A PROSA ERUDITA NO REALISMO 2 PARTE
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- José Vieira Valverde
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1 A PROSA ERUDITA NO REALISMO 2 PARTE Dedico este trabalho ao Dr. Luiz Felipe do Vale Tavares, ao Dr. Tulio Tadeu Tavares e ao Dr. Omar Tavares de Almeida. Dr. Osvaldo Hamilton Tavares (Procurador de Justiça) As obras valiosas de ALBERTO TÔRRES ( ) e de MANUEL BONFIM ( ) participam da Sociologia, da História e da crítica política. O primeiro estudou os problemas da nossa organização administrativa e política nos livros A Organização Nacional e O Problema Nacional Brasileiro; o segundo deixou uma penetrante análise da civilização brasileira e latino-americana nos volumes O Brasil na América e América Latina. Rui Caetano BARBOSA de Oliveira ( ) pertence pelo sentido de sua obra, mais ao domínio da jurisprudência e da política. A sua linguagem, porém, dá-lhe um dos primeiros postos entre os grandes cultores do idioma no Brasil e em Portugal: a prosa de RUI tem o mesmo sabor, a mesma força e a mesma correção da prosa de VIEIRA, que se sente ter sido o seu mestre predileto. Campeão do purismo, combateu as formas do dialeto brasileiro - rótulo americano daquilo que o grande escritor lusitano tratara por um nome angolês. RUI nasceu na Bahia, onde fez os estudos preparatórios. Depois de passar pela Faculdade de Direito do Recife, bacharelou-se em São Paulo, e, eleito deputado em 78, dividiu a sua atividade pública entre a advocacia e a política. Tomou parte nas campanhas abolicionista e republicana, foi ministro da Fazenda no governo provisório e senador. Em 1907 representou o Brasil na Conferência da Paz de Haia, onde se assinalou com grande brilho na defesa da soberania dos pequenos Estados. Concorrendo à presidência da República com o Marechal Hermes da Fonseca, realizou uma campanha eleitoral na qual teve ocasião de proferir uma série de discursos, notáveis pela análise mordaz dos nossos costumes políticos, pelo ardor liberal e civilista, tanto quanto pela beleza da forma. As suas obras completas estão sendo agora editadas pela Casa Rui
2 Barbosa sob a direção de Américo Lacombe. Entre as mais famosas estão as Cartas de Inglaterra, o prefácio à sua tradução do livro O Papa e o Concílio de Janus, O Brasil e as Nações Latino-Americanas em Haia, Código Civil Brasileiro (parecer), Código Civil Brasileiro (réplica ao professor CARNEIRO RIBEIRO e outros), A Queda do Império, Contra o Militarismo, Campanha Eleitoral de CLÓVIS BEVILAQUA ( ) escreveu na mocidade belos ensaios críticos; foi, porém, absorvido pelas letras jurídicas, onde era considerado mestre, sendo autor da primeira redação do nosso Código Civil. Entre os nomes que se ilustraram no jornalismo da época destacam-se os de FERREIRA DE ARAÚJO, JOSÉ DO PATROCÍNIÓ, CARLOS DE LAET, CONSTÂNCIO ALVES, URBANO DUARTE, ALCINDO GUANABARA e MEDEIROS E ALBUQUERQUE, escritores admiráveis, sendo que LAET se distingue pelo sabor clássico, ao passo que os outros escreviam numa prosa menos adstrita aos modelos portugueses. Na oratória mencionem-se os nomes já citados de NABUCO, PATROCÍNIO, RUI e mais os de LOPES TROVÁÓ, fogoso propagandista da República, e SILVA JARDIM; na filologia JÚLIO RIBEIRO, SILVA RAMOS, SAID ALI, CARNEIRO RIBEIRO, MARIO BARRETO. SILVIO ROMERO ( ), natural de Sergipe, estudou preparatórios no Rio e bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife, onde foi contemporâneo de TOBIAS BARRETO, que tanta influência exerceu sobre a sua formação. Do período acadêmico datam os seus primeiros estudos literários, entre os quais vale salientar o que intitulou O Romantismo no Brasil, porque iria constituir o núcleo da sua obra capital -- a História da Literatura Brasileira. Espírito combativo e amigo de ideias novas, desde cedo criou desafetos, a cujos ódios deve não ter obtido em dois concursos a cadeira de Filosofia do Curso Anexo à Faculdade do Recife. Veio então para o Rio e foi provido por concurso na cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II. Entrou também para a Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, onde lecionou Filosofia do Direito. Fez ainda breve estágio na
