Questões Aplicadas no Exame de Ordem (OAB/RJ) e outros Concursos; Referências Bibliográficas.
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- Sônia Caminha Cordeiro
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1 ASSUNTO: Remédios Constitucionais (Texto 7) OBJETIVOS: Conceituar Remédios Constitucionais; Identificar e caracterizar os principais Remédios Constitucionais. SUMÁRIO: I INTRODUÇÃO II DESENVOLVIMENTO 1. Habeas Corpus; 2. Habeas Data; 3. Mandado de Segurança; 4. Mandado de Segurança Coletivo 5. Mandado de Injunção; 6. Ação Popular; 7. Direito de Petição; 8. Direito de Certidão; e 9. Ação Civil Pública. III CONCLUSÃO Questões Aplicadas no Exame de Ordem (OAB/RJ) e outros Concursos; Referências Bibliográficas.
2 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 2 I INTRODUÇÃO Os Remédios Constitucionais são instrumentos colocados, pela Lex Mater, à disposição das pessoas para proteção de seus direitos fundamentais. Portanto, os principais meios de tutela das liberdades consagrados pela CRFB são: Habeas Corpus (art. 5º, LXVIII), Mandado de Segurança Individual (art. 5º, LXIX), Mandado de Segurança Coletivo (art. 5º, LXX), Habeas Data (art. 5º, LXXI), Mandado de Injunção (art. 5º, LXXII), Ação Popular (art. 5º, LXXIII). Vale observar que alguns autores, dentre estes Alexandre de Moraes, Guilherme Peña, acrescentam outros remédios a esse contexto: o Direito de Petição (art. 5º, XXXIV, a ), o Direito de Certidão (art. 5º, XXXIV, b ), e a Ação Civil Pública (art. 129, III, da CRFB). Por fim, Uadi Bulos aponta algumas denominações que a doutrina utiliza para representar esses instrumentos de tutela das liberdades: remédios constitucionais - no sentido de que corrigem atos viciados, impugnando-os, de forma a restaurar a saúde da liberdade pública lesionada ou ameaçada de lesão; garantias constitucionais com base na idéia de que visam assegurar o gozo de direitos violados ou em vias de violação, limitando os atos públicos e privados; ações constitucionais enquanto meios de provocar a atuação do poder judiciário; ou writs constitucionais na acepção de que consagram ordens a ser cumpridas pelos Poderes Públicos. 1 Habeas Corpus Esse instrumento de tutela das liberdades tem sua raiz histórica na Inglaterra, sendo a primeira garantia de direitos fundamentais concedida pelo monarca João Sem Terra, na
3 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 3 Magna Carta, em 1215, e posteriormente formalizada pelo Habeas Corpus Act, em A constitucionalização do Habeas Corpus no Brasil ocorreu em 1891, mas sua previsão expressa deu-se no Código Criminal de 1930, embora a Constituição de 1891 tenha tutelado a liberdade de locomoção e vedado qualquer hipótese de prisão arbitrária. Habeas Corpus é um remédio constitucional que objetiva tutelar direito de locomoção próprio ou de terceiro. Conforme o art. 5º, LXVIII, da Lex Legum, concederse-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (art. 142, 2º, da CRFB; arts. 647 ao 667 do CPP). O autor da ação constitucional de habeas corpus recebe o nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual se impetra, paciente (pode ser o próprio impetrante). Por outro lado, a autoridade que pratica a ilegalidade ou abuso de poder, denomina-se autoridade coatora (coator) ou impetrado. 1.2 Fundamento Normativo e Natureza Jurídica O habeas corpus tem como fundamento normativo constitucional o art. 5º, LXVIII, da CF/88, e como fundamento legal os arts. 647/667 que regulamentam esse dispositivo da Lei Maior. Conforme Alexandre de Moraes, o habeas corpus é uma ação constitucional de caráter penal e de procedimento especial, isenta de custas e que visa evitar ou cessar violência ou ameaça na liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Nessa mesma linha, Guilherme Peña explica que o habeas corpus possui natureza dúplice, isto é, sob o aspecto constitucional, é recoberto da natureza jurídica de remédio
4 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 4 constitucional. Por outro ângulo, sob o aspecto processual, o habeas corpus é revestido da natureza jurídica de ação penal não-condenatória, de procedimento especial e isenta de custas. Vale observar que por ser uma ação constitucional, as normas legais, como normas instrumentais, ao deixarem de existir, não extinguem tal instituto, por ser constitucional. Apesar de ser uma ação de caráter penal, não existe condenação ou sanção, mas uma impugnação de situação cerceadora de direito. Faz-se necessário ressaltar que o impetrante poderá ser qualquer pessoa física ou jurídica (nacional ou estrangeira), o Ministério Público (art. 654 do CPP), em sua própria defesa (quando for pessoa física) ou de terceiro, mas sempre em favor de pessoa física (paciente). O habeas corpus era empregado de forma ampla até por volta 1934, mas hoje está restrito à liberdade de locomoção (ir, vir, permanecer), ainda, toda vez que a pena for de multa não cabe aplicar esse instituto. 1.3 Pressupostos Par impetrar o habeas corpus é necessário que o paciente esteja lesado ou ameaçado de lesão, por violência (física) ou coação (moral). Assim, vale assinalar que esta violência ou coação deve-se a uma ilegalidade (ausência de legalidade) ou a um abuso de poder (desvio de finalidade). Obs.: violência legal a prisão de condenados, lesionados no seu direito de locomoção. Neste caso, não caberá habeas corpus por falta de pressuposto. 1.4 Competência A competência originária para apreciar a ação de habeas corpus é determinada, em regra geral, de acordo com a
5 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 5 autoridade coatora, mas existem exceções previstas na Constituição, que se atribui em razão do paciente. Assim, observa-se a seguir os órgãos ou autoridades com competência para processar e julgar habeas corpus: STF - quando for paciente qualquer das pessoas nas alíneas b e c do art. 102, conforme o art. 102, I, d ; 102, I, i ; 102, II, a, da CRFB; STJ - quando o coator ou paciente for - art. 105, I, c, pertinente às pessoas da alínea a, ou quando coator for autoridade prevista no art. 105, c, in fine; art. 105, II, a, da CRFB (decisão denegatória: é o não conhecimento ou ter havido por prejudicado); TRFs - art. 108, I, d, processar e julgar originariamente, quando a autoridade coatora for juiz federal. Julgar em grau de recurso as causas decididas pelos juízes federais e estaduais no exercício da competência federal da área de jurisdição, art. 108, II, da CRFB; Juízes Federais - art. 109, VII, da CRFB; Justiça Eleitoral - art. 121, 3º e 4º, V, combinado com o art. 105, I, c, da CRFB; Tribunais Estaduais a competência está na Constituição do Estado-membro (residual). 1.5 Legitimação Ativa: no pólo ativo estará o impetrante ou paciente, que poderá ser qualquer pessoa física ou jurídica; nacional ou estrangeira; o MP (art. 654 do CPP); quando o impetrante não coincidir com o paciente, irá ocorrer a hipótese de substituição processual, pois se está impetrando em nome próprio, mas em favor de terceiro.
