Opinião ABC Brasil 399 2/1/2015

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1 2/1/2015 O ano de 2015 é esperado como o ano do ajuste. Três ajustes são considerados importantes: o fiscal, o monetário e o de preços. E o ano já começou com sinais de que estes já estão acontecendo. Infelizmente, estes ajustes não são suficientes para garantir o crescimento econômico nos anos seguintes, considerando que os mesmos não permitem grande crescimento da atividade econômica neste ano. Assim, o Opinião desta semana irá abordar o tema e as sinalizações até agora sobre como será a política fiscal e econômica em Seria difícil aprofundar mais o tema, uma vez que ainda não houve divulgação da estratégia para os ajustes, principalmente do fiscal. Sendo assim, o impacto no crescimento econômico de 2015 ainda é desconhecido. Não sabemos exatamente qual será a combinação entre corte de gastos ou aumento de impostos, resultando no aumento do superávit primário do Governo. Apesar disso, a meta anunciada pelo recém-empossado ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é de 1,2% do PIB, cerca de R$ 66 bilhões. A dificuldade para a geração do superávit primário vem do ambiente em que ele deverá acontecer. A redução de subsídios já começa a ser sentida e não há perspectiva de crescimento do PIB, assim, haverá dificuldade para aumentar a arrecadação. Portanto, é esperado que o serviço mais pesado se concentre na redução de despesas, num quadro em que o Tesouro não poderá mais ser usado para transfusões diretas de recursos para os bancos públicos ou para empresas de energia. Os esforços para o ajuste fiscal já começaram a aparecer desde meados de dezembro de 2014, quando a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) subiu para 5,5%, após dois anos estáveis em 5,0%, antes mesmo de o novo ministro assumir. Outra sinalização positiva de que as medidas fiscais e parafiscais devem continuar veio do aumento dos juros do PSI, que subiram da faixa de 4% a 8%, para 6% a 11%, entrando, portanto, no território de juro real positivo. Além disso, as exigências de coparticipação nos financiamentos também aumentaram. Algumas medidas pelo lado dos gastos também já podem ser percebidas, dando assim ares de credibilidade para a meta de superávit primário de Na última semana, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, anunciou a edição de medidas provisórias que tornarão mais rigorosos os

2 acessos da população a uma série de benefícios previdenciários, entre eles segurodesemprego e pensão por morte. Nelson Barbosa, recém-empossado ministro do Planejamento, informou que as medidas vão significar uma economia de R$ 18 bilhões por ano, a partir de Para o seguro-desemprego, aumentaram as exigências de contribuição para que o benefício possa ser concedido. Para o caso da pensão-morte, que responde por nada menos do que incríveis 3,2% do PIB, serão necessários mais anos de contribuição prévia, terão fim as pensões vitalícias para esposas mais jovens e tempo mínimo de dois anos de união estável. Mais do que a economia advinda destas medidas, o impacto maior vem do sinal emitido neste momento. Já na área monetária, o combate à inflação ficará concentrado no aperto do volume de dinheiro na economia, via aumento da taxa de juros. Após o anúncio do último aumento da taxa básica de juros, a Selic, o comunicado do Banco Central não deixou clara a estratégia da instituição. No entanto, no último Relatório de Inflação enfatizou a inflação na meta hoje em 4,5%, com intervalo de oscilação de 2,0% para cima e para baixo em Assim, esperamos pelo menos mais 50 pontos de alta da Selic por aí. Por último, parte necessária do ajuste é o realinhamento de preços que, por sua vez, está relacionado à redução dos subsídios ao transporte público, à rede elétrica, ao crédito dos bancos oficiais. Nos últimos anos, vimos o represamento dos preços administrados e também o represamento artificial da moeda estrangeira (câmbio). Esta distorção, entre outras de sinalização política, produziu outras distorções e foi enorme fonte de insegurança, principalmente no setor privado, afetando, desta forma, o investimento. Assim, os ajustes citados acima serão de grande valia para a recuperação da confiança. Mas só a recuperação da confiança não basta para acionar o investimento e gerar crescimento econômico. Sem isso, será impossível conquistar espaços no mercado internacional. Para a indústria, até a reconquista do espaço perdido no mercado interno será árduo se a 2

3 produtividade continuar baixa. Será preciso cuidar dos custos e da eficiência, num ambiente com menores subsídios, menores favores fiscais e maior dependência do financiamento privado. O ano de 2015 deve ser um ano difícil e os ajustes começarão a colocar a economia de volta no caminho do crescimento e da estabilidade só em Segundo o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, em que são compiladas as projeções das instituições financeiras, mostra uma perspectiva para o IPCA de 6,71% em 2015, um crescimento do PIB em 0,55%, e uma taxa de câmbio em R$/US$ 2,75, longe de ser um cenário animador. Diante de tudo isso, o governo terá pouco espaço para estimular a economia em No primeiro ano do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff terá que lidar com uma série de desequilíbrios, que passam por problemas fiscais, inflação pressionada e baixo crescimento, com o objetivo final de reequilibrar a economia no médio prazo. Em seu discurso de posse no Congresso, a presidente Dilma Rousseff reconheceu que vai fazer um ajuste nas contas públicas. Segundo ela, esse ajuste, junto com o aumento da poupança interna, a ampliação do investimento e a elevação da produtividade da economia são os primeiros passos a serem dados para que o Brasil volte a crescer. Dilma também anunciou que o ajuste fiscal será feito com o menor sacrifício possível para a população, em especial para os mais necessitados. No entanto, esta foi a única referência à situação fiscal do governo. Não houve nenhuma menção da necessidade de austeridade das contas públicas, nem referência ao atual desequilíbrio das mesmas, que devem fechar 2014 apresentando déficit primário, ao invés de um superávit. Mais uma vez, as medidas concretas para o ajuste fiscal não foram citadas. Ao contrário, depois de anunciar sua decisão de ajustar as contas, a presidente enumerou uma série de gastos que pretende fazer, ou aumentar, no segundo mandato. Entre as medidas, está o financiamento da construção de mais 3 milhões de moradias até o fim do segundo mandato, além das 3,75 milhões já contratadas e construídas. Além disso, há R$ 143 bilhões em carteira para obras de 3

4 mobilidade urbana. Na área da Educação definida como área prioritária para o novo governo a meta será universalizar, até 2016, o acesso de todas as crianças de 4 a 5 anos à pré-escola, além de oferecer mais 12 milhões de vagas no Pronatec, o programa que oferece cursos de educação profissional e tecnológica. Outra medida que vai contra a ideia dos ajustes fiscais é a manutenção da política de valorização do salário mínimo. Com a concessão de reajustes reais, apesar de não ter falado nada sobre a manutenção ou não da regra de reajuste atual que termina este ano, não sabemos de que forma eles serão mantidos. Assim, fica a dúvida se os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, conseguirão chegar às metas anunciadas para o superávit primário, assegurando ainda os recursos para os novos programas da presidente. Outro problema consiste em saber até que ponto a presidente Dilma está disposta a sustentar o preço político de um ajuste, ainda que lento e gradual. Depois de quatro anos com medidas que falharam em fazer a economia crescer e que degradaram as contas públicas, agora a equipe econômica mostra credibilidade para consertar os estragos do governo anterior. A segunda grande dúvida que surge é até quando os ministros serão mantidos. 4

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