VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -VIOLÊNCIA CONJUGAL- Maria Perquilhas 20/05/2011
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- Gabriel de Abreu Cordeiro
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2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -VIOLÊNCIA CONJUGAL- Maria Perquilhas 20/05/2011
3 *A violência doméstica consiste numa conduta ou omissão que inflija reiteradamente sofrimentos físicos, sexuais, psicológicos ou económicos, de modo directo ou indirecto (por meio de ameaças, enganos, coação ou outro meio) a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado familiar ou que não habitando seja cônjuge ou companheiro, ex-cônjuge ou excompanheiro, ascendente ou descendente.
4 *Ou seja o termo doméstico, no âmbito da violência doméstica, não se confina apnas aos limites das paredes do lar, abrangendo a natureza das relações que envolvem determinadas pessoas. *A maior parte das vítimas são do sexo feminino (mulheres, crianças, adolescentes).
5 * A violência contra as mulheres é talvez a mais vergonhosa violação dos direitos humanos. Não conhece fronteiras geográficas, culturais ou de riqueza. Enquanto se mantiver, não poderemos afirmar que fizemos verdadeiros progressos em direcção à igualdade, ao desenvolvimento e à paz Kofi Annan, Secretário Geral das Nações Unidas, *Acrescento: todo o tipo de violência!
6 Estabelece o artº 1º da Constituição da República Portuguesa que: Portugal é uma República soberana baseada na dignidade da pessoa humana. Tal implica desde logo a tomada de medidas para a sua prevenção, erradicação e punição cfr. Artº 9º, al. b) que fixa como tarefa fundamental do Estado garantir os direitos e liberdades fundamentais;
7 *Fazer respeitar e cumprir os princípios/direitos: * Da Igualdade (13º); *Do acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva (artº 20º); *Do direito à integridade pessoal (artº 25º) *Do desenvolvimento da personalidade (artº 26, nº 1º); *Da família, casamento e filiação (36º, todos da CRP).
8 Cerca de 83% das vítimas são mulheres ou melhor, cerca de 83% das vítimas que pedem ajuda são mulheres. Em 2001 do total de 1661 processos judiciais só em 61 deles foi aplicada a medida de afastamento dos agressores. A violência doméstica em Portugal representou ainda, na mesma data 11% do total dos homicídios, 3,3% do total da criminalidade e 23% do total das ofensas á integridade física.
9 A violência doméstica é uma realidade transversal à sociedade quer no que respeita à vítima quer no que respeita ao agressor. Relativamente à vítima de acordo com as estatísticas da APAV (2005) as vítimas mulheres situam-se maioritariamente entre os 26 e os 45 anos de idade. Destas, maioritariamente têm como habilitações literárias o primeiro ciclo (7,3%), a que se segue o secundário (6,8) em igualdade de percentagem com o superior (6,8%), preferindo a maioria não informar a suas habilitações literárias (61,8%).
10 Relativamente ao agressor maioritariamente do sexo masculino (89,9%) e por isso a este nos referimos tem idade compreendida entre os 36 e os 45 anos, sendo o nível de ensino maioritariamente o superior (6,8%), seguindo-se o primeiro ciclo (5,3%) sendo que 74% não quiseram prestar tal informação. A grande maioria dos processos respeita a crimes de violência doméstica (maus tratos físicos e psicológicos, ameaças, coação) e em 69% dos casos são praticados na residência comum do autor e da vítima.
11 O O aumento das queixas apresentadas tanto na PSP como na GNR reflectem uma maior censura social relativamente a este comportamento, mas também m maior confiança a por parte das vítimas v nas respostas existentes e bem assim e acima de tudo na consciencialização dos seus direitos e intolerável violação da condição de pessoa, de sujeito de direitos.
12 Muitos avanços foram alcançados ados nomeadamente com a existência de um auto de notícia padrão, formulário rio de avaliação de risco para ser utilizado na fase de inquérito por parte das forças de segurança a e com a criação do documento intitulado estatuto processual da vítima, v onde são explicitados os seus direitos e deveres.
13 Mas Mas mesmo assim, as vitimas, principalmente de um extracto social mais elevado e/ou de formação superior, sentem vergonha, receiam o cepticismo ou a incredulidade e por isso, ou também m por isso, ocultam a situação de mau trato. A A não apresentação de queixa significa, também m muitas vezes, a não aceitação da realidade negação.
14 *A violência conjugal verifica-se essencialmente em três aspectos: *1 - emocional psicológica: criticar negativamente atributos físicos da vítima, humilhar em público, difamar acusando-a de infidelidade, gritar de forma a amedrontar, ameaçar, intimidar, perseguir a vítima, ainda que silenciosamente, na rua ou no trabalho, ameaçar ou maltratar familiares ou amigos, destruir objectos importantes da vítima *2 física: empurrar bater, queimar, apertar pescoço *3 sexual: forçar a vítima a ter ou a assistir a relações sexuais contra a sua vontade quer com o agressor quer com terceiros, torturas sexuais
15 *O agressor pode também recorrer à imposição de isolamento social e relacional da vítima, ao controlo económico, dominando-a. *O ciclo da violência: *1ª fase: aumento da tensão intimidação e controlo, provocando medo. *2ª fase: explosão da violência - raiva e violência, provocando pânico, medo pela própria vida.