6 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 6 Passiva: A legitimação passiva é do coator ou impetrado. órgão ou autoridade quando pratica ilegalidade ou abuso de poder; particular quando pratica uma ilegalidade (não pode praticar abuso de poder). 1.5 Modalidades ou Espécies de Habeas Corpus Quanto ao objeto há duas modalidades de habeas corpus. A primeira espécie denomina-se preventivo e aplica-se quando alguém se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Neste caso, a restrição à locomoção ainda não se consumou, o impetrante poderá obter o salvo-conduto (art. 660, 4º, do CPP) para garantir o seu direito de ir e vir ou permanecer. A segunda modalidade é o habeas corpus liberatório ou repressivo é aquele cabível quando a liberdade de locomoção do paciente já foi lesada. Logo, para cessar tal violência ou coação, compete ao juízo ou tribunal que deferir a ordem de habeas corpus, conceder também o alvará de soltura (art. 660, 1º, do CPP). Inclusive, pode ocorrer a concessão do habeas corpus de ofício, isto é, sem provocação pela parte interessada. Tal fato pode ser materializado quando, no curso do processo, a autoridade judicial verificar que alguém está sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal em sua liberdade de locomoção (art. 654, 2º do CPP). 1.6 Impetração contra Ato de Particular A doutrina majoritária e a jurisprudência entendem que cabe habeas corpus contra ato de particular. Isto é, o CPP deve ser interpretado à luz da CF e esta em momento algum
7 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 7 restringe o cabimento de habeas corpus a uma autoridade que ocupe cargo público. O art. 5º, LXVIII, da CF diz que cabe habeas corpus sempre que houver ameaça ou lesão ao direito de liberdade, diversamente do constante no inciso LXIX (MS) do mesmo dispositivo, não faz alusão à autoridade pública (sujeito passivo), portanto, caberá habeas corpus. Além disso, o cabimento de Inquérito Policial não exclui a possibilidade de impetração de HC. De outro lado, a corrente minoritária que entende não caber Habeas Corpus contra ato de particular, utiliza o argumento de que todos os artigos do CPP que tratam desse instituto fazem menção a uma autoridade e esta não pode ser um particular. Por último, o particular pode cometer delitos, caso de violência arbitrária, cárcere privado, dentre outros. Os particulares não praticam abuso de poder, mas ilegalidade. Exemplos que admitem HC: 1) Existe uma Fazenda onde os colonos recebem o pagamento do Fazendeiro através de dinheiro ou vale, de modo que ninguém pode sair desse local sem quitar o pagamento previamente ajustado com o Fazendeiro. 2) Caso de pessoa internada em uma Clínica Particular. Essa pessoa tem alta, mas fica retida para quitar a dívida que possui com o Hospital. 3) Internação compulsória de pais idosos, não interditos, por um filho ingrato e não solidário. 1.7 Punições Disciplinares Militares O art º, da CRFB estabelece não caber habeas corpus em relação à punição disciplinar militar, isto é, quanto ao mérito da punição. Conforme jurisprudência do STF, existe a impossibilidade de se analisar o mérito da punição disciplinar, mas isto não abrange os pressupostos de legalidade (HC , Min. Moreira Alves; RE RS, rel. Min. Ellen Gracie).
