Controle de Plantas Daninhas. Manejo das Plantas Daninhas Aula 21 e 22: 03 e 04/06/2014
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- Eugénio Peres Morais
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1 Controle de Plantas Daninhas Manejo das Plantas Daninhas Aula 21 e 22: 03 e 04/06/2014
2 6.5.4 Tipos de formulações de herbicidas As formulações se apresentam basicamente nas formas sólida e líquida. FORMULAÇÕES SÓLIDAS A. Pó molhável (PM): esta formulação é definida pela ABNT como formulação sólida de pó, para aplicação, sob forma de suspensão, após dispersão em água. É obtida pela moagem do ingrediente ativo absorvido em material inerte (sílica, vermiculita, etc). Adiciona-se geralmente uma substância dispersante, para evitar floculação e aumentar a estabilidade da suspensão. Durante a aplicação precisa de uma agitação contínua no tanque. Geralmente possui de 50 a 80% de ingrediente ativo (Ex: Sencor BR, 700g/Kg de metribuzin). B. Pó solúvel (PS): nesta formulação o ingrediente ativo é totalmente solúvel em água, não requerendo agitação durante a aplicação.
3 6.5.4 Tipos de formulações de herbicidas C. Grânulos dispersíveis em água (GRDA ou dry flowable): é uma formulação sólida constituída de grânulos, para ser aplicada sob a forma de suspensão após desintegração e dispersão em água. O ingrediente ativo sólido em forma de grânulos, adicionado em água, transforma-se numa suspensão. Possui a vantagem de ter, no produto comercial, maior concentração de princípios ativos, requerendo com isso, menor volume de calda para aplicação (Ex: Scepter 70 DG, 700 g/kg de imazaquin). D. Granulados (GR): os grânulos são constituídos de veículos minerais, comoa vermiculita, e de princípio ativo, cuja concentração varia de 2 a 20%. Em geral, dispensam o uso de água, são mais seletivos, podem ser aplicados em locais de difícil acesso. Têm maiores custos e dependem de equipamentos adequados para aplicação e de umidade no solo para liberar o ingrediente ativo (Ex: Ordran 200 GR, 200 g/kg de molinate). E. Pallets ou pastilhas: possuem ampla similaridade com os granulados, diferindo-se porque possui partículas de maior tamanho.
4 6.5.4 Tipos de formulações de herbicidas FORMULAÇÕES LÍQUIDAS F. Soluções (S): esta mistura é de natureza homogênea, composta do soluto, que é o ingrediente ativo, e do solvente, que pode ser água, álcool, acetona, etc. Seu processo de obtenção é o mais simples e barato. Para que um produto seja formulado como solução, ele deve ser solúvel em pelo menos 25% do litro do solvente. Devido à sua pouca penetração foliar, adiciona-se geralmente um surfactante (Ex: DMA 806 BR, 670 g/l de 2,4-D). G. Concentrado emulsionável (CE): é uma formulação líquida homogênea, aplicada após diluição em água, sob forma de emulsão. Emulsões são sistemas termodinamicamente instáveis que consistem em dos líquidos imiscíveis, sendo um deles disperso como glóbulos de pequeno tamanho dentro do outro. O concentrado emulsionável conta, basicamente, com um solvente não-polar (o ingrediente ativo) dissolvido no solvente e um agente emulsificante. A solubilidade mínima necessária é d e12%. Possui maior penetração foliar, permanece por longos períodos em suspensão (mistura mais homogênea) e provoca menos desgaste nos bicos (Ex: Dual 960 CE, 960 g/l de metolachlor).
5 6.5.4 Tipos de formulações de herbicidas FORMULAÇÕES LÍQUIDAS H. Suspensão concentrada (SC) ou flowable: é uma formulação constituída por uma suspensão estável de ingredientes ativos num veículo, que pode conter outros ingredientes ativos para aplicação após a diluição. Neste tipo de formulação, o princípio ativo sólido (micropartículas) é mantido suspenso em água. Como vantagens estão a ausência do pó, a baixa toxicidade e o fácil manuseio (Ex: Karmex 500 SC, 500 g/l de diuron). I. Emulsões concentradas: esta formulação é uma emulsão de ingredientes ativos de baixo ponto de fusão ou líquidos, sendo uma alternativa para o concentrado emulsionável (Ex: Podium, 110 g/l de fenoxaprop-p-ethyl).
