POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE CARTOGRAFIA

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1 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE CARTOGRAFIA Marcela Maria da Silva 1 marcella.axe@gmail.com Juliana Farias de Araújo 2 julianafariasdearaujo@hotmail.com Janaína Lucélia dos Santos Silva 3 janalucelia@otmail.com RESUMO O espaço geográfico está em constante transformação, e nesse processo o conhecimento cartográfico permite a organização e compreensão do espaço ao qual estamos inseridos. Faz-se necessário rever o processo de ensino-aprendizagem constantemente e desenvolver práticas metodológicas atrativas principalmente, para os jovens que estão sempre à frente no dinamismo da contemporaneidade. O presente trabalho foi desenvolvido pela equipe PIBID de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Alagoas na Escola Estadual Ovídio Edgar de Albuquerque, em Maceió, envolvendo aproximadamente de 45 alunos do 9º ano do ensino fundamental II, visando as possibilidades de melhoria do ensino- aprendizagem nas aulas de geografia e dessa forma facilitando a compreensão da linguagem cartográfica. A partir de outras atividades, surgiu da necessidade de familiarizar os alunos com o tema, visto que os mesmos não tiveram aulas sobre o assunto ao longo de sua trajetória no ensino fundamental II. Se tratando da relevância da abordagem da cartografia e sua obrigatoriedade nos parâmetros curriculares, o objetivo foi associar aulas teórico-práticas para a formação do conhecimento da introdução à cartografia a partir de uma metodologia simples e lúdica por meio de aulas, oficina e jogos, utilizando atividades como: leitura de mapas, imagens e construções. As atividades foram desenvolvidas considerando o tempo regular de aula e utilizando como espaço a sala de aula. O estudo da cartografia é importante desde o início da escolaridade contribuindo para compreensão dos mapas, representação do espaço e percepção das mudanças espaciais ocasionadas pelas relações do homem com o meio. A proposta de aulas criativas e lúdicas construídas com materiais simples permitiu a facilidade no ensino-aprendizagem em cartografia e sua associação com o cotidiano dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: Ensino- aprendizagem. Geografia. Didáticas. Cartografia. 1 INTRODUÇÃO O espaço geográfico está em constante mudança, esse dinamismo se deve não só às transformações na natureza, mas principalmente, à ação humana sobre o ambiente em virtude do avanço tecnológico. 1 Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas 2 Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas 3 Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas 1

2 A cartografia sempre esteve em cerne no conhecimento geográfico, pois permite ao homem conquistas e descobertas, além da compreensão das relações que transformam o espaço. De acordo com os parâmetros curriculares nacionais (1998), a cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história. Santos (2014, pg. 2) afirma: A leitura cartográfica torna possível sintetizar informações, expressar conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas sempre envolvendo a ideia de produção do espaço, sua organização e distribuição. São ainda os Parâmetros Curriculares que reafirmam a importância da Cartografia, ao colocarem como um dos objetivos do estudo de Geografia no Ensino Fundamental, a utilização da linguagem cartográfica, para obter informações e representar a especialidade dos fenômenos geográficos, sugerindo blocos temáticos, onde elencam conteúdos, como a leitura e a compreensão das informações, que são expressas em linguagem cartográfica. Dentro da sala de aula a cartografia contribui para que os alunos compreendam, utilizem e desenvolvam habilidades de representação e leitura do espaço geográfico. O presente trabalho contempla registros da ação do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) da Universidade Federal de Alagoas, nas aulas de Geografia na escola pública Ovídio Edgar de Albuquerque, com alunos do 9º ano do ensino fundamental, com o objetivo de associar aulas teórico-práticas para a formação do conhecimento de introdução a cartografia. O trabalho surgiu no sentido de familiarizar os alunos com o tema, pois foi observado, a partir de outras atividades realizadas pela equipe do PIBID de Geografia, que os mesmos não tiveram aulas sobre o assunto ao longo de sua trajetória no ensino fundamental II. Nesse aspecto ponderamos sobre a importância da abordagem da cartografia ao longo do ensino básico, como ressalta Damasceno & Caetano (2013, pg. 4): Através do PCN (1998), a Cartografia, no decorrer do ensino fundamental II, tem como objetivo de ensino tornar o aluno capaz de ler o mapa 2

