Terapêutica com Hormônios Bioidênticos
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- Luiz Felipe Oliveira Delgado
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1 Atualização em Terapêutica Hormonal 1 Terapêutica com Hormônios Bioidênticos Estriol Bioidêntico
2 Considerações Iniciais e Propriedades Conhecido também por Oestriol, o estriol (E3) é um dos três estrógenos principais produzidos pelo organismo. É encontrado em quantidades mínimas usualmente, tendo sua produção aumentada durante a gestação, sendo a placenta a responsável por sintetizar este composto a partir de sulfato de hidroxidehidroepiandrosterona (16-OH-DHEAS), um androgênio produzido pelo fígado e glândulas adrenais do feto. A placenta humana produz o hormônio pregnenolona a partir do colesterol, e este é convertido na glândula adrenal do feto em dehidroepiandrosterona (DHEA), um esteroide com 19 carbonos (C19) que é subsequentemente sulfonado e hidroxilado no fígado do feto a 16-OH- DHEAS. Por fim, a placenta converte o 16-OH- DHEAS a estriol, sendo o principal sítio de produção deste hormônio1. O estriol é essencial para a gravidez, assim como a progesterona, sendo os principais esteroides sexuais nesse período da vida da mulher. Além disso, o estriol apresenta eficácia terapêutica no tratamento de alguns sintomas da menopausa, principalmente sobre a atrofia e a secura vaginal2. 2 Em diversos países da Europa e em outros continentes, o estriol tem sido utilizado para tratar esses sintomas em função de seus efeitos benéficos sobre a vagina, cérvix e vulva, sendo que nos casos de atrofia ou secura vaginal na menopausa, que predispõe a ocorrência de vaginite e cistite, é o estrógeno mais eficaz e mais seguro, sendo empregado com sucesso3. Os níveis de estriol em mulheres não grávidas não são alterados de maneira significativa na menopausa, sendo similares também aos níveis encontrados em homens. Nas mulheres, tanto o estradiol, quanto a estrona são convertidos irreversivelmente a estriol, sendo este o produto final na metabolização destes dois primeiros hormônios4. O estriol é considerado o estrógeno mais fraco, uma vez que tem efeito mais curto e menor potência em comparação à estrona e ao estradiol. Apesar disso, dependendo da dosagem e da via de administração, o estriol pode apresentar efeito estrogênico desejável em tecidos alvos, como por exemplo, mucosa vaginal e uretral. A terapia tópica com estriol é comumente adotada no tratamento de pacientes com atrofia vaginal, mesmo com estriol apresentando 1/80 da potência do estradiol5.
3 De maneira similar aos outros hormônios bioidênticos, o uso do estriol bioidêntico é associado à ocorrência de menos riscos quando comparado à terapia com estrógenos não bioidênticos, fato que do ponto de vista de alguns clínicos se torna relevante6. O efeito benéfico do estriol sobre a citologia vaginal e uretral em pacientes na pós-menopausa com sintomas geniturinários tem sido relatado em alguns estudos clínicos, entre eles um estudo randomizado, duplo-cego e placebo controlado envolvendo sessenta e duas mulheres na pós-menopausa. As pacientes foram divididas em dois grupos e tratadas com estriol ou placebo, por quatro semanas. O estriol foi administrado por via oral e em dose diária (8mg/dia na primeira semana; 4mg/dia durante a segunda e terceira semanas e 2mg/dia na quarta semana). Após estas quatro semanas foi observada a influência benéfica do estriol sobre o epitélio da vagina e da uretra, de acordo com valores obtidos através do índice cariopicnótico, o qual é baseado no número de células dos diferentes extratos, dando uma ideia da ação estrogênica local7. 3 Outro estudo investigou os efeitos do estriol sobre a citologia uretral e vaginal em quarenta pacientes pós-menopáusicas com desordens urogenitais, as quais receberam estriol (0,5mg/dia) por via intravaginal nas duas primeiras semanas, seguido desta mesma dose, porém por uma a duas vezes na semana, nas quatro últimas semanas. Ao longo do tratamento foi observada uma melhora pronunciada e progressiva nos valores do índice cariopicnótico, demonstrando a eficácia do estriol no tratamento das desordens geniturinárias nestas pacientes8. Estudo envolvendo trinta e uma mulheres na menopausa, as quais não fizeram uso de terapia hormonal nos seis meses anteriores ao estudo, avaliou o efeito da administração intravaginal de estriol 1mg/dia por vinte e um dias e demonstrou a eficácia desta terapia em melhorar a atrofia urogenital, além de reduzir significativamente o desconforto, de acordo com as pacientes9. O estriol pode ainda ser administrado sob outras formas farmacêuticas, entre elas supositórios vaginais. Sugestões de Fórmulas Cápsulas de Estriol Bioidêntico7 Estriol... 2,0mg Administrar de uma a quatro cápsulas, uma vez ao dia ou conforme orientação médica. Creme Vaginal contendo Estriol Bioidêntico8 Estriol...0,5mg/g Creme Vaginal...qsp... 1g Mande 30g Aplicar 1g intravaginal ao dia durante as duas primeiras semanas, seguido de aplicação de 1g por semana a partir da terceira semana. *Utilizar aplicador vaginal.