6 6.5.4 Tipos de formulações de herbicidas FORMULAÇÕES LÍQUIDAS J. Suspo-emulsão: é uma formulação fluida e heterogênea, constituída de uma dispersão estável de ingredientes ativos na forma de partículas sólidas e de finos grânulos na fase aquosa, para aplicação após ser diluída em água. A importância desta formulação reside na possibilidade de poder compatibilizar dois tipos de formulação diferentes. L. Microemulsão: é um caso específico de emulsão. Esta fórmula contém a fase oleosa (contendo o ingrediente ativo e o solvente orgânico surfactante) e aquosa (que também pode conter ingrediente ativo solúvel em água, além de surfactante). A aparência é de um líquido transparente, homogêneo (Ex: Robust 200 g de fluazifop-p-butil g/l de fomesafen)
7 6.5.5 Mistura de herbicidas O controle de plantas daninhas visa entre outros aspectos, reduzir ou eliminar a competição destas com a cultura. Existem centenas de espécies de plantas daninhas, com as mais variadas características morfológicas e fisiológicas, que lhes conferem comportamento diferenciado (suscetibilidade, tolerância ou resistência) em relação aos herbicidas. Além desse fato, a necessidade de reduzir os custos de produção da cultura tem levado os produtores, bem como os fabricantes, a preparar misturas de herbicidas com diferentes princípios ativos, ou mesmo com outros agroquímicos/pesticidas. Houve grande expansão no uso de misturas e na aplicação sequencial de vários herbicidas em um único ciclo cultural. Entretanto, o manejo de herbicidas, especialmente as misturas, requer grande cuidado, além do conhecimento das interações entre os produtos, visando obter o máximo de controle de plantas daninhas e minimizar as injúrias às culturas. Deve-se dar preferência às mistura prontas.
8 6.5.5 Mistura de herbicidas Vantagens das misturas ou combinações de herbicidas A aplicação de misturas de herbicidas pode oferecer vantagens, quando comparadas a aplicação de um princípio ativo isoladamente, como: Controle de maior número de espécies de plantas daninhas e redução do risco de aparecimento de genótipos resistentes; as misturas foram primeiramente usadas para o controle não-seletivo e seu suo contínuo tornou-se importante. A ideia de combinação de herbicidas para controlar seletivamente plantas daninhas e culturas desenvolveu-se posteriormente; aumento da segurança da cultura, devido ao uso de doses menores da cada herbicida, pois são mais efetivas que uma única dose de um herbicida e há menor chance de a cultura ser injuriada; redução de resíduos na cultura e no solo devido ao uso de doses menores, especialmente dos componentes mais persistentes;
9 6.5.5 Mistura de herbicidas Vantagens das misturas ou combinações de herbicidas redução de custos. O menor custo da aplicação, o controle mais efetivo de plantas daninhas e as menores quantidades de herbicidas aplicadas geralmente reduzem o custo total do manejo; controle, por um período maior, pela adição de outro herbicida mais efetivo sobre determinada espécie de planta daninha predominante; melhores resultados em campo com variados tipos de solos; melhor controle de plantas daninhas pela ampliação da seletividade, em razão de possível ação sinergística na planta daninha e ação antagônica sobre a cultura.
10 6.5.5 Mistura de herbicidas Incompatibilidade Quando dois ou mais herbicidas são combinados eles podem ser aplicados separadamente (um após o outro), juntos (misturados no tanque) ou ainda podem ser formulados juntos (comercializados numa mesma embalagem). Esses herbicida pré-misturados ou em misturas no tanque do pulverizador podem ser mais eficientes ou não, dependendo do modo como foi feita a mistura. Menor desempenho da mistura pode ser resultado de qualquer incompatibilidade física ou biológica, causado usualmente pela formulação e suas interações, resultando em formação de precipitados, separação de fase, etc., o que inviabiliza sua aplicação. Fatores como solubilidade, complexação, carga iônica e outros parâmetros físicos são responsáveis pela redução do desempenho dos produtos, causada pela incompatibilidade, que denota a inabilidade de dois ou mais herbicidas ao serem usados simultaneamente.
