SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA DEFESA NACIONAL. Sessão de Abertura do Seminário A CPLP e a Nova Geografia da Energia Mundial

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1 INTERVENÇÃO DA SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA DEFESA NACIONAL BERTA DE MELO CABRAL Sessão de Abertura do Seminário A CPLP e a Nova Geografia da Energia Mundial Lisboa, IDN, 20 de junho de 2013 Só serão válidas as palavras proferidas pelo orador 1

2 Exmo. Senhor Secretário de Estado da Energia, Dr. Artur Trindade Exmo. Senhor Diretor da Cooperação da CPLP, Dr. Manuel Lapão Exmo. Senhor Diretor do IDN, MGen Vítor Rodrigues Viana Digníssimos convidados, Minhas senhoras e meus senhores, O Instituto da Defesa Nacional volta hoje a ser anfitrião de reflexões essenciais para definição do nosso papel enquanto país com uma palavra a dizer na questão energética. O tema do presente seminário envolve duas vertentes fulcrais para os fundamentos da nossa estratégia de segurança e defesa nacional: - A Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa - A nova geografia da energia mundial. Creio que será útil que se estabeleça como certeza que o interesse de Portugal é indissociável do fortalecimento da CPLP, e que esse interesse não se restringe à questão energética mas também e designadamente, à afirmação da Língua, do desenvolvimento económico, e do bem-estar social no espaço da CPLP. No entanto a energia é uma pedra de toque no fortalecimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A dependência energética do nosso país é uma vulnerabilidade assumida no Conceito Estratégico de Defesa Nacional recentemente adotado. 2

3 Essa vulnerabilidade corre a par com outras dimensões tão relevantes como a financeira, a alimentar, a demográfica, a científica e a tecnológica. O reconhecimento dessa vulnerabilidade, comum a tantos outros países, independentemente de serem ou não produtores de energia, obriga-nos a encontrar caminhos que signifiquem um consumo mais eficaz da energia, e uma maior eficiência na produção e disponibilização da mesma. O tema não é novo e preocupa não apenas Portugal e os países da CPLP como toda a comunidade internacional. Foram travadas guerras por muitas razões no passado e não nos é estranha a confirmação de que os desequilíbrios e dependências geradas no acesso e distribuição de fontes de energia levaram e levam a conflitos entre nações com resultados trágicos para as populações. Discutir este tema com profundidade e franqueza torna-se assim fundamental para todos; e jornadas como esta enriquecem o nosso conhecimento e permitem a partilha de experiências que abrem outras perspetivas no nosso futuro energético comum. Minhas senhoras e meus senhores O texto do Conceito Estratégico da Defesa Nacional afirma que: a competição por recursos naturais escassos, designadamente a água e os recursos energéticos, tem um elevado potencial desestabilizador, podendo levar a situações de violência e conflito armado. Esta afirmação não traça um quadro de possibilidades mas afirma uma realidade que não podemos ignorar. Energia é Poder. 3

4 Cabe aos Governos olhar com responsabilidade para a forma como querem utilizar esse Poder. Sendo certo que se impõem políticas de racionalização de energia e de uso dos recursos naturais, e que em alguns casos podemos até medir o sucesso da aplicação de algumas dessas medidas, o facto é que a procura e a necessidade de acesso a fontes de energia estão a aumentar. Inevitavelmente o risco cresce. Trazer à mesa esta perspetiva pode ser desagradável. Mas é responsável. E responsabilidade é um dos principais atributos que se pede a qualquer Governo. É neste contexto que se percebe melhor a nossa vontade em alargar as relações bilaterais e multilaterais de segurança e defesa com os Estados membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em particular nos domínios da cooperação técnico-militar e da reforma do setor da segurança. A apetência pelos recursos energéticos de todos e de cada um dos Estados membros desta Comunidade é uma condição inerente à competição internacional e exige, de todos e de cada um, uma resposta adequada. Portugal tem esta consciência bem interiorizada. Estamos empenhados em estabelecer parcerias estratégicas de segurança com os países da CPLP, abertos a iniciativas conjuntas no domínio da segurança e da defesa, nomeadamente o combate à criminalidade organizada, à cibercriminalidade e à segurança das rotas 4

5 navais, matérias que, em caso algum, podem ser desligadas do regular acesso à energia. No caso de Portugal, este objetivo será conseguido reforçando a conetividade internacional, valorizando a fachada atlântica, através do desenvolvimento de portos de águas profundas, do transporte rodomarítimo e do corredor ferroviário de mercadorias para a Europa. Minhas senhoras e meus senhores, Sem desvalorizar outras proveniências energéticas, nomeadamente as que decorrem da vizinhança com o Magrebe, Portugal tem de olhar para o Atlântico com vistas largas. Maximizando o potencial da plataforma continental, Portugal tem não só a possibilidade de se colocar no centro das redes portuárias internacionais e das rotas comerciais e energéticas como também terá acesso à exploração de importantes matérias-primas e recursos energéticos. O mar deve ser encarado como um importante ativo estratégico. A Estratégia Nacional para o Mar assume assim um papel fundamental. A dependência energética de Portugal afirmada no Conceito Estratégico de Defesa Nacional visa, em última análise, levar a atos que diminuam os riscos daí resultantes. Importa apostar em recursos endógenos, revendo a política de transportes responsável pelo consumo de mais de um terço da energia primária, muito dependente do petróleo e diversificar fontes de fornecimento e rotas energéticas. Devemos olhar para o interior da CPLP e encontrar as parcerias de fornecimento que precisamos. 5

6 Mas devemos perceber também que a cooperação de Portugal com os países da Comunidade extravasa em muito o interesse na importação de petróleo. A reconfiguração geopolítica em torno da transição da matriz energética dos fósseis para outras as renováveis criará uma janela de oportunidade para o nosso País. O percurso do Brasil no que respeita à biomassa é uma realidade que devemos ter em conta na busca da nossa própria via. As competências dos portugueses nas energias renováveis são conhecidas e reconhecidas a nível internacional. Acredito que há espaço para nos afirmarmos como uma nação que conta em termos energéticos. A CPLP é um palco privilegiado para esta afirmação. Minhas senhoras e meus senhores, Temos de consolidar as parceiras energéticas existentes. Temos de reforçar os projetos de cooperação. Temos de desbravar novos caminhos. Uma CPLP forte e inovadora no campo energético é estratégica para Portugal. Nenhum campo neste tema deve ser deixado por discutir. É essencial para o futuro dos países da Comunidade que olhemos para este tema com realismo e vontade de crescer e inovar. Portugal tem condições para atuar de forma decisiva neste processo. 6

7 Gerir bem, consumir melhor e produzir eficientemente. São pontos essenciais para garantir o bem-estar e segurança de Portugal. Termino, desejando a todos os participantes uma frutífera troca de ideias e perspetivas, animadas não só pela vontade, mas também pela energia, a energia que está em cada um de nós Disse 7

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