COMITÉ DE POLÍTICA MONETÁRIA COMUNICADO Nº 02/2016 Maputo, 15 de Fevereiro de 2016

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1 COMITÉ DE POLÍTICA MONETÁRIA COMUNICADO Nº 02/2016 Maputo, 15 de Fevereiro de 2016 O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) reunido hoje, na sua segunda sessão ordinária do presente ano, analisou o comportamento recente dos principais indicadores macroeconómicos do País e as projecções de inflação de curto e médio prazos, bem como os desenvolvimentos recentes da conjuntura económica doméstica e internacional, que apontam para a prevalência de riscos acrescidos. Perante este quadro, o CPMO julgou oportuno reforçar o carácter restritivo da política monetária, tendo deliberado incrementar em cem pontos base a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência (FPC), em cinquenta pontos base a taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos (FPD) e manter o coeficiente de reservas obrigatórias (RO). I. DESENVOLVIMENTOS RECENTES DAS ECONOMIAS INTERNACIONAL E REGIONAL De acordo com o World Economic Outlook de Janeiro de 2016, o Fundo Monetário Internacional estima que o crescimento mundial tenha abrandado para 3.1% em 2015, face a 3,4% registados em Para 2016 e 2017, esta instituição financeira internacional reviu em baixa as suas perspectivas, reduzindo-as para 3,4% e 3,6%, respectivamente. A desaceleração do crescimento económico nas economias de mercado emergentes, com destaque para a economia chinesa aliada à persistente queda dos preços das mercadorias são apontados como razões para perspectivas mais prudentes do desempenho da economia mundial em 2016 e Nas economias mais desenvolvidas 1, dados preliminares indicam que, no último trimestre de 2015, o crescimento económico nos EUA e no Reino Unido desacelerou, face ao trimestre anterior. Nestas economias, observou-se, em Dezembro de 2015, uma ligeira recuperação dos níveis de inflação anual, que ainda assim se mantiveram em torno de zero porcento. No mercado cambial, o mês de Janeiro de 2016 foi caracterizado por uma significativa recuperação do Euro face ao Dólar dos EUA, perante perdas das restantes moedas. O Banco Central do Japão decidiu baixar a taxa de juro de política monetária para -0,1%, com o objectivo de inverter a tendência para deflação. Os restantes bancos centrais mantiveram as suas taxas de juro inalteradas. Nas economias de mercado emergentes 2, há a assinalar a desaceleração do crescimento da economia chinesa para 6,8% no quarto trimestre de 2015, contrastando com a recuperação observada na Coreia do Sul. A inflação anual tendeu a agravar-se neste bloco de países, em linha com o enfraquecimento das moedas em relação ao Dólar dos EUA, após períodos de alguma estabilidade, situação apenas contrariada pela Rússia que regista uma desaceleração na inflação e no nível de depreciação da sua moeda, o Rublo. O banco central da China ajustou em baixa a sua taxa de juro directora com o 1 Estados Unidos da América, Japão, Reino Unido e Zona Euro. 2 Brasil, China, Coreia do Sul, Índia e Rússia. 1