11 6.5.5 Mistura de herbicidas Incompatibilidade A mistura de dois herbicidas formulados como pó-molhável, e concentrado emulsionável, tem elevada tendência a apresentar incompatibilidade física, que resulta numa rápida sedimentação dos componentes da mistura. Por isso, uma das vantagens da mistura formulada, em relação à de tanque, é evitar possíveis incompatibilidades dos componentes da formulação.
12 6.5.5 Mistura de herbicidas Interações entre herbicidas O termo interação descreve a ação conjunta dos herbicidas nas plantas. É a relação da efetividade de um material com o outro. Quando dois ou mais herbicidas são aplicados juntos, podem ser observados os seguintes efeitos sobre as plantas: Efeitos sinérgicos: Quando o efeito dos herbicidas aplicados juntos é maior que a soma dos efeitos isolados. Efeitos aditivos: Quando o efeito dos herbicidas em mistura é igual a soma dos seus efeitos quando aplicados separados. Efeitos antagônicos: Quando o efeito dos herbicidas em mistura é menor que a soma dos seus efeitos quando aplicados separadamente. É interessante lembrar que esses efeitos podem ser diferentes entre espécies de plantas. Do ponto de vista prático seria ideal que a mistura apresentasse efitos antagônicos para a cultura e sinérgicos para as plantas daninhas.
13 O antagonismo em misturas de tanque acontece quando uma reação adversa ocorre entre os herbicidas na solução. É o antagonismo químico, por exemplo, entre o paraquat e o MCPA dimentilamina, principalmente quando a formulação éster do MCPA é usada. Também pode ocorrer a redução da penetração foliar. Por exemplo, os inibidores de lipídios não devem ser misturados com 2,4-D, MCPA, bentazon, chlorsurfuron, chlorimuron, imazaquin, imazethapyr, etc. O antagonismo de fenoxaprop (Podium) com MCPA éster aumentou a tolerância de trigo sem reduzir o controle de aveia branca (JORDAN; WARREN, 1995) Mistura de herbicidas Interações entre herbicidas Várias misturas sinergísticas de herbicidas tem sido reportadas. As bases para essa interação podem ser: aumento de penetração foliar dos herbicidas aplicados em pós-emergência, aumento da translocação, inibição do metabolismo, interações dos mecanismos de ação dos herbicidas envolvidos, etc.
14 6.5.5 Mistura de herbicidas Interações entre herbicidas A redução da penetração pela raiz pode resultar em antagonismo e aumentar a seletividade da cultura. É o caso do trifluralin e diuron em algodão e trifluralin e metribuzin em soja. O antagonismo também ocorre quanto um herbicida de contato é aplicado com o glyphosate ou com herbicidas auxínicos. A absorção e a translocação do glyphosate ficam prejudicadas, resultando em menor efeito dos herbicidas sistêmicos.
15 6.5.5 Mistura de herbicidas Interações de herbicidas com inseticidas em mistura Em geral, a fitotoxicidade de alguns herbicidas tem mostrado influência de alguns inseticidas organofosforados ou metilcarbamatos. Inseticidas organoclorados não tem apresentado interações com herbicidas. Os organofosforados estão envolvidos com interações com o nicosulfuron (SILVA, et al, 2005). A tolerância do milho a este herbicida é devido ao seu rápido metabolismo; entretanto, inseticidas organofosforados podem inibir, ou reduzir, este metabolismo, induzindo o surgimento de sintomas de intoxicação nas plantas da cultura. O organofosforado terbufos (Counter) tem causado muitos problemas na prática. É interessante ressaltar o antagonismo entre phorate (Thimet), disulfoton (Disyston) e o clomazone (Gamit) em algodão. Os inseticidas protegem o algodão de alguma toxicidade do clomazone. A aplicação do terbufos em milho é antagonística aos resíduos do imazaquin (Scepter/Topgan) no solo e tem dado considerável proteção ao milho. Os mecanismos dessa interação não são bem conhecidos.
