FORMAÇÃO JURÍDICA E POVOS INDÍGENAS Desafios para uma educação superior no Brasil
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- Ágatha Coradelli de Paiva
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1 1 FORMAÇÃO JURÍDICA E POVOS INDÍGENAS no Brasil Resumo: Realização de seminário para diagnóstico, debate e propostas de solução quanto a dimensões da formação de indígenas em Direito no Brasil, congregando universidades, operadores do Direito e suas associações profissionais e de ensino, advogados e organizações indígenas, órgãos públicos da área da Justiça e ONGs atuantes quanto aos direitos indígenas. Realização Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceri a com Trilhas de Conhecimentos Laboratório de Pesquisas em Etnicidade,Cultura e Desenvolvimento (Laced) Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Apoio Associação Brasileira de Antropologia (ABA) Financiamento Fundação Ford Data: 21, 22 e 23/03/2007 Local: Hotel Sagres Belém Pará Brasil
2 2 1. Contexto A partir da Constituição de 1988, os povos indígenas foram reconhecidos como detentores de direitos originários à terra, como atores juridicamente capazes para entrarem em juizo através de sua organizações, rompendo com o status a eles atribuído pelo Artigo 6 o do Código Civil de 1916, que os colocava como portadores de capacidade civil relativa, a mesma condição das mulheres casadas (até 1962), dos loucos, dos pródigos, dos maiores de dezesseis anos e menores de vinte e um, sendo que seu parágrafo único estabelecia o regime tutelar e facultaria ao Estado nacional brasileiro o papel de seu tutor. O texto constitucional foi mais longe: definiu os direitos indígenas como direitos coletivos (uma novidade em nosso país), reconheceu sua dimensão de culturalmente dferenciados, bem como seus direitos à organização própria, lançando as bases legais da luta pela construção de um Estado pluriétnico, que represente o caráter multicultural da sociedade brasileira. Os direitos à organização própria foram contemplados por uma política nacional de educação indígena no nível do ensino fundamental, que teve na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996) um marco. A partir de 1999, desenvolveu-se uma política nacional de saúde indígena, atribuição da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA)/Ministério da Saúde (MS). Em junho de 2002, finalmente o Congresso Nacional ratificou a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais, da Organização Internacional do Trabalho, válida no ordenamento jurídico brasileiro desde agosto de 2003, que estabelecendo o critério de auto-atribuição, reconhece aos indígenas o direito fundamental de serem percebidos como povos, sem que isso signifique soberania territorial. 1 Tais vitórias são, porém, precárias, na medida em que não há ainda uma legislação infra-constitucional que compatibilize as ações públicas e privadas quanto aos povos indígenas e suas terras ao texto constitucional. 1 Cf. Souza Lima, Antonio Carlos de & Barroso-Hoffmann, Maria (orgs.). Além da tutela. Bases Para uma nova política indigenista III. Rio de Janeiro, Contra Capa Livraria/Laced, 2002, sobre algumas das principais questões jurídicas atuais dos povos indígenas.
3 3 Nesse cenário dos anos 1990, coincidente em larga medida com os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso no governo do Brasil, cresceram em número, e fortaleceram-se, e mudaram de sentido inúmeras organizações indígenas, que juntamente com muitas Organizações Não Governamentais (ONGs), adquiriram progressivamente maior participação nas políticas públicas destinadas aos indígenas. Assim, definiu-se como um cenário futuro desejável, ainda que utópico e com muito por ser construído, o reconhecimento do Brasil como país pluriétnico e assumidamente multicultural, com o delineamento de uma cidadania indígena, positivamente diferenciada e sem mediação de não-índios, aparelhos de Estado ou ONGs. Para que essa construção ultrapasse a dimensão de um cogito, as organizações e povos indígenas têm reivindicado estratégias que permitam a formação de indígenas capazes de articular os conhecimentos tradicionais de seus povos e das tradições ocidentais de conhecimento de que o Brasil é caudatário. Dentre essas ações, a demanda pelo acesso à educação superior, como uma das estratégias para o etnodesenvolvimento têm motivado ações de diferentes procedências e matizes, governamentais e não-governamentais, mas todas preocupadas com a preparação de indígenas profissionalmente capacitados em áreas estratégicas para o projeto de reconhecimento dos povos territorializados existentes dentro de nosso país. 2 A formação de advogados indígenas insere-se nesse contexto mais amplo, e é um dos mais importantes pontos na construção de capacidades de disputa e argumentação no espaço público brasileiro. Existem hoje em torno de seis indígenas que atuam enquanto advogados no Brasil. Não é mister apenas fazer crescer este número, mas também contribuir para alterações mais amplas na formação jurídica ao nível de graduação oferecida no país, o que por si só a perspectiva de formar indígenas em Direito vem pôr em questão. 2 Foi nessa direção que se organizou o projeto Trilhas de conhecimentos: o ensino superior de indígenas no Brasil, com financiamento da Pathways to Higher Education Inititative da Fundação Ford, iniciado pelo LACED-Museu Nacional/UFRJ em fevereiro de 2004.
