UM OLHAR ALÉM DA LITERATURA: TERAPIA OCUPACIONAL NO CAMPO SOCIAL. Instituição: Curso de Terapia Ocupacional da Universidade federal da Paraíba UFPB.
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- Amália Marreiro Antas
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1 UM OLHAR ALÉM DA LITERATURA: TERAPIA OCUPACIONAL NO CAMPO SOCIAL Autores: Elaine Rayane Cavalcanti De Sousa Gomes; Edna Nóbrega De Queiroz Souza; Ingrid Rayanne Lins De Oliveira; Luciano Belas E Silva Filho Instituição: Curso de Terapia Ocupacional da Universidade federal da Paraíba UFPB. INTRODUÇÃO O Sistema Único da Assistência Social SUAS organiza-se em Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE), visando minimizar o impacto da vulnerabilidade social a qual grande parte da população brasileira está exposta. Está articulado nas esferas municipal, estadual e federal do governo. Este tem a finalidade de proteção e prevenção de riscos e danos, especialmente aos mais vulneráveis, crianças, idosos e moradores de rua. Tem como objetivo a garantia e proteção dos direitos da população. Vários são os profissionais que podem intervir nessa área, porém vamos destacar neste trabalho a atuação do Terapeuta Ocupacional e as suas atribuições no campo social. Dentre algumas de suas ações podemos dar ênfase à construção de projetos de vida, no âmbito individual e/ou familiar, especialmente por ser essa ação um divisor na vida de quem teve seus direitos violados e vai tentar reiniciar uma nova vida. As intervenções que serão descritas foram realizadas com um grupo de crianças inseridas em um dos programas socioassistenciais, e a principal demanda encontrada foi a ruptura dos vínculos familiares. A partir das demandas surgidas foi sendo realizado um trabalho de resgate aos vínculos familiares e a construção de projetos de vida. Não obstante, surgiu um grande entrave, a falta de terapeutas ocupacionais no serviço, o que gerou dificuldade na compreensão de outros profissionais que também atuam naquele local. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA... O modelo de serviços socioassistenciais do Brasil vem se reestruturando com o passar dos anos. A partir da criação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, o país começou a compreender a importância das ações sociais de um modo mais abrangente, diferenciando assim do modo assistencialista antes realizado. A partir da alteração da LOAS pela Lei nº /2011, 260
2 as mudanças no âmbito assistencial iniciavam sua expansão, sendo implementado o Sistema Único da Assistência Social SUAS, orientado pela Política Nacional da Assistência Social - PNAS e pela Norma Operacional Básica (NOB-Suas), ampliando assim a prestação dos serviços socioassistenciais. (BRASIL, 2013). O SUAS é a gestão responsável por organizar os serviços socioassistenciais do país, objetivando minimizar o impacto da vulnerabilidade social a qual grande parte da população brasileira está exposta. Organiza-se de forma descentralizada, se articulando nas três esferas do governo, Federal, Estadual e Municipal, buscando maximizar as possibilidades de atuação e abrangência. (BRASIL, 2013). Para sua efetivação, o SUAS se organiza em: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE). As ações protetivas sociais para população em situação de vulnerabilidade se dão através dos programas criados pelos CRAS e CREAS, Centros de Referência de Assistência Social e Centros de Referência Especializados de Assistência Social respectivamente. Este oferece a proteção especializada quando os direitos estão ameaçados ou já foram violados, àquele oferece a proteção social básica em caráter preventivo, priorizando a inclusão através dos serviços. Através da oferta desses serviços socioassistenciais, que dão apoio e suporte às pessoas, busca-se por meio da potencialização e fortalecimento dos recursos, favorecer o empoderamento das famílias e da população dentro do território. (BRASIL, 2013). A Proteção Social Básica tem como finalidade promover a prevenção de riscos, através do desenvolvimento das potencialidades, das aquisições de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e através da oferta de serviços como: Serviço de Proteção e Atendimento à Família (PAIF); Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Serviço de Proteção Social Básica no Domicilio para Pessoas com Deficiência e Idosas. Todos os serviços ofertados pela Proteção Social Básica são desenvolvidos pelo Centro de Referência de Assistência Social CRAS, sendo este a porta de entrada dos serviços socioassistenciais. (BRASIL, 2009; BRASIL, 2013). Dentre os demais serviços ofertados no CRAS, destacamos o serviço do PAIF. Este tem à finalidade de prevenção da ruptura ou o reestabelecimento dos laços familiares e comunitários, fortalecimento de vínculos favorecendo o sentido protetivo da família, além de promover acesso e garantia aos direitos, garantindo assim, uma melhor 261
