Plantio direto de milho para pequenos produtores do Cerrado: Potencial de produção de grãos e de biomassa.
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1 Plantio direto de milho para pequenos produtores do Cerrado: Potencial de produção de grãos e de biomassa. Fernando Antônio Macena da Silva 1 ; Eric Scopel 2 ; Marcelo Nascimento de Oliveira 1, Suênia Cibeli Ramos de Almeida 1, José Humberto Valadares Xavier 1 ; e Luis Adriano Cordeiro 3 ( 1 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, CP 08223, Planaltina, DF macena@cpac.embrapa.br. 2 CIRAD eric@cpac.embrapa.br; Embrapa Recursos Genéticos ladriano.cordeiro@gmail.com;) Termos para indexação: Plantio Direto, pequeno produtor, tração animal, Cerrado. Introdução: Nas regiões tropicais, as chuvas intensas podem causar processos erosivos importantes, principalmente no início do ciclo de cultivo quando o solo é revolvido e se encontra desprotegido. Além disso, a umidade e a temperatura elevadas provocam a mineralização rápida da pouca matéria orgânica do solo e dos resíduos de cultivos anteriores que poderiam protegê-lo. Nessas condições, O sistema de Plantio Direto (SPD) é uma inovação técnica que possibilita a sustentabilidade da produção agrícola passando pela aplicação de importantes princípios: a simplificação do trabalho de preparo do solo, a manutenção de uma cobertura permanente do solo, a inclusão sistemática de plantas em diferentes estágios para valorizar os recursos disponíveis e a diversificação e/ou rotação das sucessões de cultivos (ALTIERI, 2002; SÉGUY et al., 2003). Nos Cerrados, existem diversas pesquisas sobre a aplicação do SPD que foram desenvolvidas nas condições de grandes produtores localizados nos latossolos das chapadas (LANDERS 2001; SÉGUY et al. 2003; SCOPEL et al. 2005b). Contudo, o uso do SPD pelos agricultores familiares dessa região é muito incipiente (SCOPEL et al. 2005a). Na região de Unaí-MG, os sistemas desses agricultores são caracterizados pela combinação de cultivos e criações. Destaca-se a bovinocultura de leite, pois a região é uma importante bacia leiteira. O cultivo de milho é de grande importância em virtude de sua versatilidade de utilização. Ele é empregado principalmente para a alimentação dos animais (aves, suínos e gado de leite) e os restos culturais (palhada) são usados como complemento alimentar do
2 rebanho leiteiro na época seca. As práticas utilizadas são, normalmente, manuais, com exceção para o preparo de solo que é realizado com maquinário alugado (GASTAL et al., 2003). O SPD, com manejo adequado de plantas de coberturas, poderia, por um lado, ajudar a diminuir as principais limitações para a condução das lavouras dos assentados que se relacionam ao manejo deficiente da fertilidade do solo, à precariedade de acesso à mecanização para preparo de solo, à baixa qualidade do plantio e à alta infestação de ervas daninhas (SCOPEL et al., 2005b). Por outro lado, seria possível melhorar a disponibilidade de forragens para o gado na época seca. O objetivo desse trabalho foi avaliar, no contexto dos agricultores familiares, a aptidão de sistemas de cultivo do milho de sequeiro em plantio direto consorciado com plantas de coberturas, visando aumentar a produtividade de grãos de milho e a quantidade total de biomassa no sistema (palhada de milho e da planta de cobertura). Material e Métodos O trabalho foi realizado no município de Unaí, situado a 16,4º de latitude Sul e 46,9º de Longitude Oeste, na porção noroeste do Estado de Minas Gerais, com características representativas do Bioma Cerrado. A precipitação média anual do município oscila entre mm e mm, com as chuvas concentrando-se no período de outubro a março. A estação seca, com duração de cinco a seis meses, coincide com os meses mais frios e é um dos grandes problemas para a produção agropecuária na região. Para valorizar plenamente os recursos do bioma foram desenhados sistemas nos quais a cultura principal (o milho) foi semeada em consórcio com vários tipos de plantas de cobertura fazendo-se uso do sistema plantio direto com máquinas de tração animal e propulsão humana para representar as condições de cultivo utilizadas pelos pequenos produtores do município. As plantas de cobertura foram semeadas em diferentes datas, entre as linhas do cultivo principal (Figura 1) para aumentar a produção de biomassa e aumentar a eficiência do sistema tanto no que diz respeito à conservação da água e do solo, como na ciclagem de nutrientes (SCOPEL et al. 2004).
