POPULAÇÃO DE PLANTAS E ÌNDICE DE USO DE EFICIÊNCIA DA TERRA NO CONSÓRCIO DO ALGODOEIRO SEMIPERENE/MILHO

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1 POPULAÇÃO DE PLANTAS E ÌNDICE DE USO DE EFICIÊNCIA DA TERRA NO CONSÓRCIO DO ALGODOEIRO SEMIPERENE/MILHO Demóstenes Marcos Pedrosa de Azevedo (Embrapa Algodão / azevedo@cnpa.embrapa.br), José Wellington dos Santos (Embrapa Algodão), Napoleão Esberard de Macedo Beltrão (Embrapa Algodão) RESUMO - Um experimento de campo foi conduzido no município de Patos, Paraíba, Brasil, nos anos agrícolas de 1994, 1995 e 1996, com o objetivo de investigar o efeito de população de plantas no uso da eficiência da terra do consórcio do algodoeiro perene (Gossypium hirsutum L.var. latifolium Hutch.) e do milho (Zea mayz L.). Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados completos com nove tratamentos e quatro repetições. Os rendimentos do algodoeiro e do milho cresceram com o aumento de suas próprias populações. O algodão foi a única cultura cujo rendimento decresceu com o aumento de população da cultura-consorte. Os índices de uso de eficiência da terra totais aumentaram com o aumento de população apenas do algodoeiro. Os índices totais () mais elevados foram registrados nos sistemas onde o algodoeiro participou com 10 mil plantas/ha e o milho com qualquer um dos níveis testados, isto é, 5 mil, 10 mil ou 20 mil plantas/ha. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, Zea mayz,. PLANT POPULATION VERSUS LAND EQUIVALENT RATIO IN SEMI PERENNIAL COTTON /MAIZE INTERCROP ABSTRACT A field experiment was conduct in 1994, 1995 and 1996 in Patos, Paraiba, Brazil, to investigate the effect of plant population on agronomic efficiency of perennial cotton (Gossypium hirsutum L. var. latifolium Hutch.) / maize (Zea mayz L.) intercrop. The results indicate that: crop yields of perennial cotton and maize increased with increasing in their own populations in intercrop; perennial cotton was the only crop which yield decreased with increases in plant population of the other crop component (maize); total LERs indexes increased with increases only in cotton plant population; the highest LER indexes were registered in systems where perennial cotton participate with the highest plant population level ( plants/ha) and maize at any tested population (5.000 plants/ha, plants/ha or plants/ha). Key words: Gossypium hirsutum, Zea mayz, LER. INTRODUÇÃO O cultivo simultâneo de diferentes espécies em regime de consórcio é muito freqüente na produção de fibra e de alimento nas regiões tropicais em que predominam pequenas propriedades e uso intensivo de mão-de-obra (FRANCIS, 1990). O consórcio do algodoeiro semiperene (Gossypium hirsutum L.var. Marie galante Hutch.) com o milho (Zea mayz L.) é uma prática muito freqüente entre pequenos produtores do semi-árido nordestino. Ao cultivar, simultaneamente, diferentes espécies numa mesma área, o produtor espera obter maior estabilidade de produção, melhor uso dos recursos naturais e melhor controle de pragas e doenças, além do aspecto de otimização do uso de mão-de-obra e maior diversidade de matéria-prima para alimentação de sua família e do seu rebanho. O mais expressivo efeito benéfico do consórcio,

2 porém, está relacionado com a maximização do uso da terra e da redução dos riscos de perda total de safra, muito comum em regiões com irregularidade climática, como o Nordeste brasileiro. Para a estimativa da produtividade e da eficiência agronômica de sistemas em consórcio, vários índices têm sido sugeridos: coeficiente relativo populacional, índice de agressividade e índice de competitividade. O uso da eficiência da terra () é, no entanto, o índice mais freqüentemente usado na estimativa da eficiência agronômica e biológica do consórcio. O presente trabalho tem por objetivo investigar o efeito de população de plantas no uso de eficiência da terra do consórcio algodoeiro perene/milho. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em 1994, 1995 e 1996 na Estação Experimental de Patos, localizada na região fisiográfica do Seridó, com coordenadas geográficas de 37º 01 de latitude Sul e 37º 06 de longitude Oeste, com 249,4m de altitude e clima BS (semi-árido) segundo a classificação de Köppen (BRASIL, 1972). O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados, completos com 9 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos se originaram de um fatorial 3 x 3, proveniente da combinação dos fatores: 3 populações de algodoeiro (A 1 2,5 mil plantas/ha; A 2 5 mil plantas/ha e A 3 10 mil plantas/ha) e 3 populações de milho (M 1 5 mil plantas/ha; M 2 10 mil plantas/ha e M 3 20 mil plantas/ha). Uma parcela com cultura solteira foi plantada em cada bloco. O algodoeiro isolado foi plantado na população de 10 mil plantas/ha e o milho, na população de 20 mil plantas/ha. Para a análise conjunta dos dados (três anos) não foram consideradas as testemunhas isoladas. Nesta análise, utilizou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso, com parcelas divididas no tempo, com 4 repetições. As parcelas principais foram consideradas pelos fatores: população de algodão e população de milho. As subparcelas foram constituídas pelos anos 1994, 1995 e Utilizou-se as cultivares CNPA 5M, ciclo 3 anos, para algodão e a BR 106, para o milho, que foram plantados no espaçamento de 2,0m entre fileiras e as densidades de plantio variaram de acordo com as populações. No consórcio, as culturas foram plantadas em fileiras alternadas. A unidade experimental constou de 80m 2 (8,0m x 10,0m) e área útil de 40m 2 (4,0m x 10,0m). O solo da área experimental foi identificado como Bruno Não Cálcico e o preparado com aração e gradagens. A estimativa da participação de cada componente no rendimento relativo combinado do consórcio, foi efetuada através do índice de uso de eficiência da terra (). A fórmula utilizada para o cálculo dos s é a sugerida por Willey (1979). = Yab/Yaa + Yba/Ybb, sendo Yab o rendimento de algodão em consórcio com o milho (b), Yaa o de algodão isolado, Yba o rendimento do milho em regime de consórcio e Ybb, o rendimento do milho isolado. A performance de cada cultura componente foi medida em termos de proporcional e parcial. Para tal, utilizaram-se as seguintes fórmulas: parcial = Yab/Yaa e proporcional = (Yab/Yaa)/ total.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a variável rendimento de algodão em caroço, média de três anos, foram significativos os efeitos principais de população de algodão, população de milho, bloco e ano (P 0,01) além das interações de primeiro grau população de algodão x ano e população de milho x ano (P 0,01) (Tab. 1). No desdobramento dos dois graus de liberdade para população de algodão e população de milho, foi significativo apenas o componente linear (P 0,01 na análise de regressão). O rendimento de algodão em caroço cresceu linearmente com o aumento de população do próprio algodão, já o rendimento de algodão em caroço por unidade de área decresceu, também linearmente, com o aumento de população de plantas do milho (gráficos não apresentados no resumo). Os rendimentos médios mais elevados foram registrados nas populações de 10 mil plantas/ha (781 kg/ha) e sob a população de 5 mil plantas/ha de milho (755 kg/ha). Tabela 1. Resumo da análise de variância (Quadrados Médios) da variável rendimento de algodão. Fonte de variação Rendimento de algodão PP Algodão (A) ,84** PP milho (B) ,56** A x B ,31 Bloco ,00* Erro (a) ,22 Ano (C) ,14** A x C ,68** B x C ,37** A x B x C 9.628,89 Erro (b) ,51 C.V.(%) (a) 32,27 C.V.