Acórdão. Ver Certidão

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1 Processo : RO Data de Publicação : 09/08/2010 Órgão Julgador : Sexta Turma Juiz Relator : Des. Anemar Pereira Amaral Juiz Revisor : Des. Jorge Berg de Mendonca Acórdão Ver Certidão Recorrente: SESCON/MG (SINDICATO DAS EMPRESAS DE CONSULTORIA, ASSESSORAMENTO, PERÍCIAS, INFORMAÇÕES, PESQUISAS E EMPRESAS DE SERVIÇOS CONTÁBEIS NO ESTADO DE MINAS GERAIS) S.A. Recorrida: ALVORADA ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES EMENTA: COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. EQUADRAMENTO. EMPRESA HOLDING. Tratando-se a empresa requerida na ação de cobrança de uma holding, cujo objeto social consiste na participação em outras empresas, atividade que se assemelha às de assessoramento e consultoria, dada a idéia de controle e coordenação que ostenta, é devido o seu enquadramento sindical junto ao SESCON/MG, parte legítima para exigir o pagamento da contribuição sindical. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário, decide-se. RELATÓRIO O MM Juiz do Trabalho, João Rodrigues Filho, em exercício jurisdicional na 4ª Vara do Trabalho de Uberlândia, pela r. sentença de fls. 416/423, cujo relatório adoto e a este incorporo, extinguiu o processo, com resolução do mérito, quanto à contribuição sindical devida em janeiro de 2.004, na forma do art. 269, IV, do CPC, e julgou improcedentes os demais pedidos formulados por SESCON/MG (Sindicato das Empresas de Consultoria, Assessoramento, Perícias, Informações, Pesquisas e Empresas de

2 Serviços Contábeis no Estado de Minas Gerais) em face de Alvorada Administração e Participações S.A. Inconformado, o autor interpôs Recurso Ordinário às fls. 428/433, alegando ser o legítimo representante sindical da ré e requerendo, por conseguinte, seja ela compelida ao pagamento das contribuições sindicais elencadas na exordial. Preparo às fls. 434/435. Contrarrazões às fls. 438/445. Procurações às fls. 13 e 260, substabelecimento à fl É, em síntese, o relatório. VOTO JUÍZO DE CONHECIMENTO Conheço do Recurso Ordinário interposto, regularmente processado, bem como das Contrarrazões apresentadas. JUÍZO DE MÉRITO COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL - HOLDING - ENQUADRAMENTO Aduz o recorrente ser o legítimo representante sindical da ré, tese não acatada pela r. sentença. Afirma ter sido constituído com a finalidade de representar as empresas de assessoramento,

3 perícias, informações e pesquisas (Portaria nº 147 do MTE de ), inclusive, as empresas Holdings, conforme se observa de seu registro sindical. Diz que seu estatuto dispõe ter sido constituído para fins de estudo, coordenação e representação legal das seguintes categorias econômicas, relacionadas no 3º grupo (agentes autônomos do comércio) constante do plano da CNC (art. 577 da CLT), a saber: a) empresas de assessoramento, perícias, informações e pesquisas (Portaria nº 147 do MTE de ), incluídas as Holdings e; b) empresas de Serviços Contábeis (Portaria nº do MTE de ). Alega que a atividade preponderante da reclamada é participação em outras sociedades como sócia, cotista ou acionista. Assegura que a fundamentação adotada na r. sentença, no sentido de que a recorrida não exercia qualquer atividade que representa, vai de encontro ao parecer emitido pela Comissão de Enquadramento e Registro Sindical do Comércio (CERSC), órgão da CNC, que define os "SESCONS" como representantes das empresas que administram bens móveis e imóveis de outras do grupo e que participam de outras sociedades. Pontua que a CERSC responde a consultas de empresas e entidades sindicais do comércio, realizando, no primeiro caso, enquadramento individual e, no segundo, enquadramento coletivo, como, também, opina, quando consultada, acerca de conflitos de representação revelados por entidades integrantes do SICOMÉRCIO. Assevera que a questão não é saber se a requerida exerce ou não a atividade de assessoria ou consultoria, e sim que a atividade Holding, de participação e administração de recursos próprios ou de terceiros, se assemelha à atividade de assessoramento e consultoria. Isso porque o critério da similitude permite concluir que a ré se insere nas categorias econômicas das empresas de assessoramento, perícias, informações e pesquisas do 3º grupo (agentes autônomos do comércio) do plano da CNC. Ao final, transcreve excertos de jurisprudência em favor de sua tese. Com razão, data venia. Constitui objeto social da ré, "atuar no ramo de administração de bens próprios, participação em outras empresas como sócia, quotista ou acionista, bem como importar e exportar bens de interesse das empresas em que participar como sócia, quotista ou acionista" (fl. 250) (grifei). Verifica-se, por sua vez, do comprovante de inscrição e de situação cadastral, junto à Receita Federal, de fl. 14, que a recorrida detém como atividade econômica principal "holdings de instituições não-financeiras". Lado outro, infere-se dos autos que a reclamada é sócia majoritária (99,96731%) da empresa Usina Alvorada Açúcar e Álcool Ltda, que tem como objeto social a industrialização da canade-açúcar, o comércio de seus derivados, tais como açúcar, melaço, álcool anidro, álcool hidratado, leveduras e resíduos industriais de

