Senhoras e Senhores, bom dia!
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- Tânia Caiado Rico
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1 Senhoras e Senhores, bom dia! A minha primeira mensagem é sobre a importância e o valor da democracia nos Estados modernos. Em menos de dois anos, desde junho de 2013, o Brasil foi surpreendido duas vezes por manifestações populares de protesto que encheram as ruas. São movimentos que provocam uma reflexão coletiva sobre a qualidade dos serviços públicos saúde, educação, transporte, segurança e a necessidade de se gerir de forma mais eficiente os recursos disponíveis. Ficou claro, nas duas situações, que as conquistas passadas criaram um cidadão e um consumidor que não aceitam mais conviver longos períodos com problemas sem soluções. Tanto para o setor público, quanto para a iniciativa privada, tornou-se imperativo que se faça bem e que se 1
2 faça rápido! Nós mesmos, empresários da construção, fizemos esse exercício no ano passado. E, como contribuição ao debate, produzimos um documento com propostas para melhorar a eficiência do setor e aumentar os investimentos em obras essenciais de infraestrutura. Demonstramos também que, com os recursos já existentes, poderíamos produzir mais em um tempo menor. Esse documento tem como título uma frase que virou slogan para a CBIC. BRASIL MAIS EFICIENTE, UM PAÍS MAIS JUSTO! Senhoras e senhores! Neste momento grave, em que uma parcela considerável da população volta a protestar nas ruas contra a corrupção e a ineficiência do Estado, entendemos que o Congresso Nacional pode e deve 2
3 assumir uma posição de protagonismo no cenário político. O parlamento brasileiro tem legitimidade e representatividade para ouvir a voz das ruas, traduzilas e produzir um grande debate nacional sobre os problemas que nos afligem. Como em alguns exemplos históricos, a crise pode se tornar uma oportunidade. O Brasil, com a ajuda de todos, terá condições de sair desse impasse como um país mais íntegro, mais eficiente, mais justo e ainda mais democrático! O primeiro grande desafio será compatibilizar duas equações que, aparentemente, não fecham: a necessidade que temos de retomar os investimentos na economia em um quadro de ajuste fiscal. Inicialmente, precisamos restabelecer a confiança dos investidores privados. Só assim poderemos suprir a falta de recursos por parte do setor público, uma realidade com a qual temos de conviver hoje. 3
4 Nós, empresários da construção, temos as nossas propostas. E aproveitamos a oportunidade para apresentá-las agora às senhoras e aos senhores parlamentares que nos representam, de forma legítima e democrática, no Congresso Nacional. Porém, antes de falar do fim, queremos ressaltar a importância do meio! Sabemos que os países mais evoluídos são aqueles que identificam rápidamente os problemas e apresentam grande capacidade de resolvê-los. Ou seja, são países que dispõem de instituições sólidas, capazes de garantir um diálogo qualificado e efetivo com as forças representativas da sociedade. E assim conseguem encaminhar, no tempo certo e de forma adequada, as melhores soluções possíveis para as dificuldades conjunturais. Este ambiente institucional é amplo e costuma 4
5 envolver muitos atores, como políticos, empresários, acadêmicos, mídia e representantes da sociedade civil. Mas é no parlamento que ele se materializa, se torna palpável e produz decisões. Portanto, o Congresso Nacional é a instituição com maior legitimidade para mediar conflitos, intereses, e chegar a um denominador comum entre as partes. Só a diversidade da representação parlamentar pode produzir consensos democráticos, de forma transparente e controlada. Nesse sentido, a CBIC passa às senhoras e aos senhores uma série de documentos, que podem servir de subsidios para a ação parlamentar. São estudos sobre temas de interesse do setor e também posicionamentos sobre projetos em tramitação no Congresso. Na verdade, sugestões para minimizar os efeitos da 5
6 crise econômica e criar condições para a retomada do crescimento. Para sermos breves, abordaremos agora alguns pontos principais: 1. Gastos públicos com foco no investimento Reconhecemos a necessidade de ajuste macroeconômico, porem entendemos que não é preciso e nem recomendável cortar gastos com investimentos. Não é necessário porque, na crise atual, ao contrário das anteriores, não existe crise cambial e o Brasil não enfrenta restrições de liquidez. Nesse caso, projetos financeiramente viáveis, deveriam prosperar. Como estratégia de longo prazo para aumentar o investimento em infraestrutura, são necessários: i) aumentar a taxa de poupança doméstica ii) tornar o investimento mais atraente para o setor privado, o 6