16 6.5.5 Mistura de herbicidas Interações de herbicidas com fertilizante em mistura Os herbicidas em misturas com fertilizantes às vezes são usados por alguns produtores, porém sem nenhuma base científica. A aplicação de molibdênio na cultura do feijão em mistura com os herbicidas fluazifop-pbutil + fomesafen (Fusiflex), bentazon (Basagran), fomesafen (Flex) e imazamox (Sweeper), em ensaios preliminares, apresentou efeitos aditivos. Esses resultados, se confirmados, viabilizarão a aplicação desses insumos de uma só vez.
17 6.5.5 Mistura de herbicidas Misturas formuladas de herbicidas também são comercializadas no Brasil, como: a) clethodim + fenoxaprop-p-ethyl (Podium), ambos Inibidores de ACCase; b) imazapic + imazethapyr (Only), ambos são herbicidas Inibidores de ALS; c) imazamox + bentazon (Amplo), sendo imazamox um Inibidor de ALS e bentazon um Inibidor de FSII; d) imazaquin + pendimethalin (Squadron), sendo imazaquin um Inibidor de ALS e pendimethalin um Inibidor do arranjo de microtúbulos; e) ametryn + clomazone (Sinerge), sendo ametryn um Inibidor de FSII e clomazone um Inibidor da biossíntese de carotenoides; f) alachlor + atrazine (Boxer), sendo alachlor um Inibidor da biossíntese de ácidos graxos de cadeia muito longa e atrazine um Inibidor de FSII;
18 6.5.5 Mistura de herbicidas g) atrazine + simazine (Primatop), ambos Inibidores de FSII; h) diuron + paraquat (Gramocil), sendo diuron um Inibidor de FSII e paraquat um Inibidor de FSI; i) fluazifop-p-butyl + fomesafen (Fusiflex e Robust), sendo fluazifop-p-butyl um Inibidor de ACCase e fomesafen um Inibidor de PROTOX; j) glyphosate + imazethapyr (Alteza), sendo glyphosate um Inibidor de EPSPs e imazethapyr um Inibidor de ALS; k) atrazine + s-metolachlor (Primaiz e Primestra Gold), sendo atrazine um Inibidor de FSII e s-metolachlor um Inibidor da biossíntese de ácidos graxos de cadeia muito longa; l) molinate + propanil (Arrozan), sendo molinate um Inibidor de lipídeos (não- ACCase) e propanil um Inibidor de FSII; m) 2,4-D + picloran (Mannejo e Tordon) e fluroxypir + picloran (Plenum), todos Mimetizadores de auxina.
19 6.5.6 Resistência de plantas daninhas a herbicidas Resistência é a capacidade adquirida por um grupo de indivíduos dentro de uma população (biótipo) em sobreviver e se reproduzir após exposição ao herbicida que controla outros indivíduos da mesma espécie (Christoffoleti et al., 2008). A pressão de seleção exercida por aplicações frequentes do mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, por longo tempo, ocasionam a seleção dos biótipos resistentes, levando a população de plantas de determinada espécie a se tornar resistente a esses produtos. A constatação da resistência de plantas daninhas aos herbicidas começou em 1957 com a identificação de biótipos de Commelina difusa (Commelina benghalensis - Trapoeraba), nos Estados Unidos, e Daucus carota (Cenoura), no Canadá, resistentes a herbicidas pertencentes ao grupo das auxinas (WEED SCIENCE, 1998). Já em 1970, no estado de Washington (EUA), foram descobertos biótipos de Senecio vulgaris (Tasneirinha ou cardo morto) resistentes a simazina (RYAN, 1970).
20 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas Estudos posteriores demonstraram que esta espécie era resistente a todas as triazinas, devido a uma mutação nos cloroplastos (RADOSEVICH et al. 1979). Depois disso, várias outras espécies com resistência a triazinas, foram descritas em gêneros como Amaranthus e Chenopodium em diferentes países (RADOSEVICH, 1977). Em menos de 30 anos, após os primeiros casos de resistência, forma constatado mais de 100 espécies reconhecidamente resistentes em aproximadamente 40 países (HEAP, 1997). Em 2009 existiam cerca de 311 biótipos de plantas daninhas que apresentavam resistência a um ou mais mecanismos de herbicidas. Esse biótipos pertencem a 183 espécies e estão distribuídos em 59 países, sendo 110 dicotiledôneas e 73 mono cotiledôneas. Destes, 30,9% são resistentes aos herbicidas inibidores de ALS, 21,2% às triazinas, 11,4% aos inibidores de ACCase, sendo esses os principais grupos mais afetados pela resistência.