2 propósito de estimular a economia, enquanto os restantes bancos centrais decidiram pela sua manutenção. Nas economias da SADC 3, a inflação anual, em Dezembro de 2015, apresentou uma tendência ascendente, com excepção das Maurícias, onde esta desacelerou ligeiramente e do Zimbabwe, onde se mantém negativa (deflação). Informação mais recente, reportada a Janeiro de 2016, evidencia um aumento deste indicador na Zâmbia e em Moçambique para 21,8% e 11,6%, respectivamente. No mercado cambial, com a excepção de Moçambique e Maurícias, os restantes países registam um aumento do nível de depreciação nominal das suas moedas face ao Dólar dos EUA, com realce para o Rand, cuja variação anual subiu para 36,3% no fecho do mês de Janeiro. Tendo em vista conter a pressão inflacionária, os bancos centrais da África do Sul e Angola agravaram em Janeiro as suas taxas de juro de política, para 6,75% e 12,0%, respectivamente, tendo os restantes bancos mantido as mesmas inalteradas. Os preços médios das principais mercadorias no mercado internacional com peso significativo na balança de pagamentos de Moçambique e na evolução da inflação apresentam, em Janeiro de 2016, um comportamento misto traduzindo, por um lado, uma redução dos preços do açúcar, do algodão e do brent e, por outro, o aumento dos preços do milho, do arroz e do trigo. Em termos anuais, exceptuando os preços médios do algodão, do milho e do trigo, que observaram incrementos, manteve-se a tendência generalizada para a redução dos preços com destaque para os do brent (34,2%), alumínio (18,5%), carvão térmico (16,4%), gás (13,5%) e açúcar (11,6%). No último dia do mês de Janeiro, o barril de brent foi cotado a USD 34,40, após USD 37,28 em Dezembro, tendo baixado para USD 33,36 no dia 12 de Fevereiro de II. DESENVOLVIMENTOS DA ECONOMIA MOÇAMBICANA Informação publicada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostra que o Índice de Preços no Consumidor (IPC) da cidade de Maputo registou em Janeiro de 2016 uma variação mensal positiva de 1,97%, após 5,77% no mês de Dezembro, fazendo com que a inflação homóloga ascendesse a 11,56%, mais 46 pb em relação à observada no mês precedente, tendo a inflação média anual incrementado para 3,23%, após 2.39% no mês anterior. Os principais produtos cujos preços registaram maior contribuição para a inflação no mês foram o tomate, a cebola, as folhas de feijão nhemba e o amendoim. Destaque-se ainda o ajuste em alta das mensalidades e matrículas do ensino privado, bem assim dos serviços de saúde privados. O comportamento dos preços na cidade de Maputo reflecte, grosso modo, a estiagem que se faz sentir na região sul do país, com impacto na redução da oferta de produtos agrícolas frescos, associado ao efeito da depreciação do Metical face às principais moedas transaccionadas no mercado cambial, bem assim, o agravamento de preços na África do Sul. 3 África do Sul Angola, Botswana, Malawi, Maurícias, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. 2

3 À semelhança da cidade de Maputo, o IPC de Moçambique, que agrega os índices de preços das cidades de Maputo, Beira e Nampula, registou, em Janeiro, uma variação mensal positiva de 2,48%, após 4,76% observados em Dezembro. Com efeito, a inflação homóloga e média anual incrementou para 11,25% e 4,27%, respectivamente. A cidade da Beira, com uma variação de 3,53%, apresentou a inflação mensal mais elevada, seguida de Nampula com 2,73%. A classe que mais contribuiu para a evolução dos preços no IPC mensal agregado foi a dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, com 1,81 pp. Ainda de acordo com a mesma fonte, o Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique expandiu 5,6% no quarto trimestre de 2016, mais 1,1 pp em relação ao observado no período homólogo de 2014, impulsionado pelo desempenho do sector secundário, que registou um incremento anual de 8,5%, com destaque para a contribuição positiva do ramo da electricidade e água e do ramo da indústria transformadora, que amorteceram a desaceleração observada no ramo da construção. Por seu turno, o sector primário registou um abrandamento ao crescer 6.6% no quarto trimestre de 2015, após 7,3% no período homólogo de 2014, abrandamento que reflecte o fraco desempenho da indústria extractiva, contrariado em parte pela aceleração no crescimento da produção agrícola e do ramo de pescas. O sector terciário expandiu em níveis próximos do observado no período homólogo do ano transacto, favorecido pelo dinamismo dos ramos de transportes e comunicações e do comércio. De acordo com o INE, a confiança empresarial, expressa pelo indicador de clima económico, reduziu, pelo quarto mês consecutivo, em Dezembro, reflectindo a avaliação desfavorável dos empresários inquiridos em relação ao emprego actual, assim como as perspectivas de emprego e de preços, suplantando o incremento registado nas perspectivas de procura. Em termos sectoriais, o pessimismo manifestado em relação às perspectivas de emprego decorreu, essencialmente, das opiniões desfavoráveis de todos os sectores, enquanto as perspectivas de procura registaram uma recuperação pondo fim à trajectória descendente iniciada em Agosto último, decorrente da apreciação positiva de todos os sectores com a excepção dos serviços de transportes e de construção que continuam a prever um declínio na actividade. No sector monetário, dados provisórios reportam que no final de Janeiro o saldo da base monetária, variável operacional de política monetária, contraiu em milhões de Meticais, para milhões, o que em termos de saldo médio corresponde a um desvio de milhões de Meticais (2,8%) em relação às estimativas feitas para o período. Em termos anuais, a base monetária aumentou milhões de Meticais, equivalente a uma variação de saldos de 25,6%. A taxa de câmbio MZM/USD foi, no último dia de Janeiro, de 46,06 no Mercado Cambial Interbancário (MCI), o equivalente a uma depreciação mensal do Metical de 2,47%, tendo a depreciação anual desacelerado ligeiramente para 42,25%. Nos balcões dos bancos comerciais, a taxa de câmbio média do fecho do último dia do mês foi de 47,65 MT, correspondente a uma depreciação mensal de 0,74%, tendo a cotação média das casas de câmbio no último dia do mês sido de 50,89 Meticais por Dólar. 3

