COMPORTAMENTO ESPAÇO-TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL ENTRE E
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- Luiz Gustavo Lencastre da Cunha
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1 COMPORTAMENTO ESPAÇO-TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL ENTRE E Denilson Ribeiro Viana 1,2, Francisco Eliseu Aquino 1, Ronaldo Matzenauer 2 RESUMO. Esse trabalho teve como objetivo comparar espacialmente e temporalmente a precipitação média anual e sazonal no Estado do Rio Grande do Sul (RS), utilizando duas séries de 30 anos de observação ( e ). Para isso foram usados dados de 24 estações meteorológicas em locais coincidentes em ambas as séries. Os dados apontam para um incremento de 8% na precipitação anual do RS, comparando o período mais recente ( ) em relação ao anterior ( ). Sazonalmente esses desvios foram positivos nas quatro estações do ano. Os desvios médios sazonais foram de 17% no outono (MAM), 9% na primavera (SON), 7% no verão (DJF) e 2% no inverno (JJA). ABSTRACT. This work compares two 30 year series of meteorological observations ( and ) to spatially and temporally analyze the annual and seasonal precipitation averages for the State of Rio Grande do Sul (RS), Brazil. For this, the data sets from the twenty-four local weather stations, which offered both data set periods, were employed. The comparison results pointed to an increment of 8% in annual precipitation for RS, from ( ) to ( ). These deviations were positive in all four seasons, showing 17% in fall, 9% in spring, 7% in summer and 2% in winter. Palavras-Chave: Precipitação, Rio Grande do Sul. INTRODUÇÃO O Estado do Rio Grande do Sul (RS) apresenta precipitação bem distribuída ao longo do ano, não havendo portanto, registro de uma estação seca. Segundo a classificação climática de Köppen, o clima predominante no Estado é tipo climático Cfa, Temperado com chuvas regularmente distribuídas durante o ano e com verões quentes. Isto se dá pela localização subtropical do RS, entre os paralelos 33º45 03 S, no extremo sul e 27º04 49 S no extremo norte (BRASIL, 2001). A distância latitudinal não é grande o suficiente para permitir uma diferenciação climática maior, excetuando-se o efeito de altitude do Planalto Superior e Serra do Nordeste, onde ocorre a variante Cfb mais fria, encontrada acima da cota de 800 m, aproximadamente. A precipitação média anual no RS variava de mm (Rio Grande) a mm (São Francisco de Paula) no período de (IPAGRO, 1989). Na série de , os valores ficavam entre mm (Santa Vitória do Palmar) e mm (São Luiz Gonzaga) (BRASIL, 1992). 1 NOTOS Laboratório de Climatologia Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas NUPAC Departamento de Geografia Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9500 Cep Porto Alegre RS, Brasil. Fone: ribeiro.denilson@gmail.com; francisco.aquino@ufrgs.br. 2 Centro de Meteorologia Aplicada - Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária FEPAGRO. Rua Gonçalves Dias nº 570 Cep Porto Alegre RS, Brasil. Fone: ronaldo.matzenauer@fepagro.rs.gov.br.
