curso forçado Modalidades de crédito O crédito pode ser classificado segundo a pessoa do devedor e do credor, conforme a natureza do destino dando ao empréstimo e ainda, em relação às circunstâncias que regem os fornecimentos ou as constituições dos empréstimos, circunstâncias essas que podem ser individuais, sociais ou puramente econômicas. crédito é uma modalidade de troca, pela qual um dos contratantes aceita ceder um bem por uma contraprestação correspondente ao seu valor no futuro. A definição de crédito pode repousar em ponto de vista da relação econômica que o fenômeno envolve (definição objetiva), ou, então, do ponto de vista das pessoas contratantes (definição subjetiva). Ele representará a confiança depositada pela pessoa que o solicita e a confiança em si depositada pela pessoa que o concede. Imprescindível na figura jurídica e econômica do crédito, o fator tempo, pois o crédito sempre representa o diferimento de uma obrigação presente para um tempo futuro. O crédito, sob o aspecto jurídico, uma prestação atual em troca de uma prestação futura, objetivo da sua definição, será uma troca adiada. Com relação à pessoa do devedor ou do credor, isto é, em relação ao respectivo sujeito, pode o crédito ser público ou privado. Quando a pessoa devedora é de direito público (União, Estado ou município), diz-se que a sua natureza é pública; quando o crédito é outorgado a particulares, será privado, denominando-se quase-público quando é concedido a entidades comerciais, de economia mista etc. Quanto ao uso a que se destina, o crédito pode ser consuntivo, produtivo ou improdutivo. Será consuntivo quando a riqueza recebida pelo devedor é destinada a um consumo mais ou menos imediato; os capitais obtidos com o empréstimo não se destinam à reprodução de novos bens ou 32 Finkelstein Maria Eugenia, 3ª ed, São Paulo: Atlas, p. 110
23 23 utilidades. Ao contrário, quando os capitais obtidos pelo crédito se destinam à reprodução de bens ou riquezas econômicas, são considerados produtivos. O crédito consuntivo é também denominado improdutivo, isto é, não-reprodutivo. Conforme a garantia fornecida pelo tomador de empréstimo, o crédito poderá ser pessoal ou real. O pessoal é aquele que se fundamenta na garantia pessoal de quem o recebe. O crédito pode ser simples ou com garantia, compreendendo-se esta também como pessoal, solidária, se com o devedor principal se responsabilizam outras pessoas, sendo simples se apenas o devedor é o responsável pessoal. Será de garantia real quando o devedor ou quem recebe o crédito, além da sua garantia pessoal, entrega um bem de natureza real para garantir o contrato. Assim, quando o devedor oferece uma garantia (hipoteca, penhor, anticrese), o crédito será de natureza real; quando o crédito resulta do desconto de um título cambial, será de pessoal. 33 Pela natureza do destino a ser dado ao empréstimo poderá ser ele: crédito agrícola, crédito comercial, crédito industrial, crédito fundiário ou crédito edilício. Conforme as denominações o indicam, tais créditos objetivam atividades agrícolas, comerciais, industriais ou os empréstimos destinados a propriedades territoriais (fundiário) ou para imóveis ou prédios localizados em cidades (crédito edilício). Quanto à época do pagamento, o crédito pode ser classificado como sendo a longo ou em curto prazo e mesmo com vencimento indeterminado, o que é mais raro. Relativamente às circunstanciais que regem as constituições de empréstimos créditícios, sabemos que o crédito pode ter base em condições puramente individuais, tendo em vista a idoneidade moral e material da pessoa que dele se beneficia, ou em condições denominadas sociais, quais sejam os recursos econômicos ou financeiros de que dispõe o devedor. Ainda existem condições de outra ordem, podem influir na concessão dos créditos, quais sejam aquelas ditas econômicas, como as condições do mercado econômico, existindo ainda as de ordem jurídica (garantias ou normas legais que possam 33 Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p
24 24 obrigar o devedor ao cumprimento da obrigação assumida), de ordem moral, qual seja o cumprimento no vencimento da obrigação assumida, pois existem épocas de relaxamento da moral econômica, e de ordem política, pois o crédito se retrai naturalmente em organizações políticas instáveis e quando a ordem pública está em permanente ameaça de subversão. A uniformização das leis dos títulos de crédito aconteceu no período moderno (1930), nesta fase, os países se reuniram para criar uma legislação única, que foi denominada Lei Uniforme de Genebra. O Brasil incorporou esta lei apenas em 1966, através do Decreto /66, sendo que antes a nossa lei era pelo Decreto 2.044/1908. No Brasil, desde 1908 existia a chamada Lei Cambial (Decreto N 2.04/1908), regulamentando a matéria. Necessário destacar que os decretos, à época, equivaliam às atuais leis ordinárias, diferente da regulamentação atual 34.