(%) (b) 21,63 *P 0,05, **P 0,01 Para rendimento de milho, média de três anos, foi significativo o efeito principal de população de milho e bloco (p 0.01 pelo teste F) (Tab. 2) e, no desdobramento dos graus de liberdade do primeiro fator, foi significativo o componente linear (p 0,01). O rendimento de milho em grão cresceu com o aumento de sua própria população e o algodoeiro não interferiu no rendimento do milho (gráfico não apresentado). O mais elevado rendimento de milho foi registrado na população de 20 mil plantas/ha (3.110 kg/ha). Para as variáveis que refletem o efeito combinado dos fatores população de algodão e população de milho sobre o rendimento relativo do consórcio, foi significativo apenas o efeito principal de população de algodão e população de milho (p 0,01) na variável proporcional de algodão (Tab. 2) e, no desdobramento dos dois graus de liberdade de cada fator, foi significativo o componente linear (p 0,01). O proporcional do algodão cresceu linearmente com a população de algodão, mas decresceu com a população de milho (gráfico não apresentado). Para a variável proporcional de milho, só o efeito principal de população de milho foi significativo (p 0,01) (Tab. 2) e este cresceu linearmente com o aumento da população do próprio milho. Com relação ao índice total,

4 na ANOVA, foi significativo apenas o efeito principal de população de algodão (P 0,01) (Tab. 2) e, no desdobramento deste fator, foi significativo só o componente linear (p 0,01). O total cresceu linearmente apenas com a população do algodão. Tabela 2. Resumo da análise de variância (QM) do rendimento de milho, proporcional do algodão, proporcional de milho e total. Fonte de variação Gl Rendimento de milho algodão milho total PP Algodão (A) ,33 0,37** 0,05 0,20 PP Milho (B) ,33** 0,27** 0,73** 0,41* A x B ,42 0,01 0,03 0,03 Bloco ,18** 0,02 0,23 0,33 Resíduo ,06 0,01 0,04 0,07 C.V. (%) - 25,05 19,71 24,99 18,60 * p 0,05, ** p 0,01 A apresentação dos dados pela análise de regressão, particularmente quando não há interação significativa, não permite definir-se a melhor associação de plantas num modelo aditivo de consórcio, razão pela qual foi utilizada a Figura 1 na qual os s parciais do algodoeiro foram alocados nos eixos dos y, os s parciais do milho nos eixos dos x e os s totais representados pelas linhas diagonais que ligam os referidos eixos. As deduções mais expressivas que podem ser tiradas desta Figura, são: i) todos os s totais foram superiores a 1.0, o que representa vantagem biológica desses sistemas em relação ao monocultivo; ii) os s totais do consórcio aumentaram com o aumento de população apenas do algodoeiro; iii) os mais elevados s totais foram obtidos pelos sistemas nos quais o algodoeiro participou com o mais elevado nível populacional ( plantas/ha). 1,8 1,6 A/Mi1 A/Mi2 A/Mi3 algodão 1,4 1,2 1,0 0,8 Requerimento mínimo de milho 0,6 0,4 Valores dos s 0,2 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1, ,8 milho

5 Figura.1. Diagrama de índice de uso de eficiência da terra ( total) do consórcio algodoeiro/milho. Patos, PB, CONCLUSÕES 1. Os rendimentos do algodoeiro e do milho cresceram com o aumento de suas próprias populações. 2. O rendimento do algodoeiro decresceu com o aumento de população do milho. 3. Os índices de uso de eficiência da terra (s totais) aumentaram com o aumento de população apenas do algodoeiro. 4. Os s mais elevados foram registrados nos sistemas nos quais o algodoeiro participou com o mais elevado nível populacional (10 mil plantas/ha) e o milho com qualquer um dos níveis testados (5 mil, 10 mil ou 20 mil plantas/ha). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura. Equipe de Pedologia e Fertilidade do Solo. Levantamento exploratório: reconhecimento de solos do Estado da Paraíba. Rio de Janeiro, p. (Boletim Técnico, 15). FRANCIS, C.A. Potential of multiple cropping systems. In: ALTIERI, M.A.; HECHT, S.B. eds. Agroecology and small farm development. Boca Raton, Florida: CRC, p WILLEY, R.W. Intercropping : its importance and research needs. I.. Competition and yield advantages. Field Crop Abstracts, v.32, n.1, p.1-10, 1979.