A Matemática e o consumo de água: Interdisciplinando conteúdos Luciana de Freitas Baptista Oliveira 1 Thamiriz Martins Teixeira 2

Transcrição

1 A Matemática e o consumo de água: Interdisciplinando conteúdos Luciana de Freitas Baptista Oliveira 1 Thamiriz Martins Teixeira 2 Resumo: O artigo é oriundo de Projeto investigativo feito com alunos do 1º ano do ensino médio, integrado com o curso Técnico em Floresta, do Instituto Federal de Educação do Sudeste de Minas Campus Rio Pomba. A motivação deste trabalho foi a preocupação mundial com a diminuição de água potável em nosso planeta. Em vista disto, nosso objetivo foi interdisciplinar conteúdos matemáticos com o consumo e desperdício de água propondo novas práticas para serem trabalhadas em sala de aula. Apesar dos problemas ambientais serem realidade na vida de todos, pensamos que é só por meio da educação que poderemos mudar esta realidade. Palavras-chave: Água. Atividade investigativa. Matemática. Meio ambiente. Introdução A distribuição de 1,386 km³ de água no planeta obedece aos seguintes parâmetros: 2,5% de água doce e 97,5% de água salgada. A água doce, por sua vez, se apresenta distribuída nas calotas polares 68,9%, águas subterrâneas (aquíferos) 29,9%, outros reservatórios (nuvens, vapor de água) 0,9% e rios e lagos 0,3%. Pelos cálculos da ONU - Organização das Nações Unidas - há falta de água em pelo menos 26 países, afetando cerca de 232 milhões de pessoas. O Brasil tem água em abundância, cerca de 15% de todos os recursos hídricos do planeta; mas isto, será por pouco tempo se não soubermos usá-la de forma adequada como acabamos de relatar, somente pequena parte do total de água da Terra pode ser utilizada para consumo, principalmente aquela contida em rios e lagos. Esta água é utilizada para abastecimento doméstico, nas indústrias, agricultura, geração de energia elétrica, recreação, esporte, e outros usos, e a partir disso é essencial para os seres humanos e também para os demais seres do planeta. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborado em 1997, através do Ministério da Educação e do Desporto incorporou o Tema Transversal Meio Ambiente para que os alunos aprendessem e refletissem sobre questões sociais enfatizando "a urgência da 1 Luciana de Freitas Baptista Oliveira é aluna do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas- Campus Rio Pomba. 2 Thamiriz Martins Teixeira é aluna do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas-Campus Rio Pomba. Professora Indicadora e orientadora, Paula Reis de Miranda do Instituto de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Campus Rio Pomba. 78

2 implantação de um trabalho de Educação Ambiental que contemple as questões da vida cotidiana do cidadão e discuta algumas visões polêmicas sobre essa temática" (BRASIL, 1998). A relação Educação x Ambiente, deve produzir reflexões baseadas nas experiências da realidade e do cotidiano dos alunos. (GUARIM NETO e FREIRE, 1995). Fundamentação teórica A disciplina da matemática é normalmente trabalhada de forma isolada, sem vínculo com outras disciplinas e às suas aplicações práticas. Relacionar os conteúdos matemáticos com a realidade socioambiental do aluno não é fácil, mas é possível. A matemática da sala de aula precisa andar lado a lado em nosso ambiente. Segundo Brasil, a quantificação de aspectos envolvidos em problemas ambientais favorece uma visão clara deles, ajudando na tomada de decisões e permitindo intervenções necessárias. A compreensão dos fenômenos que ocorrem no ambiente poluição, desmatamento, limites para o uso dos recursos naturais, desperdício terá ferramentas essenciais em conceitos (média, áreas, volumes, proporcionalidade, etc.) e procedimentos matemáticos (formulação de hipóteses, realização de cálculos, coleta, organização e interpretação de dados estatísticos, prática da argumentação, etc.). (BRASIL, 1997.p.142). Relacionar o estudo de gráfico, tabelas e funções com o consumo e desperdício de água é boa proposta de educação matemática pois é importante que ela não seja só informativa de conteúdos, mas que seja também formadora de cidadãos críticos e atuantes na preservação do meio ambiente. A importância de relacionar conteúdos matemáticos com as questões ambientais é assim comentada por D Ambrósio, Particularmente importante é a incorporação, na educação matemática, de uma preocupação com o ambiente. Embora haja, muito progresso nessa direção e se notem boa pesquisa e boas propostas curriculares visando a essa incorporação, a sua plena aceitação na educação matemática ainda é um problema (D AMBRÓSIO, 1996,87) Desenvolvendo a atividade A atividade foi realizada com a turma do 1º ano do ensino médio, integrado ao curso Técnico em Floresta do Campus Rio Pomba, no período da tarde. Estavam presentes 30 alunos na faixa, etária de 15 a 17 anos. Os alunos nos receberam com desconfiança, sem 79

