Assembleias dão voz a alunos e docentes
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- Laís de Sousa Bayer
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1 Gestão democrática; Assembleia Assembleias dão voz a alunos e docentes Gestora Nota 10 democratizou as decisões por meio de reuniões e estimulou a liderança dos professores em sala de aula Aurélio Amaral Caixa de sugestões da turma Ao longo da semana, os alunos depositam nos envelopes críticas, sugestões e felicitações Preparação para a assembleia Um dia antes da assembleia, o professor elabora a pauta com base nos bilhetes, agrupando temas parecidos e estabelecendo uma ordem para o debate
2 Reunião com os alunos Os assuntos são abordados de maneira genérica. Para não expor os alunos, o professor coloca em discussão sempre as atitudes, nunca os autores Participação ativa Depois que o professor introduz a questão, todas as crianças têm direito de opinar Hora de votar O docente reúne as opiniões e põe em votação regras para resolver o problema
3 Unidos na resolução Caso as sugestões de solução extrapolem a sala de aula, o professor leva a demanda à equipe gestora As assembleias de classe revolucionaram o dia a dia da EMEF Francisco Cardona, em Artur Nogueira, a 142 quilômetros de São Paulo. Os encontros são realizados semanalmente em todas as turmas, do 1º ao 5º ano. O que é possível se resolve com debate e votação. O restante é encaminhado à diretora, Débora Del Bianco Barbosa Sacilotto. "Muitas vezes, tenho de mobilizar professores, funcionários e até a Secretaria Municipal de Educação para que as sugestões saiam do papel", explica. O projeto institucional rendeu a Débora o Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10 na categoria Gestor. Quando deu início ao trabalho, em maio de 2011, ela não esperava receber tantas sugestões que afetassem a gestão. O objetivo principal era reduzir os conflitos entre alunos mandados com frequência para a sala da direção. Além de atrapalhar a rotina da equipe gestora, o hábito sinalizava que os docentes não estavam conseguindo solucionar os problemas na sala de aula. Com as assembleias, eles passaram a resolver essas pequenas brigas com a ajuda dos próprios alunos e a refletir antes de levá-las a outras instâncias. O processo funciona da seguinte maneira: ao longo da semana, as crianças escrevem bilhetes e os depositam em envelopes com os dizeres "eu critico", "eu felicito" e "eu sugiro". O docente os lê antecipadamente e elabora a pauta da discussão. Todos são orientados a não expor colegas e funcionários, focando as mensagens sempre nas atitudes - nunca nas pessoas. Após a leitura coletiva dos textos, os participantes sugerem encaminhamentos e estabelecem, em conjunto, normas de convivência (leia sobre as principais mudanças já realizadas no quadro abaixo). "Como os estudantes definem as regras, o comprometimento em respeitá-las é maior. E, com o tempo, eles passam a esperar a assembleia para discutir o que os incomoda", explica Ariane Tagliaferro Molina, professora do 1º ano, que deu a ideia do projeto. Ela havia feito um estágio em uma escola onde a iniciativa tinha dado bons resultados. Sugeriu, então, experimentar com sua turma e convidou Débora para assistir. "Fiquei impressionada com a qualidade das questões
4 levantadas", conta a diretora. Para implantar a atividade em toda a escola, Débora elaborou um projeto de formação junto com a vice-diretora e as coordenadoras pedagógicas. Nos encontros com toda a equipe, estudaram o livro Assembleia Escolar: Um Caminho para a Resolução de Conflitos, de Ulisses Ferreira de Araújo (104 págs., Ed. Moderna, tel , edição esgotada) e assistiram a um documentário sobre o tema. Mesmo com as referências teóricas e as discussões prévias, contudo, as assembleias podem reservar algumas surpresas. Afinal, o canal de comunicação também abre espaço para desabafos, sugestões às quais não se pode atender e críticas, às vezes duras, dirigidas aos educadores. "Não é fácil ouvir um aluno apontando um defeito meu", afirma Camila Natalia Prado Santos, professora do 2º ano. "Mas aos poucos percebemos que nós também temos de mudar a postura." Para que todos entendam que tipo de demanda deve ser levada a esse espaço, as regras têm de ser constantemente apresentadas e revisadas. Débora ainda instituiu encontros mensais voltados aos docentes. Neles, todos expõem os assuntos que afetam seu trabalho. Com isso, também têm a chance de se colocar no lugar dos alunos e saber como eles se sentem durante os debates realizados na sala de aula. As discussões já renderam alguns ajustes na rotina: os conselhos de classe agora são marcados fora do horário de atividade coletiva e o controle de entrada e saída dos funcionários foi alterado para evitar as faltas sem justificativa. Além das mudanças práticas desencadeadas, as reuniões ampliaram o poder de comunicação da meninada e reforçaram a capacidade dos educadores de gerir a sala de aula. Ana Benedita Brentano, formadora de professores do Instituto Avisa Lá e selecionadora do Prêmio, considera que o projeto de Débora e sua equipe é ousado por reforçar o papel da escola como um lugar onde crianças e adultos dialogam sobre suas ideias. "Para chegar a isso, ela teve de mudar o prisma da gestão, de centrada na direção a compartilhada com todos", diz. A turma pediu, a gestora atendeu Conheça alguns problemas apontados e como eles foram resolvidos Antes - As refeições eram servidas pelas merendeiras, o que gerava desperdício. - A única opção de talher era a colher. - O cardápio era repetido semanalmente. - O cheiro forte de água sanitária incomodava. - A sala de informática ficava fechada e ociosa. - O barulho do pátio e do corredor atrapalhava as aulas. - Os alunos faziam alongamento deitados no concreto da quadra esportiva. - As luzes da quadra ficavam acesas. - Uma funcionária era ríspida com as crianças.
5 Agora - As crianças fazem o próprio prato e o desperdício é monitorado em um quadro. - Garfo e faca também estão disponíveis. - Novas receitas são preparadas. - Os produtos de limpeza têm menos cloro. - O laboratório funciona, e com novas máquinas. - Representantes da turma que reclamou pedem silêncio aos colegas de outras classes. - Nas aulas de Educação Física são distribuídos colchonetes. - As lâmpadas são desligadas durante o dia. - Ela não trabalha mais na escola. Endereço da página: Publicado em NOVA ESCOLA Edição 258, 01 de Dezembro de 2012
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