O PAPEL DA MULHER NAS TRANSFORMAÇÕES DA AGRICULTURA FAMILIAR: A PLURIATIVIDADE COMO ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL
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1 O PAPEL DA MULHER NAS TRANSFORMAÇÕES DA AGRICULTURA FAMILIAR: A PLURIATIVIDADE COMO ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL RÖHNELT, Priscila Barcelos Cardoso Aluna do mestrado do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGeo) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). prirohnelt@yahoo.com.br SALAMONI, Giancarla Professora Associada I do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pelotas. Professora -orientadora do PPGeo da FURG. gi.salamoni@yahoo.com.br INTRODUÇÃO A ideia central do presente trabalho consiste em abordar o papel da mulher como agente principal no processo socioprodutivo da agricultura familiar, uma vez que ela desempenha múltiplas funções e tarefas na organização interna das unidades produtivas e tendo no seu trabalho uma das principais estratégias de reprodução social do campesinato. E, a partir do estudo de uma dada localidade e do modo de vida das famílias, se ressalta a importância da análise de um ator específico que constitui o grupo familiar, trazendo à discussão a figura e o papel desempenhado pela mulher no funcionamento da unidade em que se estabelece, se organiza e vive a família (MENASCHE, 2007). Na revisão conceitual será abordada a permanência da produção familiar na agricultura e suas relações com o modo de produção capitalista, a qual se reproduz à medida que se adapta e se transforma a partir da sua peculiar inserção no mercado sem, entretanto, perder os objetivos voltados para o autoconsumo. Neste contexto, de adoção de novas estratégias produtivas, surge como alternativa a associação das atividades tradicionais como a produção de alimentos para o consumo doméstico, associada a incorporação de atividades não-agrícolas a serem desempenhadas pelo grupo familiar a pluriatividade (SCHNEIDER, 2003). Diante do exposto, a pesquisa tem como objetivos principais: Identificar o perfil socioprodutivo do gênero feminino na agricultura familiar; bem como, analisar a importância da pluriatividade 1
2 para a reprodução social das famílias rurais. No caso estudado, geralmente, são as mulheres responsáveis pelas atividades ligadas à pluriatividade, praticada em face da manutenção do grupo familiar e que o ser agricultora para as mulheres camponesas inclui um rol de atividades e obrigações a ser desempenhado que extrapola a esfera da produção, e se constitui num modo de vida. Esse modo de vida se territorializa e denota as dinâmicas instaladas no espaço rural, que passa a ser dotado de novas territorialidades. O referencial bibliográfico será complementado pela coleta de dados primários, mediante entrevistas abertas e história oral, obtidos por meio de contato direto com a realidade pesquisada. A análise dos resultados da pesquisa de campo se dará mediante processo de interpretação das informações obtidas que se destinam tanto a saber o perfil produtivo das mulheres de dada localidade, como também, como se organiza a divisão do trabalho no interior das unidades familiares. Sabe-se que, na maioria dos casos, o homem, o chefe de família é quem se responsabiliza legalmente pela organização do trabalho, ou seja, [...] quando a terra pertence a mulher por herança, é o marido considerado o responsável. (PAULILO, 2003, p. 5). No entanto, cabe a mulher múltiplas atividades relacionadas a manutenção básica do grupo doméstico, mesmo essas atividades sendo consideradas leves ou fáceis. A mulher, quando absorvida pelo mercado de trabalho rural ou urbano, tende a ser integrada em atividades que guardam certas especificidades. Em primeiro lugar, seu ingresso como força de trabalho no grupo familiar é considerado, via de regra, como ajuda ou complemento ao trabalho masculino. Entretanto, a pesquisa aponta como resultados preliminares que as mulheres atuam como atores centrais na maior parte das unidades produtivas familiares e que praticam a pluriatividade, combinando atividades tanto agrícolas como não-agrícolas, pois esta associação advêm da necessidade de diversificação das fontes de renda familiar e, também, da busca por atividades que permitam construir maiores níveis de autonomia, frente às relações adversas que impõe o mercado dos produtos agrícolas. Nesse sentido, busca-se avançar nos estudos sociológicos sobre esta temática e, também, verificar como se manifesta a territorialização do modo de vida e do trabalho da mulher camponesa, vis à vis, as novas transformações impostas pelo mercado capitalista que designa a este rural novas atividades que não se restringem apenas a esfera da produção. 2
3 OBJETIVOS O objetivo deste trabalho consiste em identificar o perfil das relações sociais de trabalho desempenhadas pelas mulheres na agricultura familiar, na localidade estudada e, a partir desta identificação, analisar a importância do papel assumido por esta mulher na reprodução da unidade produtiva, sendo esta muitas vezes a principal responsável pela pluriatividade, praticada em face da manutenção do grupo familiar, analisando que o ser agricultora para as mulheres camponesas incluem todo um rol de atividades e obrigações a ser desempenhado que extrapola à esfera da produção, e se constitui num modo de vida camponês. Assim, a organização do trabalho no interior das unidades familiares denota novas dinâmicas socioprodutivas produzidas no espaço rural. A pesquisa parte do princípio que com as mudanças e transformações ocorridas no espaço rural nas últimas décadas provocaram um rearranjo nas unidades produtivas de base familiar, assim como, na vida das pessoas que se organizam nesse