EPISÓDIO DE UMA PERTURBAÇÃO ONDULATÓRIA DOS ALÍSIOS NO LITORAL ORIENTAL DO NORDESTE. Raimundo Jaildo dos Anjos 1
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1 RESUMO EPISÓDIO DE UMA PERTURBAÇÃO ONDULATÓRIA DOS ALÍSIOS NO LITORAL ORIENTAL DO NORDESTE Raimundo Jaildo dos Anjos 1 Ventos de sudeste, muita umidade e eventos de chuvas intensas são algumas das características do litoral oriental da Região Nordeste do Brasil entre os meses de abril e julho. Alguns desses eventos estão associados as perturbações ondulatórias dos alísios (POA), a exemplo das fortes chuvas observadas na costa dos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte entre os dias 20 e 22 de junho de Nossa proposta é a realização de um estudo observacional, em caráter exploratório, visando identificar alguns mecanismos dinâmicos responsáveis pelas chuvas intensas no litoral desses estados. ABSTRACT Using reanalysis of NCEP/NCAR and analysis of MBAR/INMET, this work shows features of one event intense of the alisios waves perturbation of over Equatorial Atlantic Ocean and in coast oriental of Northeast fo Brazil during june of Some meteorological variable anlyzed here had been to the precipitation daily, wind meridional component, sea surface temperature, chain lines and vertical movement. Palavras-Chave: linhas de nuvens, perturbação ondulatória 1 Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia. End.: Eixo Monumental. Via S1 Sudoeste/Cruzeiro/DF. CEP: raimundo.anjos@inmet.gov.br,
2 1. INTRODUÇÃO As regiões costeiras do Brasil sofrem influências da circulação local das áreas litorâneas. Tal circulação, da qual fazem parte as brisas marítimas e terrestres, por si só, são mecanismos que normalmente produzem chuvas fracas e de curta duração. Dada a importância da precipitação como elemento altamente variável quer no tempo, quer no espaço, vários pesquisadores tem destacado a atuação de diferentes sistemas atmosféricos responsávies pelas chuvas no litoral oriental do Nordeste. Por exemplo, Nobre e Molion (1988) sugeriram que a confluência dos ventos alísios com a brisa terrestre possam ser um dos mecanismos importantes na produção de chuva na região costeira do Nordeste. A utilização conjunta de diferentes fontes de estudos revelam que o campo dos ventos alísios sobre o Oceano Atlântico Sul é frequentemente perturbado pela penetração de sistemas frontais em latitudes baixas, nestas situações, os mecanismos de convergência dos ventos de sul relacionados com as frentes frias e os ventos de leste, provocam as chamadas Perturbações Ondulatórias dos Alísios (POA). As POA S que se propagam para oeste imersas no campo dos ventos alísios é reconhecidamente um dos sistemas atmosféricos que ao se intensificarem, são responsáveis por totais pluviométricos superiores a 100 mm por dia. Um dos primeiros autores a observar a atuação das Perturbações Ondulatórias dos Alísios na costa brasileira foi Yamazaki (1977). Ele notou linhas de nuvens bem definidas entre 5ºS e 10ºS propagando-se de leste para oeste, desde 10ºW até 40ºW contribuindo para o aumento da precipitação nos meses de inverno ao longo da costa nordestina. Outros pesquisadores, a exemplo de Cavalcanti e Kousky (1982), Ferreira et al (1990), Chan (1990), Anjos (1996), Mota (1997), Molion e Bernardo (2000), e Coutinho e Fisch (2004) também estudaram características de tais distúrbios e sua importância no regime de precipitação na costa nordestina. Dependendo da intensidade e tempo de atuação de uma POA na costa oriental do Nordeste, extremos de precitação em 24 horas pode causar inundações, deslizamentos de terra, transtornos no trânsito, ocasionando grandes perdas, inclusive humanas. Apesar do atual conhecimento sobre as POA S, existe uma carência de estudos que investiguem, por exemplo, os padrões da atmosfera superior reinantes durante sua atução. Neste sentido, o estudo diagnóstico ora apresentado, visa contribuir para um melhor entendimento das causas de formação, intensificação, deslocamento e atuação de uma POA na costa dos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que ocorreu nos dias 20, 21 e 22 de junho de 2006 e foi responsável por chuvas superiores a 100 mm no Recife. 2. DADOS E METODOLOGIA Neste estudo foram utilizados os seguintes dados: Dados diário de precipitação fornecido pelo INMET; Imagens de Satélite fornecidas pelo INMET; Análises de divergência de massa, linhas de correntes e movimento vertical do modelo MBAR/INMET; Reanálises do movimento vertical (Pa/s), umidade relativa (%) e da componente meridional do vento (m/s), construídas de arquivos do NCEP/NCAR Para analisar a estrutura vertical da atmosfera sobre a costa oriental da Região Nordeste, durante a atuação dessa POA, foram construídas seções transversais (longitude x altitude) e (latitude x altitude) do movimento vertical e da umidade relativa construídas de arquivos do NCEP/NCAR. Esse tipo de análise são bastantes usadas no entendimento da evolução de sistemas atmosféricos, permitindo-se compreender com maior facilidade as fases de crescimento e enfraquecimento dos sistemas.
