DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ( ) COMARCA DE ANÁPOLIS AUTOR : IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA RÉU : ESTADO DE GOIÁS

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1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ( ) COMARCA DE ANÁPOLIS AUTOR : IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA RÉU : ESTADO DE GOIÁS APELAÇÃO CÍVEL APELANTE : ESTADO DE GOIÁS APELADO : IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA RELATOR : DES. ROGÉRIO ARÉDIO FERREIRA RELATÓRIO E VOTO Trata-se de duplo grau de jurisdição e apelação cível interposto em face da sentença (fls. 155/162) proferida pelo MM. Juiz de Direito em substituição, Dr. Gabriel Consigliero Lessa, da Vara de Fazendas Públicas Estadual da Comarca de Anápolis nos autos da Ação Revisional de aposentadoria por invalidez com pedido de tutela antecipada proposta por IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA em face do GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS. Na inicial, narra a autora que em razão de ter 1

2 sido diagnosticada como portadora de Mielopatia Cervical Espondilótica, doença que a impossibilita de exercer suas atividades laborais, foi aposentada por invalidez a partir do mês de setembro de 2009, no cargo de Professora III, Referência A, do Quadro Permanente do Magistério Público Estadual. Assevera que sua aposentadoria, desde a concessão deveria ter sido implantada na forma integral, e não proporcional, uma vez que é portadora de doença grave e incurável. efeitos da tutela. Requer a concessão da antecipação dos Ao final, pugna pela procedência do seu pedido, deferindo a revisão de sua aposentadoria para a percepção de proventos integrais a partir de 11/09/2008 e condenando o réu ao pagamento das diferenças, acrescidas dos consectários legais. Juntou os documentos de fls. 09/94. Liminar indeferida, às fls. 96/97. fls. 110/113. Citado, o requerido ofertou contestação, às 2

3 140/141). Foi realizada perícia médica (laudo de fls. fls. 155/162, in verbis: O feito culminou na prolação da sentença às Diante do exposto, julgo parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar o requerido: - a revisionar a aposentadoria por invalidez da requerente, de acordo com os índices legais aplicáveis, desde a data da concessão do benefício, ou seja, 11 de setembro de 2009 utilizando-se, como quantia base, o valor do salário mínimo vigente à época; - ao pagamento das diferenças recebidas entre as remunerações e as que deveriam ter sido pagas a autora, a partir de 11 de setembro de 2009, que deverão ser apuradas, pela autora, em liquidação de sentença; - a proceder a alteração da concessão da aposentadoria por invalidez com proventos integrais, tendo em vista se tratar de doença grave e incurável que a impossibilita de exercer sua função de magistério. 3

4 Condeno o requerido ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que arbitro em R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do art. 20, 4º do Código de Processo Civil.... apelação (fls. 166/173). O Estado de Goiás interpôs recurso de Aduz que a apelada não tem direito a aposentadoria na forma integral uma vez que a doença que a torna inválida para suas atividades laborais não consta no rol taxativo da Lei Estadual n /2001. Ao final, o apelante requer o conhecimento e provimento do recurso, para que seja declarada a improcedência do pedido inicial por falta de amparo legal, e, ainda, pede a condenação da apelada nas custas do processo e honorários advocatícios. Contrarrazões apresentadas às fls. 178/181. A Procuradora de Justiça, Dra. Eliane Ferreira Fávaro (fls. 185/194), opinou pelo conhecimento e improvimento, tanto do recurso de apelação como do reexame necessário: 4

5 (...) Desse modo, entendo que equivocou-se a administração pública estadual ao conceder a autora aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, posto que os servidores deverão ser aposentados com proventos integrais, quando a aposentadoria decorrer de invalidez permanente, em razão de doença grave, contagiosa ou incurável. ( ) Assim constatado, reputo escorreita a sentença monocrática, que bem aplicou o direito ao caso concreto, devendo ser rechaçadas todas as argumentações tendentes à sua reforma. Com essas considerações, forte no entendimento esposado, opino pelo CONHECIMENTO e IMPROVIMENTO, tanto do recurso de apelação como do reexame necessário, mantendo-se na íntegra a sentença de 1º grau. É o relatório. Passo ao voto. 5

