Apresentação do mapeamento das necessidades sociais não satisfeitas em Portugal. Necessidades em Portugal: Tradição e tendências emergentes

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1 Apresentação do mapeamento das necessidades sociais não satisfeitas em Portugal Necessidades em Portugal: Tradição e tendências emergentes 28 de Junho de 2009 Senhor Presidente do Instituto de Segurança Social, Dr. Edmundo Martinho Senhores representantes das entidades parceiras do estudo, Senhores Participantes e Convidados, Minhas Senhoras e Meus Senhores. Em nome do Conselho de Administração e do meu próprio cabe-me dar-vos as boas vindas e transmitir-vos o gosto que a Fundação Calouste Gulbenkian tem ao acolher esta sessão de apresentação dos resultados finais do estudo Necessidades em Portugal: Tradição e tendências emergentes. Como teremos oportunidade de testemunhar durante esta tarde, os resultados que o estudo nos traz são um bom motivo para reflectir e debater as estratégias de intervenção social do nosso país. 1

2 Com efeito, nem sempre a percepção sobre quais são as necessidades sociais do país por parte dos vários centros de decisão coincidem com a percepção dessas mesmas necessidades por parte dos cidadãos. Neste sentido, o mapeamento das necessidades sociais não satisfeitas em Portugal a que este estudo procede, será, mais do que um contributo, um instrumento importante para o desenho de políticas sociais mais eficientes e com maior impacto no dia-a-dia das populações. Como todos sabemos Portugal ao fim de trinta anos de profundas transformações políticas, sociais e económicas alcançou um patamar de resposta a necessidades em que se misturam: melhorias significativas na satisfação de necessidades que poderíamos designar por básicas - no sentido em que apresentam perfis semelhantes a toda sociedade a apreensão cada vez mais forte quanto à sustentabilidade das instituições, mecanismos e práticas sociais em que assentou essa melhoria e o processo de mobilidade social associado; uma muito maior diversidade de percursos individuais e de situações sociais, á medida em que a economia e dinâmica societal foi gerando desafios de outra natureza e permitindo outras escolhas aos individuos Uma das questões que se vinha claramente a configurar como chave nesta última fase de transformação do Pais tem que ver com o modo como as exigências do mercado as que asseguram que Portugal possa sobreviver numa economia globalizada e fortemente competitiva - influenciam o processo de formação do capital social, sem o qual os indivíduos se sentirão abandonados e a sociedade atingida no cerne da sua coesão. Tanto mais quanto se generalizou uma concepção que fazia da intervenção do Estado o sucedâneo do fortalecimento do capital social necessário para enfrentar uma economia competitiva, diversa e globalizada 2

3 A actual crise económica mundial veio acelerar a tomada de consciência de que urge alterar o paradigma de compreensão dos fenómenos económicos e sociais numa lógica de sustentabilidade e crescimento inclusivo, como aponta a recem anunciada estratégia da União Europeia, Europa Para isso necessitamos de conhecer melhor as dinâmicas que se cruzam, interagem, se bloqueiam ou se fertilizam em Portugal e na sociedade portuguesa e de identificar paradoxos ou perplexidades que nos podem levar a pensar essa realidade de modo mais fecundo. Foram estas as razões que nos levaram a associar a este estudo, conscientes de que as Fundações têm um papel insubstituível na reflexão aberta e rigorosa sobre os desafios que se nos colocam e na discussão sobre as possíveis respostas que podemos vir dar quer ao nível do Estado quer ao nível da sociedade civil. Estamos perante um estudo que pelo enquadramento teórico, pelas opções metodológicas e pelo trabalho de inquérito que esse enquadramento e essas opções iluminaram, constitui um marco na discussão urgente sobre quem somos, o que queremos, o que procuramos e o que gostaríamos de alcançar. Mas para além de nos proporcionar um retrato da sociedade portuguesa após anos de profunda transformação e num momento de crise que parece ameaçar os resultados alcançados, este estudo enuncia um conjunto de interrogações chave para o futuro que convidam a ultrapassar rígidas compartimentações ideológicas formadas noutros tempos, reunindo um conjunto sugestões pertinentes para a reorientação de políticas públicas e para a inovação na sociedade. A este propósito, permitam que partilhe convosco algumas breves reflexões. Desde que me lembro de trabalhar nas áreas ligadas às políticas de desenvolvimento, múltiplos têm sido os estudos, com diagnósticos sobre a pobreza, a identificação das suas causas e, normalmente, a indicação de pistas de soluções. Sem me deter na análise dos aspectos parciais que revelam melhorias, mas também persistência de fragilidades por todos conhecidas - que este estudo traz em detalhe e, apesar dos enormes esforços feitos, a verdade é que, em matéria de coesão e justiça social, ninguém seriamente 3

