Tribunal de Contas da União. Número do documento: DC /98-P. Identidade do documento: Decisão 792/ Plenário

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1 Tribunal de Contas da União Número do documento: DC /98-P Identidade do documento: Decisão 792/ Plenário Ementa: Administrativo. Requerimento formulado por genitora de ex-servidor deste Tribunal. Pedido de pensão vitalícia da Lei 8.112/90. Não comprovada a dependência econômica. Indeferimento. Ciência à interessada. - Dependência econômica. Considerações sobre o assunto. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo II - CLASSE VII - Plenário Processo: / Natureza: Administrativo Entidade: Órgão de Origem: Tribunal de Contas da União Interessados: Interessada: Maria José Souza dos Santos Dados materiais: DOU de 20/11/1998 Publicada também no BTCU 84/1998 Unidade Técnica: SEGEDAM Sumário: Pedido de concessão de pensão do art. 217, I, "d", da Lei nº 8.112/90 formulado por genitora de servidor falecido deste Tribunal. Interessada aufere renda mensal que lhe permite sobreviver condignamente. Não comprovada a dependência econômica legalmente exigida. Indeferimento do pleito. Ciência à interessada. Arquivamento.

2 Relatório: Versa a espécie sobre pedido de concessão de pensão formulado pela Sra. Maria José Souza dos Santos, mãe do ex-servidor José Souza dos Santos, com fundamento no art. 217, inciso I, alínea "d", da Lei nº 8.112/90, que confere a possibilidade de concessão de pensão vitalícia à mãe e ao pai que comprovem dependência econômica do servidor. 2.Afirmou a requerente que, embora receba proventos de aposentadoria da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dependia economicamente do de cujus e que se compromete a renunciar àqueles proventos, se lhe for deferida a pensão ora pleiteada. 3.Com vistas a fazer prova do que entende ser seu direito, juntou os documentos de fls. 3/20, que consistem em recibos de contas de luz, recibos de tratamentos dentários, recibos de aluguel residencial, contracheques dos proventos recebidos do IBGE, recibos de contas telefônicas, cópia de sua cédula de identidade, certidão de óbito do ex-servidor, extratos da conta bancária do ex-servidor e documentos que atestam ter a guarda de duas menores. 4.Em parecer lançado às fls. 21/25, a Divisão de Legislação de Pessoal manifestou-se pelo deferimento da concessão, por entender, em síntese, que: 4.1. os requisitos para concessão de pensão à genitora são apenas a não-habilitação do cônjuge ou companheira e a comprovação de dependência econômica; 4.2. não houve, até então, habilitação de cônjuge ou companheira, sendo improvável que esta venha a se dar, uma vez que o de cujus era solteiro, não convivia maritalmente e não tinha filhos; 4.3. não obstante perceba proventos de R$ 956,63 (novecentos e cinqüenta e seis reais e sessenta e três centavos), a requerente não pode suprir as próprias necessidades de sobrevivência, comprovando-se este fato pelos documentos trazidos aos autos; 4.4. não há definição legal do que vem a ser dependência econômica; 4.5. a Constituição da República e o Código Civil estabelecem o dever de amparar os genitores; 4.6. o dever de amparo estende-se aos familiares mesmo após a morte do servidor, que contribuiu para a formação de um fundo que proporcionará os benefícios do plano de seguridade; 4.7. a jurisprudência deste Tribunal permite que a comprovação de dependência econômica seja feita por qualquer meio idôneo e capaz de imprimir firme convicção e não exige que o interessado não perceba nenhuma remuneração mensal; 4.8. a requerente manifestou-se disposta a renunciar aos proventos que por ora percebe. 5.A Sra. Secretária de Recursos Humanos, em parecer exarado às fls. 26/27, não obstante tenha afirmado que "a renda mensal auferida pela pleiteante aproxima-se do valor máximo previsto para pagamento aos