21 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas Essas proporções mudaram com a introdução no mercado dos novos grupos herbicidas inibidores de ALS e ACCase. Acredita-se que o maior número de biótipos resistentes aos herbicidas dos grupos dos inibidores de ALS das triazinas existentes atualmente se deve à alta especificidade, à eficiência e à grande área onde são empregados. Não forma encontrado citações de plantas daninhas resistentes aos herbicidas dos grupos: ariltriazolinonas ( carfentrazone-ethyl Aurora / sulfentrazone Boral / Azafenidin Milestones) benzotiadiazinas (bentazon -Basagran) ftalimidas (flumioxazin Flumizin / flumiclorac Radiant) As razões não são claras, e apesar do longo tempo de introdução no mercado desses grupos, mas acredita-se que seja devido ao seu modo de ação.
22 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas A resistência de plantas daninhas a herbicidas assume grande importância, principalmente quando não existem, ou existem poucos, herbicidas alternativos para serem usado nos controle dos biótipos resistentes, tornando cada vez mais difícil e oneroso o controle desses biótipos. A ocorrência de resistência múltipla agrava ainda mais o problema, já que, nesse caso, são dois ou mais os mecanismos que precisam ser substituídos. Assim o controle dos biótipos resistentes com uso de herbicida é seriamente comprometido, restringindo essa prática a outros métodos menos eficientes. As plantas daninhas podem apresentar diferentes mecanismos de resistência, entre eles: (i) perda de afinidade do herbicida com seu sítio de ação devido a mutações; (ii) superprodução de enzimas do sítio de ação devido à sobre-expressão de genes; (iii) detoxificação do herbicida por ação de enzimas; e (iv) redução na absorção ou na translocação devido à imobilização de herbicidas em membranas ou na cutícula e, também, devido ao sequestro do herbicida no vacúolo (compartimentalização).
23 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas No Brasil, foram identificados alguns casos de resistência, destacando-se, atualmente, a resistência de: a) Arroz-vermelho (Oryza sativa) a imazapic (Plateau) e imazethapyr (Countrain); b) Azevém (Lolium multiflorum) a glyphosate, clethodim e iodosulfuron-methyl; c) Buva (Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis) a glyphosate; d) Capim-amargoso (Digitaria insularis) a glyphosate; e) Capim-arroz (Echinochloa crus-galli) a bispyribac-sodium, imazethapyr, penoxsulam e quinclorac; f) Leiteiro (Euphorbia heterophylla) a acifluorfen-sodium, cloransulam-methyl, chlorimuron-ethyl, diclosulam, flumetsulam, flumiclorac-pentyl, fomesafen, imazamox, imazaquin, imazethapyr, lactofen, metsulfuron-methyl e nicosulfuron; g) Sagitária (Sagittaria montevidensis) a bentazon, bispyribacsodium, ethoxysulfuron, imazethapyr, metsulfuron-methyl, penoxsulam e pyrazosulfuronethyl.
24 Leiteiro Leiteiro ou Amendoim Bravo (Euphorbia heterophylla) germina desde 20 cm de profundidade mantendo a viabilidade germinativa por vários anos, mesmo quando enterradas. Estágio de controle com 2 a 4 folíolos (Foto 4).