3 qualidade de vida à população assistida. (BRASIL, 2009; ARAÚJO; OLIVEIRA; PATRÍCIO, 2011; BRASIL, 2013). As ações do PAIF devem acontecer de maneira articulada com os demais serviços desenvolvidos pelo CRAS, objetivando favorecer as diretrizes da assistência social. O trabalho desenvolvido pelo PAIF não deve possuir caráter terapêutico, utilizando-se assim das áreas culturais encontradas na comunidade para que se consiga alcançar os objetivos almejados, visando ampliar as redes de apoio e oferecer novas vivências aos indivíduos participantes. (BRASIL, 2013). No âmbito assistencial é possível a atuação interdisciplinar para que se torne possível alcançar os objetivos dos serviços ofertados no CRAS. De acordo com a resolução nº 17, de 20 de junho de 2011 do Conselho Nacional de Assistência Social CNAS, são categorizados os profissionais de nível superior que podem estar atuando nos serviços socioassistenciais, dentre estes, temos o terapeuta ocupacional. (ALMEIDA, 2012). O terapeuta ocupacional é um profissional que tem um olhar voltado para o fazer humano, compreendendo que, como seres ocupacionais, de acordo com cada fase da vida, necessitam estar engajados em diversas ocupações. A resolução do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - COFFITO nº 406, de 7 de novembro de 2011 no âmbito assistencial destaca algumas das atribuições que podem estar sendo desenvolvidas por este profissional. Eis algumas delas: construção de projetos de vida no âmbito individual e/ou familiar; promoção e inclusão sociocomunitária; favorecimento da acessibilidade na comunidade, atividades que visem à participação social e geração de renda, fortalecer o pertencimento sociocultural, favorecer as relações interpessoais, além de outras demandas apresentadas pelos usuários. O conhecimento do Terapeuta Ocupacional lhe permite atuar de modo competente em busca de vencer desafios, visto ter em sua formação conhecimento da pluralidade de aspectos sociais e diversidades culturais. (ALMEIDA et al, 2012). De acordo com as novas demandas existentes, houve mudanças nas matrizes curriculares da Terapia Ocupacional, favorecendo ao estudante uma formação voltada para diversos campos de atuação, efetivamente. (LOPES; PALMA; REIS, 2005). A partir da compreensão da ampla atuação deste profissional, no ambiente acadêmico torna-se necessário a formação generalista proporcionando assim aos futuros profissionais um 262
4 olhar mais abrangente. É de extrema importância para o estudante uma vivência prática, não ficando apenas na literatura, mas tendo a possibilidade de obsevar a atuação deste profissional em suas diversas áreas de atuação, principalmente no âmbito assistencial, sendo esta uma área pouco divulgada. A Terapia Ocupacional é uma profissão nova no estado da Paraíba. Poucos são os profissionais atuantes no estado, e suas atuações permeiam apenas nas áreas de saúde mental e funcional, o que acaba dificultando a oportunidade de reconhecimento deste profissional na área socioassistencial, mesmo reconhecendo sua importância e necessidade nesta área. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA... A prática supervisionada aconteceu a partir da disciplina Áreas de Intervenção da Terapia Ocupacional e Cenários de Prática IV. A disciplina é oferecida aos discentes do 6º período do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal da Paraíba, supervisionada por Professores do referido curso, permitindo a oportunidade de uma vivência prática nesta área. A atuação aconteceu em um Centro de Referência e Cidadania (CRC) no município de João Pessoa-PB, no primeiro semestre de Neste espaço funcionava o PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. A população era composta por crianças e adolescentes até 15 anos, e as atividades com o grupo aconteciam uma vez por semana. Inicialmente foi necessária a busca e leitura de artigos e publicações científicas que embasaram nossa prática, além de aulas expositivas e rodas de conversa em sala de aula, para que assim pudéssemos estar iniciando as ações no serviço. Nossa atuação na área assistencial se deu do seguinte modo: Inicialmente realizamos uma visita para reconhecimento do local. Lá tivemos a oportunidade de conhecer alguns serviços ofertados, a exemplo do PETI. Este encontra-se funcionando no espaço do Centro de Referência da Cidadania CRC. Fomos bem recebidos por todos os profissionais que trabalham no local e percebemos que eles não compreendiam nossa atuação profissional. Realizamos um primeiro contato com todas as crianças participantes do PETI e suas coordenadoras, e a partir daquele momento buscamos favorecer a criação do 263