3 3. RESULTADOS A sequência de imagens de satélite dos dias 21 e 22 de junho de 2006 (Fig. 1) mostram a formação, intensificação e deslocamento de uma perturbação ondulatória dos alísios (POA). Na Figura 1A observa-se a formação de um pequeno complexo convectivo a leste da costa do Estado de Pernambuco que atinge o seu litoral, mais precisamente a Cidade do Recife às 20:40 hs do dia 20 de junho de O deslocamento da nebulosidade associada a essa POA (Fig. 1B) é responsável por chuvas significativas na Região Metropolitana do Recife. O caráter intermitente das chuvas provocadas por essa perturbação foi responsável por um volume de precipitação de 109.2mm (Fig. 2). Após atingir o litoral de pernambuco imersa em um campo de ventos alísios intensos de sudeste (Fig. 3A), imagina-se que a perturbação de leste converge com a brisa terrestre, conforme sugeriram Nobre e Molion (1988). Segundo esses autores, tal mecanismo de confluência é um importante mecanismo na produção de chuvas na região costeira. Águas aquecidas no Oceano Atlântico Equatorial Sul, aliado com ventos alísios intensos de sudeste mostram boa concordância com os processos de formação e rápido deslocamento da perturbação para oeste. Predomina sobre o Oceano Atlântico Equatorial a leste de Pernambuco águas anomalamente aquecidas (Fig. 3B) e uma forte convergência do fluxo de umidade atuando em toda a costa oriental do Nordeste entre a superfície e 500 hpa (Fig. 4). Análises do dia 21 de junho dos mapas do movimento vertical do Modelo MBAR/INMET em 850 UTC e 500 UTC mostram predominância de movimento vertical ascendente atuando no litoral oriental do Nordeste (Fig. 5). Oriundos da análise do Diagrama Shew T Log P (Fig. 6), verifica-se ventos alísios intensos de sudeste entre a superfície e o nível de 500 hpa e os perfis médio da temperatura (T) e da temperatura do ponto de orvalho (Td) bantante próximos, o que demonstra uma elevada disponibilidade de umidade (atmosfera úmida) na atmosfera superior do Recife, com Índice K = 29 e Índice TT = 38, valores esses satisfatórios com as chuvas observadas na Cidade de Recife. Observa-se através da Fig. 7 que a componente meridional do vento em 35ºW (longitude do litoral oriental do Nordeste) apresenta valores superiores a 7 m/s já a partir do dia 19 de junho, caindo para 6 m/s no dia 21 de junho. Esse padrão da componente meridional positiva favorece o deslocamento da perturbação para norte, atingindo o litoral da Paraíba e do Rio Grande do Norte no dia 21. Em seu deslocamento para norte, o complexo convectivo associado a essa POA continua ainda muita ativa, provocando chuvas significativas em João Pessoa (56,6 mm) e em Natal (85,8 mm). Oriundos das análises das seções transversais (longitude x altitude) (Fig. 8) observa-se forte movimento ascendente entre a superfície e 200 hpa atuando na latiude 8.05 ºS, com máximo na faixa de longitude entre 37.5 ºW e 32.5 ºW. Análises das seções transversais (latitude x altitude) (Fig. 9) em 35ºW (latidude do litoral oriental do Nordeste) mostra movimento vertical ascendente mais acentuado ao norte do litoral oriental do Nordeste, característica essa concordante com o aumento da umidade relativa na coluna troposférica entre a superfície e 400 hpa entre 5 ºS e 0º (Fig. 10). Nessa figura observa-se maior concentração de umidade relativa no nível de 600 hp entre 3 ºS e 0º na longitude 35ºW, com incremento acima de 25% na umidade relativa nessa camada troposférica. Esse caráter latitudinal no campo da umidade relativa mostra boa concordância com o sentido da perturbação se deslocar para norte, após atingir o litoral pernambucano, em vez de penetrar continente adentro.
4 Fig. 1 Imagens do Satélite GOES-12 (Infravermelho Termal) dia 21 de junho de 2006 às 05:45:23 UTC (A), às 11:45:24 UTC (B) e às 12:45:48 UTC (C) e dia 22 de junho de 2006 às 05:45:24 UTC (D). (mm) h 2h 4h 6h 8h 10h 12h 14h 16h 18h 20h 22h 24h Fig. 2 Precipitação horária (mm) no Recife (Estação Automática) no dia 21 de junho de 2006.