25 25 CAPÍTULO II TÍTULOS DE CRÉDITO Como dito anteriormente, o crédito não seria aplicável em tão larga escala, na economia moderna, se as riquezas futuras, de que se constitui, não pudessem ser representadas por títulos, geralmente negociáveis, por meio dos quais se processam as operações creditórias. Tais títulos são representados por documentos nos quais estão consignadas e caracterizadas as pessoas do devedor e do credor, a importância do empréstimo, a vigência deste e a praça onde deverá operar-se a devolução do crédito concedido. Por intermédio de tais documentos é que grandes quantidades de riquezas futuras passam a circular, antecipadamente, sob a forma de títulos negociáveis. Nas palavras de Souza Gonçalves: É interessante observar que nessas formas de economia monetária pode um elemento predominar ou manter-se em situação aproximadamente igual à dos demais. Em países economicamente atrasados a circulação tem como centro ou instrumento principal a moeda. Em países altamente evoluídos predomina o crédito, isto é, a maior parte das operações é efetuada através do mecanismo creditório 35. Esta reside a sua principal função. O título de crédito é a designação, de natureza genérica, dada a todo documento, ou escrito, em que se firma um direito creditório, ou uma obrigação de receber certo valor, ou certa prestação, que se estima pecuniariamente, ou que tenha por objeto coisa de valor certo. Por essa forma, o título de crédito pode assentar-se em quantia pecuniária, como em mercadorias, ou coisas em comercio. Diz-se, ainda, que existe um negócio de crédito quando uma das partes contratantes realiza uma prestação presente, aceitando a promessa de contraprestação futura. Quando 34 Finkelstein Maria Eugenia, 3ª ed, São Paulo: Atlas, p. 111
26 26 uma pessoa empresta, ela dá ou fornece crédito, e a que recebe por empréstimo recebe crédito 36. O crédito é uma modalidade de troca, pela qual um dos contratantes aceita ceder um bem por uma contraprestação correspondente ao seu valor no futuro. A definição de crédito pode repousar em ponto de vista da relação econômica que o fenômeno envolve (definição objetiva), ou, então, do ponto de vista das pessoas contratantes (definição subjetiva). Ele representará a confiança depositada pela pessoa que o solicita e a confiança em si depositada pela pessoa que o concede. Imprescindível na figura jurídica e econômica do crédito, o fator tempo, pois o crédito sempre representa o diferimento de uma obrigação presente para um tempo futuro. O crédito, sob o aspecto jurídico, uma prestação atual em troca de uma prestação futura, objetivo da sua definição, será uma troca adiada. Guitton fornece a seguinte idéia de crédito: conceder crédito a uma pessoa é colocar à sua disposição um bem presente em troca de bem que essa pessoa promete entregar posteriormente. Na troca de mercadoria por mercadoria (economia natural) e na troca de mercadoria por moeda (compra e venda), a prestação e a contra prestação são simultâneas, tendo por objeto bens presentes. Na venda a crédito, ao contrário, existe um determinado lapso de tempo, que se intercala entre o início ou formação do contrato e o seu término ou cumprimento. Um dos contratantes se priva, temporariamente, de certa quantidade de dinheiro ou de bens em troca de uma promessa de reembolso ou recebimento do equivalente em época aprazada. Realiza-se, assim, a troca de um valor presente, contra a promessa de um valor futuro 37. Foi a partir da Constituição Federal de 1946 que os decretos passaram a adquirir a forma dos decretos que hoje conhecemos, mesmo ano em que a Convenção de Genebra foi ratificada pelo Brasil. Em 1966, o Decreto N /66 estabeleceu que a Lei Uniforme deveria ser cumprida, simplesmente anexando o seu texto aos dizeres do diploma legal Brasileiro. Vale destacar que este trâmite foi totalmente inadequado à promulgação de uma convenção 35 Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p.274