7 que requer construir um ambiente de negócios mais favorável e uma postura mais aberta às privatizações por parte do setor público; iii) melhor planejamento, para evitar desperdícios. Neste momento, o investimento em infraestrutura é altamente recomendável. Em primeiro lugar, a crise atual é eminentemente uma crise de oferta. Tanto o grau de utilização da capacidade instalada quanto as taxas de desemprego indicam não haver capacidade ociosa na economia, ainda que estejamos vivenciando um período de estagnação. Nesse quadro, é fundamental aumentar a produtividade. No longo prazo, isso é possível com pesados investimentos em capital humano. Mas, no curto prazo, a melhor estratégia é ampliar a oferta agregada, via investimentos. Neste cenário, investimentos em infraestrutura são particularmente desejáveis, pois impactam positivamente a produtividade da economia em todos os setores. 7
8 2. Perenizar programas de habitação Precisamos criar mecanismos que tornem permanentes os programas de habitação, tornà-los PROGRAMAS DE ESTADO. Estudo da Fundação Getúlio Vargas demonstra que, até junho de 2014, as obras do programa Minha Casa, Minha Vida geraram, diretamente, 1,2 milhão de postos de trabalho (média de 244 mil postos por ano). Foram gerados também mais de 3 bilhões de reais em tributos, o que permite estimar que retornaram aos cofres públicos, na forma de impostos, 49 % dos subsidios desembolsados no programa. É imprescindível que os recursos para investimentos em Habitação de Interesse Social 8
9 sejam programados para um período mínimo de cinco anos. Essa é uma atividade de longo prazo, que precisa de horizonte para se desenvolver com eficiencia. Só assim teremos melhores produtos a um custo menor. Quem ganhará com isso é o Estado brasileiro e, por consequência, a população de menor poder aquisitivo, que terá acesso a imóveis de qualidade a um preço mais justo. 3. Custo da terra urbanizada Hoje, um dos grandes problemas do mercado imobiliário, incluindo o Minha Casa, Minha Vida, é o elevado custo da terra. Para isso, precisamos aumentar a oferta e diminuir os custos de produção. Recomendamos que o licenciamento se dê por fases, para que o empreendimento não fique à mercê de mudanças constantes na legislação. 9
10 As leis devem ser modernizadas, para que possamos revitalizar e reutilizar os centros urbanos deteriorados. Um edificio de 50 anos, por exemplo, não atende às exigências atuais de acessibilidade e prevenção de incêndio. Mas podemos ocupá-lo recorrendo a novas tecnologias, sem abrir mão dos princípios de segurança e de respeito ao consumidor. É o que fazem hoje muitos países: na Holanda, por exemplo, 80 % das atividades da construção concentra-se nesse mercado. 4. Excesso de Burocracia Estudo da consultoria internacional Booz & Co. revela que 12% do valor de venda de um imóvel é fruto do excesso de burocracia. Um emaranhado de regras, muitas vezes ininteligiveis, retarda os 10
11 processos de construção e de incorporação imobiliária. No Brasil, é comum a aprovação de leis reguladoras em clima de forte pressão emocional. Como resultado, paraliza-se completamente determinada atividade produtiva. E não se consegue mais restabelecer a racionalidade. 5. Legislação ambiental O respeito ao meio ambiente é, hoje, uma preocupação de todos os empresários da construção e do mercado imobiliário. O que questionamos é o emaranhado de normas, leis, resoluções e portarias que regulam o setor. Também achamos absurdo que não existam regras específicas para o uso do solo urbano. A legislação ambiental trata, da mesma forma, situações diferentes. 11
12 Precisamos, urgentemente, de um código ambiental específico para as áreas urbanas, que devem ter uma abordagem diferenciada. 6. Lei de Licitações Muito se tem falado sobre a Lei Mas se ela tivesse sido utilizada de forma adequada, não estaríamos vivendo hoje uma crise na contratação de grandes obras. De qualquer forma, defendemos o aperfeiçoamento da Lei de Licitações, que está em vigor há muitos anos e deve ser atualizada. O mais importante são projetos de qualidade e normas que impeçam o direcionamento de resultado e/ou limitem a participação de concorrentes. Para isso, propomos: 1. Pré-cadastramento. 12
13 2. Disputa deve ocorrer entre empresas de perfis semelhantes. 3. Exigência de capacidade técnica deve ser compatível com o objeto da licitação. 4. Ressarcimento de prejuizos causados por atrasos de pagamentos; 5. Dentre outras; Também não é comprensível que uma regra regule a compra de produtos de limpeza e a contratação da obra de uma usina hidrelétrica. Defendemos a criação de regras específicas para a construção civil. 7. Concessões/PPPs Precisamos criar regras que permitam a participação de um maior número de empresas nos contratos de concessões e PPPs. Não podemos 13