3 Esses sistemas foram avaliados em experimento controlado na Escola Agrícola de Unaí num latossolo vermelho (Reato et al. 1998) durantes os anos agrícolas 2005/06 e 2006/07. O desenho experimental foi o de parcelas divididas com blocos completos casualizados com três repetições. O primeiro fator experimental foi formado pelas plantas de cobertura (parcela maior) para avaliar as seguintes combinações: milho + milheto (Pennisetum glaucum), milho + braquiária (Brachiaria ruziziensis ), milho + guandu (Cajanus cajan), milho + crotalaria (Crotalaria spectabilis), milho + braquiária + guandu, milho + brachiaria + crotalaria. O segundo fator experimental foi formado pelas datas de plantio das plantas de cobertura. A primeira data aconteceu entre 45 e 50 dias após o plantio do milho (início do pendoamento), e a segunda 75 a 80 dias após o plantio. A testemunha foi composta por uma parcela de milho em plantio convencional sem planta de cobertura nas três repetições. O manejo geral da fertilidade foi feito de maneira similar ao que tem sido utilizado pelos agricultores familiares em suas lavouras, ou seja, com baixo nível de adubação de N, P e K (50 Kg de N, 60 Kg de P 2 O 5 e 50 Kg de K 2 O). Foi avaliada a produtividade geral do sistema, tanto em termos de grão de milho na hora da colheita quanto de biomassa total produzida (palhada de milho e planta de cobertura) no início da estação seca. Estação chuvosa Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Semeadura da planta de cobertura Uso pelo rebanho e/ou cobertura do solo 0,90m 1,0m a 1,50m NO- Ca 2+ 3 K + Mg 2+ Águas Profundas Figura 1: Representação esquemática do cultivo de milho consorciado com plantas de cobertura no sistema plantio direto.
4 Resultados e discussão Quanto aos resultados de produtividade geral dos sistemas de produção do milho (Quadro 1), pode-se afirmar que ela situou-se acima da faixa esperada pelos produtores assentados, pois, os níveis obtidos de produtividade de até kg de grãos de milho por hectare são bem mais elevados do que a média atingida pelos produtores nas suas lavouras que é em torno de 2000 Kg.ha -1 (GASTAL et al., 2003). A produtividade do milho em sistema plantio direto mostrou-se um pouco inferior quando comparada com a do convencional. Porém, essa diferença não foi estatisticamente significativa em nenhum dos anos observados. Isso pode ser explicado pela maior taxa de mineralização da matéria orgânica nos primeiros anos devido ao efeito mecânico das ferramentas usadas nesse sistema durante o preparo do solo com já foi destacado em outros estudos (BALESDENT et al., 2000). A presença da planta de cobertura usada no consórcio não prejudicou a produtividade do milho, pelo contrário, observou-se um aumento considerável da biomassa total produzida, pois as plantas de cobertura agregaram entre 100 kg ha -1 e 2000 kg ha -1 de matéria seca. Esse gradiente de produção da biomassa das plantas de cobertura foi em função, principalmente, da oferta climática anual e das espécies utilizadas (Quadro 1). Quadro 1. Produção de grãos e de biomassa (kg ha -1 ) da cultura do milho plantada em consórcio com as culturas do milheto, guandu, crotalária e braquiária. Convencional +Milheto Produção de Grão (Kg ha -1 ) 4533 (908) 3825 (684) (Kg ha -1 ) 3571 (489) 3370 (872) Cobertura (Kg ha -1 ) 1155 (142) + Guandu 4101 (573) Ano agrícola 2005/ Brachiaria Brachiaria +Guandu Brachiaria (1136) 3888 (531) 3733 (1332) 3973 (855) 3352 (635) 3712 (539) 3414 (628) 3123 (1139) 3122 (649) 2003 (335) 2093 (196) Sem dados 1655 (454) 2114 (631)
5 Convencional Produção de Grão (Kg ha -1 ) 5075 (309) +Milheto 4525 (821) 3154 (838) + Guandu Ano agrícola 2006/ Brachiaria Brachiaria+ Guandu Brachiaria (603) 4560 (667) 4070 (350) 4347 (693) 4101 (740) 3477 (443) 3639 (367) 3236 (697) 3610 (256) 3571 (419) (Kg ha -1 ) 3897 (452) Cobertura (Kg ha -1 ) 127 (60) 320 (171) 260 (109) 117 (130) 229 (154) 291 (106) As chuvas mais regulares e melhor distribuídas no ano agrícola 2005/06 favoreceram a produção de biomassa das plantas de cobertura, que no segundo ano, em função da estação chuvosa ter cessado muito cedo, não se desenvolveram de forma satisfatória e produziram quantidades menores de biomassa em relação ao ano anterior. Os dados do Quadro 1 mostram que o milheto consorciado não foi tão eficiente quanto os outros tratamentos na produção de biomassa. Isso se deve ao fato de essa cultura ser pouco tolerante ao forte sombreamento exercido pela cultura do milho, ou seja, por ser uma planta tipo C4, sofreu muito com a falta de radiacão na sua fase inicial de crescimento, particularmente na