TERMO DE AUDIÊNCIA. Processo: RT

Transcrição

1 TERMO DE AUDIÊNCIA Processo: RT No dia vinte e cinco do mês de abril do ano de dois mil e doze, às 18h03min, na sala de audiências da 2 a Vara do Trabalho de Chapecó, sob a presidência do Ex. mo Juiz do Trabalho Dr. Rodrigo Goldschmidt, foram apregoadas as partes: MATILDE MARIA OSTROWSKI DOS SANTOS, reclamante, e SUL SERVICE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA. e BANCO SANTANDER, reclamados, ausentes para a audiência de leitura e publicação da sentença. Submetido o processo a julgamento, foi então proferida a seguinte S E N T E N Ç A I RELATÓRIO MATILDE MARIA OSTROWSKI DOS SANTOS demanda contra SUL SERVICE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA. e BANCO SANTANDER pelas razões constantes na inicial. Junta documentos. As reclamadas contestam (fls. 41/46 e 55/65). Juntam documentos. A autora impugna, fls. 110/111. Realiza-se perícia de nexo de causalidade, conforme laudo fls. 136/143. Em audiência de instrução, colhe-se o depoimento do representante da primeira reclamada e ouve-se uma testemunha. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Propostas conciliatórias rejeitadas. II - FUNDAMENTAÇÃO Preliminares 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 1 de 9

2 1. Inépcia da inicial O segundo réu alega inépcia da inicial, ante a ausência de pedido de condenação solidária ou subsidiária ao mesmo, bem como alega que no pedido de pagamento das verbas rescisórias, a autora incluiu horas extras trabalhadas, sem especificar os fatos ou pontos que pudesse ensejar tal pagamento. Não assiste razão o reclamado. No que tange à responsabilidade do segundo réu na demanda, muito embora a autora não tenha explanado de forma concreta na fundamentação, bem como não tenha formulado pedido específico no petitório da inicial, a mesma, já no início da inicial, no campo qualificação das partes, aponta o Banco (2º réu) como responsável subsidiário pelos créditos trabalhistas postulados, indicando até o fundamento jurídico que entende aplicável para tal responsabilidade, qual seja, a aplicação da Súmula 331, do TST. Ademais, a autora diz que laborou para a primeira ré, nas dependências do segundo réu fazendo atividades de limpeza no Banco. Logo, há causa de pedir. Já em relação ao pedido de pagamento de verbas rescisórias, nela incluídas horas extras trabalhadas, sopesando que o pedido incluiu de forma genérica todas as verbas rescisórias (matéria a ser apreciada no mérito) e que o segundo réu diz que se reporta à defesa da primeira reclamada, sendo que esta não alegou inépcia da inicial ao ponto em tese, entendo suprida tal alegação. 2. Da carência da ação: ilegitimidade passiva A 2ª ré alega ser parte ilegítima para responder a presente demanda por não ter mantido vínculo jurídico com a autora. A legitimidade de parte deve ser aferida no plano abstrato em razão da natureza da ação, uma vez que vigora em nosso ordenamento jurídico o princípio da asserção. 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 2 de 9

3 Informado pela autora que a mesma trabalhou para a ré, mesmo que de forma indireta, esta é parte legítima, em análise abstrata, para figurar no polo passivo, uma vez que não há que se confundir a relação processual com dedução jurídica material. Ademais a questão da responsabilidade subsidiária da 2ª ré por eventuais créditos da autora será apreciada após a análise do mérito da demanda. Mérito 3. Prescrição quinquenal Oportunamente arguida pela primeira reclamada, fl. 41, declaro prescritos os créditos trabalhistas devidos, vencidos e exigíveis anteriores a 07/07/2006, data esta que corresponde ao quinquênio anterior à data do ajuizamento da demanda, com fulcro no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal. 4. Doença ocupacional. Estabilidade acidentária. Danos morais. Danos materiais e pensão mensal vitalícia A autora diz que laborou em atividades de asseio junto à segunda reclamada, sendo que as atividades exercidas, na limpeza do Banco, contemplava serviços diversos, tais como, varrer, passar pano, limpar vidraças, exigindo esforço físico, movimentos repetitivos e posições inadequadas, mormente porque tinha que carregar baldes com água por todo o ambiente, o que ocasionou patologia de natureza ocupacional. Diz que está incapacitada totalmente para o trabalho. Postula indenização por estabilidade acidentária, decorrente de doença ocupacional, bem como indenização por danos morais e materiais, inclusive com pagamento de pensão mensal vitalícia. 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 3 de 9