5 Fig. 3 Anomalias da Intensidade do Vento (m/s) (A) e Anomalias de SST (ºC) (B) no dia 21 de junho de Fig. 4 Divergência de massa (10-5 S -1 ) e linhas de corrente (m/s) em 850 hpa (A) e 500 hpa (B) no dia 21 de junho de Fig. 5 - Movimento vertical (Pa/s) para o dia 21 de junho de 2006 nos níveis de 850 hpa (A) e 500 hpa (B)
6 Fig. 6 Diagrama Skew T Log P da Estação de Radiossonda do Recife no dia 21 de junho de Fig. 7 Evolução temporal do vento meridional (m/s) entre os dias 15 e 25 de junho de 2006 na área (60ºW - 0º, 10ºS a 0º).
7 Fig. 8 Seção Transversal (longitude x altitude) do movimento vertical (Pa/s) No dia 21/06/2006 na latitude 8.05 ºS (Latitude aproximada do Recife) Fig. 9 Seção Transversal (latitude x altitude) do movimento vertical (Pa/s) no dia 21/06/2006 na longitude 35 ºW (longitude do litoral oriental do Nordeste). Fig. 10 Seção Transversal (latitude x altitude) da anomalia da umidade relativa (%) no dia 21/06/2006 na longitude 35 ºW (longitude do litorial oriental do Nordeste).
8 4 CONCLUSÕES Águas anomalamente aquecidas no Oceano Atlântico Equatorial Sul aliado com ventos alísios intensos de sudeste, e forte convergência do fluxo de umidade atuando em toda a costa oriental do Nordeste entre a superfície e 500 hpa mostram boa concordância com os processos de formação, intensificação e rápido deslocamento de uma perturbação ondulatória dos alísios (POA) para oeste. Após atingir o litoral pernambucano em 20 de junho de 2006, a perturbação no dia 21 desloca-se para o litoral da Paraíba e do Rio Grande do Norte, ao invés de penetrar continente adentro como é mais comum. O deslocamento para norte pode ser explicado pelo fato do litoral oriental do Nordeste apresentar valores positivos (isto é para norte) da componente meridional do vento em 35ºW (longitude do litoral oriental do Nordeste). Análises das seções transversais do movimento vertical mostram forte movimento ascendente entre a superfície e 200 hpa atuando no litoral oriental norte do Nordeste no dia 21 de junho de 2006, concordantes com chuvas observadas nessa faixa costeira desse litoral. Na faixa costeira, observa-se maior concentração de umidade no nível de 600 hpa entre 3ºS e 0º, com aumento de + 20% na umidade relativa na costa oriental do Nordeste. Esse caráter latitudinal no campo da umidade relativa mostra também boa concordância com o sentido da perturbação em se deslocar para norte, após atingir o litoral pernambucano, em vez de penetrar continente adentro. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, R. J. Tipos de Tempo Associados aos Distúrbios Ondulatórios de Leste no Litoral Oriental da Região Nordeste do Brasil. Anais do IX Congresso Brasleiro de Meteorologia, Campos do Jordão São Paulo, Vol. 1, pp CAVALCANTI, I. F. A., KOUSKY, V. E. Influência da Circulação da Escala Sinótica na Circulação da Brisa Marítima na Costa NNE da América do Sul. INPE PRE/221, INPE, São José dos Campos (SP), 1982, 13p. CHAN, C. S. Análise de Distúrbios de Leste sobre o Oceano Atlântico Tropical. Dissertação de Mestrado, INPE, São José dos Campos, 123p COUTINHO, E. C., FISCH, GILBERTO. Distúrbios Ondulatórios de Leste na Região do Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, 2004, 15p. Fortaleza, Ceará. FERREIRA, N. J., CHAN, C. S., SATYAMURTI, P. Análise dos Distúrbios Ondulatório de Leste sobre o Oceano Atlântico Equatorial Sul. In: Anais do Congresso Brasileiro de Meteorologia, 6, 1990, Salvador, Bahia. MOLION, L. C. B., BERNARDO, S. O. Dinâmica das Chuvas no Nordeste Brasileiro. Anais do XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, 2000, Rio de Janeiro. MOTA, G. V. Estudo Observacional de Distúrbios de Leste no NE Brasileiro. Dissertação de Mestrado, IAG-USP, SP, 92p., NOBRE, C. A., MOLION, L. C. B. The Climatology of Droughts and Drought Prediction., In: Impacts of Climatic Variations on Agriculture, v.2: Assessements in semi-arid regions. M. P. Parry, T. R, Carter e N. T. Konijn (eds), 1988, D. Reidel Pub. Co., 764p. YAMAZAKI, Y., RAO, V. B. Tropical Cloudiness over South Atlantic Ocean, Jour. Met. Soc. Japan, 55(2), p, , 1977.
Resumo. Abstract. Palavras chave: complexo convectivo de mesoescala, análises transversais, movimento vertical, células convectivas. 1.
Aspectos Dinâmicos de um Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM) no Sertão Paraibano Raimundo Jaildo dos Anjos raimundo.anjos@inmet.gov.br Instituto Nacional de Meteorologia Maria Marle Bandeira marle@aesa.pb.gov.br
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