25 Evolução dos casos comprovados de resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil Ano Espécie Nome científico Mecanismo de ação ou grupo químico 1992 Euphoria heterophylla (leiteiro) Inibidores da ALS 1993 Bidens pilosa (picão-preto) Inibidores da ALS 1996 Bidens subalternans (picão-preto) Inibidores da ALS 1997 Brachiaria plantaginea (capim-marmelada) Inibidores da ACCase 1999 Echinochloa crusgalli (capim-arroz) Auxinas sintéricas 1999 Echinochloa crus-pavonis (capim-arroz) Auxinas sintéricas 1999 Sagittaria montevidensis (sagitária) Inibidores da ALS 2000 Cyperus difformis (junquinho, tiririca-do-brejo) Inibidores da ALS 2001 Fimbristylis miliacea (cominho) Inibidores da ALS 2001 Raphanus sativus (nabo) Inibidores da ALS 2002 Digitaria ciliaris (capim-colchão) Inibidores da ACCase
26 Ano Espécie Nome científico Mecanismo de ação ou grupo químico 2003 Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) Inibidores da ACCase 2003 Lolium multiflorum (azevém) Derivados da glicina 2004 Parthenium hysterophorus (losna-branca) Inibidores da ALS 2004 Euphoria heterophylla (leiteiro) Inibidores da ALS (resistência múltipla) Inibidores da PROTOX 2005 Conyza bonariensis (buva) Derivados da glicina 2005 Conyza canadensis (buva) Derivados da glicina 2006 Oryza sativa (arroz-vermelho) Inibidores da ALS 2006 Euphoria heterophylla (leiteiro) Inibidores da ALS (resistência múltipla) Derivados da glicina 2006 Bidens subalternans (picão-preto) Inibidores da ALS (resistência múltipla) Inibidores do FS II 2008 Digitaria insularis (capim-amargoso) Derivados da glicina 2009 Echinochloa crusgalli (capim-arroz) Inibidores da ALS (resistência múltipla) Auxinas sintéticas
27 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 1. Alteração do local de ação As informações genéticas de um indivíduo estão contidas em seu material genético (DNA). A grande maioria das alterações ocorridas no DNA, que não provocam a morte do indivíduo, será repassada aos seus descendentes. A probabilidade de ocorrer erros na replicação do DNA, multiplicação de material genético, durante o crescimento do indivíduo é de cerca de Contudo, a possibilidade de erro, mesmo remota, existe. Mutação foi definida por De Vries como mudanças repentinas e hereditárias; teoricamente, é preferível restringir, afirmando que são aquelas mudanças bruscas hereditárias que alteram a atividade, porém não a posição do gene individualmente (BREWBAKER, 1969).
28 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 1. Alteração do local de ação A maioria das mudanças é deletéria e a evolução só é possível por que algumas delas podem ser benéficas em determinadas situações (SUZUKI et al, 1992). Alteração do local de ação significa que a molécula herbicida diminui sua capacidade de inibir esse ponto, devido a uma ou mais alterações na estrutura desse local. Contudo, em uma população de biótipos resistentes ocorrem diferentes níveis de resistência, ou de susceptibilidade, que podem estar relacionados com o tipo de mutação ocorrida com as formas alélicas do gene, tipo de molécula e, ou tipo de mecanismo que está proporcionando a resistência.
29 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 1. Alteração do local de ação A resistência de Arabidopsis thaliana às imidazolinonas se deve à alteração de um aminoácido da enzima ALS, conforme relatam Sathasivan et al (1991). Desse modo, um herbicida que anteriormente era eficiente em inibir determinada enzima deixa de ter efeito sobre esta, e a planta torna-se resistente tanto àquele quanto a outros herbicidas que se ligam da mesma forma a essa enzima. Logicamente que, se o herbicida possuir mais de um mecanismo de ação, a planta poderá morrer pela ação do(s) outros(s) mecanismo(s), a não ser que ela apresente outros mecanismos de resistência, ou seja, resistência múltipla. Acredita-se que os herbicidas não sejam capazes de provocar mutações, já que estes produtos são avaliados para isso antes de seu lançamento no mercado. Não há evidência científica quanto a isso.