4 A primeira ré contesta, aduzindo que a doença da autora não possui qualquer relação com o trabalho, ressaltando que a mesma, durante o contrato laboral, nunca esteve afastada do trabalho ou beneficiada por auxílio-doença previdenciário, argumentando, ainda, que consoante atestado médico demissional, a obreira estava com capacidade laborativa plena na época de sua dispensa, o que comprova que não estava acometida de doença ocupacional. Pugna pela improcedência dos pedidos, ante a ausência de prova de nexo entre a alegada doença e as atividades laboradas para a ré. Colocadas as teses, cumpre dirimir a questão. O laudo pericial, fls. 136/143, cujos termos adoto, conclui que a autora foi acometida por Tendinopatia do supra-espinhal esquerdo, patologia sem nexo de causa com o trabalho executado na Reclamada. Não apresenta limitação funcional para o trabalho (fl. 143-verso). Em resposta aos quesitos apresentados pelo Juízo (fl. 54), o perito médico diz que inexiste nexo causal e nexo técnico epidemiológico entre a patologia alegada e as atividades desenvolvidas pela ré e que não existe redução da capacidade laborativa (fl. 143-verso). A reclamante impugna as conclusões do laudo pericial e apresentou quesitos suplementares, fls. 146/147. Em que pese o perito não tenha sido intimado para apresentar respostas aos quesitos complementares da parte-autora, tendo em vista que a autora se manteve inerte, em fase posterior, uma vez que foi exaurida a instrução processual sem que a mesma se manifestasse da ausência de resposta dos quesitos suplementares, não aproveitamento o momento processual oportuno para demonstrar a necessidade de tais respostas, tenho que as mesmas foram consideradas desnecessárias pela parte-requerente. Logo, tenho que as conclusões do laudo pericial não foram desconstituídas por outros elementos. 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 4 de 9

5 Assim, não há como atribuir responsabilidade à empregadora, quando restou demonstrado que a origem da patologia da reclamante é de ordem degenerativa, não havendo qualquer evidência de que houve agravamento em virtude das condições laborais. Desta forma, não identificada patologia de origem ocupacional, não procedem as pretensões da reclamante, não havendo danos a serem reparados pela reclamada. Igualmente, não procede o pleito de indenização por estabilidade acidentária e pensão mensal vitalícia, uma vez que não foi identificada patologia de origem laborativa e não há, sequer, comprovação de incapacidade da autora para o trabalho. Indeferem-se os pleitos decorrentes da alegada doença ocupacional. 5. Dano moral pela retenção da CTPS A reclamante afirma que a primeira reclamada não devolveu a sua CTPS, configurando a retenção abusiva do documentos. A primeira ré diz que CTPS está em posse da autora, com os devidos registros. Na audiência de instrução, fl. 156, o representante da primeira reclamada admite que houve uma demora em dias para a devolução da CTPS da reclamante, não sabendo informar o motivo de tal demora; diz que não sabe dizer se a devolução do documento foi antes ou por ocasião do acerto no Sindicato. Segundo a testemunha da autora, JOAÇARA, a depoente diz que a autora se queixou que a empresa não devolveu a sua CTPS quando do desligamento (fl. 156). Verificando-se o TRCT, fl. 70 e verso, há ressalva apenas sobre o dia de afastamento da empregada e o dia de comparecimento para homologação da rescisão e que há cabimento da multa prevista do art. 477, da CLT. 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 5 de 9

6 Pertinente destacar que, para que seja caracterizado o direito à reparação civil devem existir os seguintes elementos: ilicitude (ato omissivo ou comissivo), dano e nexo causal entre ambos. No caso em tela, ainda que reconhecido pelo representante da primeira ré que houve demora na entrega da CTPS da autora, não se identifica de que forma a moral individual da autora possa ter sido abalada pelo fato. Ademais, por ocasião da resilição contratual a autora não fez menção de que tal documento ainda não tinha lhe sido entregue. Logo, inviável condenar a ré ao pagamento da indenização pretendida. Indefere-se o pleito. 6. Das verbas rescisórias. Da multa do 477, da CLT. Das guias de TRCT e de seguro-desemprego A autora aduz que foi dispensada sem aviso-prévio e que nada recebeu a título de verbas rescisórias. Postula, assim, o pagamento das verbas resilitórias, com projeção do aviso-prévio, bem como a emissão e entrega das guias de TRCT e de seguro-desemprego. A primeira reclamada, em seu turno (fl. 41-verso), diz que as verbas resilitórias foram pagas à reclamante em , mediante depósito em conta bancária. Diz que a empresa ré dispensou a autora de cumprimento do aviso-prévio, em que pese computado para os demais fins e que foram entregue à obreira as guias de encaminhamento de seguro-desemprego e para saque de FGTS. Conforme folhas 50 e 70, respectivamente aviso-prévio e TRCT, a autora foi notificada de sua dispensa do trabalho no dia e consta no TRCT como dia último dia trabalhado a data de , logo, computado o aviso-prévio ao tempo de serviço. Em relação ao pagamento das verbas rescisórias, o TRCT está assinado pela autora e homologado pelo Sindicato, o que leva ao convencimento de que tais verbas foram pagas corretamente, até porque a autora, na impugnação dos documentos, não aponta diferenças quanto as verbas em comento. 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 6 de 9