8 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 8 Exemplos desses pressupostos de legalidade, sobre os quais, se violados, podem ser impetrado habeas corpus: hierarquia; poder disciplinar, o ato deve estar ligado ao exercício da função, aplicação da pena previamente estipulada nos regulamentos disciplinares (nullum crimen nulla poena sine lege - não há crime sem lei anterior que o defina e não há pena sem prévia cominação legal princípio da legalidade dos crimes e das penas), dentre outros. Por fim, faz-se assinalar que a regra supracitada também se aplica em relação aos militares dos Estadosmembros, do Distrito Federal e dos Territórios (art. 42 1º, da CRFB). 2 Habeas Data O Habeas Data é um instrumento introduzido pela CF/88, colocado ao dispor das pessoas físicas ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras, para que solicitem ao Poder Judiciário a exibição ou retificação de dados constantes em registros públicos ou privados. Nesse rumo, esse novo remédio constitucional (art. 5º, LXXII, da CF/88) tem como finalidade: assegurar o conhecimento ou retificação de informações (erradas ou imprecisas, apesar de verdadeiras e corretas, desatualizadas) relativas a dados pertinentes à pessoa do impetrante; retificar dado, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; anotação de contestação ou explicação sobre dados verdadeiros (Lei 9.507, art. 7º, III). Essa garantia constitucional não se confunde com o direito de obter certidões (demonstra-se a defesa de direitos e
9 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 9 pleiteia informações de interesse pessoal - art. 5º, XXXIV, b, da CF), ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (art. 5º, XXXIII, da CF), neste caso, havendo recusa desses direitos, o remédio aplicado será o mandado de segurança, e não o habeas data. Por outro ângulo, se o pedido for para assegurar informações relativas à pessoa do impetrante, já vimos que o remédio cabível será o habeas data. Trata-se de uma ação personalíssima, somente a pessoa do impetrante pode fazê-la. Inclusive, nota-se que essas informações pessoais são muitas vezes armazenadas em entidades governamentais ou empresas privadas de caráter público (colhe informações para transmitir a terceiros), v.g., SPC, SERASA, Empresas de Mala Direta, dentre outros. 2.1 Natureza Jurídica O habeas data foi inspirado na Carta portuguesa de 1976 e possui natureza jurídica ambivalente ou mista. Isto é, ao mesmo tempo em que apresenta a face de uma autêntica ação mandamental (concede ao impetrante o direito líquido e certo de obter informações), usufrui a índole constitutiva (possibilita a retificação de dados). Portanto, em decorrência da sua natureza jurídica, o habeas data qualifica-se como ação constitucional, de conteúdo cível e rito sumário. 2.2 Fundamento Normativo Art. 5º, LXXII, da CF/88; Lei 9.507/97
10 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho Legitimação Ativa: pessoa física ou jurídica; nacional ou estrangeira. Passiva: Entidades que possuem registros de dados: governamentais; ou de caráter público. 2.4 Cabimento Os requisitos, condições ou pressupostos para a concessão do habeas data vêm insculpidos na Lex Mater e auxiliada pela Lei 9.507/97. De acordo com STF e STJ, há entendimento pacífico que exige o prévio esgotamento da via administrativa, para que seja impetrado o habeas data. Faz-se assinalar que o cabimento de tal instituto não se aplica quando os dados e registros forem imprescindíveis à segurança do Estado e da sociedade (art. 5º, XXXIII, da CF/88), mas isso é muito discutível na doutrina e na jurisprudência. Por fim, o art. 21 da Lei 9.507/97 que regulamenta o art. 5º, LXXVII, da CF, estabelece ser gratuito o procedimento administrativo para acesso a informações, retificação de dados, para anotações de justificação, bem como a ação de habeas data. 2.5 Competência Os órgãos ou autoridades com competência para processar e julgar o habeas data são: STF - art. 102, I, d ; 102, I, r ; 102, II, a, da CRFB; STJ - art. 105, I, b ; TRFs - art. 108, I, c ;
11 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 11 Juízes Federais - art. 109, VIII, da CRFB; TSE - art. 121, 4º, V, da CRFB; Justiça do Trabalho art. 114, IV; Tribunais Estaduais a competência está na Constituição do Estado-membro (residual). Exemplos do Prof. Guilherme Peña: 1)O habeas data pode ser utilizado para retificar informações no SERASA, Tele-cheque, SPC, etc. Também pode ser utilizado sobre dados de um parente falecido junto aos registros militares, pois os sucessores têm legitimidade para obter tais informações. 2) Havia um site da Secretaria de Turismo de Alagoas onde se divulgava as praias do Estado. Em uma das fotos havia imagem de uma mulher andando pela areia. Entretanto, esta mulher era juíza no Rio de Janeiro e estava passeando em plena quarta-feira numa praia de Maceió. Esta foto era uma prova de uma falta disciplinar da juíza. Ela queria retirar a foto do site. Caberia habeas data? 3)A Internet é um banco de dados e quanto a isso não há nenhuma dúvida, porque ela é um banco de dados público, fornece dados e informações ao público. Há dúvida quanto a possibilidade de manipulação de habeas data contra dado constante na Internet. 4) Para Guilherme Beltrão Martins (PUC/MG) a Internet á banco de dados que embora não seja uma entidade do Governo tem caráter público e neste caso o habeas data deve ser impetrado em face do provedor nacional, pois em primeiro lugar, esta é a única pessoa obrigatoriamente conhecida, inclusive os provedores estrangeiros possuem filiais no Brasil. Em segundo lugar, o provedor é a única pessoa com condições técnicas capazes de retirar o site do ar. Em terceiro lugar, este é um risco inerente à atividade do provedor, o que não o impede de ingressar com ação regressiva em face de quem tiver colocado no site imagens ou informações indevidas. 3. Mandado de Segurança Individual O mandado de segurança é uma criação brasileira, proveio da Constituição de 1934 e foi inspirada na teoria brasileira de habeas corpus. O mandado de segurança individual é direcionado à tutela do direito individual. Trata-se de uma ação constitucional de natureza cível, colocado ao dispor de toda pessoa física ou jurídica para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (art. 5º, LXIX, da CF/88).
12 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 12 Existirá o direito líquido e certo, quando o impetrante tiver a possibilidade de demonstrá-lo através de prova documental inequívoca, no momento em que a ação for iniciada. Comentários sobre o Conceito: direito líquido e certo (finalidade) a doutrina faz a correção do uso dessa terminologia, pois todo direito, se existente, é líquido e certo. Os fatos é que deverão ser líquidos e certos para o cabimento do Writ; ilegalidade ou abuso de poder- ilegal é o ato que não se submete à lei e aos princípios do ordenamento jurídico vigente (normalmente provém de ato vinculado). Vale destacar que o abuso de poder (em geral se reporta a ato discricionário) está relacionado à idéia de ilegalidade, pois basta que a autoridade transcenda de seu poder discricionário, além de sua competência, para se configurar tal hipótese. lesado o dano é concretizado, logo se aplica o mandado de segurança repressivo; ameaçado de lesão existe a possibilidade de consumação do dano, justo receio ou indícios razoáveis, nesta situação impetra-se o MS preventivo; existem órgãos públicos que mesmo despersonificados possuem capacidade processual, assim constituem universalidades reconhecidas por lei: espólio, massa falida, condomínio de apartamentos. ato comissivo ou omissivo a autoridade pública por meio de atos, comissivos ou omissivos, pode ensejar o MS, quando contrariar a lei, usurpar ou invadir funções, inexistir balizamento legal para materialização de sua ordem, dentre outras; todas as entidades são dotadas de capacidade jurídica, logo possuem capacidade processual.