30 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 2. Metabolização A planta resistente possui a capacidade de decompor, mais rapidamente do que as plantas sensíveis, a molécula herbicida, tornando-a não tóxica. Esse é o mecanismo de tolerância a herbicidas apresentado pela maioria das culturas, como é o caso da resistência de Lolium rigidum a triazina e inibidores de ACCase. 3. Compartimentalização A molécula é conjugada com metabólitos da planta, tornando-se inativa, ou é removida das partes metabolicamente ativas da célula e armazenada em locais inativos, como o vacúolo (Ex: plantas resistentes ao paraquat)
31 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 4. Absorção e Translocação A absorção e a translocação são alteradas e, assim, a quantidade de herbicida que atinge o local de ação é bastante reduzida, não chegando a ser suficiente para controlar a planta (Ex: plantas resistentes aos bipiridílios). Esses mecanismos podem, isoladamente ou associados, proporcionar tolerância ou resistência a herbicidas, mesmo que pertencentes a diferentes grupos químicos.
32 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 5. Sensibilidade, Tolerância e Resistência Uma planta, quanto a um herbicida, pode ser: Sensível: quando ser crescimento e desenvolvimento são afetados pelo produto. Pode morrer quando submetida a determinada dose do mesmo. Tolerante: as plantas são capazes de sobreviver e se reproduzir após o tratamento com herbicida, mesmo sofrendo injúrias. Relaciona-se com variabilidade genética natural da espécie. Em uma população de plantas existem naturalmente algumas que toleram mais ou menos doses de determinado herbicida.
33 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 5. Sensibilidade, Tolerância e Resistência Resistente: biótipos que adquirem a capacidade de sobreviver a determinados tratamento de herbicidas, que em condições normais controlam os membros dessa população. A resistência pode ocorrer naturalmente (seleção) ou ser induzida com uso de técnicas de engenharia genética, cultura de tecidos ou de agentes mutagênicos. A resistência pode ainda ser cruzada ou múltipla. É cruzada, quando um biótipo é resistente a dois ou mais herbicidas de um mesmo grupo químico, devido apenas a um mecanismo de resistência; e é múltipla quando as plantas possuem dois ou mais mecanismos distintos de diferentes grupos químicos ou mesmo grupo químico e com diferentes mecanismos de ação.
34 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas MECANISMOS DE RESISTÊNCIA 5. Sensibilidade, Tolerância e Resistência A resistência múltipla é o maior problema atual e futuro, relacionado à resistência de plantas daninhas a herbicidas. Nos casos mais simples, dois ou mais mecanismos conferem resistência a apenas um herbicida. Já os casos mais complexos, são aqueles em que dois ou mais mecanismos conferem resistência à diversos tipos de herbicidas de diferentes grupos químicos. Um exemplo são biótipos de Alopecurus myosuroides encontrado na Austrália, que resistem a 15 herbicidas diferentes, entre eles diclofop, imazamethabenz, pendimethalim e simazine. Para controlar estas plantas daninhas é necessário empregar misturas de herbicidas que não tenham sua atividade afetada pelos mecanismos de resistência em questão. Há poucos casos registrados de resistência múltipla.
35 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA A teoria da evolução de Darwin, através da seleção natural, pode ser resumida em três princípios: Variação: morfológica, fisiológica e de comportamento entre indivíduos, dentro de qualquer população. Hereditariedade: a prole parece mais com seus pais do que com indivíduos não-aparentados. Seleção: algumas formas apresentam maior sucesso na sobrevivência e reprodução do que outras, em determinado ambiente (SUZUKI et al, 1992). A espécie como um todo vai mudando, por que seu indivíduos evoluem na mesma direção, e assim a população da próxima geração terá uma frequência elevada dos tipos que tiveram maior sucesso em sobreviver.
36 O surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas é um exemplo de evolução de plantas como consequência de mudanças no ambiente provocadas pelo homem (MAXWELL; MORTIMER, 1994).
37 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA O uso repetido de herbicidas para controle de plantas tem exercido alta pressão de seleção, provocando mudanças na flora de algumas regiões. Em geral, espécies ou biótipos de uma espécie que melhor se adaptam a determinada prática são selecionados e multiplicam-se rapidamente (HOLT, LEBARON, 1990).