primeira data de plantio. Também cabe assinalar que a Brachiaria ruziziensis não apresentou bons resultados devido à pouca capacidade de germinação observada no primeiro ano e pela falta de umidade no segundo. Por isso, pode-se afirmar que as plantas de coberturas utilizadas no consórcio foram prejudicadas e não puderam expressar todo seu potencial de produção de biomassa. Em relação às datas de plantio, as quantidades de biomassa produzidas pelas plantas de cobertura não apresentaram diferenças significativas nem entre as datas nem entre os anos agrícolas (Quadro 2). Na primeira data, as plantas de cobertura foram prejudicadas pelo sombreamento do milho, enquanto que na segunda, a baixa produção foi devido à falta de água que limitou o desenvolvimento das mesmas. Nesse contexto, a data de plantio deve ser escolhida pela maior
6 facilidade do plantio ou em função da disponibilidade do produtor. Devido à pequena competição observada das plantas de cobertura sobre o crescimento e a produção do milho, talvez seja interessante testar uma data mais precoce de plantio logo após ou até junto à semeadura do milho. Assim as plantas de cobertura teriam mais tempo para se instalar antes de sofrer a competição do milho. Quadro 2: Datas de semeadura de plantas de cobertura, produção de grãos e de biomassa (kg.ha -1 ) do milho consorciado. Ano agrícola 2005/2006 Data 45 dap 1 Data 75 dap Produção de Grão (Kg ha -1 ) 3763 (559) 4135 (1044) (Kg ha -1 ) 3241 (586) 3457 (875) Cobertura (Kg ha -1 ) 1692 (966) 1916 (855) Ano agrícola 2006/2007 Data 45 dap Data 75 dap Produção de Grão (Kg ha -1 ) 4274 (720) 4455 (665) (Kg ha -1 ) 3341 (537) 3555 (528) Cobertura (Kg ha -1 ) 271 (140) 176 (129) 1 dap: dias após o plantio. Conclusões: O plantio direto com plantas de cobertura apresentou-se como um sistema interessante no contexto do cultivo de milho dos agricultores familiares do município de Unaí. A produtividade de milho obtida (4000 kg.ha -1 ) não foi afetada durante os dois anos do experimento e foi duas vezes maior que a das parcelas dos produtores. As plantas de cobertura permitiram aumentar a biomassa total produzida em até 2000 Kg.ha -1 em função das condições do ano e da pluviometria no final do ciclo. Isso possibilita aumentar a contribuição da área de milho em termos da alimentação do gado. As leguminosas perenes utilizadas (guandu e crotalária) pareceram sofrer menos com a competição do milho. A braquiária, assim como, os consórcios com ela têm que ser foco de avaliações mais refinadas, talvez com uma data de plantio mais cedo no ciclo do milho para haver mais tempo para sua instalação antes do sombreamento pelo milho. Finalmente, enfatiza-se a importância de testes na escala das lavouras dos agricultores para adequar o manejo dos novos sistemas em condições reais.
7 Referências: ALTIERI, M.A. Agroecology: the science of natural resource management for poor farmers in marginal environments. Agriculture, Ecosystems & Environment, Oxford, England, v. 93, p. 1-24, BALESDENT J., CHENU C., BALABANE M. Relationship of soil organic matter duynamics to physical protection and tillage. Soil and Tillage Research, 53, p , GASTAL, M.L.; XAVIER, J.H.V; ZOBY, J.L.F.; ROCHA, F.E.de C.; SILVA, M.A. da; RIBEIRO, C.F.D de A.; COUTO, P.H.M. Diagnóstico rápido e dialogado (DRD) de três assentamentos de reforma agrária em Unaí-MG. Planaltina: EMBRAPA - CPAC, p. (EMBRAPA - CPAC. Boletim de P&D, 118). LANDERS, J. Zero tillage development in tropical Brazil: the story of successful NGO activity. FAO Agricultural Services Bulletin 147. Rome, Italy p. SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; SCOPEL, E.; RIBEIRO, M.F.S. New concepts for sustainable management of cultivated soils through direct seeding mulch based cropping systems: the CIRAD experience, partnership and networks. In Producing in harmony with nature, II World congress on Sustainable Agriculture proceedings, Iguaçu, Brazil, August SCOPEL, E.; TRIOMPHE, B.; GOUDET, M.; XAVIER, J.H.V.; MACENA, F.M.da. Potential role of CA in strengthenin small-scale farming systems in the Brazilian Cerrados, and how to do it. In: Third World Congress on Conservation Agriculture, 2005a, Nairobi, Kenya, 3-7 october. 8 p. Disponível em SCOPEL, E.; DOUZET, J.M.; SILVA, F.A.M. da; CARDOSO, A.N.; MOREIRA, J.A.A.; FINDELING, A.; BERNOUX, M.. Impacts des systèmes de culture en semis direct avec couverture végétale (SCV) sur la dynamique de l eau, de l'azote minéral et du carbone du sol dans les Cerrados brésiliens. Cahiers Agricultures, France, v. 14 (1), p , 2005b.
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