4 No mesmo período, o Rand (ZAR) foi cotado em 2,88 Meticais, o mesmo câmbio do mês transacto, resultando numa desaceleração da depreciação anual para 4,35%. Dados provisórios indicam que em Janeiro de 2016 o saldo das Reservas Internacionais Líquidas (RIL) reduziu em USD 124,5 milhões, para USD milhões. A evolução no mês reflectiu, essencialmente, o efeito das vendas líquidas efectuadas pelo BM no Mercado Cambial Interbancário no valor de USD 130 milhões, perdas cambiais potenciais (líquidas) no valor de USD 26 milhões e amortização do serviço da dívida pública externa no valor de USD 23 milhões. Os movimentos acima foram parcialmente amortecidos pelos desembolsos de fundos para projectos do Estado no montante de USD 28 milhões e compra de USD 20 milhões, dos quais USD 18,5 milhões por empresas que operam ao abrigo do investimento directo estrangeiro (liquidação de impostos). O saldo das reservas internacionais brutas correspondeu a 3,1 meses de cobertura das importações de bens e serviços não factoriais quando excluídas as operações dos grandes projectos. No Mercado Monetário Interbancário (MMI), as taxas de juro médias ponderadas dos leilões dos Bilhetes do Tesouro (BT) com a maturidade de 91, 182 e 364 dias incrementaram, no mês, em 1,01pp para 8.53%, em 1,84pp para 9.12% e em 1,30pp para 8,93%, respectivamente, em Janeiro de Ainda no mesmo período, a taxa de juro de permutas de liquidez entre as instituições de crédito, fixou-se em 6,64%, o que representa um aumento de 1,24pp. No mercado a retalho, a taxa de juro média nominal praticada pelas instituições de crédito nas suas operações activas para a maturidade de um ano aumentou no mês de Dezembro em 96pb para 19,20%. O mesmo comportamento observou a taxa de juro média das operações passivas que aumentou em 32pb para 9,37%. Por seu turno, a prime rate média do sistema fixou-se em 16,41%, em Dezembro, um aumento em 1,02pp em relação a Novembro último. III. DECISÃO DE POLÍTICA O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) apreciou os desenvolvimentos recentes da conjuntura económica internacional, onde se destaca o abrandamento da actividade económica na generalidade das economias desenvolvidas, de mercado emergentes e da região da SADC. A desaceleração da economia chinesa e a persistente queda dos preços das mercadorias constituem os principais factores de risco da conjuntura internacional, com prováveis impactos no crescimento mundial, num contexto ainda caracterizado pelo persistente fortalecimento do Dólar dos EUA. Na conjuntura doméstica, o órgão tomou nota dos prováveis impactos da conjuntura internacional adversa, assim como os efeitos esperados da estiagem nas regiões sul e centro do País e das cheias na região norte, no comportamento dos principais indicadores macroeconómicos, nomeadamente, 4

5 crescimento do PIB abaixo das previsões iniciais, pressão inflacionária e deterioração dos indicadores do sector externo. Em face das constatações já mencionadas, num contexto em que as projecções da inflação doméstica evidenciam a prevalência de pressão, no curto e médio prazos, o CPMO deliberou: Intervir nos mercados interbancários visando garantir o cumprimento da meta indicativa da Base Monetária de Fevereiro de 2016 fixada em milhões de Meticais; Ajustar em alta, com efeito imediato: i. A taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de liquidez em 100pb para 10,75%; e ii. A taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos em 50pb para 4,25%. Manter o Coeficiente de Reservas Obrigatórias em 10,5%. A próxima sessão do CPMO terá lugar a 14 de Março de Ernesto Gouveia Gove Governador 5