3 criticamente e de ser um mapeador consciente. Para isso, o aluno, ao longo de sua formação nessa fase de ensino, deve percorrer diversas etapas, como: a aprendizagem sobre mapas, cartas, plantas, maquetes, croquis, representações cartográficas (símbolos e conversões cartográficas), liberdade de representação cognitiva, percepção individual e criatividade. Dessa forma, a abordagem da cartografia, de forma progressiva no decorrer do ensino básico, tem como objetivo principal fazer com que, ao final do nono ano do ensino fundamental II, o aluno seja capaz de orientar-se e localizar-se espacialmente, por meio dos sistemas de referências geográficas mundialmente conhecidas e utilizadas, a partir de diferentes métodos e ferramentas que geralmente são acessíveis, tanto de maneira artesanal, quanto tecnológica por computador ou celular. Neste sentido, o projeto optou por uma abordagem cognitivista de ensino para a execução de trabalhos em grupos, e valorização dos jogos na sala de aula. 2 A CARTOGRAFIA NA SALA DE AULA O uso da cartografia não é recente, vem desde as grandes navegações e conquistas de territórios até a atualidade, entendendo que ao longo dos séculos houve mudanças significativas, facilitando ainda mais o uso da cartografia no cotidiano. Concordando com Francischett (2007, p. 03), que afirma: É possível perceber que o estudo da linguagem cartográfica vem, cada vez mais, reafirmando sua importância desde o início da escolaridade. Ele contribui não apenas para que os alunos compreendam os mapas, mas também para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. Os alunos precisam ser preparados para que construam conhecimentos fundamentais sobre essa linguagem, como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores. Entretanto, para que se desenvolva essa capacidade, é necessário ler e interpretar os conceitos da cartografia. O ensino da cartografia associado ao cotidiano é importante na construção dos saberes porque evidencia ao aluno não só o senso de localização, como 3

4 também, as mudanças (físicas, econômicas, sociais, humanas e políticas) que ocorrem no espaço geográfico como resultado das relações do homem com o meio. Assim, a cartografia tem a função de desenvolver um senso crítico do aluno, que comparando regiões pode chegar a conclusões de como funciona a sociedade em que vive. Freire (1997, p. 259 e 260) afirma: É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos. [...] Comecemos por estudar, que envolvendo o ensinar do ensinante, envolve também de um lado, a aprendizagem anterior e concomitante de quem ensina e a aprendizagem do aprendiz que se prepara para ensinar amanhã ou refaz seu saber para melhor ensinar hoje ou, de outro lado, aprendizagem de quem, criança ainda, se acha nos começos de sua escolarização. Moreira (2002) afirma que a Geografia é percebida e aprendida por força do próprio cotidiano, desse modo o conhecimento da cartografia pode ser consolidado. Entendendo a importância do aprendizado, Piaget (1974) afirma que as crianças só aprendem se tiverem interesse. Cabe aos docentes, despertar esse interesse, seja por meio de sua realidade ou por meio de abstrações, levando os alunos ao mais próximo possível do seu cotidiano, estimulando-os à construção do aprendizado, encontrando meios para despertar a curiosidade, a análise e a reflexão do conhecimento. Ao decorrer das aulas foram executadas oficinas e jogos, no sentido de estimular os alunos no processo de integração com a cartografia. Assim, as atividades foram desenvolvidas considerando o tempo regular de aula, somente utilizando como espaço a sala de aula. A primeira aula baseou-se em uma oficina, a qual teve como objetivo fazer com que os alunos pudessem identificar o uso da cartografia no dia-a-dia e estabelecer uma organização espacial a partir do espaço ao qual está inserido. Para 4

5 isso, inicialmente, os alunos foram provocados com algumas situações-problema. A partir disso, foi aplicada uma aula sobre a história da cartografia, sua evolução ao longo do tempo, conceito e aplicabilidades, tipos de mapas, pontos cardeais, rosa dos ventos e bússola. Em seguida, os alunos foram convidados a encontrarem o Norte da sala de aula, com o apoio de bússola, a partir de aplicativo nos próprios celulares. Com isso, foram localizados os quatro principais pontos cardeais, e cada parede recebeu a colagem da letra indicativa de seu respectivo ponto cardeal (FIGURA 1). Figura 1. Os pontos cardeais. Fonte: os autores (2015). Logo após, os alunos desenharam um croqui contendo a localização da casa em que moram, ou a escola, e seu entorno. Com isso, puderam indicar no desenho os quatro principais pontos cardeais, a partir de um ponto referencial (FIGURA 2). 5