3 compreender a princípio o motivo de nossa presença ali, mas pouco a pouco foram demonstrando interesse e participação. A sala foi dividida em seis grupos de cinco alunos e, logo após, distribuímos envelopes para cada grupo que continham: um texto, uma folha de atividades sobre o texto, um demonstrativo de uma conta de água e uma folha denominada Desafio acompanhada de um papel milimetrado. Assim que se inteiraram do conteúdo do envelope fizemos a leitura do texto Água é Vida, com o objetivo de levar os alunos a pensar sobre a importância do meio ambiente. Para que todos acompanhassem, evitando distrações, fizemos a leitura em conjunto. Após esta, deu-se início ao desenvolvimento das tarefas propostas. Durante o desenvolvimento da aula, anotamos todos as questões surgidas e ligadas às atividades. Notamos boa capacidade interpretativa, pois, todos coletaram corretamente os dados pedidos sobre o texto. ANEXO A - Água é Vida. Após esta leitura, resolveram a primeira folha de atividade que se segue: 80

4 No (item d) foi pedido a representação gráfica dos dados coletados. Vejamos algumas resoluções: Grupo: IV 81

5 Grupo: I 82

6 Esta etapa das atividades foi muito bem elaborada por todos os grupos. Tiveram grande facilidade, clareza e capricho na montagem dos gráficos, pois, nos disseram que haviam aprendido a fazê-los, dias atrás, com o seu professor de Geografia. O próximo passo de nossa metodologia foi trabalhar com um demonstrativo do consumo de água em uma residência. Outra questão foi colocada aos alunos. Perguntamos se sabiam calcular o consumo de água de sua casa. Para isso, observaram o demonstrativo a seguir, seguido da folha Desafio, contendo cinco passos para ajudar na resolução. 83

7 Os resultados que obtivemos mostraram grande variação. A princípio, todos ficaram sem saber como agir para chegarem a um resultado mas, aos poucos, foram tomando consciência de pequenos detalhes da leitura do demonstrativo. Dos seis grupos formados, apenas o grupo cinco resolveu corretamente a questão, tendo o grupo três conseguido caminhar com algum sucesso até a metade do resultado. Pedimos a um dos integrantes do grupo cinco que expusesse a solução no quadro e ensinasse a todos os colegas. Notamos que este desafio com o demonstrativo da conta de água foi muito estimulante para eles, principalmente por se tratar de algo que estão habituados a ver no dia-a-dia, mas acabam não se dando conta de quantos cálculos são necessários para obter o preço a pagar. Como ultima atividade entregamos a folha individual de reflexão contendo algumas indagações. 84

8 Na utilização que cada um faz da água notamos que todos sabem o correto a fazer para evitar o desperdício. Mas esta não é a realidade observada, em boa parte devido à falta de consciência ambiental. 85