16 *3ª fase a da lua de mel: o agressor mostra arrependimento e promete mudança, levando a vítima a acreditar na mudança e no amor que ele lhe afirma. *Esta ambivalência confunde a vítima gerando incertezas e aumentando as suas dúvidas: será que não devo dar mais uma oportunidade? mas afinal ele gosta de mim? Provocando a cedência e a repetição do ciclo.
17 *Consequências da violência conjugal: *A violência conjugal não afecta apenas as vítimas directas tendo igualmente um efeito muito negativo nas outras pessoas que residem no espaço onde ocorre. As crianças e jovens que crescem numa família cujo relacionamento é violento em qualquer forma vêm afectados o seu processo de desenvolvimento, os seus relacionamentos sociais e os seus desempenhos escolares (Infelizmente esta realidade entra-nos pelos olhos dentro no tribunal de família nos P. Promoção e protecção e nos P. Tutelares Educativos).
18 Consequências pessoais da violência conjugal na vítima directa: 1 Físicas: traumatismos, dores crónicas, cansaço crónico, lesões do foro ginecológico, suicídio e homicídio. 2- Psicológicas: baixa auto-estima, vergonha, culpa, ansiedade, angústia, raiva, fobias, ataques de pânico, depressão, disfunções sexuais, confusão mental/dificuldades de concentração, perturbações no sono e ou alimentares e pensamentos suicidas.
19 *Consequências da violência conjugal em crianças e jovens: *Dificuldades emocionais; ansiedade, depressão, raiva, baixa auto-estima, alterações no comportamento, dificuldades aprendizagem/absentismo de escolar, aprendizagem de comportamentos violentos, agressivos e condutas desviantes.
20 Em casos de violência conjugal deve ser protegida a morada da vítima v quando é esta a abandonar o lar. Nos processos de regulação do exercício cio das responsabilidades parentais e de divórcio é comum a indicação da morada da sede das associações de apoio às s vítimas v como sendo a das requerentes/autoras. - Geralmente o agressor é um sedutor; após a agressão, reinicia-se uma fase de namoro, confundindo a vítima v e os próprios prios filhos.
21 -Tem Tem que ser analisado criteriosamente o benefício das visitas entre o agressor e as crianças, as, de harmonia com o disposto no artº 180º nº2 da O.T.M. que nos diz que será estabelecido um regime de visitas, a menos que excepcionalmente o interesse do menor o desaconselhe. - se as mesmas forem benéficas devem realizar-se em espaços neutros
22 *Em determinadas situações a verificação de violência doméstica, para além da proibição de visitas/contactos entre o agressor e os filhos, pode e deve determinar a inibição do exercício das responsabilidades parentais, a confiança da criança a uma instituição artº 1918º do Cód. Civil, a terceira pessoa (1907º Cód. Civil) e até o encaminhamento da criança para adopção artº 1978º do Cód. Civil o que pode ser requerido pelo M. P..
23 Têm que ser tomadas medidas de afastamento do agressor à vítima e se possível manter o agregado em casa, a fim de evitar a dupla punição ou sofrimento o decorrente da agressão seguido da saída de casa. A medida de afastamento está prevista no artº 200º do Cód. C Proc. Penal: proibição de permanência, de ausência e de contactos.
24 *As agressões são muitas vezes invocadas como fundamento/justificação para o incumprimento do regime de visitas fixado entre o agressor e os filhos. *É por vezes difícil a separação da vivência marido/mulher da de pai/filho. *Ao tribunal cabe a tarefa de averiguar se a invocada violência existiu ou se é pretexto para afastar os filhos do pai/mãe. *Tendo existido há que tentar perceber se os receios são legítimos para que a decisão seja adequada e justa.
25 *O divórcio a violência doméstica constitui sem dúvida um fundamento, mesmo após as alterações introduzidas ao regime legal do divórcio (a lei inglesa, que optou há muito por critérios objectivos inclui nas causas objectivas da ruptura da vida conjugal o comportamento de um dos cônjuges que por causa dele não seja expectável que o requerente continue a viver com o requerido (reservando uma alínea específica para o adultério) Lei reguladora do casamento, Parte I, 1. Divórcio (2), (b).
26 *" Violência Doméstica artº 152º do C. Penal *1. - Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus-tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações de liberdade e ofensas sexuais: *a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge; *b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação;
27 *c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; *d) A pessoa particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite; *É punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal. *2. - No caso previsto no número anterior, se o agente praticar facto contra menor, na presença de menor, no domicílio comum ou no domicílio da vítima é punido com pena de prisão de dois a cinco anos.
