CANTO OU GRITO TRIBUTÁRIO?
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- Thalita Mendes de Lacerda
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1 1 CANTO OU GRITO TRIBUTÁRIO? Delvani Alves Leme Consultor Curitiba/PR Dezembro/2005 Caetano Veloso e Jorge Mautner, quando produziram o CD Eu não peço desculpa, especialmente com a música intitulada Todo Errado, sem querer estavam fazendo um canto tributário para muitos profissionais responsáveis pelas questões tributárias e que serve como um verdadeiro desabafo. Sob a forma poética e musical, esses artistas estão fazendo um alerta para muitos administradores; um grito técnico, um grito profissional, um grito em prol da redução do custo das empresas e, certamente, da redução do custo Brasil. Esse canto de alerta se encaixa muito bem no dia-a-dia de muitos profissionais desse Brasil afora que fazem de tudo para conscientizar alguém sobre a importância das ações preventivas em questões tributárias. Nota-se que tais profissionais lutam desesperadamente para que as questões tributárias sejam tratadas com mais carinho e atenção pela administração superior dessas grandes corporações. Certamente Caetano e Mautner, nunca pensaram que estavam falando de problemas tributários, mas parafraseando a obra desses artistas, temos um retrato muito claro da angústia de advogados, contadores, auditores, consultores, dentre outros profissionais que trabalham para solucionar os problemas tributários nas grandes empresas. Diz a letra dessa canção:...eu não peço desculpa e nem peço perdão, não, não é minha culpa essa minha obsessão. Já não agüento mais ver o meu coração como um vermelho balão rolando e sangrando chutado pelo chão. Psicótico, neurótico, todo errado, só porque eu quero alguém que fique 24 horas do meu lado, do meu coração eternamente colado... Pois bem,
2 2 De fato, a cada dia que passa as questões tributárias ganham importância, pela arrogância do fisco e sua fúria arrecadatória dos valores envolvidos e das pesadas multas aplicadas; logo, é natural para quem milita na área tributária fazer pressão sobre as áreas onde surgem os problemas e se instalam berçários de riscos tributários causadores de pedidos de esclarecimentos do fisco e de autos de infração, eventos indesejáveis que chamamos de acidentes fiscais. Acidentes fiscais que dependendo do seu montante, dos erros e equívocos constatados, sem qualquer exagero, se transformam em verdadeiras tragédias fiscais para a corporação, sem chance técnica de defesa, em face do inequívoco descumprimento da lei. Em muitas empresas de grande porte tem sido comum a constatação de equívocos primários em determinadas áreas, especialmente quando ocorre atuação do fisco. Lamentavelmente é nesse momento que se constata de forma clara que não houve nenhum planejamento para eliminar os riscos tributários; que não existiu gerenciamento do contrato; que não existiu gestão documental e que, conseqüentemente os lançamentos contábeis estão equivocados; enfim, um festival de erros que na prática fica sobrando para a área jurídica e para a área contábil darem a solução na defesa dos interesses da empresa e, por fim, a área financeira que terá que desembolsar o numerário. Ocorridos esses acidentes fiscais, constata-se que nesse momento pulsa o ditado popular errar é humano, porém imputar o erro a outro é mais humano, especialmente em grandes corporações que não têm política de conseqüência. Os erros e equívocos são constatados e os prejuízos são contabilizados. No entanto, na prática não acontece nenhuma ação objetiva na causa desses eventos indesejáveis, em que pese o discurso em reuniões serem inflamados e apaixonantes e que dão a falsa impressão que está tudo resolvido, porém nada de concreto é implantado, especialmente em se tratando de empresas estatais. Alguém pode dizer que a afirmação anterior é um exagero. Há que se refutar, pois o exagero existe sim. Além de empresas estatais, esta constatação se verifica também em corporações privadas que se dizem ser de grande porte e que dissimulam seu passivo