4 cana-de-açúcar (fls. 275/285). Noutra senda, informou a ré, em contestação, ter uma parceria agrícola com a empresa Agropecuária Araporã Ltda, em que pela cessão dos direitos de uso de suas propriedades, participa da parceria com 10% da totalidade da cana-de-açúcar produzida nas terras cedidas, a qual é industrializada pela predita Usina Alvorada Açúcar e Álcool Ltda, da qual é sócia, sendo que a Agropecuária Araporã participa com 90% sobre a totalidade da cana produzida. Salientou, ainda, não possuir funcionários. Como se vê, nas atividades da recorrida inclui-se, preponderantemente, a participação (gestão) em outras sociedades, o que a caracteriza como verdadeira holding, ainda que seja proprietária de bens imóveis rurais (fls. 296/307). Assim, em se tratando a requerida de uma holding, suas atividades se assemelham àquelas desenvolvidas pelas empresas de assessoramento e consultoria, dada a idéia de controle e coordenação que ostenta, enquadrando-se, portanto, pelo critério de similaridade (art. 511, 1º, e art. 570, parágrafo único, ambos da CLT), na categoria econômica representada pelo SESCON/MG. Não fosse o bastante, os documentos de fls. 69 (certidão de registro sindical), 30/68 (estatuto social do autor), fls. 71/72, e a Portaria 147/63 do MTE conferem legitimidade ao sindicato requerente como representante de empresas que prestam serviços contábeis, consultoria e assessoramento, pesquisas e perícias, incluindo também nesse rol as empresas holdings. Sobre a questão, transcrevo, a propósito, ementa de recente julgado, proferido pela 6ª Turma do C. TST: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. ENQUADRAMENTO SINDICAL. EMPRESA HOLDING. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. ART. 579 DA CLT. Tendo o agravo de instrumento logrado demonstrar que o recurso de revista preenchia os requisitos do art. 896 da CLT, dá-se provimento ao agravo de instrumento, para melhor análise da argüição de violação do art. 579 da CLT suscitada no recurso de revista. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. ENQUADRAMENTO SINDICAL. EMPRESA HOLDING. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. ART. 579 DA CLT. O artigo 511, 1º, da CLT fixa como vínculo social básico da categoria econômica -a solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas-. Portanto,

5 a natureza da atividade é que se apresenta como critério de vinculação da categoria, criando a relação social inerente à associação sindical. Já o enquadramento sindical deve ser feito de acordo com a atividade preponderante da empresa, a teor dos artigos 570 e 581 da CLT. Assim sendo, se demonstrada a alegação de ser a atividade predominante da Reclamada (empresa holding) aquela que a vincule expressamente como integrante da categoria econômica em que o autor representa a categoria profissional (SESCON), há de ser reconhecida a legitimidade do Sindicato/Autor para cobrança da contribuição sindical, nos termos do art. 579 da CLT. Recurso de revista conhecido e provido (RR , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 23/06/2010, 6ª Turma, Data de Publicação: 28/06/2010). Ainda, no aspecto, peço venia para transcrever e incorporar como razões de decidir a seguinte fundamentação, tecida pelo MM Ministro Relator, no voto condutor do acórdão citado: "... Na revista, o Autor sustenta que foi constituído com a finalidade de representar as empresas de assessoramento, perícias, informações e pesquisas, onde se classificam também as empresas holdings, não se havendo falar em outra entidade representativa da categoria no Estado de Minas Gerais. Assim, lastreia o apelo em divergência jurisprudencial e em violação aos arts. 8º, I e IV, da CF, 570, 577, 579 da CLT. Assiste-lhe razão. O artigo 511, 1º, da CLT fixa como vínculo social básico da categoria econômica "a solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas". Portanto, a natureza da atividade é que se apresenta como critério de vinculação da categoria, criando a relação social inerente à associação sindical. Por outro lado, o enquadramento sindical deve ser feito de acordo com a atividade preponderante da empresa, a teor dos artigos 570 e 581 da CLT. Conforme restou decidido no v. acórdão, o Estatuto Social da Reclamada dispõe que o seu objeto social é o comércio, importação e exportação de fios e tecidos e a participação em outras sociedades como acionista, cotista ou associada.