28 *3. - Se dos factos previstos no n.º 1 resultar: *a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de dois a oito anos; b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos. *4. - Nos casos previstos nos números anteriores, podem ser aplicadas ao arguido as penas acessórias de proibição de contacto com a vítima e de proibição de uso e porte de armas, pelo período de seis meses a cinco anos, e de obrigação de frequência de programas específicos de prevenção da violência doméstica.
29 *5. - A pena acessória de proibição de contacto com a vítima pode incluir o afastamento da residência ou do local de trabalho desta e o seu cumprimento pode ser fiscalizado por meios técnicos de controlo à distância. *6. - Quem for condenado por crime previsto neste artigo pode, atenta a gravidade do facto e a sua conexão com a função exercida pelo agente, ser inibido do exercício do poder paternal, da tutela ou da curatela por um período de um a dez anos. *(...)
30 Contudo, são configuráveis outros tipos de crime: - Homicídio Qualificado (art. 132º, n.º2, alíneas a e b), do Código Penal); - Ofensas à integridade física qualificadas (art.º 145º do Código Penal); - Ameaça (art.153º do Código Penal); -Coacção (art.º 154º, n.º4 do Código Penal); -Sequestro (art. 158º do Código Penal); -Violação (art.º 164º do Código Penal); - Crimes sexuais contra menores (art.ºs 171º a 176º do Código Penal).
31 *Agravação em função da qualidade do agente (art. 177º do Código Penal). *Ou seja, existe uma relação de subsidiariedade expressa geral entre este normativo e os delitos apontados e a que caiba penalidade mais grave; A punição do artº 152º CP é o patamar mínimo de protecção/punição, ditado pela especial relação de confiança que deve existir entre quem partilha vivências afectivas.
32 *Qual o bem jurídico protegido pelo crime de violência doméstica? * O bem jurídico protegido é uma concretização do direito fundamental da integridade pessoal (artº 25º da CRP) e do direito ao livre desenvolvimento da personalidade (artº 26º, nº 1, ambos emanações directas do princípio da dignidade da pessoa humana. E encarando estes dispositivos
33 constitucionais não somente em uma perspectiva negativa abstencionista erga omnes, mas outrossim, de índole positiva prestacionista face ao Estado (André Lamas Leite, A Violência Relacional íntima: reflexões cruzadas entre o direito penal e a Criminologia, Revista Julgar, nº 12 (especial) Setembro-Dezembro de 2010.
34 *Nesta sequência, há que referir a Lei nº 112/2009 de 16 de Setembro que veio estabelecer o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica e à protecção e assistência às suas vítimas: onde é consagrado o estatuto da vítima, previsto programas específicos para a pessoa do agressor, medidas de coacção específicas e urgentes a aplicar ao agressor, possibilidade de detenção em circunstâncias menos exigentes que as previstas no atrº 257º do C. P. Penal, e atribui natureza urgente ao proc.
35 *As declarações para memória futura e a inquirição por videoconferência e com apoio especializado *Este diploma estabelece ainda um regime de especial protecção no trabalho, de preferência no acesso a benefícios RSI e à formação profissional; *As casas de abrigo - são unidades residenciais destinadas a acolhimento temporário a vítimas, acompanhadas ou não de filhos menores;
36 * Estas casas destinam-se a acolher e promover, durante a permanência na casa de abrigo 6 meses -, aptidões pessoais, profissionais e sociais das vítimas, susceptíveis de evitarem eventuais situações de exclusão social e tendo em vista a sua efectiva reinserção social (artº 63º). *Aos filhos menores das vítimas acolhidas nas casas de abrigo é garantida a transferência escolar, sem observância do numerus clausus, para estabelecimento escolar mais próximo da respectiva casa (artº 74º).
37 Consagar-se ainda a a obrigação de o Estado delinear objectivos e linhas de orientação curricular da educação pré-escolar, dos ciclos do ensino básico e secundário, os princípios orientadores de um programa de prevenção do crime de violência doméstica, de acordo com o desenvolvimento físico, emocional, psicológico e social das crianças que frequentem aqueles estabelecimentos de educação (artº 77º).
38 *Realizar campanhas de informação e se necessário realizar programas específicos de formação a docentes da educação pré-escolar, dos ensinos básico e secundário, para que adquiram conhecimentos e técnicas que os habilitem a educar as crianças no respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, contemplando ainda os profissionais de saúde, a formação do CEJ dos agentes de autoridade e dos técnicos do INML (artº79º).
39 *A par desta legislação de prevenção da violência doméstica, protecção e assistência às suas vítimas A Lei nº 104/2009, de 14 de Setembro estabelece o regime de concessão de indemnização às vítimas de crimes violentos e de violência doméstica. *Contudo, os seus pressupostos são exigentes (artº 5º) e o valor do adiantamento não pode exceder o equivalente à remuneração mínima mensal e apenas por seis meses.
40 Bem haja pela vossa atenção!
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