2 Apesar de não haver diferenças significativas entre os valores mínimos e máximos de precipitação ao longo de duas normais climatológicas, Ávila (1994) comparando as normais de precipitação do período de e para o RS mostrou que, em praticamente todo o Estado, a normal climatológica de superou a de Ávila (1994) encontrou ainda diferenças significativas em cinco estações (Caxias do Sul, Uruguaiana, Bagé, Santiago e São Luiz Gonzaga), onde a normal mais recente superou a anterior. Esse trabalho tem por objetivo comparar os desvios da precipitação média anual e sazonal no Estado do RS, considerando as duas últimas séries de 30 anos, compreendidas entre e entre DADOS E METODOLOGIA Neste trabalho foram utilizados dados de 24 estações meteorológicas coincidentes para as duas séries históricas de precipitação. As estações pertencem à rede da FEPAGRO (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Estado do RS) e do INMET 8º DISME (Instituto Nacional de Meteorologia 8º Distrito de Meteorologia). A média mensal da série de foi calculada a partir do somatório dos valores decendiais de precipitação (IPAGRO, 1984). Já os dados da série de foram disponibilizados pela FEPAGRO e INMET, e calculados a partir dos acumulados mensais de precipitação das estações meteorológicas. A Figura 1 ilustra a distribuição das estações no Estado do RS. As estações localizam-se em Alegrete (1), Bagé (2), Bom Jesus (3), Caxias do Sul (4), Cruz Alta (5), Encruzilhada do Sul (6), Iraí (7), Lagoa Vermelha (8), Passo Fundo (9), Pelotas (10), Porto Alegre (11), Rio Grande (12), Santa Maria (13), Santa Rosa (14), Santa Vitória do Palmar (15), Santana do Livramento (16), São Borja (17), São Gabriel (18), São Luiz Gonzaga (19), Soledade (20), Taquari (21), Torres (22), Uruguaiana (23) e Vacaria (24). 29 S 31 S 33 S Figura 1: Distribuição das estações meteorológicas no RS.
3 Na preparação dos gráficos, tabelas e realização dos cálculos foi utilizado o software Microsoft Excel 2000, enquanto que com o Software Surfer 7.0 elaborou-se os mapas de localização das estações, de precipitação total anual e de desvios sazonais e anual, aplicando-se o método Kriging de interpolação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando os dados da precipitação média anual das 24 estações meteorológicas no RS para as duas séries, verificou-se que em 23 estações a precipitação do período de 1975 a 2004 superou a série de 1945 a 1974 (Tabela 1). Apenas em Uruguaiana, no extremo oeste do Estado, essa tendência não foi a mesma. O desvio médio anual da precipitação do período de ficou 125 mm acima do período anterior, correspondendo a um incremento de 8% na precipitação do RS neste período. Tabela 1: Precipitação Média Acumulada séries e e desvios acumulados (milímetros e percentual). Precipitação Média Acum. Precipitação Média Acum. Desvio Acum. (mm) Desvio Acum. (%) ( ) (mm) ( ) (mm) N Localidade DJF MAM JJA SON ANO DJF MAM JJA SON ANO DJF MAM JJA SON ANO DJF MAM JJA SON ANO 1 Alegrete Bagé Bom Jesus Caxias do Sul Cruz Alta Encruzilhada do Sul Iraí Lagoa Vermelha Passo Fundo Pelotas Porto Alegre Rio Grande Santa Maria Santa Rosa Santa Vitória do Palmar Santana do Livramento São Borja São Gabriel São Luiz Gonzaga Soledade Taquari Torres Uruguaiana Vacaria Média
4 No período de a precipitação média anual no RS variou entre mm em Soledade e mm em Rio Grande. A precipitação anual nesse período foi de mm na média das 24 estações. Para a série seguinte, de , os valores oscilam entre mm em São Luiz Gonzaga e mm em Santa Vitória do Palmar, ficando com mm de média anual. (Tabela 1). As figuras 2a e 2b ilustram a precipitação média anual no RS nas duas séries. Precipitação (mm) Figura 2a: Precipitação média anual Figura 2b: Precipitação média anual A espacialização dos desvios anuais de precipitação, comparando o período mais recente ( ) em relação ao anterior ( ), mostra a concentração dos desvios positivos em alguns setores do Estado. Entre esses locais destacam-se as porções leste (incluindo o litoral norte e a região da grande Porto Alegre), o setor sul (Rio Grande), o sudoeste (Bagé e Santana do Livramento), o extremo norte (Iraí) e o noroeste do Estado (São Luiz Gonzaga). Em todos esses locais os desvios anuais foram superiores a 150 mm. As Figuras 3a e 3b mostram respectivamente os desvios anuais de precipitação em milímetros e em percentual. Precip. (mm) 300 Desvio (%) Figura 3a: Desvio precipitação (mm) Anual -300 Figura 3b: Desvio precipitação (%) Anual -20