13 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 13 a lei prever órgãos independentes com capacidade processual, tais como os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário com sede constitucional, MP, TCU. Inclusive, vale assinalar que a Mesa do Congresso é um órgão, que como todo órgão público é despersonificado, mas possui capacidade processual, assim como a Presidência do Executivo, do Tribunal de Contas. existem, ainda, os órgãos autônomos com capacidade processual prevista em lei - ministérios, secretarias, superintendências, dentre outros. 3.1 Fundamentos Normativos Art. 5º, LXIX, da CRFB; Lei 1.533/51; Lei 9.800/99; Lei /06; Lei / Natureza Jurídica O mandado de segurança possui natureza jurídica dúplice, isto é, no campo constitucional trata-se de um remédio e no processual é sistematizado como uma ação cível. Assim, tal instituto se desenvolve por meio de uma ação constitucional de índole civil, cujo objeto é a proteção de direito líquido e certo, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica, no exercício de atribuições do direito público. 3.3 Legitimação O legitimado ativo, sujeito ativo ou impetrante é o detentor de direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data. Exemplos: pessoas físicas (brasileiras ou não, residentes ou não); jurídicas, órgãos públicos despersonalizados, porém com capacidade processual (Chefias dos Executivos, Mesas do Legislativo); universalidades de bens e direitos (espólio,
14 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 14 massa falida, condomínio); agentes políticos (governadores, parlamentares); o MP; dentre outros. Por outro lado, o legitimado passivo, sujeito passivo ou impetrado é a autoridade coatora, responsável pela ilegalidade ou abuso de poder, autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Assim, a autoridade é o agente público investido de poder de decisão para anular o ato praticado de forma lesiva, logo não se confunde com o executor. Exemplo: O porteiro, que ficou na entrada do prédio e fechou o portão a mando de uma autoridade, está investido no poder de executar. Deve-se impetrar o MS contra a autoridade que deu a ordem e não contra o executor (a autoridade detém o poder de decisão e o agente de execução). Conforme o STF, há necessidade de indicar com absoluta certeza quem é a autoridade coatora, a fim de se obter êxito no pleito. Por último, nessa mesma linha a doutrina e a jurisprudência vêm entendendo caber impetração de MS em face de diretor de estabelecimento particular de ensino, isto dento do conceito ampliativo de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 3.4 Competência A competência para processar e julgar o MS vai ser definida pela categoria da autoridade coatora e sua sede funcional, sendo definida nas leis infraconstitucionais e na própria Constituição: STF art. 102, I, d; 102, II, a, da CF; STJ art. 105, I, b; 105, II, b, da CF (Súmula 624 do STF; S. 41 do STJ; art. 21, VI, da LOMAN); TRFs art. 108, I, c, da CF; Tribunais Federais art. 109, VIII, da CF;
15 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 15 Tribunais Estaduais constituições estaduais (competência residual). 3.5 Prazo para Impetração, Finalidade e Conseqüência O prazo é de 120 dias, conforme o art. 18 da Lei 1533/51, inclusive trata-se de um prazo decadencial, pois não está sujeito a interrupção ou suspensão (S. 632/STF). Faz-se necessário ressaltar que, muitas vezes, para evitar o perecimento do objeto, o impetrante poderá solicitar concessão de liminar, desde que demonstre o fummus boni iuris e o periculum in mora (fumaça ou aparência de bom direito e perigo na demora ou probabilidade de dano irreparável). Por fim, se a finalidade do MS é a proteção de um direito líquido e certo, lesado ou ameaçado de lesão. A conseqüência desse importante instrumento de tutela das liberdades públicas é a invalidação ou supressão de ato de autoridade ou agente de pessoa jurídica no exercício do Poder Público. Exemplos: 1) Se o ato da autoridade for comissivo, impetra-se o MS com a finalidade de invalidação dos efeitos dessa ação sobre os direitos violados (ato comissivo pleiteia-se a invalidação). 2) Situação em que se impetra um habeas data (após esgotar a via administrativa) e não se obtém resposta do órgão público. Então, ao final de 15 dias (prazo previsto na Lei para se obter certidão), impetra-se o MS para suprir a omissão (ato omissivo pleiteia-se a supressão). 4. Mandado de Segurança Coletivo O mandado de segurança coletivo foi criado pela CF/88 e destina-se a tutelar os direitos metaindividuais, isto é, os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (art. 5º, LXX, da CF/88). Dessa forma, iremos ressaltar
16 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 16 principalmente os pontos não comuns de ambos, em face de já termos analisado o MS Individual. Esse novo remédio constitucional é espécie do gênero mandado de segurança, sendo idênticos os pressupostos constitucionais para a impetração de ambos. Requisitos para impetração do mandamus coletivo: proteger direito líquido e certo; não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data"; contra ato ou omissão, marcado pela ilegalidade ou abuso de poder; praticado por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Cumpre observar que o mandado de segurança individual e o mandado de segurança coletivo não se confundem, dado que no primeiro há tutela dos interesses individuais (art. 5º, LXIX, da CF/88), enquanto o segundo objetiva a proteção dos interesses e direitos metaindividuais (art. 5º, LXX, da CF/88). Inclusive, vale ressaltar que as principais diferenças entre tais instrumentos ocorrem quanto ao seu objeto e a legitimação ativa, conforme veremos a seguir. 4.1 Objeto do Mandado de Segurança Coletivo Esse remédio constitucional tutela os direitos coletivos líquidos e certos, em sentido amplo, logo abrangem: direitos difusos são os transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato (art. 81, I, do CDC). Ex.: dano ao meio ambiente (o dano atinge a todos, comunitário, impossível delimitar a repercussão da ofensa) defesa do consumidor, meio ambiente, flora, fauna, aterro de lagoa causando dano paisagístico, risco na utilização do combustível metano (minas de carvão), queima da palha de cana-de-açúcar, destruição do peixe tambaqui, dentre outros; direitos coletivos em sentido estrito são os transidividuais de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