3 3 tributário com defesas administrativas que se eternizam para, lá, na frente, ainda discutirem judicialmente a questão. Porém, na conseqüência desse adiamento, o débito tributário acaba sendo esquecido pelo administrador, até mesmo porque o provável é que não houve provisão contábil em face da classificação de risco para fins de provisão (remoto, possível e provável), o que é um engano que mais tarde pode surpreender o administrador para cumprir determinada obrigação tributária de pagar débito vultuoso. A administração das empresas não pode esquecer que toda delonga tem um fim. Claro que, diante dessa realidade, profissionais conscientes com os problemas tributários após terem sugerido tudo o que é possível de medida preventiva e nada ser providenciado, mesmo com o conhecimento da alta administração, diante da repetência dos mesmos erros e equívocos se desesperam, ficam angustiados. Na prática esses profissionais, especialmente advogados e contadores de empresas, têm que mostrar a realidade tributária para suas respectivas administrações. De forma profissional mostrar os erros e os equívocos, apontar onde estão as nascentes dos problemas. Jamais podem omitir dados e fatos, sob pena de agressão à verdade que no caso nada contribui para evitar os riscos tributários na sua corporação. No entanto, o que se tem notado é que essa postura, de mostrar a realidade tributária para a administração, causa sérios problemas para os profissionais que têm a obrigação de solucionar as questões fiscais, junto às áreas envolvidas e junto ao fisco. Normalmente é nesse momento que ocorrem ruídos na comunicação entre esses profissionais e os demais profissionais da área de onde devem sair os dados e esclarecimentos para a defesa dos interesses da empresa. Não pode ser esquecido que a certeza do fisco não suporta as vicissitudes de qualquer cotidiano corporativo. Portanto, quando a canção diz: Eu não peço desculpa e nem peço perdão, não, não é minha culpa essa minha obsessão., parafraseando esse sentimento, que me permitam os
4 4 autores a comparação que segue. A obsessão de muitos profissionais para evitar riscos tributários, faz com que o diálogo seja claro e sem rodeios com as áreas geradoras de acidentes fiscais o que em muitas vezes não é bem compreendido por essas áreas. Na prática o que se tem constatado é que nesses celeiros de problemas tributários, até mesmo em função da incompetência de muitos gestores com medo de perder poder e até mesmo o emprego a sensibilidade fica muito aflorada, o ciúme aparece de forma totalmente descabida e o pessoal do tributário acaba ficando como pessoas indesejáveis nessas áreas que as denomino de berçários de problemas tributários. A realidade tem mostrado que os gestores dessas áreas provocadoras de riscos tributários, sempre alegam falta de pessoal e excesso de trabalho; porém, desses mesmos gestores nunca se vê uma objetiva justificativa para melhor estruturar sua área, nunca se vê um planejamento sério de treinamento, sem falar no nível baixíssimo de motivação de seus subordinados, sobre o que nada se fala e nada é feito. A esse ponto, algum administrador poderá novamente pensar que as colocações acima são um exagero; mas não são, existem em muitas empresas que se dizem grandes, inclusive àquelas que fazem ou que pensam que fazem planejamento tributário. E o pior, constata-se que existem integrantes da alta administração de grandes empresas que, diante desse quadro indesejável, ingenuamente convidam alguém para ministrar uma palestra sobre o assunto e, sem nenhuma ação na causa dos problemas, pedem para o palestrante dar um susto no pessoal a respeito dos problemas tributários da empresa. Ledo engano que nada resolve! Pode colocar até mesmo o show man do ano para falar do assunto que nada será resolvido e tudo será perda de tempo. O que se precisa é de uma ação profissional que objetive a revisão dos procedimentos dos negócios, um plano permanente de treinamento, de auditoria e a implantação de uma política de conseqüência para o empregado que não atenda a legislação e demais orientações da empresa nas questões tributárias.