5 A partir da análise sazonal foi possível verificar que os desvios de precipitação comportaram-se de maneira diferente ao longo das estações. No verão (DJF) nota-se que a precipitação sofreu um incremento (acima de 20%) no setor sul do Estado (Figura 4a). Essa área compreende as estações localizadas nos municípios de Bagé, Pelotas, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e Santana do Livramento. Já em grande parte do planalto médio e superior, a precipitação não apresentou variações significativas. O desvio médio no verão ficou em 7%. O outono (MAM) é a estação que apresentou o maior desvio médio (17%). Em praticamente todo o RS os desvios de precipitação foram positivos (Figura 4b). As estações de Bagé e São Gabriel registraram desvios na ordem de 40%. Nas regiões sudoeste, centro, parte do oeste e metropolitana de Porto Alegre os desvios foram superiores a 20%. No período de inverno (JJA) foi constatada a menor variação entre as séries, com os desvios médios em torno de 2% (Figura 4c). Em grande parte do Estado não são observados desvios significativos de precipitação, com exceção do litoral norte do RS. A estação de Torres registrou um aumento de 34% no volume anual de precipitação de uma série para outra. Cabe destacar também que no extremo oeste (Uruguaiana e Alegrete) houve uma redução na precipitação em torno de 14%. Desvio (%) Figura 4a: Desvio precipitação (%) Verão (DJF) 10 0 Figura 4b: Desvio precipitação (%) Outono (MAM) Figura 4c: Desvio precipitação (%) Inverno (JJA) Figura 4d: Desvio precipitação (%) Primavera (SON)
6 O desvio médio na primavera (SON) foi o segundo maior, ficando em 9% na média das 24 estações. Apenas quatro estações (Bagé, Bom Jesus, Santa Vitória do Palmar e Uruguaiana) registraram desvios negativos no período. Os desvios positivos mais significativos concentraram-se nas regiões norte (Iraí) e central (Taquari), com valores superiores a 30% (Figura 4d). CONCLUSÕES Analisando as duas séries é possível concluir que, nos últimos 30 anos ( ), houve um incremento médio de 8% na precipitação anual no RS, comparado com o período imediatamente anterior ( ). Esses resultados corroboram com o trabalho de Ávila (1994) que também mostrou que a normal climatológica mais recente ( ) superou a anterior ( ), em praticamente todo o Estado. Através desse trabalho também foi possível avaliar que os desvios sazonais tiveram comportamentos diferentes ao longo das estações do ano. Os desvios sazonais mais pronunciados ocorreram nas estações de transição. No outono o desvio médio foi de 17% e na primavera de 9%. Os menores desvios ocorreram no inverno (2%) e no verão (7%). A análise espacial mostra a concentração dos desvios positivos no Estado. Entre as regiões com maiores desvios anuais destacam-se o extremo norte (Iraí), o noroeste (São Luiz Gonzaga), o sudoeste (Bagé, Santana do Livramento e São Gabriel), o sul (Rio Grande), o litoral (Torres), o centro (Taquari) e Porto Alegre. Em todos esses locais o desvio de precipitação foi superior a 10%. AGRADECIMENTOS FEPAGRO, 8º DISME INMET e NOTOS Laboratório de Climatologia NUPAC/UFRGS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁVILA, A. M. H. 1994: Regime de precipitação pluvial no estado do Rio Grande do Sul com base em séries de longo prazo f. Dissertação (Mestrado em Agronomia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Agronomia. Porto Alegre. BRASIL. 1992: Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Secretaria Nacional de Irrigação. Departamento Nacional de Meteorologia. Divisão de Meteorologia Aplicada. Normais Climatológicas ( ). Brasília: SPI/EMBRAPA. 84 p. BRASIL Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Anuário Estatístico do Brasil Rio de Janeiro: IBGE, 1 CD-ROM. IPAGRO. 1989: Instituto de Pesquisas Agronômicas. Seção de Ecologia Agrícola. Atlas Agroclimático do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 3 v.
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