17 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 17 contrária por uma relação jurídica base (art. 81, II, do CDC). Trata-se de direitos relativos a uma coletividade, adstrito ao grupo, classe ou categoria. Ex.: ações relacionadas a expurgos inflacionários com caderneta de poupança e FGTS, conflitos envolvendo os direitos do aposentado, v.g., equivalência do benefício para os aposentados em relação aos que estão em atividade; reajuste da tabela do imposto de renda, taxa de lixo ou de iluminação pública; progressividade do IPTU; ações contra as mensalidades escolares abusivas ou ilegais (pode ser por ação civil pública, a requerimento do MP), ainda que sejam interesses individuais homogêneos de origem comum (art. 129, III, da CF/88); aquisição obrigatória de um Kit de primeiros-socorros para utilizar nos veículos; direitos individuais homogêneos são os interesses individuais decorrentes de origem comum (art. 81, III, do CDC). Estes direitos envolvem uma pluralidade de pessoas e decorrem de uma origem comum, contribuem para evitar as denominadas causas repetitivas Ex.: desastres, relações de consumo, consumidores vítimas de uma publicidade enganosa, litígios envolvendo funcionários, empregados, investidores, deficientes, idosos, crianças. 4.2 Legitimidade Ativa Conforme o art. 5º, LXX, da CF/88, o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: partido político com representação no Congresso Nacional; organização sindical; entidade de classe; ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Sobre o partido político com representação no Congresso Nacional surge a necessidade de ter pelo menos um parlamentar, na Câmara dos Deputados ou no Senado. Quanto ao tempo de funcionamento exigido à associação legalmente constituída, um ano, o objetivo é que esta não seja criada apenas para impetrar o MS Coletivo e depois se extinga, sem motivo justificável. Inclusive, trata-se de verdadeira substituição processual (legitimação extraordinária) das entidades
18 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 18 representando direitos alheios de seus associados. Ainda, aplicam-se as regras pertinentes à ação civil pública (Lei 7.347/85), cuja decisão produz efeitos erga omnes, exceto se for julgado improcedente por insuficiência de provas. Por último, conforme Michel Temer, os objetivos buscados com a criação do MS Coletivo são: fortalecimento das organizações sindicais e um meio de pacificar as relações sociais, que poderiam gerar milhares de litígios, pelo Poder judicante. 5 Mandado de Injunção A Lei Maior estabelece que se concederá Mandado de Injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5º, LXXI, da CF/88). Faz-se necessário observar que o Mandado de Injunção, juntamente com o Mandado de Segurança Coletivo e o Habeas Data foram criados pela CF/88. Existem dois requisitos constitucionais para o Mandado de Injunção: falta de norma regulamentadora para efetivar direitos, liberdades, ou prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (omissão do Poder Público); inviabilidade do exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas supramencionados, em face de falta de normatividade deixada por normas não auto-aplicáveis ou de eficácia limitada. Obs.: 1)normas de eficácia limitada são aquelas que, no momento em que a Constituição é promulgada, dependem de lei para regulamentá-las. 2) são chamadas de normas de eficácia relativa, normas não auto-aplicáveis, normas não auto-executáveis 3) Por último, as normas de Eficácia Limitada são divididas em dois grandes grupos, conforme JAS: normas de princípio institutivo (ou organizatório, Ex.: arts. 18, 2º; 22, único; 25, 3º, da CF/88) e normas de princípio programático (Ex.: arts. 196 direito à saúde; 205 direito à educação, da CF/88).
19 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho Natureza Jurídica O mandado de injunção possui natureza jurídica dúplice, pois sob o aspecto da Lei Maior trata-se de um remédio constitucional. Por outro lado, sob o aspecto processual a sua natureza jurídica é revestida de uma ação cível, cuja pretensão individual ou plúrima, pode ser pleiteada em juízo ou tribunal e submetida a procedimento especial de jurisdição contenciosa. 5.2 Mandado de Injunção versos ADIn por Omissão O Mandado de Injunção, assim como a ADIn por Omissão (ADIO), surge para curar uma doença denominada síndrome de inefetividade das normas constitucionais. Isto é, existem normas constitucionais que, no momento em que a Constituição é promulgada, não têm a capacidade de produzir todos os seus efeitos, necessitando de leis integrativas infraconstitucionais para viabilizar suas efetividades. Contudo, o mandado de injunção não se confunde com a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, apesar de ambas tratarem do mesmo assunto: a inércia inconstitucional. Diferenças Mandado de Injunção ADI por Omissão (ADIO) Identidade Efeitos Sentença da (art. 5º, LXXI, da CF/88) Remédio (instrumento) utilizado para tutelar direitos subjetivos constitucionais no caso concreto (garantia individual). Inter Partes (para os seguidores da teoria concretista individual, v.g., maioria do STF); Erga Omnes até que sobrevenha norma integrativa pelo Legislativo (conforme Teoria Concretista Geral,. Ex.: julgamento do STF em 2007, que determinou a aplicação, (art. 103, 2º, da CF/88) Instrumento (ação) de defesa abstrata da constituição, utilizado em processo objetivo (garantia da Constituição). Erga Omnes.