6 Por outro lado, consta do acórdão regional que ao Sindicato-autor compete a representação da categoria econômica das empresas e organizações individuais de serviços contábeis, consultoria, assessoramento, perícias, informações e pesquisas. Como se observa, a atividade da Reclamada inclui a participação em outras sociedades, caracterizando verdadeira holding, enquanto o Autor representa categorias que, por meio do assessoramento, inegavelmente buscam melhorar a gestão e/ou organização dos negócios sociais de empresas, abrangendo também, portanto, as holdings. A propósito, cabe transcrever a definição de holding constante do Dicionário Michaelis: "Empresa que possui subsidiárias e geralmente limita suas atividades à sua administração. Relaciona-se a companhia matriz (parent company). Em geral controla ou pode controlar outras empresas pela detenção da maioria de suas ações (shares). Também é o nome que se dá à empresa que detém títulos de renda e ações de outras, do que aufere seus ganhos". Registre-se que o fato de a Reclamada ter negado o exercício de controle sobre outras empresas não desnatura a sua condição de holding, porquanto, nos termos da definição acima transcrita, ela tanto controla como pode controlar outras empresas, dependendo da detenção ou não da maioria de suas ações. Enquadrando-se a Reclamada na categoria econômica representada pelo Sindicato-Autor, este possui legitimidade para cobrar o pagamento das contribuições sindicais postuladas nesta ação cominatória, de forma que o Eg. Regional, ao decidir de forma diversa, afronta o art. 579 da CLT. Em face da demonstrada violação ao art. 579 da CLT, CONHECE-SE da revista. II) MÉRITO CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. EMPRESA HOLDING.

7 ENQUADRAMENTO SINDICAL. VIOLAÇÃO AO ART. 579 DA CLT Como conseqüência do conhecimento do recurso por violação ao art. 579 da CLT, DÁ-SE-LHE PROVIMENTO para, reformando o v. acórdão recorrido, reconhecer a legitimidade do SESCON-MG para cobrar o pagamento das contribuições sindicais postuladas na inicial e determinar o retorno dos autos à origem para apreciação do pedido como entender de direito (grifei). Nesse sentido, também, as seguintes decisões proferidas por este Eg. Regional: EMENTA: CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. ENQUADRAMENTO. Havendo a prova nos autos produzida demonstrado que o objeto social da empresa autora consiste na assessoria e na participação societária no capital de outras empresas, como holding, estando, portanto, representada pelo SESCON/MG, deve ser mantida a r. decisão de primeiro grau que declarou a inexigibilidade da contribuição sindical em favor da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais. (RO , 5ª T, pub. em 18/03/08). EMENTA: ENQUADRAMENTO SINDICAL - AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - DÚVIDA QUANTO AO LEGÍTIMO DESTINATÁRIO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. Tratando-se a empresa-consignante de "holding" cujo objeto social é a participação em outras empresas, atividade que se assemelha às de "assessoramento" e "consultoria", porque relacionada à idéia de controle e coordenação, inegável sua inserção no âmbito de abrangência das categorias econômicas representadas pelo SESCON-MG (Sindicato das Empresas de Consultoria, Assessoramento, Perícias, Informações, Pesquisas e Empresas de Serviços Contábeis no Estado de Minas Gerais), resultando no reconhecimento de sua legitimidade para receber a contribuição sindical, objeto da presente ação de consignação em pagamento. (RO , 1ª T, pub. em 18/01/06). Quanto ao fato da requerida não possuir empregados, tal situação não constitui óbice ao recolhimento da contribuição

8 sindical, já que o fato gerador da obrigação é a circunstância da empresa estar inserida em uma determinada atividade econômica (art. 579 da CLT), independentemente de possuir ou não empregados. Tanto que a contribuição é, também, exigida de trabalhadores autônomos e de profissionais liberais, organizados em firma ou empresa, com capital social registrado, como consta do 4º do art. 580 da CLT. Diante do exposto, dou provimento ao recurso para, reformando a r. sentença, reconhecer a legitimidade do SESCON/MG para cobrar o pagamento das contribuições sindicais postuladas na inicial e determinar o retorno dos autos à origem para apreciação do pedido, como se entender de direito. Inaplicável ao caso o disposto no art. 515, 3º, do CPC, a fim de que seja garantido o duplo grau de jurisdição, tendo em vista que a ré impugna os valores das contribuições trazidas na inicial (cf. fls. 272/274). Provejo nesses termos. CONCLUSÃO Conheço do Recurso Ordinário interposto, e, no mérito, dou-lhe provimento para, reformando a r. sentença, reconhecer a legitimidade do SESCON/MG para cobrar o pagamento das contribuições sindicais postuladas na inicial e determinar o retorno dos autos à origem para apreciação do pedido, como se entender de direito. Tudo nos termos da fundamentação, parte integrante. FUNDAMENTOS PELOS QUAIS, O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região em Sessão Ordinária da Sexta Turma, hoje realizada, julgou o presente processo e, à unanimidade, conheceu do recurso; no mérito, por maioria de votos, deu-lhe provimento para, reformando a r. sentença, reconhecer a legitimidade do SESCON/MG para cobrar o

9 pagamento das contribuições sindicais postuladas na inicial e determinar o retorno dos autos à origem para apreciação do pedido, como se entender de direito. Tudo nos termos da fundamentação, parte integrante, vencido o Exmo. Desembargador Revisor. Belo Horizonte 27 de julho de Anemar Pereira Amaral Desembargador Relator