2. Distinguir Direito Penal Adjetivo de Direito Penal Substantivo

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1 UD I DIREITO PENAL MILITAR Assunto 01 A Lei Penal Militar e a Justiça Militar 1. Distinguir Direito Penal de Direito Penal Militar A ordem jurídica militar, que se encontra inserida na ordem jurídica geral do Estado, tem por intuito assegurar os fins essenciais das instituições militares onde se ressalta a defesa da pátria. O Estado tem especial interesse em preservar a ordem jurídica militar, onde a hierarquia e a disciplina são aspectos relevantes, prevendo aos eventuais violadores desta ordem sanções administrativas, disciplinares, penais, etc. As penais surgem com o direito penal militar, que se apresenta como uma parte do direito penal onde são definidos os crimes contra a ordem jurídica militar, cominando-lhes penas, impondo medidas de segurança e estabelecendo causas condicionantes, excludentes e modificativas de punibilidade. ( Referência em Romeiro, p. 1) O direito penal militar é um direito penal especial, porque a maioria de suas normas, diversamente das de direito penal comum, destinada a todos os cidadãos, se aplicam exclusivamente aos militares, que têm especiais deveres para com o Estado, indispensáveis à sua defesa armada e à existência de suas instituições militares. (Romeiro, p. 41) Ver Constituição Federal / 1988 Artigos 142; 92,VI; 122; 123; Distinguir Direito Penal Adjetivo de Direito Penal Substantivo Direito penal substantivo (ou material) são as normas que procuram delinear os crimes, cominando-lhes penas, as medidas de segurança e as causas excludentes e modificativas de punibilidade. Encontra-se consolidado no Código Penal Militar (CPM). Direito penal adjetivo (ou formal, ou, ainda, processual) se referem à maneira de atuar ou fazer valer as normas do direito penal substantivo diante de um caso concreto, por meio de um processo. Encontra-se consolidado no Código de Processo Penal Militar (CPPM). Essa cisão do direito penal não é observada na maioria dos países civilizados, porém, sustenta nossos doutrinadores, é necessária pois os juízes militares não tem obrigação de serem juristas. Apesar dessa orientação, constatase haver normas de direito adjetivo no CPM e normas de direito substantivo no CPPM. Vincenzo Manzini, penalista de fama universal, sustenta um critério peculiar de distinção do direito penal substantivo do adjetivo. Direito penal substantivo se consubstancia em normas que virtualmente atribuem ou tolhem ao Estado o poder de punir ou modificar esse poder (normas incriminadoras, descriminadoras, que preceitua sobre circunstâncias atenuantes e agravantes, etc) ou ainda, conferem aos órgãos do Estado ou aos cidadãos o Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 1

2 poder de dispor da pretensão punitiva (admissão de ação privada nos crimes de ação pública art.5, LIX, da CF/88) ou da pena (anistia, indulto, etc). Direito penal adjetivo são normas que regulam de um modo geral o início, o desenvolvimento e o término do processo; prescrevem as formas com que devam ser aplicadas as normas de direito material; e, finalmente, atribuem aos órgãos do Estado ou aos cidadãos o poder de dispor das meras formas processuais (direito de requerer, impugnar, do acusado não responder ao interrogatório, etc.). Assim, exemplifica Manzini, o instituto da prescrição pertence ao direito penal substantivo, enquanto implica uma renúncia do Estado ao poder de punir, mas as formalidades com as quais se efetua tal renúncia fazem parte do direito penal adjetivo (processual). Ver CPM Artigos 123 e seguintes (Referência em Romeiro, p. 1-3) Com a orientação que acabamos de expor, o juiz militar não terá dificuldades para identificar as normas de direito penal material e formal onde quer que elas se encontrem, o que é de inestimável importância na administração da Justiça Militar. Basta que se atente a que as normas de direito penal militar, como se verá ao longo do estudo, retroagem quando beneficiam o réu (lex mitior) e só em seu favor admitem a analogia (in bonam partem); enquanto as de processo comportam analogia também contra ele (in malam partem) ex vi do Art.3º, e, do CPPM, e entram imediatamente em vigor, sem prejuízo da validade do realizado na vigência da lei anterior (Art.5º do CPPM). Os prazos que instituem também se contam diferentemente. Segundo o direito penal militar(art.16 do CPM), o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo; o direito processual o exclui, incluindo, porém, o dia do vencimento, por analogia com o art.798, 1º, do CPP comum (art.3º, e, do CPPM). (Romeiro, p. 4) 3. Caracterizar a organização e funcionamento da Justiça Militar Lei 8457,de 04 de setembro de 1992, dispõe sobre a organização da Justiça Militar da União e regula o funcionamento de seus serviços auxiliares Destacar os seguintes pontos do documento legal supracitado: - Órgãos da Justiça Militar (Art. 1º); - Circunscrições Judiciárias Militares (Art. 2º); - Competência do Superior Tribunal Militar (Art. 6º); - Das disposições preliminares (Art. 11, 2º); - Conselhos de Justiça (espécies, composição, relação de oficiais para sorteio, funcionamento, procedimento em dias de sessão Art. 16 ao 26); - Da competência dos Conselhos de Justiça (Art. 27 e Art. 28); - Competência dos Presidentes dos Conselhos de Justiça e do Juiz- Auditor (Art.29 e Art. 30): e - Das disposições transitórias e finais (Art. 102). Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 2