14 apostar num modelo que concentra o mercado na mão de poucos. O Brasil tem muitas empresas aptas a assumir obras na área de infraestrutura, seja por meio de licitacões públicas, concessões ou PPPs. Daí a necessidade de se criar um modelo que garanta a participação de um maior número de concorrentes. Sempre deve ser permitida a formação de consórcio de empresas. Ao mesmo tempo, acreditamos que a legislacao tem que ser dura em relação ao gestor público que quebra contrato e gera um clima de insegurança jurídica. Até porque a insegurança aumenta o custo das obras e acaba por penalizar toda a população que paga impostos. 8. Relações de Trabalho 14
15 Por muito tempo, criou-se uma imagem de que os trabalhadores da construção são despreparados. Hoje, este contexto mudou. Nenhuma empresa sobrevive sem melhorar, de forma constante, os índices de produtividade. Nos últimos anos, as empresas construtoras tem investido muito em qualificação profissional, tecnologia e novos equipamentos. Há uma consciência geral de que precisamos inovar para aumentar a produtividade e oferecer empregos de qualidade. Defendemos também a urgente regulamentação da atividade de subempreita na construcão. Trata-se de um modelo de contratação antigo, que está em vigor desde a década de 30. E ainda hoje as empresas construtoras são questionadas se podem ou não fazer subcontratações. Entendemos que as distorções devem ser identificadas e punidas, mas 15
16 não se pode prejudicar um setor inteiro porque alguns cometem irregularidades. Saúde e segurança do trabalho também devem merecer toda a nossa atenção. No entanto, não tem sentido exigir dos empresários da construção que cumpram as atuais quotas para a contratação de aprendizes e de pessoas com deficiência. Somos proibidos de contratá-los para a maior parte das atividades, e ainda nos exigem o cumprimento de quotas como se não houvesse restrição. Nossa proposta é que estas regras sejam revistas para que possamos atendê-las. E para que não fiquemos à mercê de entendimentos da fiscalização. O mesmo vale para a definição do que seja trabalho análogo a escravo, um conceito muito subjetivo e que também gera inseguranca jurídica. 9. Reduzir a informalidade 16
17 O Ministério do Trabalho precisa focar sua energia no combate à informalidade. Os últimos dados disponíveis pela PNAD mostram que 57 % dos ocupados em construção civil não recolhem contribuição para a Previdência Social. Imaginem o quanto a formalização do emprego no setor poderia contribuir para a arrecadação do sistema Assim, as empresas que atuam na formalidade acabam prejudicadas pela concorrência desleal dos informais. E os trabalhadores, que se submetem a essa situação degradante, perdem o direito aos benefícios assegurados pela legislação trabalhista e previdenciária. Esse alerta se torna oportuno porque, em momentos de retração da economia, a informalidade na contratação da mão-de-obra tende a crescer. 17
18 Reconhecemos que é bem mais fácil fiscalizar uma empresa formal, com endereço conhecido, do que inúmeras obras informais espalhadas por este país a maior parte, na periferia das grandes cidades. Mas essa prática tem que mudar. Senhoras e senhores parlamentares, Essa é a nossa pauta. São sugestões que apresentamos para, em um momento de crise, identificar oportunidades! Estamos convencidos de que essas medidas, se adotadas pelo governo federal e pelo Congresso, poderão melhorar substancialmente o desempenho e a produtividade da construção civil, um setor que teve papel fundamental no crescimento da economia nos últimos anos. A CBIC, fiel à sua tradição e à sua história, estará 18
19 sempre a disposição para ajudar o país a encontrar o melhor caminho diante das dificuldades atuais. Temos uma equipe qualificada de profissionais, que estão aptos a apoiar iniciativas, proposições, e a participar de debates sobre os temas abordados aquí. Aproveitamos para apresentar às senhoras e aos senhores parlamentares o nosso coordenador de Relações Institucionais, Luiz Henrique Cidade, que nos representa no dia-a-dia do Congresso. Para finalizar, agradecemos também a toda equipe da CBIC que nos apoiou na realização desse evento. E aos integrantes do Conselho de Administração, na pessoa da companheira Betinha Nascimento. Muito obrigado, Betinha, muito obrigado, senhoras e senhores parlamentares! 19
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