de emprego. 1º -. 2º - Enseja justa causa por abandono de emprego a falta injustificada por 30 (trinta) dias ininterruptos.

Transcrição

1 PARECER Ementa: Indicação nº 059/2012. Assunto:Projeto de Lei nº 4001/2012,de Autoria do Senador Valdir Raupp, Pretende acrescentar parágrafos ao que art. 482 da CLT,para disciplinar o abandono de emprego. 1- RELATÓRIO. Trata-se de parecer solicitado pelo Instituto dos Advogados Brasileiros sobre Projeto de Lei que pretende acrescentar os parágrafos 2º, 3º e 4º ao artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho, que disciplina uma das formas considerada como justa causa para a demissão do empregado que faltar 30 dias seguidos ao serviço, o - ABANDONO DE EMPREGO-, com as seguintes redações:- {(Artigo º -. 2º - Enseja justa causa por abandono de emprego a falta injustificada por 30 (trinta) dias ininterruptos. 3º - O empregador deverá notificar o empregado, pessoalmente ou através do correio, com aviso de recebimento, da aplicação da justa causa por abandono de emprego, caso o empregado não retorne antes de completar os 30 (trinta) dias de ausência injustificada. 4º - Caso o empregado não seja encontrado em seu endereço deverá o empregador publicar edital de abandono de emprego em jornal de circulação local".

2 FUNDAMENTAÇÃO DA PROPOSTA. Segundo o Autor do Projeto, a matéria não se encontra regulada na legislação trabalhista, deixando a sua disciplina a critério da jurisprudência, que vem adotando a Súmula 32, do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, com a seguinte redação: {( Súmula 32 - ABANDONO DE EMPREGO - CESSAÇÃO DO BENEFíCIO PREVIDENCIARío - NOVA REDAÇÃO- Presume-se abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário sem justificar o motivo de não o fazer - {( 111- ANÁLISE DA MATÉRIA. O empregado ao ser admitido, assume a obrigação de trabalhar com diligência e continuidade no serviço a que se propôs, ao assinar o contrato de trabalho, de acordo com a legislação trabalhista em vigor (artigos 442 e seguintes da CLT). Dessa forma, o não comparecimento ao trabalho, pode configurar, a priori, o animus de abandonar o emprego, seja sua ausência injustificada ou não justificada, sem a permissão do empregador, e que ocorra de forma reiterada. O decurso de 30 (trinta)dias, prazo fixado pela jurisprudência, faz presumir a intenção do empregado em abandonar o emprego, que se constitui em um requisito acidental para a caracterização da falta prevista na alínea - i - do artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho. Segundo Vólia Bonfim Cassar, o animus de abandonar é requisito acidental e pode estar presente ou não.

3 .3. Para Alice Monteiro de Barros, o abandono de emprego "é uma falta que pressupõe a existência de dois elementos: o elemento subjetivo que se caracteriza pela intenção do empregado de não mais retornar ao trabalho e o elemento objetivo, que se configura pela ausência injustificada e prolongada por mais de 30 dias, no que se encontra muito bem acompanhada pelos doutrinadores Victor Russomano, Délio Maranhão, Rodrigues Pinto, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, formando uma corrente majoritária sobre o tema. A propósito, o Professor José Augusto Rodrigues Pinto, ao considerar que os elementos: o subjetivo - que corresponde ao animus de abandonar ou a intenção de deixar o emprego, e o objetivo - que corresponde ao tempo, observa que se esses dois elementos não se apresentarem absolutamente claros e perfeitamente conjugados,não há abandono de emprego. Analisa, ainda que a ausência física do empregado por mais de 30 (trinta) dias é apenas um dois elementos - o objetivo. Pondera, no entanto, que se o empregado se ausentar por mais de 30 (trinta) dias, pode ser, a principio, um indicativo de querer deixar o emprego, mas pode acontecer de estar acometido de uma enfermidade, sem poder comunicar-se com o empregador e, neste caso, tanto faz faltar, três, trinta ou trezentos dias que terão o mesmo significado, desprezível para caracterizar o abandono, pois a ausência não estará correspondendo ao propósito de ausentar-se. o Autor, ainda que como para demonstrar a dificuldade de se caracterizar o denominado abandono de emprego, trás à baila, um exemplo lapidar: do empregado que falta um único dia, sabendo-se, com segurança que viajou para o exterior, onde assumiu outro emprego, a natureza do propósito supera qualquer medida de tempo, e seria tolice aguardar os trinta dias para confirmar o que já se sabe desde o primeiro dia. Na realidade, o festejado Autor, procura demonstrar que os exemplos servem para enfatizar a indispensabilidade do elemento subjetivo.(tratado de Direito Material do Trabalho, Ltr, 2007, pp.564/565). o elemento subjetivo, refere-se à intenção do empregado de não mais retornar ao trabalho, até então exercido. Trata-se do "animus" de abandonar o emprego.

4 .4. A intenção do empregado diz respeito ao seu interior, fica no plano da sua vontade e de seus pensamentos sem permitir a qualquer terceiro, seja seu empregador ou qualquer outra pessoa provar qual realmente é a sua intenção. Afinal, como provar, o que não pode ser provado, o que alguém está pensando ou desejando, em seu intimo? A título de argumentação, algumas presunções, segundo Gustavo Filipe Barbosa Garcia, em Curso de Direito do Trabalho, Forense, p.642, podem levar a uma conclusão, desde que provados os indícios, pode se concluir a respeito do fato principal, no caso a intenção do empregado de abandonar o emprego e de não mais retornar. IV - CONCLUSÕES. Após passar em revista a opinião de doutrinadores abalizado, a pretendida inserção dos parágrafos 2º, 3º e 4º ao artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho, leva a seguinte reflexão: Será que a necessidade de notificação do empregado, convocando-o a retornar ao serviço, e não exigida por lei, não é essencial para a configuração do abandono de emprego? A convocação parece ter apenas o objetivo de tentar determinar que o empregado, efetivamente, não pretende mais retornar ao emprego (elemento subjetivo) pois, mesmo convocado, formalmente, não voltou ao serviço. Alice Monteiro de Barros afirma que o abandono de emprego, ainda que por meio de eufemismo, sob a forma de "deixou o serviço" deverá ser comprovada pelo empregador de forma insofismável, a teor do art.818 da CLT e do art.333,ii,do Cpc. A forma do empregador de querer provar processualmente o abandono por meio de convocações de retorno ao trabalho publicadas na imprensa e dirigidas ao empregado, só servirá como prova quando dirigida ao trabalhador com endereço

5 .5. incerto e indeterminado, desconhecido pelo empregador e, ainda assim, deverá ser ratificada por prova testemunhal. Na opinião da autora, da qual conjugamos, não se desincumbindo o empregador do encargo probatório, presume-se injusta a dispensa, porquanto o empregado tem a seu favor a presunção gerada pelo princípio da continuidade da relação de emprego. (Curso de Direito do Trabalho, ltr, 2011, p.716). Pelo exposto, diante da vasta doutrina que analisa abalizadamente a matéria e da qual conjugamos ipse literls, não vemos como a Comissão de Direito do Trabalho do Instituto dos Advogados Brasileiros, apoiar a presente Proposta de Emenda ao artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho, tendo em vista que as medidas propostas já vêm sendo utilizadas, na prática e com a utilização na Súmula 32 do Tribunal Superior do Trabalho. É o parecer, s.m.j. Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 2012