20 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 20 Competência da Ação Legitimidade Ativa Legitimidade Passiva Objeto ou Finalidade Quorum no que couber, da lei de greve vigente no setor privado Lei n /89 ausência de regulamentação do art. 37,VII, da CF, tendo sido impetrados MI 670/ES que buscava assegurar o direito de greve para os Policiais Civis/ES; MIs 708 e 712). Mandado de Injunção (art. 5º, LXXI, da CF/88) STF CF, arts.102,i, q; 102, II, a ; STJ art.105, I, h, da CF; TSE art. 121, 4º, V, da CF; TRF e Juízos Federais art. 109, I, da CF; e TJs dos Estados art. 125, 1º, da CF. Qualquer pessoa, indivíduo, partidos, sindicatos, associações, MP (LC n. 75) etc. O STF admitiu o MI Coletivo (para os membros ou associados), por analogia são legitimadas ativas as mesmas entidades do MS Coletivo. Recai sobre o sujeito inibidor do exercício do direito. Aplica-se na falta de normas constitucionais (de eficácia limitada) definidoras de direitos inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Juízo Monocrático; Juízo Colegiado, por maioria absoluta (art. 97 da CF/88). ADIn por omissão (art. 103, 2º, da CF/88) Privativa do STF. Os sujeitos enumerados no art. 103, 2º, da CF/88. Incide sobre o ente estatal competente para elaborar a norma. Cientificar o Poder Legislativo para editar regulamentação necessária e complementar de norma constitucional (de eficácia limitada). Se for Órgão Adm, deverá fazer a lei no prazo de 30 dias, sob pena de responsabilidade. Aplica-se de forma mais ampla. Deliberação oito Ministros do STF (art. 22 da Lei n /99); Votação pelo menos seis Ministros (art. 23 da Lei n /99);. 5.2 Teorias sobre os Efeitos da Decisão Por último, em consonância com Alexandre de Moraes sobre os efeitos da decisão do MI, a doutrina e a
21 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 21 jurisprudência são controvertidas, senão observemos as posições do STF: posição concretista geral através de normatividade geral, o STF legisla no caso concreto, produzindo a decisão efeitos erga omnes até que sobrevenha norma integrativa pelo Poder Legislativo (MIs 670/ES, 708 e 712); posição concretista individual direta a decisão, implementando o direito, valerá somente para o autor do MI; posição concretista individual intermediária julgando procedente o MI, o Judiciário fixa ao Legislativo prazo para elaborar a norma regulamentadora. Findo o prazo e permanecendo a inércia do Legislativo, o autor passa a ter assegurado o seu direito (MI RJ; MI 431-5); posição não concretista a decisão apenas decreta a mora do poder omisso, reconhecendo-se formalmente a sua inércia (MI 107/DF) Assim, conforme jurisprudência do STF sobre o tema, a posição é no sentido de que o Judiciário não pode produzir norma. Normalmente suas deliberações são no sentido de que se a norma não for produzida dentro do prazo fixado na decisão do mandado de injunção, a entidade respectiva será responsabilizada por perdas e danos. Dessa forma, o STF fixa um prazo para a norma ser produzida, sob pena de responsabilidade do respectivo ente que tenha a obrigação de produzi-la. Ex.: Fixa prazo de um ano para que os juros sejam regulamentados. Caso a norma não seja produzida neste período, caberá ação de perdas e danos contra a União. 6 Ação Popular É um remédio constitucional, posto a disposição de qualquer cidadão para obter do Poder Judiciário a invalidação de ato ou contrato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade pública, ao meio
22 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 22 ambiente e ao patrimônio histórico e cultural da União Estados, DF e Municípios. Historicamente, tal instituto foi elevado ao nível constitucional em 1934, retirada da Constituição de 1937, mas retornou na de 1946 e permanece até os dias atuais, cuja Lei Maior em seu art. 5º, LXXIII, assim vaticina o seu emprego de forma ampliada: qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Portanto, a ação popular (AP) objetiva possibilitar qualquer cidadão fiscalizar os atos perpetrados pelo Poder Público, isto é, resguardar a coisa pública (do povo) ou proteger os interesses ou direitos difusos. Vale lembrar que o Ministério Público (MP) não pode impetrar AP, mas deve como parte pública autônoma, de fiscal da lei (custos legis), participar da ação que é reservada ao cidadão. 6.1 Fundamento Normativo Constitucional art. 5º, LXXIII, da CF/88; Legal Lei n / Pressupostos da Ação Popular condição de eleitor nacionais e portugueses equiparados no gozo de seus direitos políticos; ilegalidade do ato contrário ao ordenamento jurídico, por violar regras e princípios estatuídos para a Administração Pública; de haver lesividade ou ilicitude do ato (ofensa efetiva ou presumida): - ao patrimônio público;
23 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 23 - à moralidade administrativa; - ao meio ambiente; e - ao patrimônio histórico cultural. Ex.: desfalque ao erário público. 6.3 Legitimação Ativa A legitimação é do cidadão: brasileiro (art. 15 da CF/88) ou português equiparado (Convenção sobre Igualdade de Direitos Civis e Políticos entre Brasil e Portugal). Portanto, encontram-se excluídos os estrangeiros, os apátridas, as pessoas jurídicas e os brasileiros que estiverem com seus direitos políticos suspensos ou perdidos e os membros do Parquet (art. 127, 1º da CF/88). Contudo, o MP poderá promover o prosseguimento da ação, se houver desistência do autor popular (art. 9º da Lei n /65). Passiva O sujeito passivo na ação popular é o agente que praticou o ato, a entidade lesada e os beneficiários do ato ou contrato lesivo ao patrimônio público (art. 6º, 2º, da Lei n /65). Portanto, podem ocupar o pólo passivo na ação popular: titulares das pessoas jurídicas da Administração direta e indireta, das empresas públicas ou privadas, das sociedades de economia mista, dentre outros; autoridades, funcionários, administradores, agentes que autorizaram ou praticaram atos comissivos ou omissivos, lesivos ao patrimônio público. 6.4 Competência A demarcação de competência dependerá da origem do ato ou omissão a ser impugnado (art. 5ºda Lei n /65), que, em regra geral, é o juízo de primeiro grau da Justiça Federal ou Estadual.
