A Escrita em Aulas de Matemática: uma proposta para a busca. da identidade e alteridade
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- Maria Vitória Micaela Caminha Wagner
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1 A Escrita em Aulas de Matemática: uma proposta para a busca da identidade e alteridade Autora: Milena Soldá Policastro Introdução A idéia de realizar uma pesquisa sobre linguagem matemática se deu a partir de minha prática pedagógica quando, ao longo de alguns anos de trabalho, passei a colecionar episódios em que alunos, ao se depararem com situações que envolviam a linguagem matemática e as imbricadas relações entre esta e a linguagem materna, acabavam por se sentirem inseguros e muitas vezes declaravam terem desistido de entender a matemática. Diante deste quadro, iniciei uma busca por literaturas que me auxiliassem na recuperação da auto-estima dos alunos, e foi a partir desta busca que a questão da linguagem matemática passou a ser para mim um tema de grande interesse. Neste contexto, acabei por dirigir meus estudos para a questão da escrita em aulas de matemática como uma ferramenta no processo de aprendizagem deste componente curricular. A escrita como ferramenta capaz de contribuir para o ensino e aprendizagem da matemática tem sido objeto de estudo na educação matemática. Neste sentido, uma investigação acerca da linguagem matemática passa a ser um dos focos principais de um estudo sobre a escrita em matemática. Investigar como a linguagem matemática se estabelece dentro de uma sala de aula, nas relações aluno-aluno, aluno-professor, exige do pesquisador atenção especial no que se entende por linguagem. Em primeiro lugar, linguagem, no âmbito deste trabalho, deve ser entendida para além das questões puramente da fala. Além disso, apesar de estarmos preocupados muito mais com a questão da escrita, será inevitável que abordemos aspectos que envolvem as mais variadas formas de comunicação que se manifestam a partir da oralidade, gestualidade e do pictórico, todas 1
2 elas inerentes ao processo de estar-no-mundo a que todo sujeito se submete, ao situar-se cultural e socialmente. Nortearemos a nossa pesquisa a partir de duas questões fundamentais: como a escrita pode ajudar no desenvolvimento da cognição matemática? e a escrita, como ferramenta importante no desenvolvimento da cognição matemática, é capaz de revelar e fazer emergir questões que envolvem os processos de inserção cultural e social do aluno enquanto sujeito/autor de produção de conhecimento matemático? Além destas questões que norteiam a nossa pesquisa, acreditamos que outras perguntas surgirão paralelamente, ao longo deste estudo, e que nos ajudarão a conduzir nosso trabalho. 2
3 Justificativa e Fundamentação Teórica Acreditamos, em concordância com Freire (ed. 2007) que não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. A questão da impregnação entre linguagem materna e linguagem matemática, como nos aponta Machado (2001) deve ser reconhecida em sua essencialidade e fundamento, para que as propostas de ações de superação das dificuldades enfrentadas pelos alunos diante da matemática sejam efetivamente colocadas em prática. De acordo com D Ambrósio (2005), temos visto, na educação, um crescente reconhecimento das relações interculturais. No entanto, o autor aponta para a relutância no reconhecimento das relações intraculturais. É neste sentido que acreditamos que nossa pesquisa, ao tratar das questões de relações entre aluno-aluno, aluno-professor, vem de encontro ao problema apontado por D Ambrósio. Neste sentido, Etnomatemática, vem como um suporte teórico para o nosso trabalho, na medida em que se apresenta como um programa de pesquisa sobre a geração, organização intelectual, organização social e difusão do conhecimento, além de ser um programa interdisciplinar que transita pelos domínios das ciências da cognição, epistemologia, da história, da sociologia e da difusão (D Ambrósio, 2005). Diante deste quadro teórico, pretendemos apresentar a escrita como uma importante ferramenta para desenvolver a cognição e fomentar o aprendizado matemático (Powell e Bairral, 2006), uma vez que, a partir desta prática, o aluno é capaz de desenvolver reflexão crítica, além de colocar em prática o hábito de participar de atividades que envolvem processos colaborativos de diferentes dimensões e de tomada de consciência sobre as experiências individuais e coletivas. Acreditamos e pretendemos verificar que o aluno, quando inserido neste contexto, é capaz de buscar sua identidade e alteridade, uma vez que se entende como autor de conhecimento matemático. Durante o desenvolvimento teórico deste trabalho, com freqüência usaremos termos como linguagem, texto, discurso, autoria e alteridade. É importante situarmos teoricamente o lugar de onde partiremos nossos estudos e, neste sentido, esclarecemos que as concepções acerca dos termos acima mencionados são 3
4 advindas dos estudos filosóficos de Martin Heidegger e, principalmente, dos estudos de M. M. Bakhtin. Além disso, os trabalhos de autores como Paulo Freire, no âmbito da educação, Ubiratan D Ambrósio, Arthur Powell, Maria do Carmo S. Domite, dentre outros, no âmbito da educação matemática e, mais especificamente, da etnomatemática, também aparecerão como suporte teórico desta pesquisa. 4