27 27 internacional em nosso país. A Lei Uniforme, que deveria ter sido aprovada por uma lei ordinária, não o foi por razões de todos desconhecidos. Isso acabou dando origem a uma discussão enorme, como seria possível que um mero decreto presidencial revogasse um instrumento legislativo equivalente a uma lei ordinária? Assim, formalmente, a Lei Uniforme não havia revogado a Lei Cambial Brasileira. Essa discussão ficou sem solução até 1971, quando o Supremo Tribunal Federal, politicamente, decidiu que a Lei Uniforme estava, sim, em vigor no país, salvo naqueles aspectos em que o Brasil houvesse, especificamente assinalado reservas. Nessas hipóteses, deveriam ser aplicadas as disposições da Lei Cambial. Em 2002, os títulos de créditos foram disciplinados pelo Código Civil, em seus artigos 887 a 926. Vale ressaltar que o Código Civil de 2002 adotou o princípio da liberdade de criação e emissão de títulos inominados. Não há nesse diploma legal disposições atinentes aos títulos nominados, tais como letra de câmbio, cheque, nota promissória e duplicata. Não se encontra, assim revogadas as normas das leis especiais que regem os títulos de crédito. A aplicação do Código Civil de 2002 aos títulos de crédito só é possível quando não houver lei especial que os regulamente (Enunciado STJ 52), Por força da regra do art. 903 do Código Civil, as disposições relativas aos títulos de crédito não se aplicam aos já existentes. Dessa forma, predomina no direito positivo brasileiro de hoje uma dualidade de regramento legal: 1 os títulos de créditos típicos ou nominados são disciplinados pela Lei Uniforme e pela Lei Cambial; 2 os títulos inominados subordinam-se às normas do Código Civil de 2002, desde que se enquadrem na definição de títulos de crédito constante do artigo 887 desse diploma legal, qual seja, documento necessário ao exercício de direito literal autônomo nele contido. É de se destacar, porem, que a definição do título de crédito constante do artigo 887 do Código Civil de 2002 está errada. No original, o vocábulo utilizado é incorporado, ao invés de mencionado. No entanto, toda doutrina, 37 Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p.275
28 28 adaptando a definição de Vivante, utiliza o vocábulo mencionado, uma vez que este vocábulo não gera o entendimento de que sem o título de crédito seria impossível o exercício do direito de crédito mencionado no título de crédito. O art. 887 do Código Civil de 2002, porém, não corrigiu esta impropriedade 38. O conceito que melhor definiu os títulos de créditos foi elaborado por Cesare Vivante, que assim definiu: título de crédito é o documento necessário pra o exercício do direto literal autônomo nele incorporado.o conceito formulado por Cesar Vivante é, sem dúvida, o mais completo, afinal como disse Fran Martins encerra, em poucas palavras, algumas das principais características desses instrumentos (títulos de crédito). Tal é a razão pela qual, segundo Fábio Ulhoa, é aceita pela unanimidade da doutrina comercialista 39. O tempo constitui o intervalo, o lapso temporal, ou como afirma João Eunápio Borges, [...] o período que medeia entre a prestação presente e atual e a prestação futura. Os elementos fundamentais para se configurar o crédito decorrem da noção de confiança e tempo. A confiança é necessária, pois o crédito se assegura numa promessa de pagamento, e como tal deve haver entre o credor e o devedor uma relação de confiança. A temporalidade é fundamental, visto que subentende-se que o sentido do crédito é, justamente, o pagamento futuro combinado, pois se fosse à vista, perderia a idéia de utilização para devolução posterior. Para Fábio Ulhoa três são as características que distinguem os títulos de crédito dos demais documentos representativos de direitos e obrigações: primeiramente o fato dele referir-se unicamente a relações creditícias, posteriormente por sua facilidade na cobrança do crédito em juízo (não há necessidade de ação monitória) e, finalmente, pela fácil circulação e negociação do direito nele contido. O título de crédito possibilita uma negociação mais fácil do crédito decorrente da obrigação representada e ainda, a cobrança judicial de um crédito documentado por este tipo de instrumento e mais eficiente e célere.a 38 Finkelstein Maria Eugenia, 3ª ed, São Paulo: Atlas, p COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V.1. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