24 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 24 Vale observar que, até mesmo o Presidente da República e todas as demais autoridades serão processadas em AP perante a Justiça comum (federal ou estadual) na primeira instância. Contudo, se ficar configurado o impedimento de mais da metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base no art. 102, I, n, da CF/88 (STF, AO 859- QO). Exemplos: ato do Presidente da República: 1º grau da Justiça Federal; se o patrimônio lesado pertencer à União, será competente para julgar o feito a Justiça Federal; ato do Governador: 1º grau da Justiça Estadual; ato do Prefeito: 1º grau da Justiça Estadual. 6.5 Observações Gerais A sentença proferida em ação popular é desconstitutiva (anula o ato lesivo) e, também, condenatória (sentencia os responsáveis e beneficiários por perdas e danos). Nesse rumo, quanto à coisa julgada, se for procedente, invalida o ato impugnado e enseja condenação aos réus por perdas e danos, além de produzir efeitos erga omnes. Por outro lado, se for improcedente, pela falta de fundamento da demanda, depois de passar pelo duplo grau de jurisdição, o ato continuará válido e com eficácia erga omnes. Se a improcedência for por falta de provas, qualquer cidadão poderá impetrar outra ação com idêntico fundamento (art. 18 da Lei n /65). A ação popular está isenta de custas judiciais e do ônus da sucumbência, salvo se comprovada má-fé. Ainda, a prescrição ocorrerá em cinco anos (art. 21 da Lei n /65). Por fim, desde que presente os requisitos legais (periculum in mora e fumus boni iuris), é possível a concessão de liminar, podendo a ação popular ser preventiva (para evitar
25 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 25 os atos lesivos) ou repressiva (buscar o ressarcimento dos danos, a anulação do ato, dentre outros). 7 Direito de Petição O direito de petição é aquele que concede prerrogativa a uma pessoa de invocar a atenção dos poderes públicos sobre uma questão ou uma situação. Trata-se de um direito de origem inglesa e que foi consagrado pelo Bill of Rights de 1689, tornando-se uma forma de, humildemente, o súdito se dirigir ao ministro ou monarca. No Brasil, esse direito foi adotado em todas as Constituições brasileiras, mas cabe assinalar que em 1937, 1967 e na EC n. 1/69, tal direito foi inserido com o nome de representação. A Constituição Federal de 1988 garante a todos, independentemente do pagamento de taxas, o direito de peticionar aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (art. 5º, XXXIV, a, da CF/88). Faz-se necessário observar que, por meio da petição, pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras podem dirigir-se à autoridade competente para solicitar providências em prol de interesses individuais ou coletivos, próprios ou de terceiros, contra atos ilegais ou contaminados pelo abuso de poder. 7.1 Natureza Jurídica O direito de petição é essencialmente informal e constitui uma prerrogativa de caráter democrático no âmbito constitucional. Trata-se de um instrumento político-fiscalizatório dos negócios do Estado e seu exercício está desvinculado de qualquer lesão a interesses próprios do peticionário.
26 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho Fundamento Normativo Art. 5º, XXXIV, a, da CF/88; Lei n /65 (Lei de Abuso de Autoridade). 7.3 Legitimidade Ativa e Passiva Qualquer pessoa, física ou jurídica, nacional ou estrangeira pode integrar o pólo ativo ou passivo. 7.4 Finalidade A finalidade do direito de petição é participar ao Poder Público (Legislativo, Executivo, Judiciário, bem como ao Ministério Público) a prática de atos ilícitos ou abusivos, para que sejam tomadas as providências cabíveis. Inclusive, se a petição for endereçada à autoridade incompetente, cabe esta enviá-la para o lugar correto, sem prejudicar a sua validade. Por último, vale ressaltar que o direito de petição nada tem que ver com o direito de ação (art. 5º, XXXV, da CF/88). No primeiro não é necessário que o peticionário tenha sofrido qualquer lesão a interesses próprios. Por sua vez, o direito de ação é a prerrogativa pessoal de invocar, no Poder Judiciário, a defesa de interesses processuais. 8 Direito de Certidão A Lex Mater assegura a qualquer pessoa, independentemente do pagamento de taxas, o direito líquido e certo de obter certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5º, XXXIV, b, da CF/88).
27 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 27 A certidão é um documento expedido pela Administração Pública, comprovando a existência de um fato e gozando de fé pública até que se prove o contrário. Importa observar que o Estado tem é obrigado, exceto nas hipóteses constitucionais de sigilo, a fornecer as informações solicitadas, sob pena de responsabilização política, civil e criminal. Portanto, a negativa estatal de tal solicitação, pode ensejar a impetração de mandado de segurança. 8.1 Fundamento Normativo Art. 5º, XXXIV, b, da CF/88; Lei n / Requisitos do Direito de Certidão legítimo interesse por parte do requerente existência de direito individual ou da coletividade a ser defendido; ausência de sigilo (Lei n /2005: segurança imprescindível ao Estado e a sociedade); só podem ser certificados atos administrativos e judiciais, existentes no registro da Administração; indicação da finalidade do pedido. Por fim, vale ressaltar que a certidão pleiteada aos órgãos da Administração Pública, às empresas públicas ou sociedades de economia mista, às fundações públicas, deverá ser expedida no prazo de quinze dias, contado do registro do pedido no órgão expedidor (Lei n /95). 9 Ação Civil Pública Conforme assinala o Min. Gilmar Mendes, além dos processos e sistemas destinados à defesa de posições
28 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 28 individuais, a proteção judiciária pode realizar-se também pela utilização de instrumentos de interesse geral, como a Ação Popular e a Ação Civil Pública, ou dos processos objetivos de controle de constitucionalidade, tais como a ADI, a ADC, a ADI por omissão e a ADPF. A Ação Civil Pública (art. 129, III, da CF/88) é um instrumento de defesa de interesse geral e destina-se à defesa dos chamados interesses difusos e coletivos relativos ao meio ambiente, à proteção do patrimônio público e social, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, histórico, paisagístico, dentre outros. Nessa linha, Guilherme Peña arremata descrevendo tal instituto como remédio constitucional e principal mecanismo de tutela cível de interesses metaindividuais ou transindividuais, isto é, trata-se de uma ação não penal promovida pelo Ministério Público para a tutela de interesses difusos e coletivos, como também de interesses individuais homogêneos, desde que revestidos de suficiente abrangência ou expressão social (art. 129, III, da CF/88; Lei n /85). Exemplos: 1) a Petrobrás é condenada por crime ambiental. Esta sentença ultrapassará a própria empresa para atingir seus trabalhadores, a sociedade que vive no lugar que foi afetado, etc. Assim, como a ação civil pública tem a finalidade de tutelar estes interesses metaindividuais, não exclui as ações penais que podem vir a ocorrer. 