38 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas Tempo para evolução e uma população de biótipos de plantas daninhas resistentes. (KISSMANN, 1996) Ano Nº plantas resistentes Nº plantas sensíveis % de controle Evolução ,9999 Imperceptível ,999 Imperceptível ,99 Imperceptível ,9 Imperceptível ,0 Imperceptível ,0 pouco perceptível ,0 perceptível ,0 evidente
39 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas FATORES QUE FAVORECEM O SURGIMENTO DA RESISTÊNCIA Pressão de Seleção Os fatores intensidade de seleção e sua duração contribuem para a pressão de seleção exercida pelos herbicidas. A intensidade de seleção é a resposta da população de plantas às repetidas aplicações de herbicidas, que é medida pela eficiência de controle das plantas daninhas-alvo e pela relativa redução da produção de sementes das plantas remanescentes, que será proporcional à dose e, ou, ao tempo. A duração da seleção é medida pelo tempo em que o herbicida permanece com residual. O uso repetido de um mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, altamente específicos e com longo residual, produz alta pressão de seleção e aumenta a possibilidade de seleção de biótipos resistentes.
40 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas FATORES QUE FAVORECEM O SURGIMENTO DA RESISTÊNCIA Variabilidade Genética A variabilidade genética das plantas daninhas, associada à adequada intensidade e duração da seleção, torna inevitável o surgimento de plantas resistentes. Geneticamente há dois caminhos para o aparecimento de plantas daninhas resistentes: a ocorrência do gene ou de genes que conferem a resistência em frequência muito baixa na população ou através de uma mutação (MORTIMER, 1998).
41 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas DIAGÓSTICO DA RESISTÊNCIA EM CAMPO A resistência é um fenômeno que evolui em uma lavoura durante vários anos. O controle insatisfatório de plantas daninhas NÃO significa necessariamente que seja resistência. Segundo HRAC (1998), quando se suspeitar da ocorrência de resistência, deve-se responder às seguintes perguntas: A. Produto, dosagem, época ou estádio de aplicação, calibração, volume de calda, adjuvantes, tipo de bico e condições ambientais, antes e depois da aplicação, foram adequados? B. As falhas de cotrole foram para UMA espécie apenas? C. As plantas NÃO são resultados de reinfestação?
42 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas DIAGÓSTICO DA RESISTÊNCIA EM CAMPO Se as respostas forem afirmativas, deve-se iniciar a investigação de fatores que levam à resistência, com as perguntas: A. Ultimamente tem-se repetido aplicação de um mesmo herbicida ou herbicidas com mesmo mecanismo de ação? B. O herbicida em questão vem perdendo eficiência? C. Há casos já relatados de plantas resistentes a este herbicida? D. O herbicida não perdeu eficiência sobre outras espécies? Se a resposta a uma dessas perguntas for AFIRMATIVA, existe a possibilidade de ser resistência, devendo-se realizar testes para confirmação.
43 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas COMO CONFIRMA A RESISTÊNCIA O método mais comum e recomendado pelo HRAC (1998) é colher sementes das plantas suspeitas e de plantas sensíveis, semeá-las em vasos e tratá-las com doses crescentes do herbicida em questão. Para ter certeza que as plantas colhidas representam a população, recomenda-se colher em torno de 40 plantas ou sementes. Para servir com padrão sensível, é necessário colher sementes de plantas em locais que nunca receberam aplicação daquele herbicida. Aplicar seguindo as recomendações do fabricante. Avaliar após 2 a 4 semanas. As doses a serem aplicadas são: A. Metade da dose recomendada B. A dose recomendada C. Duas vezes a dose recomendada D. Quatro vezes a dose recomendada
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45 6.5.4 Resistência de plantas daninhas a herbicidas COMO EVITAR A RESISTÊNCIA A. Usar herbicidas com diferentes mecanismos de ação. B. Realizar aplicações sequenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. C. Usar mistura de herbicidas com diferentes mecanismos de ação e de detoxificação. D. Realizar rotação de mecanismo de ação. E. Limitar aplicações de um mesmo herbicidas. F. Usar herbicida com menor pressão de seleção (residual e eficiência). G. Rotacionar o plantio de culturas. H. Rotacionar os métodos de controle de plantas daninhas. I. Acompanhar mudanças de flora. J. Usar sementes certificadas. K. Controlar plantas daninhas em áreas adjacentes (terraços, pós colheita) L. Rotacionar o método de preparo de solo.
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