5 5 Deve-se defender, isto sim, a idéia de que os problemas tributários nas empresas têm que ser tratados interna corporis da forma mais democrática possível. Tem que existir uma discussão leal, séria e sem pudor; logo, o tema tem que ser discutido de forma clara, especialmente junto às áreas geradoras de problemas tributários e isto tem que ser feito sem qualquer constrangimento dos profissionais envolvidos. É que na grande maioria das vezes os processos internos precisam ser revistos e adequados à legislação para se evitar os riscos tributários e suas conhecidas conseqüências; portanto, esses profissionais têm amparo na canção em referência e têm que ser firmes, ou seja:... Eu não peço desculpa e nem peço perdão, não, não é minha culpa essa minha obsessão.. Ora, quem lida com as conseqüências dos erros e equívocos de outras áreas não é necessariamente o culpado; logo, é dever do advogado, do contador, do auditor e demais consultores e assessores, mostrar tais equívocos, sugerir e fazer de tudo para que erros conhecidos não sejam repetidos. Por outro lado, constata-se nas grandes corporações a falta de braços profissionais competentes e motivados para enfrentar o dia-a-dia com essas questões. Fazer prevenção, nem pensar. Como? Com que profissionais? Cadê o treinamento? Muito embora essas questões sejam colocadas para diretores e demais integrantes da administração superior da empresa, nota-se que a política é outra. Não querem contratar e o comodismo impede que seja estruturada determinada área para enfrentar o problema e implantar uma política de gestão tributária. Bem, isto nem pensar! Não pode ser deixado de lado o fato de que a partir de janeiro de 2006 o chamado computador T-Rex do Fisco Federal - fabricado pela IBM vai processar em segundos informações que hoje leva até 01 ano. Se considerarmos que atualmente muitas empresas estão com dificuldades de obter certidões na Receita Federal, no INSS e na Procuradoria da Fazenda Nacional - PGFN, imagine-se depois que as informações forem cruzadas em segundos?
6 6 Quero dizer com isto que o Fisco a cada dia que passa mais se capacita para uma arrecadação eficiente e ágil. E as empresas estão se preparando para atuarem preventivamente e de forma correta na aplicação da legislação tributária na mesma velocidade do Fisco? Penso que não! Portanto, cabe novamente uma comparação com a canção citada, ou seja: Já não agüento mais ver o meu coração como um vermelho balão rolando e sangrando chutado pelo chão. Psicótico, neurótico, todo errado, só porque eu quero alguém que fique 24 horas do meu lado, do meu coração eternamente colado..., será que os autores não estão gritando para esse pessoal que está trabalhando constantemente sob pressão e sujeitos também a riscos e erros? Será que esses profissionais não querem outros profissionais por perto, para que seja praticada a prevenção e não ocorram mais os conhecidos eventos indesejáveis, que além de todo trabalho significa grande prejuízo para a Corporação? Claro que profissionais assim já não agüentam mais e acabam ficando psicóticos, neuróticos, como sugere a canção, segundo tenho constatado. Nota-se, portanto, que de forma brilhante Caetano Veloso e Jorge Mautner, mesmo sem saber, acabaram falando dos anseios dos profissionais que atuam diretamente com o direito tributário nas grandes corporações, sejam elas estatais ou privadas, vez que parafraseando a letra da canção, fica implícito que nesse canto ou grito tributário, conforme sugere-se neste arrazoado, as questões tributárias precisam ser melhor tratadas pela administração de muitas corporações e, isto, tem que ser feito antes que os fatos atropelem a realidade tributária vivida por essas empresas. Parabéns para Caetano Veloso e Jorge Mautner, tributaristas ocultos que certamente sensibilizarão administradores para que tenham mais atenção ao pessoal da área tributária da sua corporação, tratando o assunto de forma mais profissional. Certamente os resultados serão extremamente vantajosos para todos. Finalizando, tem-se que a realidade tributária das grandes corporações não será mudada da noite para o dia, mas por razões óbvias tem que ser iniciada o quanto antes. O bom senso
7 7 diz que urgentemente tem que ser implantada uma política de prevenção de riscos tributários, visando a correta aplicação da legislação pertinente, tudo isto para que sejam evitados os indesejados acidentes fiscais. Quem dará o primeiro passo nessa caminhada? Os renomados músicos Caetano Veloso e Jorge Mautner, mesmo que sem saber já deram sua contribuição. Com a palavra Conselheiros, Diretores e todos aqueles que têm poder de decidir numa empresa. Delvani Alves Leme - Consultor Curitiba-PR - Dezembro/2005
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