6 conheço. Sendo a remessa própria e necessária, dela E, ainda, sendo tempestivo e preenchidos todos os requisitos, também conheço da apelação interposta. A remessa obrigatória e a apelação versam sobre o mesmo assunto: a concessão da aposentadoria por invalidez integral à autora/apelada pela decisão monocrática. Conforme relatado, extrai-se dos autos que a autora/apelada foi aposentada por invalidez, recebendo proventos proporcionais ao tempo de contribuição desde outubro de 2009 (fl.92). A autora/apelada, de acordo com os documentos acostados e perícia médica, é portadora de Deslocamento de Disco Cervical, CID 10: M50.2. O parecer médico (fl. 151) apresentado pela Junta Médica Oficial do Tribunal de Justiça esclarece, in verbis:...vimos informar que a Sra. Iolanda Cecílio de Moraes Pereira apresenta incapacidade funcional e permanente para função de professora.... 6

7 Constituição Federal preceitua, in verbis: O artigo 40, caput e 1º, inciso I, da Artigo 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos 3º e 17. I por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei. 133 verbera, in verbis: A Lei Estadual n /2001 em seu artigo Art O professor que ingressou no 7

8 serviço público após o dia 16 de dezembro de 1998 será aposentado: I por invalidez permanente, com proventos integrais quando a incapacidade definitiva resultar de:... c) tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira progressiva, hanseníase, paralisia irreversível e incapacidade, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, Coréia de Huntington, nefropatia grave, estado avançados de Paget (osteíte deformante) e AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), com base nas conclusões de junta médica oficial do Estado. Portanto, a Constituição assegura ao servidor público a aposentadoria com proventos integrais quando acometido por doença grave e incurável. Por outro a Lei Estadual é clara ao taxar quais doenças permite a aposentadoria do funcionário recebendo proventos integrais. Não obstante, entendo que seria impossível exigir do legislador que esgotasse o elenco de todas as doenças graves e incuráveis que, de alguma forma, impossibilitassem ao segurado o exercício normal de suas atividades. 8

9 Por essa razão, ao proceder a análise do caso concreto, o simples fato de a doença acometida pela autora/apelada não ter sido incluída no rol da Lei Estadual nº /2001 não impede o reconhecimento de seu direito à aposentadoria com proventos integrais, uma vez que o referido rol é meramente exemplificativo. Justiça já decidiu neste sentido: Sobre o assunto o Superior Tribunal de ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANENTE. DOENÇA GRAVE E INCURÁVEL. ART. 186 DA LEI N /90. ROL EXEMPLIFICATIVO. PROVENTOS INTEGRAIS 1. O rol das doenças constantes do art. 186, I, 1º, da Lei n /90, para fins de aposentadoria integral, não é taxativo, mas exemplificativo, tendo em vista a inviabilidade de a norma prever todas as doenças consideradas pela medicina como graves, contagiosas e incuráveis. 2. 9

10 Hipótese em que comprovado por perícia médica a incapacidade permanente da ora agravada, devido a moléstia grave, devendo ser estendida a norma do art. 186, I, 1º, da Lei n /90 determinando a conversão da aposentadoria com proventos proporcionais para "aposentadoria com proventos integrais". Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp /RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 20/08/2012). ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANENTE. SERVIDORA QUE PADECE DE DOENÇA INCURÁVEL, NÃO MENCIONADA NO 1º DO ART. 186 DA LEI Nº 8.112/1990. ROL EXEMPLIFICATIVO. DIREITO A PROVENTOS INTEGRAIS. ACÓRDÃO EMBARGADO QUE SE REVELA 10

11 AJUSTADO À ATUAL ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DIVERGÊNCIA SUPERADA. 1. Na linha da orientação que atualmente predomina na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não há como considerar taxativo o rol inscrito no 1º do art. 186 da Lei nº 8.112/1990, levando-se em conta a impossibilidade de a norma alcançar todas as doenças consideradas pela medicina como graves, contagiosas e incuráveis. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg nos EREsp /RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/06/2012, DJe 15/08/2012). de Justiça do Estado de Goiás: No mesmo sentido já decidiu este Tribunal MANDADO DE SEGURANÇA. 11

12 SERVIDOR APOSENTADO. DECADÊNCIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. GOIASPREV. PRESIDENTE TRIBUNAL DE CONTAS. CONVERSÃO DOS PROVENTOS PROPORCIONAIS EM INTEGRAIS. EPILEPSIA. ART.264, I, ALÍNEA C DA LEI /88. ROL EXEMPLIFICATIVO. DIREITO E LÍQUIDO E CERTO À PERCEPÇÃO DE PROVENTOS INTEGRAIS Não é possível considerar taxativo o rol previsto no artigo 264, I, alínea C da Lei /88, que elenca as enfermidades, haja vista a impossibilidade da norma alcançar todas as doenças consideradas pela medicina como graves, contagiosas e incuráveis, sob pena de negar o conteúdo valorativo do inciso I do artigo 40 da Constituição Federal. 4. À ciência médica, e somente a ela, incumbe qualificar determinado mal como incurável, contagioso ou grave, não à jurídica. 5. A melhor exegese da norma em debate, do ponto de vista da interpretação sistemática, é a que extrai a intenção do 12

