USO DE PRODUTOS ADJUVANTES EM APLICAÇÕES AÉREAS E TERRESTRES DE INSETICIDAS NO CONTROLE DO BICUDO DO ALGODOEIRO 1

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1 USO DE PRODUTOS ADJUVANTES EM APLICAÇÕES AÉREAS E TERRESTRES DE INSETICIDAS NO CONTROLE DO BICUDO DO ALGODOEIRO 1 José Ednilson Miranda (Embrapa Algodão / miranda@cnpa.embrapa.br), Paulo Cesar Bettini (Syngenta Proteção de Cultivos Ltda.), Luiz Carlos Albuquerque Gusmão (Argus Aviação Agrícola Ltda.), Benedito Alves de Oliveira Neto (Fazenda Santa Maria do Mirante) RESUMO A adoção de critérios técnicos bem definidos para a pulverização de pesticidas é fundamental para evitar insucessos no controle fitossanitário e desperdícios significativos de produtos e trabalho, além de queda de produtividade. Este trabalho teve por objetivos a avaliação do controle químico do bicudo do algodoeiro através de pulverizações aéreas e terrestres, e com o uso de adjuvantes na suspensão inseticida. O trabalho foi realizado em área comercial da Fazenda Santa Maria do Mirante, Turvelândia, GO, durante a safra 2005/2006. Amostragens semanais durante as fases de florescimento e formação de capulhos foram realizadas. O nível de danos ou infestação foi avaliado através da percentagem de plantas injuriadas ou com presença do inseto e a produtividade de fibra foi registrada e submetida à análise de variância (p 0,05). Os resultados permitiram definir o uso do melaço de cana-de-açúcar como adjuvante na calda inseticida como alternativa interessante para o controle do bicudo do algodoeiro via terrestre. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, tecnologia de aplicação, Anthonomus grandis. INTRODUÇÃO O bicudo do algodoeiro se destaca como um dos grandes entraves para a cotonicultura devido ao seu alto potencial biótico e capacidade de destruição das estruturas frutíferas da planta. Embora o controle químico seja a estratégia mais utilizada, conhecimentos básicos sobre pulverização de inseticidas e outros produtos químicos têm sido ignorados e conseqüentes insucessos são comuns, resultando em desperdícios significativos de produtos e trabalho, além de queda de produtividade (BODE e BUTLER, 1983; MATUO, 1999). Em função do espectro de ação, da toxicidade, tenacidade e fitotoxicidade, os produtos fitossanitários devem ser recomendados e aplicados adequadamente, obedecendo-se a época, a dose e as diluições certas, a freqüência de aplicações, o período de carência e o manejo seguro (KIMATI et al., 1997). A grande maioria das aplicações de produtos fitossanitários é feita por meio de pulverizações, ou seja, pela geração de partículas líquidas onde a divisão do líquido em pequenas gotas ocorre nas pontas de pulverização, podendo estas ser consideradas como os componentes mais importantes dos equipamentos de pulverização hidráulica, por determinarem as características da pulverização emitida. (CUNHA e TEIXEIRA, 2003). O controle de indivíduos adultos de bicudo, do ponto de vista da tecnologia de aplicação, não é operacionalmente complicado, uma vez que o inseto nesta fase costuma ocupar a posição do terço superior das plantas de algodoeiro, o que favorece a exposição dos adultos aos produtos pulverizados 1 Fundo de Incentivo a Cultura do Algodão em Goiás (FIALGO).

2 para seu controle. Apesar disso, falhas na escolha, manutenção e/ou regulagem do equipamento são comuns e podem ser fatores responsáveis pelo insucesso do manejo da praga. Da mesma forma, os critérios de utilização de produtos e a adição de adjuvantes podem determinar uma pulverização eficiente (MIRANDA e BETTINI, 2006). Considerando que a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários na agricultura é fator preponderante para o sucesso do controle de pragas, doenças ou plantas daninhas, foi que elaboru-se este trabalho com o objetivo de avaliar e adequar o uso de produtos adjuvantes em aplicações aéreas e terrestres de inseticidas no controle do bicudo do algodoeiro. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em área de produção de algodão da Fazenda Santa Maria do Mirante, Turvelândia, GO. O algodão foi semeado em novembro de A adubação foi feita conforme os resultados da análise de solo. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições (Tab. 1). A parcela experimental correspondeu a 1800 m 2. Nos tratamentos com aplicação aérea foram aplicadas três faixas (tiros) de 20 m, abrangendo assim 60 metros de largura e 300 metros de comprimento. As linhas foram espaçadas em 90 cm entre si, com 8-10 plantas por metro linear. Tabela 1. Sistema de pulverização e formulação utilizada no experimento Avaliação do uso de formulações Baixo Volume no controle do bicudo. Trat. Sistema Formulação 1 Aéreo Inseticida + água (10 L/ha) 2 Aéreo Inseticida + melaço 10% + água (10 L/ha) 3 Aéreo Inseticida + óleo vegetal 1%+ água (10 L/ha) 4 Aéreo Inseticida + óleo vegetal 1% + água (5 L/ha) 5 Terrestre Inseticida + água (150 L/ha) 6 Terrestre Inseticida + melaço 5% + água (150 L/ha) 7 Terrestre Inseticida + melaço 10% + água (150 L/ha) As pulverizações dos produtos foram efetuadas quando o nível de controle de 5% de plantas com botões danificados for atingido. As amostragens foram realizadas semanalmente a partir da emissão do primeiro botão floral até o aparecimento do primeiro capulho, consistindo da análise de botão floral de tamanho médio (em torno de 6 mm de diâmetro) tomado aleatoriamente na metade superior do dossel das plantas, escolhidas também de maneira aleatória, durante caminhamento em ziguezague pelo interior da parcela. Em cada parcela, 20 plantas foram verificadas aleatoriamente quanto à presença de orifícios de alimentação ou oviposição e de indivíduos de bicudo no botão floral. O nível de danos ou infestação foi avaliado através da percentagem de plantas injuriadas ou com presença do inseto. Para a determinação da eficiência de controle foi utilizada a fórmula proposta por Henderson e Tilton (1955). Ao final do ciclo de cultivo, a produtividade dos tratamentos foi calculada. A produtividade foi submetida à análise de variância pelo procedimento PROC GLM do pacote estatístico SAS (SAS System, CO.) com esquema hierárquico com efeitos aninhados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostragem prévia demonstrou que a população de bicudos estava uniformemente distribuída pela área experimental, com valores que variaram entre 8,33 e 16,67% de plantas com presença de injúrias ou insetos adultos de bicudo (Tab. 2). Aos sete dias após a 1ª aplicação (7DA1A), a eficiência de controle foi maior no sistema aéreo em que à suspensão inseticida foi adicionada melaço a 10% (tratamento 2); no sistema terrestre a adição de melaço a 10% também proporcionou o menor nível de dano(tratamento 7). Tabela 2. Nível de dano do bicudo antes, 7 e 12 dias após a primeira aplicação de inseticidas via aérea e tratorizada, com ou sem adjuvantes (em percentagem de plantas com presença de danos e/ou indivíduos adultos) e percentagens de eficiência dos tratamentos efetuados (%E). Safra 2005/2006. Turvelândia-GO. Dados transformados em arco seno x. Trat. Sistema Formulação PREV 7DA1A %E 12DA1A %E 1 Aéreo Inseticida+ água (10L/ha) 16,67 16,67-15,00-2 Aéreo Inseticida+ melaço 10% + água (10L/ha) 12,50 6,67 46,7 13,33 0,00 3 Aéreo Inseticida+ óleo vegetal 1% + água (10L/ha) 12,50 21,67 0,00 26,67 0,00 4 Aéreo Inseticida+ óleo vegetal 1% + água (5L/ha) 12,50 13,33 0,00 18,33 0,00 5 Terrestre Inseticida+ água (150L/ha) 12,50 10,00 20,0 16,67 0,00 6 Terrestre Inseticida+ melaço 5% + água (150L/ha) 12,50 8,33 33,3 21,67 0,00 7 Terrestre Inseticida+ melaço 10% + água (150L/ha) 8,33 5,00 40,0 16,67 0,00 Aos 12DA1A, os níveis populacionais se elevaram e os tratamentos não apresentaram eficiência de controle, sugerindo que o efeito inseticida já havia cessado. A amostragem prévia à segunda aplicação também demonstrou novamente não haver grandes variações entre os níveis populacionais nos tratamentos ou seja, a população de bicudos estava uniformemente distribuída pela área experimental (Tab. 3). Tabela 3. Nível de dano do bicudo antes, 3 e 5 dias após segunda aplicação de inseticidas via aérea e tratorizada, com ou sem adjuvantes (em percentagem de plantas com presença de danos e/ou indivíduos adultos) e percentagens de eficiência dos tratamentos efetuados (%E). Safra 2005/2006.Turvelândia-GO. Dados transformados em arco seno x. Trat. Sistema Formulação PREV 3DA2A %E 5DA2A %E 1 Aéreo Inseticida+ água (10L/ha) 53,13 34,38-34,38-2 Aéreo Inseticida+ melaço 10% + água (10L/ha) 57,50 28,13 0,00 34,38 0,00 3 Aéreo Inseticida+ óleo vegetal 1% + água (10L/ha) 59,38 31,25 18,7 15,63 59,3 4 Aéreo Inseticida+ óleo vegetal 1% + água (5L/ha) 56,25 43,75 0,00 40,63 0,00 5 Terrestre Inseticida+ água (150L/ha) 56,25 25,00 31,3 12,50 65,7 6 Terrestre Inseticida+ melaço 5% + água (150L/ha) 50,00 15,63 51,7 6,25 80,7 7 Terrestre Inseticida+ melaço 10% + água (150L/ha) 59,38 18,75 51,2 18,75 51,2 C.V.% 16,62 23,14 23,85 Aos três dias após a 2ª aplicação (3DA2A), apenas os tratamentos no sistema terrestre com adição de melaço a 5 e 10% proporcionaram eficiência de controle acima de 50%. Embora tenha se verificado uma generalizada redução do nível populacional nos tratamentos, esta redução não chegou a promover a eficiência desejada. Aos 5DA2A a pulverização pelo sistema terrestre com adição de 5% de melaço como adjuvanteapresentou a maior percentagem de eficiência de controle (80,7%), seguida pela aplicação terrestre sem adjuvantes (65,7%) e pela aplicação aérea com adição de 1% de óleo vegetal.