6 Figura 2. Croqui pontos cardeais de um ponto referencial. Fonte: os autores (2015). Na segunda aula foi aplicado o jogo Batalha Naval (FIGURA 3) com o objetivo de conhecer as coordenadas geográficas. Para tanto, primeiramente, as turmas foram sondadas sobre o que sabiam a respeito do assunto por meio de perguntas. Após isso, foi feito uma explanação do conteúdo, e em seguida, o Jogo Batalha Naval. O jogo Batalha Naval, utilizado para essa aula, consiste em reproduzir um planisfério, confeccionado em uma folha de isopor comum uma grade de linhas e colunas simulando longitude e latitude, respectivamente. A turma, dividida em equipes, tem a tarefa de falar uma coordenada geográfica de acordo com o painel. Cada coordenada geográfica corresponde a um quadriculado do jogo que possui gravuras como: navio, submarino, porta-navios, e tiro-na-água, cada um com uma pontuação diferente. 6

7 Figura 3. Jogo Batalha Naval Fonte: os autores (2015). Na última aula foi apresentado o jogo Trilha do Saber (FIGURA 4) com o objetivo de aplicar todo o conteúdo teórico abordado sobre cartografia, fazendo com que os alunos estudassem o assunto, proporcionando uma forma descontraída e divertida para fixação do aprendizado. O Trilha do Saber é um jogo de tabuleiro que simula um caminho com casas a percorrer (FIGURA 5). Funciona com o auxílio de um dado, quatro bonecos pequenos de cores diferentes, e quatro pares de cartões com V e F separadamente, nas mesmas cores dos bonecos. O jogo é baseado em perguntas e respostas, com verdadeiro ou falso, onde cada equipe anda, ao ritmo dos dados, pelo caminho percorrendo as casas do circuito fechado. A equipe é penalizada sempre que cai em uma casa que tem um ponto de exclamação. A penalidade é responder uma pergunta aberta. Vence o jogo a equipe que primeiro completar o circuito. 7

8 Figura 4. Jogo Trilha do Saber. Fonte: os autores (2015). Figura 5. Jogo Trilha do Saber. Fonte: os autores (2015). Todas essas atividades foram pensadas de forma que utilizasse materiais acessíveis e de baixo custo, com métodos de fácil aplicabilidade e entendimento, 8

9 porém com valor de ensino/aprendizagem imensurável, pois a didática estimula e motiva o aluno a aprender e guardar o conhecimento. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho foi feito a fim de apresentar propostas de aulas criativas e lúdicas construídas a partir de materiais simples, de fácil acesso e manejo e dessa forma oferecer opções metodológicas para práticas de ensino e aprendizagem no que se refere à cartografia escolar. O objetivo das aulas foi alcançado, uma vez que, para teorizar o assunto e fazer exercícios para fixação dos mesmos, foram confeccionados alguns materiais didáticos, aplicado jogos pedagógicos, e utilizados mapas, tomando como base o que diz os PCNs (1998), que afirma que para o ensino de Geografia deve-se incluir a linguagem cartográfica e os mapas como conteúdos obrigatórios nas salas de aula. Portanto, é considerável que, para os alunos da escola alvo, a cartografia já não representa um objeto estranho, sendo incluso como parte do conhecimento escolar. No entanto, ponderamos a ausência de um laboratório de informática como instrumento importante para contextualizar a cartografia, considerando o que diz os PCNs (1998), que sugere a utilização de novas tecnologias nas atividades de ensino. O uso da tecnologia no ambiente escolar também é muito importante no processo do ensino-aprendizagem, considerando que se constitui num conhecimento indispensável na contemporaneidade além de se caracterizar como um recurso pedagógico bastante atrativo, especialmente para os jovens. Foi observado que a dificuldade que os alunos apresentavam a priori sobre o tema cartografia se deve ao fato que o mesmo não é tratado de forma constante no ensino básico. A cartografia é um assunto abrangente que tem várias vertentes, diante disso, percebemos a importância do assunto ser abordado progressivamente na escola. Em suma, fica evidente que o aprendizado não é um exercício para ser adquirido apenas na academia, mas que é complementado com o estudo e a prática 9

10 em sala de aula, e, diante dos percalços, é crescente a busca por formas de despertar o interesse dos alunos ao conhecimento. REFERÊNCIAS DAMASCENO, Marília de Fátima Barros; CAETANO, AdryaneGorayeb Nogueira. Análise da cartografia escolar no ensino básico: um estudo de caso no ensino de geografia. Geosaberes, Fortaleza, v. 4, n. 7, p , jan. / jul ISSN: FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. A cartografia escolar crítica. BOOC, FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. Editora Olho D'Água, 10ª ed., p , PIAGET, Jean. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, MOREIRA, Ruy. O que é Geografia? São Paulo: Brasiliense, PIAGET, Jean. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, SANTOS, Catarina Maria dos. A cartografia no ensino fundamental: construindo o espaço social a partir da percepção do aluno. Faete, Teresina,