4 4 2. Objetivos Geral: Discutir e propor ações afirmativas para a formação de indivíduos integrantes do movimento indígena em Direito no Brasil. Específicos: 1. Conhecer e refletir sobre as experiências de formação de indígenas em Direito no Brasil. 2. Conhecer e refletir sobre a formação de juristas indígenas em outros contextos nacionais nas Américas. 3. Refletir sobre e propor soluções para os desafios institucionais na formação de juristas indígenas nos do sistema universitário brasileiro atual. 4. Discutir propostas de políticas públicas para ações afirmativas no ensino superior, destinadas a formações universitárias de indígenas orientadas pelas metas de etnodesenvolvimento. 5. Gerar conhecimentos que, divulgados sobre a forma de publicação virtual e impressa, contribuam para a multiplicação de iniciativas de formação de juristas indígenas no país. 3. Metodologia O trabalho desenvolver-se-á em três dias de atividades, em três turnos nos dois primeiros dias (manhã, tarde e noite até às 20h), e em dois no terceiro. Será encaminhado um documento-base do seminário a todos os convidados. Abrangerá atividades desenvolvidas em mesas redondas de apresentação com debatedores e grupos de trabalho ambas com relatores e conferências, encerrando-se com uma plenária após a apresentação
5 5 dos relatores. Haverá, ainda, uma relatoria geral do seminário que deverá somar à preparação de publicação futura com os resultados do trabalho. 4. Estrutura do evento 1º Dia (quarta-feira) De manhã 9h. Abertura 10h. Apresentação da metodologia de trabalho Pausa para café 11h. Tema 1: Direito, Povos Indígenas e Ensino Superior Questões: (1) Desafios na formulação de um direito indígena no Brasil; (2) Para que e para quem formar juristas indígenas? (3) Em que formar (pluralismo jurídico, conhecimento tradicional)? (4) Antropologia e Direitos: interfaces necessárias. Interrupção para Almoço 14h. Tema 2: Advogados indígenas do Brasil, experiências de formação Questões: (1) Como e para que formar indígenas em Direito? Pausa para o café 18h. Conferência 2º Dia (quinta-feira) 9h. 16h. Tesa 3: Desafios institucionais para a formação de juristas indígenas Questões: (1) Como e em que as instituições estão formando os indígenas? Pausa para o café 11h. Tema 4: Futuro e desafios das ações afirmativas no Brasil povos indígenas, conhecimentos científicos e universidades Questões: (1) Como se dá o acesso e a permanência no curso de graduação? Interrupção para almoço 14h. Grupos de Trabalho
6 6 Temas: 1. Para que formar juristas indígenas no Brasil? 2. Como formar juristas indígenas? 3. Em que formar juristas indígenas? 4. Direitos diferenciados, ações afirmativas e povos indígenas,construindo o direito à diferença na luta contra a desigualdade. À noite 18h. Conferência 3º Dia: (sexta-feira) 9h. Fechamento das discussões nos GTs Pausa para café. 11h. Apresentação dos resultados dos GTs Interrupção para almoço 14h. Plenária: Apresentação dos relatórios seguido de debate 5. Resultados e produtos Espera-se obter com o debate e os textos de relatores no seminário um documento com medidas que propiciem o incremento da formação de juristas indígenas no Brasil. Espera-se ainda, com a gravação em fitas e em vídeo, obter o material para elaboração de um livro sobre o tema.
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