4 Em estudo conduzido em setenta e duas mulheres na pós-menopausa supositórios contendo 0,5 ou 1,0mg de estriol foram administrados diariamente, por quatro semanas. Ao final do tratamento, ambas as doses mostram-se eficazes em melhorar os sintomas urogenitais em geral e as pacientes apresentaram boa tolerância ao tratamento. Além disso, foi observada melhora também em outros sintomas associados à menopausa, porém de maneira dose-dependente10. 4 Em estudo randomizado, duplo-cego e placebo controlado a eficácia da administração de óvulos contendo estriol foi avaliada em oitenta e oito mulheres pósmenopáusicas, as quais foram receberam óvulos intravaginais com 1mg de estriol ou placebo. As mulheres tratadas com estriol receberam um óvulo ao dia nas primeiras duas semanas e dois óvulos uma semanalmente a partir da terceira semana, até completar seis meses de tratamento. Após esse período foi relatada melhora significativa na atrofia urogenital nestas pacientes, em comparação ao grupo tratado com placebo, com 68% versus 16% das mulheres, respectivamente, apresentando melhora na incontinência urinária11. Mudanças nos Parâmetros Geniturinários após Tratamentos¹¹ Variáveis Grupo Tratado Grupo Controle Antes do Após Antes do Após Valores Tratamento Tratamento Tratamento Tratamento de P Secura Vaginal (%) , ,9 <0,001 Dispareunia 86,4 20,5 84,1 86,4 <0,001 (dor no ato Sexual) (%) Atrofia Urogenital (%) , ,2 <0,001 A terapia com estriol pode ser realizada para tratar os sintomas geniturinários isoladamente, porém ela é mais comumente utilizada em associação à terapia sistêmica com estradiol e progesterona.
5 Além de auxiliar no alívio dos sintomas, o estriol apresenta propriedades fisiológicas únicas associadas à redução do risco de desenvolvimento de câncer de mama, podendo reduzir, portanto, os riscos que têm sido atribuídos a terapia com estradiol3. Estudo randomizado, duplocego e placebo controlado avaliou a eficácia da terapia combinada com estriol intravaginal 0,5mg/dia, associada à terapia diária oral com 17-β-estradiol 50μg + Progesterona 5mg. O estriol foi administrado diariamente durante as primeiras três semanas de tratamento, e duas vezes na semana a partir da quarta semana, tendo o tratamento combinado duração total de quatro meses. Após o tratamento, as pacientes relataram melhora significativa nos sintomas urinários e no índice cariopicnótico, já a partir do primeiro mês de tratamento¹². 5 Indicações Atrofia do trato geniturinário relacionada à deficiência estrogênica, especialmente no tratamento das queixas vaginais como dispareunia, ressecamento e prurido; Prevenção das infecções recidivantes vaginais e do trato geniturinário inferior; Controle das queixas miccionais (como polaciúria e disúria) e incontinência urinária leve; Terapia pré e pós-operatórios em mulheres na pós-menopausa submetidas à cirurgia vaginal. Dose Posológica Proposta Oral 2-8mg/dia Estriol Bioidêntico Transdérmica 0,5mg/dia Efeitos Colaterais: irritação e prurido no local de aplicação, tensão ou dores mamárias. Literatura Consultada 1. Longcope C. Estriol production and metabolism in normal women. J Steroid Biochem Apr;20(4B): Melamed M, Castaño E, Notides AC, Sasson S. Molecular and kinetic basis for the mixed agonist/antagonist activity of estriol. Mol Endocrinol Nov;11(12): Holtorf K. The bioidentical hormone debate: are bioidentical hormones (estradiol, estriol, and progesterone) safer or more efficacious than commonly used synthetic versions in hormone replacement therapy? Postgrad Med Jan;121(1): Head KA. Estriol: safety and efficacy. Altern Med Rev 1998;3: Follingstad AH. Estriol, the forgotten estrogen? JAMA 1978;239: Rossouw JE, Anderson GL, Prentice RL, et al, for the Writing Group for the Women s Health Initiative Investigators. Risks and benefits of estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women: principal results from the Women s Health Initiative randomized controlled trial. JAMA 2002;288: van der Linden MC, Gerretsen G, Brandhorst MS, Ooms EC, Kremer CM, Doesburg WH. The effect of estriol on the cytology of urethra and vagina in postmenopausal women with genito-urinary symptoms. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol Sep;51(1): Heimer GM, Englund DE. Effects of vaginally-administered oestriol on post-menopausal urogenital disorders: a cytohormonal study.maturitas Mar;14(3): Chuery AC, Speck NM, de Moura KF, Belfort PN, Sakano C, Ribalta JC. Efficacy of vaginal use of topical estriol in postmenopausal women with urogenital atrophy. Clin Exp Obstet Gynecol. 2011;38(2): Bottiglione F, Volpe A, Esposito G, Aloysio DD. Transvaginal estriol administration in postmenopausal women: a double blind comparative study of two different doses. Maturitas Nov;22(3): Dessole S, Rubattu G, Ambrosini G, Gallo O, Capobianco G, Cherchi PL, Marci R, Cosmi E. Efficacy of low-dose intravaginal estriol on urogenital aging in postmenopausal women.menopause Jan-Feb;11(1): Palacios S, Castelo-Branco C, Cancelo MJ, Vázquez F. Low-dose, vaginally administered estrogens may enhance local benefits of systemic therapy in the treatment of urogenital atrophy in postmenopausal women on hormone therapy. Maturitas Feb 14;50(2): Raz R, Stamm WE. A controlled trial of intravaginal estriol in postmenopausal women with recurrent urinary tract infections. N Engl J Med Sep 9;329(11): Kirkengen AL, Andersen P, Gjersøe E, Johannessen GR, Johnsen N, Bodd E. Oestriol in the prophylactic treatment of recurrent urinary tract infections in postmenopausal women. Scand J Prim Health Care Jun;10(2): Hayashi T, Ito I, Kano H, Endo H, Iguchi A. Estriol (E3) replacement improves endothelial function and bone mineral density in very elderly women.j Gerontol A Biol Sci Med Sci Apr;55(4):B183-90; discussion B191-3.
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