2) A ação civil pública é promovida pelo MP. A lei da ação civil pública determina que exista legitimidade concorrente para a ação civil pública em seu art. 5º. Juntamente com o MP são legitimados: as entidades políticas (União, Estados, DF e Municípios), entidades administrativas (empresas públicas, autarquias, fundações públicas e sociedades de economia mista). Entretanto, o Prof. Hugo Nigro Mazzili, diz que a ação civil pública é a ação proposta pelo MP, quando a ação é promovida pelos outros legitimados ativos, a ação deverá ser chamada de ação coletiva. Salientar, no entanto, que a lei, em si, não faz tal distinção. 3) Cabe a tutela de interesses individuais homogêneos? A CF só fala em interesses difusos e coletivos. Entretanto, a Conselho Superior do MP de SP, em sua Súmula 7, fala que quando se tratar de interesse difuso ou coletivo não há nenhuma restrição, no entanto, caberá também a ação civil pública nos interesses individuais homogêneos, somente se ele tiver suficiente abrangência (critério territorial) ou expressão social (critério sociológico), v.g., o caso do edifício Palace II (Rio de Janeiro), geograficamente é um caso pequeno, mas em termos sociológicos é importantíssimo, o que autoriza o MP atuar nele. 9.1 Natureza Jurídica A ação civil pública é revestida de natureza dúplice, sob o aspecto da Lex Legum é um remédio constitucional para
29 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 29 a tutela de interesses difusos e coletivos, sem prejuízo dos direitos individuais homogêneos, desde que haja abrangência suficiente ou expressão social. Por outro ângulo, sob o aspecto processual a ação civil pública é sistematizada como ação cível, onde a pretensão transindividual pode ser deduzida em juízo ou tribunal e submetida a procedimento ordinário. 9.2 Legitimidade Ativa Ministério Público (MP); Defensoria Pública (Lei n /2007); União; Estados; DF; Municípios; Autarquias; Fundações Públicas; Sociedades de Economia Mista ou Associações constituídas há pelo menos um ano, com finalidades institucionais semelhantes aos órgãos acima citados (tutela do consumidor, meio ambiente, ordem econômica ou patrimônio artístico, histórico, estético, turístico e paisagístico). Passiva É exercida em face de qualquer pessoa, natural ou jurídica, pública ou privada. 9.3 Competência Deve ser processada e julgada no local onde ocorrer o dano, v.g., dano em Resende, a competência é do foro dessa cidade. Faz-se necessário ressaltar que a propositura da ação civil pública é normalmente antecedida de inquérito civil, que é um procedimento administrativo investigatório da autoria e materialidade de ameaça ou lesão a interesse metaindividual, conduzido pelo MP. Por último, cabe assinalar que a ação civil pública, juntamente com o mandado de segurança coletivo e a ação popular destinam-se à salvaguarda de interesses difusos ou
30 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 30 gerais, tais como o meio ambiente, patrimônio histórico e cultural, dentre outros. Assim, em consonância com Guilherme Peña, observamos que a distinção entre esses remédios constitucionais de natureza cível ocorre em face da legitimação ativa e passiva, competência de foro e pronunciamento jurisdicional, conforme quadro comparativo a seguir: Legitimidade Ativa Legitimidade Passiva Competência de Foro Ação Civil Pública MS Coletivo Ação Popular MP; Defensoria Pública (Lei n /2007); União; Estados; DF; Municípios; Autarquias; Fundações Públicas; Sociedades de Economia Mista ou Associações constituídas há pelo menos um ano, com finalidades institucionais semelhantes aos órgãos acima citados (tutela do consumidor, meio ambiente, ordem econômica ou patrimônio histórico, dentre outros). partido político com representação no Congresso Nacional; organização sindical; entidade de classe; ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano. A legitimação é do cidadão. Ação Civil Pública MS Coletivo Ação Popular É exercida em face de qualquer pessoa, natural ou jurídica, pública ou privada. Pessoas Jurídicas de Direito Público que as Autoridades Coatoras estejam vinculadas. É exteriorizada em face de pessoas jurídicas de Direito Público ou Privado cujos autores são partícipes e beneficiários de atos lesivos aos bens de interesses públicos, valores ambientais, dentre outros. Ação Civil Pública MS Coletivo Ação Popular Deve ser processada e Processado e julgado julgada no local onde pelo juízo ou tribunal ocorrer o dano que tenha suficiente abrangência para alcançar todos os substituídos, É fixada em razão do local e de acordo com a origem do ato impugnado (v.g., o ato teve origem em Resende, será
31 Prof. Audálio Ferreira Sobrinho 31 Pronunciamento Jurisdicional domiciliados ou não competente o foro de na comarca/seção Resende, mas se judiciária. praticado pelo Presidente da República, a competência será em Brasília). Ação Civil Pública MS Coletivo Ação Popular O pedido tem que ser A decisão de Existe a expresso, pois, se o juiz procedência opera possibilidade dos condenar sem a parte efeitos em relação autores, partícipes e requerer, tal sentença será aos substituídos, beneficiados com o ultra-petita. associados, filiados ato lesivo serem A decisão de procedência dos partidos políticos condenados em é meramente declaratória perdas e danos, ainda ou constitutiva (v.g., que não haja pedido declaração de nulidade ou expresso, pois este é anulação de ato lesivo a implícito. interesse metaindividual), sem prejuízo da natureza condenatória (v.g., reparação ou ressarcimento de dano material ou imaterial a interesse transindividual). III CONCLUSÃO Questões Aplicadas no Exame de Ordem (OAB/RJ) e outros Concursos 1) (23 Exame de Ordem - OAB/RJ) Com vista aos remédios constitucionais é correto aduzir: a. conceder-se-á mandado de segurança ainda quando o direito líquido e certo a ser protegido for amparado por habeas corpus, habeas data ou mandado de injunção; b. conceder-se-á habeas data sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; c. não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada; d. qualquer pessoa, inclusive não inscrita no rol dos eleitores, é parte legítima, força no princípio democrático, para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
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