4 Os maiores valores verificados para a produtividade de algodão foram encontrados nos tratamentos com aplicação terrestre de inseticida ao qual foi adicionado melaço de cana-de-açucar a 10% e melaço de cana-de-açúcar a 5%, respectivamente, os quais foram similares entre si (p<0,05) e superiores ao tratamento terrestre sem adjuvantes. No sistema aéreo, a maior produtividade foi alcançada no tratamento em que foi adiconada à calda 1% de óleo vegetal (Tab. 4). Tabela 4. Produtividade de algodão (em kg/ha em áreas onde o controle do bicudo foi feito através de aplicações de inseticidas via aérea e terrestre, com ou sem adjuvantes. Safra 2005/2006. Turvelândia-GO. Trat. Sistema Formulação 1 Aéreo Inseticida+ água (10L/ha) 1690,2 112,7 c 2 Aéreo Inseticida+ melaço 10% + água (10L/ha) 1536,3 102,4 c 3 Aéreo Inseticida+ óleo vegetal 1% + água (10L/ha) 2168,8 144,6 b 4 Aéreo Inseticida+ óleo vegetal 1% + água (5L/ha) 2652,1 176,8 a 5 Terrestre Inseticida+ água (150L/ha) 2833,3 188,9 b 6 Terrestre Inseticida+ melaço 5% + água (150L/ha) 3290,6 219,4 a 7 Terrestre Inseticida+ melaço 10% + água (150L/ha) 3436,5 229,1 a C.V.% 10,58 Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si entre cada sistema de aplicação pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Marcondes (2006), avaliando gotas de diâmetros medianos volumétricos entre 130 e 180 µm aplicadas em volumes de 60, 80 e 100, 120 e 150 L/ha na cultura do algodoeiro verificou que nenhum dos volumes testados interferiu sobre os níveis de controle obtidos para as principais pragas do algodoeiro durante todo o ciclo da cultura. Concluiu assim que é possível economizar água, tempo de aplicação e combustível mantendo ou até melhorando a eficiência de aplicação. O presente trabalho corrobora tal informação ao verificar que o volume de calda não foi o determinante para o melhor atingimento do alvo e a melhor produtividade. Por outro lado, o adjuvante melaço de cana-de-açúcar adicionado em suspensões aplicadas via terrestre incrementou a eficiência de aplicação e incrementou a produtividade. CONCLUSÕES O melaço de cana-de-açúcar utilizado como adjuvante em concentração de 10% na calda inseticida mostra-se uma alternativa promissora para o controle de pragas na cultura do algodoeiro, especialmente quando aplicado por via terrestre e em áreas que se situam próximo a usinas de produção de açúcar e álcool. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO Neste trabalho constatou-se a viabilidade do uso do melaço de cana-de-açúcar como adjuvante na pulverização via terrestre de inseticidas contra o bicudo do algodoeiro, configurando-se numa alternativa promissora para incrementar a eficiência do controle químico.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BODE, L.E., BUTLER, B.J. New techniques and equipment for ground application of herbicides in the USA. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF PLANT PROTECTION, 10., 1983, Brighton, England Anales... CUNHA, J.P.R.; TEIXEIRA, M.M. Escolha de bico para pulverização. Cultivar Máquinas, n.18, p.8-11, Mar HENDERSON, C.F.; TILTON, E.W. Tests with acaricides against the brown wheat mite. Journal of Economic Entomology, v.48, n.1, p , KIMATI, H.; FERNANDES, N. G.; SOAVE, J.; KUROZAWA, C.; BRIGNANI NETO, F.; BETTIOL, W. Guia de fungicidas agrícolas. 2 ed. Jaboticabal: Grupo Paulista de Fitopatologia, v.1, 224p. MARCONDES, F.S.F. Possibilidade de redução da calda utilizada no tratamento fitossanitário do algodoeiro f.Tese ( Mestrado) - Fundação Educacional de Ituverava, Ituverava, SP. MATUO, T. Tecnologia de aplicação de defensivos. [S.l.]: Funep, p. MIRANDA, J.E..; BETTINI, P.C. Resistência ou não. Revista Cultivar, n.84, p.18-22, Abr