29 29 doutrina se refere a tais vantagens como, respectivamente, negociabilidade e executividade, o título de crédito é aquele que é entregue pelo devedor ao credor, representativo da relação de direito estabelecida entre eles 40. Eunápio Borges. O crédito, isto é, a confiança no cumprimento das obrigações, facilitou extremamente as transações comerciais, e a sua corporificação em documentos (títulos de créditos), com características especiais (circulação, executividade) contribuiu decisivamente para o desenvolvimento das relações comerciais. Sem os títulos de crédito, não se chegaria ao atual estado da economia mundial. Como define Waldirio Bulgarelli 41, os títulos de crédito representam o principal instrumento de circulação da riqueza. Luiz Emygdio Franco da Rosa Júnior, no aspecto moral, crédito é a confiança que uma pessoa deposita em outra se baseando em seus atributos morais.sob o prisma econômico, crédito é entendido como a permissão de usar o capital alheio, conferindo poder de compra a quem não dispõe de recursos para realizá-lo. Portanto, é a troca de prestação atual por prestação futura Neste contexto, Luiz Emygdio ensina que na economia moderna há excepcional velocidade nas operações mercantis, fazendo surgir à necessidade de circulação de riquezas mais rápida do que aquela permitida pela moeda manual. Isso se torna possível através do crédito, que permite a imediata mobilização da riqueza produzida. Waldirio Bulgarelli aduz que, nas práticas comerciais as operações de crédito passaram a serem efetuadas em massa, apresentando inúmeras modalidades, preponderantemente operações de financiamento, que se realizam em relação às empresas e ao público consumidor. Instituições financeiras normalmente concentram tais operações. Existe ainda acepção jurídica da palavra crédito, de maior importância para a compreensão e análise dos títulos de crédito. Luiz Emygdio explica que o crédito, nesse aspecto, significa a faculdade que o credor tem de haver de determinado devedor, um direito, prestação de obrigação. Portanto, o crédito 40 SILVA, De Plácido e. Verbete Documento in Vocabulário jurídico. 15ª edição, p. 287.
30 30 confere recursos a quem não os possui, como pode se verificar de forma clara nas operações de empréstimo de dinheiro operadas pelas instituições financeiras, contratos de mútuo ou venda a prazo. A Lei impõe que o título de crédito somente produz efeito quando preencha os requisitos previstos em lei. Esses requisitos são aqueles fixados nas leis especiais, para os títulos típicos ou nominados e que podem variar de acordo com a lei e o título. Para os títulos atípicos ou inonimados, nos termos do art. 889 do Código Civil são os seguintes: 1) a data da emissão; 2) a indicação precisa dos direitos que confere; e 3) a assinatura do emitente. São tais requisitos que tornam o documento autêntico, verdadeiro, capaz de aperfeiçoar o direito nele existente e dão ao portador a garantia de que necessita. Sem os requisitos impostos pela lei, o papel não será título de crédito Modalidades de títulos de crédito Inúmeras são as modalidades de títulos de créditos, merecendo realce as seguintes: letra de câmbio ou cambial, pela qual o credor dirige uma ordem ao devedor, para que este pague ao sacador, ou a um terceiro, a quantia especificada no título, inclusive os juros convencionados, em prazo certo; a nota promissória também é um título cambial e de crédito; diferente da letra de câmbio, porque, ao contrário desta, é sacada pelo devedor, que promete pagar ao credor, ou à sua ordem, determinada importância, em prazo certo. Ambos os títulos são transferíveis por endosso, ou seja, uma declaração ou a simples assinatura do sacador (credor na letra de câmbio e favorecido na nota promissória), lançada no verso do título. A palavra documento tem origem do latim e "designa qualquer base de conhecimento, fixado materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo, prova, etc. 43 " 41 BULGARELLI, Waldírio. Direito Comercial. 8ª. Ed. São Paulo. Atlas, COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, LUCCA, Newton de. Comentários ao Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, 2003, vol. XII, p. 136.