5 Metodologia da Pesquisa A presente pesquisa, de abordagem qualitativa, estudará o tema da escrita como ferramenta para o desenvolvimento do processo cognitivo da matemática, a partir de intervenções da própria pesquisadora, em uma turma de 2ª série do Ensino Fundamental, de uma escola pública estadual, no município de Taboão da Serra, em São Paulo. A turma escolhida para a realização da pesquisa faz parte do quadro de trabalho da própria pesquisadora. Optou-se por uma turma que compusesse o nosso quadro de trabalho por ser esta composta por alunos com os quais já trabalhamos em anos anteriores, e já nos são muito familiares. A pesquisa em si consiste em solicitar aos alunos que, ao final de cada aula, no prazo de 10 a 15 minutos, elaborem uma composição textual acerca do que foi tratado na aula. Nesta composição, que denominamos Ressonância da Aula, o aluno é livre para dissertar sobre conceitos novos que aprendeu, conceitos que reformulou, dúvidas que apareceram e outras que foram solucionadas, além de eventuais questionamentos acerca dos tópicos matemáticos tratados. À professora-pesquisadora caberá o trabalho de ler todas as composições, bem como fazer a devolutiva com comentários pertinentes, procurando dirigir o entendimento dos educandos sobre os tópicos abordados em sala de aula. A devolutiva acontece com regularidade, isto é, a cada três aulas com produção escrita, as composições são devolvidas aos alunos-autores, com comentários necessários e pertinentes. Cada aluno-autor é incentivado a reescrever a composição, resignificando suas idéias e conceitos que por ventura tenham ficado pouco claros, a priori. Esta dinâmica se repete a cada três composições elaboradas. Há ainda uma devolutiva que ocorre a cada seis aulas com composições elaboradas, quando a professora solicita que grupos de alunos com 3 ou 4 integrantes, analisem e façam comentários sobre as composições de outros colegas. Ao final desta dinâmica, cada grupo é incentivado a elaborar uma composição textual que contenha as idéias e conceitos abordados e comentados entre os integrantes. 5
6 Objetivos Pretendemos com a presente pesquisa responder às questões que norteiam nosso trabalho, além de buscar compreender em que medida o hábito da escrita nas aulas de matemática é capaz de revelar nos alunos aspectos que ultrapassam os limites do simples entendimento de um conteúdo específico em matemática. Buscamos entender como a ferramenta da escrita matemática pode fomentar no educando a busca de sua identidade e alteridade enquanto autor de conhecimento matemático, que inclui em seus textos, seja tácita ou explicitamente, seus sentimentos acerca da busca de significação para os conteúdos matemáticos abordados. Além disso, pretendemos verificar a importância do papel do professor em todo o processo, uma vez que temos consciência de que sua principal responsabilidade é a de proporcionar uma situação dialógica em sala de aula, procurando incorporar recursos linguageiros do cotidiano do aluno, exigindo a busca dos significados lexicais dos vocabulários utilizados em sala de aula e para a escrita dos textos. 6
7 Referências Bibliográficas BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, BICUDO, Maria Aparecida Viggiani; GARNICA, Antonio V. Marafioti. Filosofia da Educação Matemática. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, D AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. 13 ed. Campinas, SP: Papirus, Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2 ed. 2ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, DOMITE, M. C. S. ou MENDONÇA, M. C. D. (Org.) ; FERREIRA, Rogério (Org.) ; RIBEIRO, J. P. M. (Org.). Etnomatemática: papel, valor e significado. 1. ed. São Paulo: Zouk, ERNEST, Paul. The Philosophy of Mathematical Education. The Falmer Press, FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36ª ed. São Paulo: Paz e Terra, HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, MACHADO, Nilson José. Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação mútua. 5ª ed. São Paulo: Cortez, POWELL, Arthur B.; BAIRRAL, Marcelo. A escrita e o pensamento matemático: interações e potencialidades. Campinas, São Paulo: Papirus, POWELL, Arthur. B., FRANCISCO, J. M., & MAHER, C. A. Uma abordagem à análise de dados de vídeo para investigar o desenvolvimento das idéias matemáticas e do raciocínio de estudantes. BOLEMA, 21, (2004) POWELL, Arthur. B. Captando, examinando, e reagindo ao pensamento matemático. Boletim GEPEM, 39, Set/ Soccially emergente cognition: particular outcome of student-to student dicursive interactions during mathematical problem solving. Horizontes, v. 24, n 1, p , jan/jun
8 POWELL, Arthur B., FRANKENSTEIN, Marilyn. Respecting Intellectual Diversity: an Ethnomathematical Perspective. In F. A. Rosamond & L. Copes (Eds.), Educational transformation: A tribute to Steve Brown (pp ). Bloomington, IN: AuthorHouse. POWELL, Arthur. B., & LÓPEZ, J. A. (1989). Writing as a vehicle to learn mathematics: A case study. In P. Connolly & T. Vilardi (Eds.), The Role of Writing in Learning Mathematics and Science (pp ). New York: Teachers College. 8
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