3 4. Caracterizar a lei penal militar no tempo e no espaço a. Lei penal militar no tempo 1) Vínculo com a Constituição Federal Art.5º, XXXIX, CF/88 princípio da legalidade ou da reserva legal Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Art. 5º, XL, CF/88 irretroatividade da lei penal A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. 41) 2) Correlação CF/88 e CPM Art. 5º, XXXIX, CF/88 Art.1º, CPM Art. 5º, XL, in fine, CF/88 Art.2º, CPM Art. 123,III,CPM ( Referência em Romeiro, p. 3) Eficácia da lei penal militar no tempo (conflito aparente de normas) Retroatividade da lei penal militar Abolitio criminis (Art. 2º, caput, e Art. 123, III, do CPM) Art.2º Ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência da sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil. Art.123 Extingue-se a punibilidade... pela retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminoso. Novatio legis in mellius (Art,2º, 1º, do CPM) Art.2º... 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível. ( Romeiro, p. 41) Irretroatividade da lei penal militar (Art. 5º, XL, CF/88) Novatio legis incriminadora Torna típico fato anteriormente não incriminado. Novatio legis in pejus A nova lei é mais severa que a anterior; neste caso, não se aplica aos crimes ocorridos na vigência da lei anterior. ( Furtado, p. 7-8) (Assis, p. 17) Ultra-atividade (Art.4º, CPM) Art.4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessada as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 3

4 Lei excepcional é a editada em situações anormais de vida social, como revolução, epidemias e outras calamidades públicas. E lei temporária, a baixada para vigorar num determinado período de tempo, por ela própria fixado. Ambas se auto-revogam: a lei excepcional pela cessação das circunstâncias que a determinaram ; e a lei temporária pelo decurso do período de sua duração. Sendo ambas de vigência transitória, se auto-revogando com a cessação do período de sua duração, importante é a expressa menção legal de sua ultra-atividade, ou seja, aplicação ao fato praticado durante sua vigência. Pois, na ausência de tão importante menção legal, poder-se-ia argumentar que os fatos ainda não julgados, ocorridos na vigência dessas leis, após a autorevogação delas, seriam abrangidos pela lei posterior mais benigna. ( Romeiro, p. 49) b. Lei penal militar no espaço 1) Eficácia da lei penal militar no espaço princípios da territorialidade e da extraterritorialidade (Art.7º, caput, CPM) Art.7 º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no território nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. A irrestrita aplicação extraterritorial do CPM justifica-se com o fato de os crimes militares afetarem as instituições militares, que se destinam à defesa do país (Art.142, CF/88), e poderem ser, por inteiro, cometidos em outros países e até mesmo em benefício destes, que não teriam, assim, qualquer interesse na punição de seus autores. Daí não ser entregue à justiça estrangeira o processo e o julgamento dos crimes militares. ( Romeiro, p. 57) Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 4

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