espaço. E, em face, destas mudanças, é que emergem alternativas de reprodução e surge um sujeito o pluriativo que realiza várias atividades para se manter, e é na pluriativade que as mulheres ganham destaque uma vez que realizam múltiplas atividades produtivas, mas, em última análise, o objetivo de tal diversidade de funções e a manutenção do grupo familiar. Sendo assim, constroem no rural um espaço de vida e não apenas de produção. Sendo assim, ressalta-se que o papel da mulher como trabalhadora rural seja manter a sustentabilidade da família. Conforme (STROPASOLAS, 2006), [...] as mulheres têm uma consciência confusa de sua situação nas relações sociais de produção no espaço rural, na medida em que existe uma profunda interação entre os diferentes setores da sua vida. O fato que o essencial de sua atividade se desenvolve sobre uma exploração agrícola familiar, no quadro de uma agricultura de casal, favorece a confusão dos papéis sociais, profissionais e familiares e induz à concepção do papel da mulher na agricultura sendo definido muito mais como um modo de vida que como uma profissão. Contudo, ser agricultora não se resume a exercer uma profissão na agricultura, mas exige que se leve em conta outros parâmetros que interferem sobre a representação que as agricultoras constroem delas mesmas, pois ser agricultora é também ser esposa, mãe, mulher e rural. (STROPASOLAS, 2006, p.152) 3
4 METODOLOGIA A pesquisa, que se encontra em etapa inicial, se dará mediante observação prévia quanto a organização do grupo familiar, seguido por levantamento de referencial bibliográfico a ser complementado por coleta de dados primários mediante entrevistas abertas e história oral realizadas através de contato direto com a realidade pesquisada. Após, a análise se dará mediante processo de interpretação dos dados obtidos que se destinam a saber o perfil produtivo das mulheres de dada localidade. Investiga-se que as mulheres atuam como agentes centrais na maior parte das unidades que praticam a pluriatividade e se busca a razão de tal envolvimento com atividades tanto agrícolas como extra-agrícolas, pois esta associação advêm da necessidade de diversificação das fontes de renda familiar, e, também na busca de atividades que permitam construir maiores níveis de autonomia frente às relações adversas que impõe o mercado agrícola. Nesse sentido, busca-se avançar em relação as abordagens sociológicas sobre a temática ao buscar, também, como se manifesta a territorialização do modo de vida da mulher camponesa, visto as novas transformações impostas pelo mercado e que designa ao rural novas atividades que não se restringem apenas a esfera da produção. RESULTADOS PRELIMINARES Observa-se que a dinâmica de organização das pessoas que vivem no espaço rural, mais precisamente, que fazem parte da concebida agricultura familiar mudaram, ou melhor dizendo, se adaptaram na busca da permanência no campo. E, no esforço de construir possibilidades para a autonomia social, econômica e política, as mulheres exercem papel fundamental no contexto da produção familiar, uma vez que, na maioria das vezes, a efetivação do sujeito pluriativo é incorporado pelo trabalho feminino, seja por meio da extensão da jornada de trabalho, que 4
5 combina atividades na indústria, na casa e no trabalho agrícola, seja pela busca de incremento nos rendimentos familiares, agregando valor aos produtos agrícolas, os transformando em doces caseiros. Ainda, pode-se mencionar o artesanato doméstico (fabricação de toalhas de crochês, pinturas em guardanapos) e a dedicação ao pequeno comércio que se localiza junto a unidade produtiva, constituindo formas complementares de renda. As estratégias adotadas são as mais diversas, entretanto, a figura da mulher ocupa uma posição de destaque, porque é a responsável pela grande parte das atividades que caracterizam a pluriatividade na agricultura familiar. REFERÊNCIAS BRUMER, Anita; PIÑEIRO, Diego (Orgs.). Agricultura Latino-americana: Novos Arranjos e Velhas Questões. Porto Alegre: Editora da UFRGS, CARNEIRO, Maria José; MALUF, Renato S. (Orgs.). Para Além da Produção: Multifuncionalidade e Agricultura Familiar. Rio de Janeiro: MAUAD, LUNARDI, Raquel; Souza, Marcelino de. Atrizes do Turismo Rural: O Trabalho da Mulher na Atividade Turística na Região de Campos de Cima da Serra (RS). Revista Agriculturas: Experiências em Agroecologia, Rio de Janeiro, v.6,n.3,p.15-17,2009. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Agricultura Camponesa no Brasil. São Paulo: Contexto, PALUDO, Conceição (Org.) Mulheres: Resistência e Luta em Defesa da Vida. São Leopoldo: CEBI, PAULILO, Maria Ignez S. Movimento de Mulheres Agricultoras: Terra e Matrimônio. In: PAULILO, Maria Ignez; SCHMIDT, Wilson. (Orgs). Agricultura e espaço rural em Santa Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p
6 ROSSINI, Rosa Ester. O Trabalho da Mulher na Agricultura Canavieira Altamente Tecnificada e Capitalizada São Paulo Brasil. In: LEMOS, Amália,I.G. de; ARROYO, Monica; SILVEIRA,Maria L. América Latina: Cidade, campo e turismo. CLACSO. Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, SP. Dic/2006. Disponível em: Acesso em: 18 nov. 2009, 16:50. SCHNEIDER, Sergio. A Pluriatividade na Agricultura Familiar. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, STROPASOLAS, Valmir Luiz. O Mundo Rural no Horizonte dos Jovens. Florianópolis: Editora da UFSC, MENASCHE, Renata (Org.). A Agricultura Familiar à Mesa: Saberes e Prática da Alimentação no Vale do Taquari. Porto Alegre: Editora da UFRGS, WANDERLEY, Maria de Nazareth de Baudel. O Mundo Rural como um Espaço de Vida: Reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
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