3 política republicana como deputado federal pelo seu Estado, de 1899 a ROMERO cultivou a poesia (Cantos do Fim do Século, Últimos Arpejos), a Filosofia, a Sociologia, a Etnografia, a História, mas foi sobretudo como crítico e historiador da nossa literatura que deixou obra de valor duradouro, porque ela constitui o primeiro balanço profundo e minucioso da nossa evolução literária. Afastando-se do critério puramente retórica dos românticos, tanto quanto do ponto de vista exclusivamente estético da maioria dos seus contemporâneos, definia a crítica como a parte da Lógica aplicada, que estuda as condições que dão origem e as leis que regem o desenvolvimento de todas as criações do espírito humano -- científicas, artísticas, religiosas, políticas, jurídicas, industriais e morais, e verifica o bom ou mau emprego feito de tais leis pelos autores das referidas criações. Para ele a missão do crítico entre nós deveria consistir em tomar a vida intelectual e afetiva do povo no seu conjunto, assentando todo o estudo em base etnográfica e partindo do folclore para a literatura. Segundo esse critério, estudou a nossa literatura popular em três livros -- Centos Populares do Brasil, Contos Populares do Brasil e Estudos sobre a Poesia Popular no Brasil - e a etnologia selvagem e a etnografia brasileira nos livros que trazem estes títulos. Em 88 publicou a História da Literatura Brasileira, completada mais tarde com as obras Evolução da Literatura Brasileira e Evolução do Lirismo Brasileiro. Em comum com JOÃO RIBEIRO publicou um compêndio didático da nossa história literária para uso dos alunos do Colégio Pedro II. Trabalhador infatigável, autor de dezenas de livros em que nenhum ponto da nossa atividade literária e social ficou por tocar, polemista temível, campeão do evolucionismo spenceriano e do alemanismo, não se esmerava, na forma e irritava-se mesmo contra aqueles que se preocupavam mais com a colocação dos pronomes do que com a colocação das ideias; contudo escrevia numa linguagem de grande sabor, onde havia sempre a marca de sua forte personalidade. JOSÉ VERÍSSIMO ( ) nasceu em Óbidos (Pará), fez os primeiros estudos em Manaus e Belém, continuados
4 depois 110 Colégio Pedro II. Entrando para a Escola Central, hoje Escola de Engenharia, teve, por motivo de doença, que interromper o curso aos 19 anos e regressar à terra na tal. Começa então a sua atividade literária na imprensa de Belém e estreia com o livro Primeiras Páginas, a que se segue, uma coleção de contos, Cenas da Vida Amazônica. A má saúde levouo a uma viagem à Europa, donde voltou novamente ao Pará, dividindo então a sua atividade entre o funcionalismo, o magistério e as letras, fundando a Revista Amazônica. Na República, exerceu o cargo de diretor da Instrução Pública do Pará. Mas em consequência das lutas políticas de 90 teve de mudar-se para o Rio, onde continuou trabalhando no magistério e na imprensa. Foi professor e diretor do Colégio Pedro II e professor da Escola Normal. JOSÉ VERÍSSIMO abandonou a ficção depois das Cenas da Vida Amazônica para entregar-se inteiramente aos estudos críticos, e após vinte e cinco anos de leituras publicou a sua História da Literatura Brasileira, que se completa com os Estudos Brasileiros e os seis volumes dos Estudos da Literatura Brasileira. Além disso, escreveu um ensaio sobre o tema Que é literatura?, Homens e Coisas Estrangeiras, A Educação Nacional, A Pesca na Amazônia. VERÍSSIMO encarava a literatura de um ponto de vista bem mais reduzido que o de ROMERO. Para ele literatura era apenas arte literária, sinônimo de boas ou belas-artes. Todavia, não se limitou, estudando nossa literatura, ao critério puramente estético, segundo afirmou ROMERO: ocupou-se, com muita atenção e simpatia, daqueles nossos autores, que embora sem qualificações propriamente literárias tiveram influência qualquer em nossa cultura e a fomentaram ou de algum modo a revelaram. A sua História da Literatura Brasileira não tem o brilho das generalizações, nem os atrativos de estilo de ROMERO. Era, porém um espírito menos apaixonado, mais ponderado, e os seus livros contêm análises que são modelos de crítica objetiva, juízos que sentimos baseados em leitura conscienciosa, em trabalho de primeira mão. Não tinha imaginação nem sensibilidade poética, não compreendeu os simbolistas, e se elevou os parnasianos, fê-lo antes por um
5 esforço de imparcialidade, pois as suas preferências iam claramente para os românticos, sobretudo para GONÇALVES DIAS. Tristão de Alencar, ARARIPE JÚNIOR ( ), natural do Ceará, bacharel em Direito pela Faculdade do Recife, iniciou a carreira literária pela ficção (Contos Brasileiros, O Ninho do Beija-flor, O Reino Encantado, Luisinha. romances), mas assinalou-se principalmente pelos seus ensaios críticos (José de Alencar, Gregório de Matos, Raul Pompéia etc.). ROMERO definiu bem a crítica de ARARIPE JÚNIOR como psico- lógica e impressionista, umas vezes paradoxal e metafísica, outras obscura e rebuscada. Ao lado de ROMERO, como folclorista, merece menção a figura do cearense RODRIGUES DE CARVALHO, um dos iniciadores da colheita organizada de poesias e costumes populares em O Cancioneiro do Norte.
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