VARIAÇÃO DITONGO/HIATO
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- Bento Carvalho de Sequeira
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1 VARIAÇÃO DITONGO/HIATO Viviane Sampaio 1 1 Introdução Este estudo é parte integrante do projeto Epêntese Consonantal Regular e Irregular da prof. Dr. Leda Bisol 2 que trata das consoantes e do glide. Contudo, o presente trabalho aborda, apenas, o glide que na estrutura subjacente é uma vogal alta a qual, ao lado de outra vogal se manifesta como glide para resolver o hiato, criando pares como di.a.bo ~ dja.bo ou sem variação como ideia (idea), passeio (passeo), veia (vea), Leia (Léa), palavras assim dicionarizadas. O objetivo do estudo é fazer uma descrição cuidadosa da ocorrência do glide na fala de adultos nativos da cidade de Porto Alegre no intuito de oferecer elementos para a descrição do português brasileiro com o enfoque principal na observação da variação entre ditongo e hiato. Entende-se por ditongo a sequência de duas vogais, uma das quais é alta, como pai [paj] ou média convertida em alta como em [seara] > [siara]. Todo ditongo possui uma vogal alta que se manifesta como glide, o qual é também referido como semivogal. Segundo Clements (1990), o glide é uma vogal alta /i, u/ na estrutura subjacente que se manifesta na fala ou estrutura de superfície por silabação, na posição de consoante, formando ditongos como em pja.da ~ pi.a.da, min.gaw e pa.paj. 2 Procedimento A metodologia de análise segue a teoria de Labov (1966), que diz respeito ao estudo de regras variáveis na qual se admite duas formas de dizer uma mesma palavra. Labov defende a ideia de que a variação é condicionada por fatores linguísticos e sociais e que faz parte do sistema linguístico. Para a análise de regra variável, em que se encaixa o trabalho, foi criado um modelo específico denominado inicialmente VARBRUL 2S. Desde então muitos estudos se fizeram nessa linha no Brasil. Sobre o VARBRUL 2S Brescancini (2002) explica que esse toma um 1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Rio Grande do Sul Brasil. 2 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Brasil.
2 conjunto de dados linguísticos e organiza-os, de acordo com uma variável dependente, então realiza um algoritmo que oferece informações estatísticas, na forma de pesos relativos. Os dados para análise foram extraídos de oito entrevistas da amostra de Porto Alegre do Projeto VARSUL 3 que se trata de um banco de dados com de mais de 300 entrevistas gravadas, cada uma das quais com cerca de 1h de duração. O banco de dados VARSUL é constituído de amostras representativas da fala dos três Estados do Sul do País: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, envolvendo a capital e três cidades do interior. Quanto às etapas da análise, primeiramente realizou-se o levantamento dos dados da mostra de Porto Alegre (VARSUL), registrando-os e, em seguida, classificaram-se os dados de acordo com critérios estabelecidos com a orientadora do projeto de modo a prepará-los para a análise laboviana. Esses critérios constituíram as seguintes variáveis: origem do glide, no que diz respeito à natureza da vogal originária; posição do glide na palavra, precedido de cosoante como em piada, precedido de grupo consonantal com em prioridade ou se em início de palavra como em iodo ; vogal seguinte e posição na palavra, quanto à posição do glide na palavra em relação ao acento. No que diz respeito às variáveis socioculturais foram consideradas: idade, mais e menos de 50 anos; escolaridade, 1º e 2º graus e sexo, masculino e feminino. A segunda etapa do trabalho correspondeu à escuta das palavras com o registro das sequências (VV) em estudo. Somente foram analisados ditongos crescentes. Em seguida, classificaram-se os dados de modo a prepará-los para a análise de regra variável via modelo de Labov, de acordo com as variáveis linguísticas e socioculturais atribuindo-lhes símbolos específicos para a possibilidade de leitura do programa computacional. Pronta à classificação, os dados classificados foram submetidos a uma análise probabilística através do software GOLDVARB, que apresentou resultados em termos de percentual e probabilidade. A apresentação dos resultados por meio de tabelas e descrições correspondeu à última etapa do estudo. 3 Discussão dos resultados Quanto aos resultados apresentados, o programa computacional apontou como relevantes duas variáveis: a posição do ditongo na palavra e a escolaridade, as quais estão representadas nas tabelas 1 e 2. 3 Variação Linguística Urbana no Sul do Brasil.