3 aposentados pela Previdência Social, sendo, no mínimo, impróprio considerá-la insuficiente para atendimento às 'necessidades primárias' de uma pessoa", acolheu o parecer da DILP e posicionou pelo deferimento da concessão, com fundamento no fato de que a requerente recebia contribuição mensal do de cujus para poder honrar seus compromissos financeiros. 6.Manifestando-se às fls. 28/29 dos autos, o Sr. Secretário-Geral de Administração Substituto entendeu caracterizada a dependência econômica e pugnou pelo deferimento do pleito. 7.Instada a pronunciar-se, a Sra. Consultora-Geral do Gabinete da Presidência entendeu presentes os requisitos legais para o deferimento da concessão e acrescentou que, por inexistência de comando legal que a obrigasse, seria despicienda a renúncia da requerente aos proventos que ora recebe em função de aposentadoria como servidora do IBGE. 8.Por determinação da insigne Presidência desta Corte, foi efetuado sorteio de Relator, cabendo-me, em decorrência desse ato, atuar neste feito. 9.Por entender que a matéria de fato não estava suficientemente comprovada, determinei a remessa dos autos à DILP, com vistas a que procedesse à diligência para que a interessada trouxesse aos autos novos elementos capazes de referendar seu pretenso direito. 10.Realizada a diligência, a interessada colacionou os documentos de fls. 48/66, que referem-se a: declaração de que, além de seus proventos de aposentadoria, tem como única fonte de renda pensão paga pelo INSS, no valor de R$ 130,00 (cento e trinta reais), decorrente do falecimento de seu cônjuge; termo de guarda de duas menores; comprovante de pagamento de empréstimo; atestado médico que informa ser a interessada portadora de doença cardíaca; comprovante de compra de linha telefônica; contas telefônicas; extratos bancários; declaração do imposto de renda apresentada à Secretaria da Receita Federal. 11.Aduziu, por fim, a interessada que não podia custear suas despesas sem o auxílio financeiro que lhe era prestado pelo de cujus e que, embora não disponha de meios de provas, as transferências bancárias não eram a única ajuda que o finado lhe prestava, uma vez que este viajava constantemente para o Rio de Janeiro, onde pagava, em espécie, as contas telefônicas, de luz e outras, bem como supria suas demais necessidades. É o Relatório. Voto: Para que possa ser reconhecida como beneficiária da pensão vitalícia prevista no art. 217, inciso I, alínea "d", da Lei nº 8.112/90, a mãe do servidor deve comprovar a dependência econômica deste e não pode haver habilitação das pessoas designadas no 1º do mencionado dispositivo legal. Dessa forma, não ocorrendo a concessão de pensão ao

4 cônjuge ou à companheira que comprove união estável (inciso I do art. 217 da Lei nº 8.112/90), a mãe, que comprove dependência econômica, pode habilitar-se ao recebimento da pensão. 2.Os pareceres constantes dos autos, com vistas a demonstrar que provavelmente não haverá habilitação de beneficiários abrigados pela letra das três primeiras alíneas do inciso I do art. 217 da Lei nº 8.112/90, afirmam que o de cujus não contraiu matrimônio, não deixou filhos e não vivia em união estável com companheira. É possível dar crédito a essas informações, pois, certamente, disposição em contrário teria sido registrada em seus assentamentos funcionais neste Tribunal. Há ainda, outro elemento objetivo que acena nesse sentido. Decorridos mais de cinco meses do óbito, não houve habilitação à pensão com supedâneo nas mencionadas alíneas, o que reforça a tese de que a genitora do ex-servidor é a única pessoa que buscará o pensionato. 3.Nesse sentir, o primeiro dos requisitos legais está atendido. Resta, contudo, saber se está caracterizada a dependência econômica do ex-servidor, sem a qual é impossível deferir a pensão pleiteada. 4.A dúvida advém do fato de que a requerente percebe proventos mensais de aposentadoria no valor aproximado de R$ 956,00 (novecentos e cinqüenta e seis reais), bem como pensão do INSS, no valor de R$ 130,00 (cento e trinta reais), o que lhe confere renda mensal de cerca de R$ 1.086,00 (mil e oitenta e seis reais). 5.As provas apresentadas pela interessada demonstram que no período de abril de 1997 a abril de 1998, treze meses, se consideramos incluídos ambos os limites, o de cujus transferiu para a conta bancária da interessada (965927, ag. 1250, banco 001) R$ 6.480,00 (seis mil quatrocentos e oitenta reais). Quanto à alegada contribuição habitual, que seria feita por ocasião das viagens do ex-servidor ao Rio de Janeiro, a interessada não fez prova, não podendo, por via de conseqüência, ser considerada. Sob pena de cometer injustiças, não pode o julgador desviar-se das provas produzidas nos autos. No mais, há nos autos provas de que: o de cujus adquiriu, em seu nome, uma linha telefônica que se encontra instalada na residência da interessada; a interessada tem a guarda de duas menores; é portadora de doença cardíaca; paga aluguel residencial em valores compreendidos entre R$ 430,34 e R$ 462,66; paga contas telefônicas de R$ 106,53 a R$ 265,73; paga prestação de cerca de R$ 28,00, referente a empréstimo contraído junto ao Unibanco. 6.O fato de a interessada ser portadora de doença cardíaca, conquanto possa ter apelo emocional, é irrelevante para fins de concessão da pensão pleiteada, ainda que, por hipótese, viesse a ser comprovada realização de despesas nesse sentido. Além da norma em questão não considerar doenças para fins da pensão que se pretende, eventuais despesas não deveriam ser consideradas, uma vez que o Estado põe à disposição da interessada rede de atendimento médico.