13 legislador em amparar de forma mais efetiva o servidor que é aposentado em virtude de grave enfermidade, garantindolhe o direito à vida, à saúde e à dignidade humana. Segurança concedida. (TJGO, MANDADO DE SEGURANCA , Rel. DES. GILBERTO MARQUES FILHO, 4ª CÂMARA CIVEL, julgado em 18/08/2011, DJe 893 de 31/08/2011). MANDADO DE SEGURANÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANENTE. DOENÇA GRAVE E INCURÁVEL. ROL EXEMPLIFICATIVO. PROVENTOS INTEGRAIS. 1- Não há como considerar taxativo o rol descrito na Lei federal nº 8.112/90 ou na Lei Estadual nº /01, haja vista a impossibilidade de a norma alcançar todas as doenças consideradas pela medicina como graves, contagiosas e incuráveis, sob pena de negar-se o conteúdo valorativo da norma 13

14 inserta no art. 40, inciso I, da Constituição Federal. 2- Assegura-se à servidora pública, acometida de doença grave e incurável, a aposentaria com proventos integrais, calculada nos moldes do artigo 1º, caput, da Lei nº /04, uma vez que o ato de sua aposentadoria deu-se quando já em vigor a referida norma. SEGURANÇA CONCEDIDA. (TJGO, MANDADO DE SEGURANÇA , Rel. DES. JOÃO UBALDO FERREIRA, CORTE ESPECIAL, julgado em 09/02/2011, DJe 768 de 25/02/2011).Destaquei. Logo, evidenciado está que a autora/apelada é portadora de doença grave e incurável, portanto, necessária a confirmação da sentença que concedeu a revisão de sua aposentadoria para a sua implantação de proventos integrais, acatando o conteúdo valorativo inserto no artigo 40, inciso I da Constituição Federal. Ante ao exposto, acolhendo o parecer ministerial, conheço e nego provimento à remessa obrigatória e ao 14

15 recurso de apelação do Estado de Goiás, para manter a sentença, conforme proferida. É como voto. Goiânia, 09 de outubro de DES. ROGÉRIO ARÉDIO FERREIRA RELATOR DG44265-LB (LF)VIII 15

16 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ( ) COMARCA DE ANÁPOLIS AUTOR : IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA RÉU : ESTADO DE GOIÁS APELAÇÃO CÍVEL APELANTE : ESTADO DE GOIÁS APELADO : IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA RELATOR : DES. ROGÉRIO ARÉDIO FERREIRA ACÓRDÃO EMENTA: DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANENTE. DOENÇA GRAVE E INCURÁVEL. ROL EXEMPLIFICATIVO. PROVENTOS INTEGRAIS. 1 - Não há como considerar taxativo o rol descrito na Lei Estadual nº /01, haja vista a impossibilidade da norma alcançar todas as doenças consideradas pela medicina como 1

17 graves, contagiosas e incuráveis, sob pena de negar-se o conteúdo valorativo da norma inserta no art. 40, inciso I, da Constituição Federal. 2- Assegura-se à servidora pública, acometida de doença grave e incurável, a aposentaria com proventos integrais. REMESSA E APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDAS E DESPROVIDAS. SENTENÇA MANTIDA. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Nº ( ) da Comarca de Anápolis, tendo como autora IOLANDA CECÍLIO DE MORAIS PEREIRA e como réu ESTADO DE GOIÁS. ACORDA, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pelos integrantes da Segunda Turma Julgadora da 3ª Câmara Cível, por unanimidade de votos, em conhecer da remessa obrigatória e do apelo mas negar-lhes provimento, nos termos do voto do Relator. Participaram do julgamento, além do Relator, os eminentes desembargadores: Stenka I. Neto, que também presidiu a seção, e Walter Carlos Lemes. 2

18 Esteve presente à sessão de julgamento a nobre Procuradora de Justiça, Dra. Eliane Ferreira Fávaro. Goiânia, 09 de outubro de DES. ROGÉRIO ARÉDIO FERREIRA RELATOR DG44265-LB (LF)/MI-II 3

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