3 Tabela 1 Posição do ditongo na palavra Fatores Aplicação/Total Percentual Peso Relativo Tônica dja.bo 289/290 99,7 % 0,99 Átona pje.da.de 129/130 99,2 % 0,98 Átona inicial iodo 2/242 0,8 % 0,0 Input: 0,894 Significância: 0,023 A Tab.1 indica que toda sequência de duas vogais em que uma delas é uma vogal alta tende a tornar-se ditongo, seja em sílaba tônica (0,99) seja em sílaba átona (0,98). Ao mesmo tempo, os resultados acima assinalam a pouca existência de palavras iniciadas por glide. Tabela 2 Escolaridade Fatores Aplicação/Total Percentual Peso Relativo 1º grau 189/294 64,3% 0,10 2º grau 231/368 62,8% 0,85 Input: 0,894 Significância: 0,023 A Tab. 2 indica que, na amostra em estudo, os falantes do 1 grau usam mais hiato do que ditongo, enquanto os de 2 grau dão preferência ao ditongo. Isso está a indicar que ditongação vem sendo preferida ao hiato. O escasso uso do ditongo está relacionado à influência da escrita nos anos inicias. A tabela seguinte, Tab. 3, não foi escolhida como relevante pelo programa, contudo como se trata de uma informação que nos parece importante, ela foi inserida na análise. Tabela 3 Vogal base do ditongo
4 Fatores Aplicação/Total Percentual Peso Relativo o piolho 72/83 86,7 % 0,78 a piada 279/435 64,1 % 0,49 e piedade 35/67 52,2 % 0,37 - ruela 3/6 50,0 % 0,35 i suíno 23/48 52,2 % 0,33 - carioca 3/7 42,9 % 0,29 u miúdo 5/16 31,2 % 0,2 Input: 0,645 Significância: 0,000 A Tab.3 apresenta com os valores mais altos as sequências (io) e (ia) tanto quanto ao percentual quanto ao peso relativo. Todas as demais estão abaixo de 0,50, o ponto neutro. Entre os valores mais baixos salientam-se (i, u) na base. Isso indica que quanto mais distantes estão as duas vogais em relação ao grau de abertura, mais apropriada é a sequência para a formação do ditongo, por exemplo, (a, i) é melhor do que (i, u). A última tabela (Tab.4) apresenta o total de ocorrências de ditongos e hiatos na amostra em estudo. Tabela 4 Total de ocorrência Fator Ocorrência Ditongo 420/662 = 63,4 % Hiato 242/662 = 36,6 % Dos resultados gerais da amostra (662 palavras), infere-se que o ditongo (63,4%) é preferido ao hiato (33,6%). 6 Conclusão A ocorrência do glide na amostra utilizada se mostrou mais frequente obedecendo a expectativas, uma vez que a língua portuguesa tem preferência à formação de ditongos.
5 Por meio da rodada do programa e das análises combinatórias das variáveis notou-se que a escolaridade é um fator influente nos primeiros escolares, pois controla a emergência do ditongo. Indivíduos com o 2º grau preferiram o ditongo ao hiato, o que se esperava, pois é uma tendência da língua falada. Também podemos constatar que a posição do ditongo na palavra é fator relevante no processo de ditongação. Todavia, tanto ditongo e como hiato estão presentes no sistema da língua portuguesa. Referências BRESCANCINI, Cláudia. A análise de regra variável e o programa VARBRUL 2S. In: BISOL, Leda; BRESCANCINI, Cláudia (Orgs.). Fonologia e Variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre, PUCRS, p CLEMENTS G e Hume, E. The Internal Organization of Speech Sounds. In: The Handbook of Phonological Theory. Blackwell, LABOV,W. The social Stratification of English in New York City. Whashington, D.C.: Center for Applied Linguistcs, 1966.
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