7 Nesse norte, indefiro o pagamento de verbas rescisórias. Também indefiro a retificação da CTPS da autora, uma vez que não há ressalva no TRCT de que a data constante na CTPS não corresponde a data de término do contrato laboral entre as partes. Concernente à multa do art. 477, da CLT, tendo em vista que o afastamento da autora ocorreu em e a homologação da rescisão ocorreu somente em , há mora no pagamento das verbas resilitórias, sendo cabível a aplicação da multa em tese. Assim, condeno a ré a pagar à autora a multa prevista no art. 477, da CLT, ante a mora no pagamento das verbas resilitórias. Frisa-se que tal condenação abrange tão somente a primeira reclamada, uma vez que é penalidade pelo atraso de pagamento das verbas resilitórias. Em relação ao pedido de liberação das guias para encaminhamento de liberação de FGTS e seguro-desemprego, no caso do FGTS, como foi emitido TRCT, devidamente assinado pela autora e homologado pelo Sindicato, supõe-se de que a autora, no momento da homologação do acordo, recebeu guia TRCT para liberação do mesmo. Por outro lado, no que diz respeito às guias de seguro-desemprego, não há prova nos autos de foi entregue à autora as respectivas guias, ônus que competia a ré. Assim, limitado ao pedido (só pede liberação de guias), condeno a ré, em obrigação de fazer, a entregar à autora as guias de seguro-desemprego, no prazo de 5 dias da intimação específica efetuada pela Secretaria da Vara. 7. Responsabilidade subsidiária da segunda ré Entendo cabível, posto que o segundo réu optou por delegar atividade meio, que é sua (limpeza e higienização de ambiente) para terceiros (no caso a primeira ré) executar. Nos termos da súmula 331 do TST, o segundo reclamado deve responder subsidiariamente pelos valores decorrentes das verbas trabalhistas devidas à reclamante e inadimplidas pela primeira reclamada, 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 7 de 9

8 não prosperando seus argumentos em sentido contrário. Ante o princípio da relatividade das convenções, as cláusulas contratuais firmadas entre as rés não atingem terceiros, no caso a trabalhadora. A questão está pacificada, já que a súmula 331, IV do TST, com nova redação aprovada em , especifica que o inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do empregador implica a responsabilidade subsidiária do tomador quanto àquelas obrigações, não apresentando qualquer referência quanto a ilicitude da terceirização para efeito dessa responsabilidade. Logo, o tomador é SEMPRE responsável subsidiariamente, seja a terceirização lícita ou ilícita. 8. Demais questões acessórias Descabe a aplicação do art. 467 da CLT, posto que todas as verbas vindicadas restaram controvertidas Defiro a justiça gratuita para a autora, com fundamento no art. 790, parágrafo 3º, da CLT. Ante a natureza indenizatória da verba deferida, descabe recolhimentos previdenciários e fiscais. Condeno a ré a pagar para aos patronos da autora honorários advocatícios assistenciais, no importe equivalente a 15% sobre o valor líquido devido à autora, ante a juntada da credencial da fl. 08-verso. Indefiro o pagamento de honorários advocatícios requeridos (20% do valor da condenação), ante o teor das Súmulas 219 e 329, do TST. III DISPOSITIVO ISSO POSTO, julgo PROCEDENTE EM PARTE a demanda proposta por MATILDE MARIA OSTROWSKI DOS SANTOS em desfavor de SUL SERVICE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA. e BANCO 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 8 de 9

9 SANTANDER, condenando a primeira ré de forma principal e a segunda, de forma subsidiária, a pagar para a autora, nos termos e limites da fundamentação supra, com juros e correção monetária na forma da lei, observada a prescrição declarada, : a) multa prevista no art. 477, da CLT, ante a mora no pagamento das verbas resilitórias (condenação somente da 1ª ré, uma vez que se trata de penalidade). Outrossim, como obrigação de fazer, condeno a primeira ré a entregar à autora as guias de seguro-desemprego, no prazo de 5 dias da intimação específica efetuada pela Secretaria da Vara. Condeno, outrossim, as reclamadas a pagar para aos patronos da autora honorários advocatícios assistenciais, no importe equivalente a 15% sobre o valor líquido devido à autora, ante a juntada da credencial da fl. 08-verso. Frisa-se que a condenação do segundo réu (de forma subsidiária) só contempla o pagamento de honorários advocatícios assistenciais, posto que a condenação do item a e da obrigação de fazer é exclusiva da primeira reclamada. Honorários periciais da perícia médica de nexo de causalidade pela autora, no valor arbitrado de R$ 600,00, a serem requisitados junto ao E. TRT 12, nos termos da Portaria GP nº 116/2011, de , por ser a autora sucumbente na matéria e litigar sob o pálio da justiça gratuita. Custas de R$ 10,64, respeitado o valor mínimo a ser recolhido, pela ré, ante o valor da causa de R$ 320,00. Não há recolhimentos previdenciários e fiscais, tendo em vista que a verba deferida é indenizatória. Valores a serem apurados em liquidação. Cumpra-se em 48h após o trânsito em julgado. Intimem-se. Dr. Rodrigo Goldschmidt Juiz do Trabalho 2ª VT de Chapecó-SC - RT Página 9 de 9