4 poderá negar que os portugueses tem vindo a empobrecer, as desigualdades aumentar e as expectativas para o futuro não são brilhantes. Obviamente que a este cenário - desde os factos às percepções - não são alheios os fenómenos da crise financeira e económica que atravessamos. Só que, para mim, esta situação - que é generalizada - não pode nem deve ser encarada pelos portugueses como um acidente conjuntural, mas sim como uma profunda alteração estrutural sem precedentes. E, se é já hoje claro que os países vão sair da crise em momentos e com forças diferentes veja-se as leituras dos resultados da Cimeira do G20 do fim-desemana para Portugal a questão obriga-nos a ir mais fundo, a opções difíceis e contra a corrente e também a ousar ensaiar soluções que saiam dos figurinos a que nos habituámos a recorrer nos últimos anos. Do estudo que hoje é apresentado, o aspecto que, porventura, mais me impressionou tem que ver com a lógica invertida entre aumento das qualificações e diminuição das condições de vida de muitos jovens adultos. É a estes também que se associam os fenómenos da nova pobreza que este estudo caracteriza. Isto significa, a meu ver, que continua a haver uma desadequação entre a formação e as necessidades do mercado, pecha de que nos queixamos há muitos anos, mas que assume hoje uma dimensão dramática. Parece mesmo que neste país quase todas as pessoas ou são subqualificadas ou sobre-qualificadas para o mercado de emprego. Tenho para mim quatro aspectos fundamentais que julgo ser imprescindível ter em conta ao analisar estas questões: i) O crescimento económico do país é o maior desafio para quebrar este ciclo. Temos de trabalhar mais e melhor. ii) O Estado Social tem que focalizar a sua acção, em parceria com a sociedade civil, nos grupos sociais de maior risco de pobreza e exclusão. Ou seja, há que reformar o Estado Social com base nos princípios da subsidiariedade e discriminação positiva. 4

5 iii) Porém, nesta fase do nosso processo de desenvolvimento há que encarar a realidade de que existe uma geração especialmente sacrificada. Por isso, o Estado não poderá abdicar de lançar um conjunto de programas com sustentabilidade que permita absorver desemprego nas faixas etárias de maior dificuldade de reinserção no mercado de trabalho. Seguramente que na agricultura, na indústria, na economia social, o Estado contando com as pessoas que existem e as qualificações que têm tem que intervir e promover iniciativas e actividades que gerem riqueza e acrescentem valor. Ou seja, cabe ao Estado um papel de iniciativa e liderança, num espírito de empreendedorismo, capaz de identificar oportunidades com potencial de crescimento a nível internacional, tendo em conta as capacidades dessas pessoas e as necessidades do País. iv) Finalmente, cada vez acredito mais na importância da intervenção local para mobilizar capacidades e recursos disponíveis como forma de dar respostas efectivas às necessidades, apostando em modelos participativos e de proximidade. A terminar, dirijo uma palavra de sincero agradecimento às autoras deste estudo, coordenado por Isabel Guerra, Teresa Costa Pinto, Marta Martins e Sara Almeida. Queria naturalmente agradecer também à TESE que lançou a iniciativa seguindo o modelo da Young Foundation, com quem, como é sabido, temos uma relação privilegiada. Agradecer também a todos os parceiros envolvidos nesta iniciativa deixando uma palavra muito especial ao Presidente do Instituto da Segurança Social Dr. Edmundo Martinho, com quem, desde sempre, temos mantido um diálogo muito profícuo, e que, estou certa, saberá desafiar-nos para que, em parceria, possamos responder às questões que hoje tão urgentemente se levantam. O estudo e respectivos resultados estão a partir de hoje disponíveis em livro, numa co-edição entre a Fundação Calouste Gulbenkian, TESE e Tinta da China. E não querendo antecipar a divulgação dos resultados do estudo, não 5

6 resisto a dizer que, numa palavra, estamos À tona de Água, como a metáfora usada para título dos livros assim o sugestiona. O desafio será então tornar este nosso afundar eminente em possibilidades de superação. Muito obrigado, Isabel Mota Lisboa, 28 de Junho