5 7.As despesas comprovadas pela interessada são perfeitamente compatíveis com os cerca de R$ 1.086,00 (mil e oitenta e seis reais) que recebe mensalmente. Quanto à linha telefônica, diga-se de passagem, registrada em nome do de cujus, ainda que se possa entender que tenha sido dada à interessada por aquele, não caracteriza, por si só, vínculo de dependência econômica. Resta saber, e aí reside a questão dos autos, se as transferências de recursos efetuadas pelo de cujus à sua genitora são capazes de comprovar dependência econômica. 8.Como já mencionado, no período de treze meses, essas transferências foram da ordem de R$ 6.480,00 (seis mil quatrocentos e oitenta reais), o que representa média mensal de pouco mais de R$ 498,00 (quatrocentos e noventa e oito reais). Ressalte-se que outras possíveis doações, embora alegadas, não foram comprovadas, não podendo ser, portanto, consideradas. Resta, assim, saber se doação média mensal de cerca de R$ 498,00 (quatrocentos e noventa e oito reais) caracteriza dependência econômica, quando feita a pessoa que percebe cerca de R$ 1.086,00 (mil e oitenta e seis reais) mensais. 9.A legislação aplicável à espécie não define o que vem a ser dependência econômica. A jurisprudência dos Tribunais tem demonstrado que casos dessa natureza devem ser aferidos com base nas regras de experiência, não havendo construção jurisprudencial ou doutrinária que revele os exatos contornos do conceito de dependência econômica. Dessa forma, a concessão de pensão que exija comprovação de dependência econômica deve ser aferida caso a caso. 10.Cabe lembrar que a pensão do art. 217, I, "d", da Lei nº 8.112/90 é exceção à regra geral. O comum é que os pais não recebam pensão em decorrência da morte dos filhos. Se, contudo, houver comprovação de dependência econômica, a pensão poderá ser deferida. De interpretação teleológica da suso mencionada norma, o que se constata é que sua finalidade é não deixar desamparado o genitor que não tem como prover os meios necessários a sua subsistência. 11.Dessa forma, no caso sob exame, ainda que os R$ 498,00 (quatrocentos e noventa e oito reais) transferidos pelo de cujus representassem parcela essencial da renda mensal auferida pela interessada, não seria possível deferir a pensão. Não estamos tratando de fixação de pensão alimentícia a cônjuge, em que o juiz deve analisar a possibilidade de pagamento do alimentante, as necessidades de pagamento do alimentado e o padrão de vida que este mantinha. A concessão da pensão do art. 217, I, "d", da Lei nº 8.112/90 busca assegurar sobrevivência condigna ao genitor de servidor público, que deste dependia economicamente, por não ter meios de satisfazer suas necessidades básicas. No presente caso, como bem asseverado pela Sra. Secretária de Recursos Humanos (fl. 27), é impróprio considerar insuficiente para sobrevivência condigna renda que em muito se aproxima do limite máximo dos benefícios pagos pela previdência social.

6 12.Auferindo renda mensal no valor de R$ 1.086,00 (mil e oitenta e seis reais), somente uma situação excepcionalíssima poderia permitir formação de convencimento no sentido de que havia dependência econômica. Todavia, esse tipo de situação depende de prova robusta, que não foi feita. Não estamos tratando de pessoa que receba salário mínimo ou valor extremamente baixo. Conquanto seja inegável que o de cujus fazia doações financeiras a sua genitora, dependência econômica não havia. 13.Reforça essa tese o fato de os Tribunais do Poder Judiciário, ao cuidar de questões de direito administrativo e previdenciário relacionadas à concessão de pensão de mesma natureza, associarem a dependência econômica à comprovação de pobreza ou de impossibilidade de vida condigna, dado o rigor com que tratam a matéria. Transcrevo aresto do TJDFT proferido na Apelação Cível nº APC DF: "PENSIONAMENTO. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. Comprovado que a autora, viúva, já recebe pensão pela morte de seu marido, no valor de um salário mínimo, fica descaracterizada, para efeito previdenciário, a alegada dependência de sua falecida filha, não declarada em vida por esta à fundação pública em que trabalhava." 14.Por estas razões, entendo que a pretensão da Sra. Maria José Souza dos Santos, no sentido de que lhe seja concedida a pensão do art. 217, I, "d", da Lei nº 8.112/90, deve ser indeferida. Assim, com as vênias de estilo por divergir dos pareceres constantes dos autos, Voto por que o Tribunal adote a Decisão que ora submeto à consideração deste Plenário. Assunto: VII - Administrativo Relator: Benjamin Zymle Quórum: Ministros presentes: Homero dos Santos (Presidente), Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva, Iram Saraiva, Humberto Guimarães Souto, Bento José Bugarin, Valmir Campelo e os Ministros-Substitutos Lincoln Magalhães da Rocha e Benjamin Zymler (Relator). Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 11 de novembro de 1998 Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1. indeferir a concessão da pensão do art. 217, I, "d", requerida

7 pela interessada; 8.2. dar ciência desta Decisão, bem como do Relatório e Voto que a fundamentam à interessada; 8.3. arquivar o processo.