5 vínculo com o grupo, para que assim se tornasse possível nossa atuação. Através do conhecimento do grupo pudemos identificar suas demandas, sendo a principal, a ruptura dos vínculos familiares. Através da observação de cada participante pudemos identificar o impacto que isso pode acarretar na vida de uma pessoa, principalmente quando esta ainda se encontra em desenvolvimento, como é o caso dos integrantes do grupo. A partir da identificação das demandas realizamos um trabalho de fortalecimento dos vínculos familiares através de dinâmicas, rodas de conversa e atividades expressivas em que eles pudessem apresentar aspectos do seu cotidiano tais como: desenho e colagem. Todas estas atividades eram realizadas em um tempo curto, evitando que se tornassem monótonas. Cada um em sua singularidade participou, alguns eram mais extrovertidos e falantes, outros mais calados e introspectivos, porém conseguimos equilibrar a convivência e propomos intervenções que foram realizadas a cada visita, com atividades que foram executadas de acordo com as propostas para cada dia em que compareceríamos lá. Próximo ao término das nossas intervenções e das conclusões das atividades nós propomos realizar a construção de projetos de vida individuais e familiares, visto já ter naquele ínterim, dados suficientes para empoderalos atentar essa construção. E a partir daqueles dados pudemos adentrar um pouco mais a realidade de cada um, e prosseguindo com o projeto buscou-se possibilidades para enfrentamento e desafios das situações de vulnerabilidade e risco. EFEITOS ALCANÇADOS... De acordo com a compreensão das possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional nos diferentes eixos de cuidado à saúde do individuo, podemos entender que algumas questões estão além do que a literatura consegue expor. Sendo de extrema importância aliar esses conhecimentos pré adquiridos como base na formação acadêmica, fundamentando assim a teoria com a prática. Esta vivência nos proporcionou uma melhor percepção acerca da atuação do terapeuta ocupacional no contexto social. Identificando as demandas e a partir delas refletindo sobre as possibilidades de enfrentamento para estas situações, estimulando assim nosso raciocínio profissional, ampliando nosso olhar para além da patologia e do agravo à saúde. 264
6 Acreditamos que essa experiência nos proporcionará um olhar além, observando o individuo em diversos contextos qual este esteja inserido. Compreendendo o impacto que as situações de vulnerabilidade causam na vida de uma pessoa, e como a falta de possibilidades pode ser crucial no seu desenvolvimento como cidadão. CONSIDERAÇÕES FINAIS... Embora não tenha sido possível a realização das visitas domiciliares devido a falta de tempo e profissionais disponíveis, foi possível realizar as ações apenas no serviço. Uma grande dificuldade apresentada no serviço foi a falta de terapeutas ocupacionais naquele ambiente, o que dificultou a compreensão dos demais profissionais atuantes no CRC a respeito da sua atuação e contribuição naquele espaço. Por isso faz-se necessário uma maior divulgação da profissão de Terapia Ocupacional nos diversos contextos bem que este pode estar se inserindo. São de extrema importância as disciplinas teórico-práticas para formação acadêmica, tendo em vista que proporcionam ao estudante expandir seu olhar para suas possibilidades de atuação. Dessa forma podemos entender que o embasamento teórico atua como um aporte seguro à realidade da prática terapêutica ocupacional no campo social, fornecendo subsídios para que os terapeutas possam se apoderar de conhecimentos que proporcionem intervenções seguras e eficazes. REFERÊNCIAS ALMEIDA ET ALL. Processos e práticas de formalização da Terapia Ocupacional na Assistência Social: alguns marcos e desafios. Cad.Ter.Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 20, n. 1, p , 2012 Disponível em: < Acesso em: 07/10/2014. ARAÚJO, L. S.; OLIVEIRA, T. B.; PATRÍCIO, T. A. S. Estudo Sobre A Prática da Terapia Ocupacional no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no município de Belém. Revista do Nufen - Ano 03, v. 01, n.02, agosto-dezembro, Disponível em: < Acesso em: 07/10/2014. BRASIL. Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social CRAS/ Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. 1. ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, p. BRASIL. Coletânea de Artigos Comemorativos dos 20 Anos da Lei Orgânica de Assistência Social/Organizadores: José Ferreira da Crus...[et al]. - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 1ª ed. Brasília: MDS, 2013, 248p. 265
7 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. Brasília: MDS, reimpressão p. COFFITO. Resolução nº 406, de 7 de novembro de Disponível em:< %A3o%20406.pdf>. Acesso em: 07/10/2014. LOPES, R. E.; PALMA, A. M.; REIS, T. A. A experimentação teóricoprática do aluno de Terapia Ocupacional no campo social: uma vivência com a população em situação de rua. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo,v. 16, n. 2, p , maio/ago., Disponível em: Acesso em: 07/10/
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