9 Podemos ter consciência ambiental e mesmo assim permanecer insensíveis a estas questões. Para reforçar os conteúdos trabalhados, apresentamos um diapositivo com o tema Água, salientando a importância do tema escolhido. Considerações Finais Optamos por esse trabalho para tentar romper com a passividade do aluno e propiciar-lhe situações mais investigativas, dando-lhe chance de analisar e refletir sobre problemas reais que interferem na sua vida, além de fazer com que o aluno sinta-se participante na construção do conhecimento e responsável pela sua aprendizagem. De acordo com (BASSANEZI, 2002) as discussões sobre o tema escolhido favorecem a preparação do estudante como elemento participativo da sociedade em que vive. Segundo a Declaração dos Direitos das águas, publicada no Jornal da Educação e Cultura, no seu artigo primeiro diz: Fica decretado, a partir de agora, que homens, mulheres e crianças respeitarão rios, lagos, represas, cachoeiras, riachos, córregos e ribeirões, pois deles vem a água que bebemos, que irriga nossas plantações, que dá vida às flores, cura nossas dores, limpa nossas feridas, refresca nosso corpo, acalma nossas emoções e revigora nossa alma. (2003,nº117) Água é vida A água é um elemento composto por dois átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O), formando a molécula de H2O. É das substâncias mais abundantes em nosso planeta e pode ser encontrada em três estados físicos: sólido (geleiras), líquido (oceanos e rios), e gasoso (vapor d água na atmosfera). Aproximadamente 70% da superfície terrestre encontram-se coberta por água. No entanto, menos de 3% deste volume é de água doce, cuja maior parte está concentrada em geleiras (geleiras polares e neves das montanhas), restando pequena porcentagem de águas superficiais para as atividades humanas. A distribuição de 1,386 km³ de água no planeta obedece aos seguintes parâmetros: 2,5% de água doce e 97,5% de água salgada. A água doce, por sua vez, se apresenta 86

10 distribuída nas calotas polares 68,9%, águas subterrâneas (aquíferos) 29,9%, outros reservatórios (nuvens, vapor de água) 0,9% e rios e lagos 0,3%. A distribuição da captação de água por uso no mundo em porcentagem é: Países desenvolvidos: 30% na agricultura, 59% na indústria e 11% no uso doméstico. Países em desenvolvimento: 82% na agricultura, 10% na indústria e 8% no uso doméstico. Pelos cálculos da ONU - Organização das Nações Unidas - há falta de água em pelo menos 26 países, afetando cerca de 232 milhões de pessoas. Temos o privilégio de morar em um país com água em abundância, cerca de 15% de todos os recursos hídricos do planeta; mas isto, será por pouco tempo se não soubermos usá-la de forma adequada Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a proporção de municípios afetados por poluição das águas é maior no Sul (45%) e Sudeste (43%). Os estados que mais registraram essa ocorrência foram: Rio de Janeiro (77%), Amapá (69%), Espírito Santo (60%), Pernambuco (56%) e Santa Catarina (55%). No outro extremo, Piauí (7%), Tocantins (12%), Acre (18%), Amazonas (19%) e Mato Grosso (25%) apresentaram as menores proporções. Os elevados percentuais encontrados no Espírito Santo e Rio de Janeiro se devem, em grande parte, à exploração de petróleo. O corpo humano é composto de água, entre 70 e 75%. Na média, a proporção de água no corpo humano é idêntica a proporção entre terras emersas e águas na superfície do planeta Terra. O percentual de água no organismo humano diminui com a idade Nosso cérebro tem 75%, pulmões 86%, fígado 86%, músculos 75%, coração 75%, rins 83% e sangue 81%. Fonte: Referências: BASSANEZI, R. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática. São Paulo. Editora Contexto, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997, pag.142. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA ÁGUA. Jornal da Educação e Cultura, 2003, artigo primeiro, nº117. DICAS E CURIOSIDADES SOBRE A ÁGUA Higiservice e Colaboradores. Disponível em: < > acesso em 05/04/

11 FILIPPSEN, R; GROENWALD, C. O meio ambiente e a sala de aula: a função polinomial de 2 grau modelando o plantio de morangos. Educação matemática em revista, São Paulo: Ed. SBEM, n.12, p , jun GUARIM N; & DE-LAMONICA-F. A Botânica e a Prática da Educação Ambiental. Revista de Educação Pública, 4, 1995, pag IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: < acesso em 17/04/2011. NOTÍCIAS DA TERRA. Disponível em: < interna> acesso em: 17/04/2011. SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: PPG-ERN/UFSCar, 1994, pag