31 31 As principais espécies de títulos de crédito que são: Letra de câmbio; Nota promissória; Cheque; Duplicata; Títulos de crédito rural; Nota promissória rural; Duplicata rural; Cédula rural pignoratícia; Cédula rural hipotecária; Cédula rural pignoratícia e hipotecária; Nota de crédito rural; Títulos de crédito industrial; Debêntures; Warrant; Conhecimento de transportes; Ações; Títulos da dívida pública; Letra imobiliária; Cédula hipotecária; Os títulos, sendo garantidos por terceiros, recebem o aval destes, representado por sua assinatura no anverso ou frente do título. Outros títulos de crédito são o warrant, ou seja, o certificado de depósito. Embora depositadas, estão circulando pelo referido título, sendo objeto de transações ou contratos. O warrant é emitido pelos armazéns gerais, constituindo títulos pignoratícios, isto é, garantido por um penhor, representado pela mercadoria depositada. Os cheques ou títulos ao portador constituem modalidade de título de crédito, de grande uso no comercio. Na verdade os cheques devem ser precedidos de deposito para poderem ser emitidos, não representam, verdadeiramente, título de crédito, pois significam moeda em depósito no banco. Por vezes, poderá transformar-se em títulos na verdadeira acepção, porquanto pode ocorrer que o instituto bancário autorize o seu pagamento, mesmo sem o emitente possuir saldo em depósito; aí deparamos com a moeda dita escritural. O cheque sempre representa uma ordem de pagamento, endereçada pelo emitente a um estabelecimento de crédito, para que pague ao portador a soma nele especificada. Sua vida em geral, é muito curta, porquanto ele é rapidamente apresentado para reembolso. Os cheques podem ser nominais (quando indicam o nome do beneficiário ou do portador da ordem de pagamento) ou ao portador, se omite o nome do beneficiário, vale ressaltar que a Lei n 8.021, de 1990, o legislador adotou uma série de vedações relativamente a alguns documentos representativos de obrigação pecuniária ou investimentos, com o objetivo de identificar o respectivo titular. 44 Podem ser citadas mais as seguintes modalidades de título de crédito: debênture (representativa de empréstimos realizado pelas sociedades
32 32 anônimas ou pelo próprio Estado). Vencem juros, possuem prazo certo para resgate e são garantidas pelo patrimônio total da sociedade emitente. Apólice de dívida pública, emitida por pessoa jurídica de direito público, devedora, como garantia do empréstimo contraído. Hipoteca, contrato que representa um título de crédito e se fundamenta sempre numa garantia imobiliária. E, ainda as obrigações industriais, o contrato de penhor, a letra hipotecária, o bilhete de banco etc. os bilhetes de banco, também denominados notas bancárias, são títulos emitidos por instituições de créditos, para tanto autorizadas, representativas de moeda, pagáveis à vista e ao portador. Vale ressaltar a Lei n 8.021, de A nota bancária circula por simples tradição, equivalendo à moeda, pois é sempre representativa de um lastro de ouro ou prata. Todos esses títulos de crédito classificam-se em três grandes ramos: nominativos, se nele vier apontado o nome da pessoa com direito à prestação ou ao pagamento; à ordem, quando emitidos em beneficio da pessoa indicada ou daquela a quem esta ordenar o pagamento; ao portador, quando genericamente emitidos a favor do possuidor do título. Os nominativos são transferíveis mediante ato formal ou endosso, o mesmo ocorrendo com os que contêm a clausula a ordem; os ao portador se transferem por simples tradição manual. Vale ressaltar a Lei n 8.021, de COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003 p Gastaldi, J. Petrelli, Elementos de Economia Política, 18ª edição, Saraiva, p 280
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