Direito Civil Direitos Reais Professor: Stanley Costa
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- Miguel Fragoso Canejo
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1 AULA 06: Efeitos Materiais da Posse UNIDADE II DA POSSE 1. Direito aos Frutos; 2. Benfeitorias e Direito de Retenção; 3. Responsabilidade pela Perda ou Deterioração; 4. Posse que conduz à Usucapião; 1. Direito aos Frutos: Segundo disposição do artigo do Código Civil, o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Complementa o parágrafo único, afirmando que os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação. Frutos são coisas acessórias destacadas da principal, rendimentos produzidos periodicamente pelo bem, sem alteração, diminuição ou perda de sua substância. Assim, duas são as suas características: i) produção periódica; ii) preservação da substância. Não se confundem com os produtos, porque estes são esgotáveis, exauríveis, não passíveis de renovação (ex: uma pedreira). Como indica o artigo 1.215, existe uma classificação dos frutos quanto à sua origem. Frutos naturais são dádivas da natureza, provenientes de uma força orgânica, decorrem da essência do bem, como por exemplo, frutos de uma árvore, plantações, crias de um animal e etc. Frutos industriais são decorrentes da atividade humana, do engenho humano, como é o caso da produção de uma fábrica. Por fim, fruto civis são as rendas auferidas pela utilização da coisa, como decorrência de relação jurídica patrimonial, tais como aluguéis, juros de capital, dividendos de ações. Entretanto, os frutos também podem ser classificados quanto à sua percepção, da seguinte forma: a) frutos pendentes, aqueles que ainda se encontram unidos à coisa, que não foram colhidos; b) frutos percebidos, que são os já colhidos; c) frutos estantes, 1
2 os quais já foram colhidos, mas encontram-se armazenados para futura venda; d) frutos percipiendos, que já deveriam ter sido colhidos, mas não o foram; e) frutos consumidos, aqueles não mais existentes, em razão da sua utilização. Assim sendo, cumulando as classificações e seguindo a inteligência do artigo 1.215, os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; enquanto que os civis reputam-se percebidos dia após dia. Temos ainda a regra legal de que, o possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos, pois equipara-se a dono quando se encontra de fato com o bem. Assim, enquanto permanecer de boa-fé poderá usar e gozar da coisa, retirando suas vantagens. A regra geral do Código Civil é de que, ao transferir a posse direta do bem, o proprietário mostra-se desinteressado por aquilo que possa dele ser subtraído. Todavia, o possuidor não tem direito aos frutos que estiverem pendentes quando perder sua posse ou cessar a sua boa-fé, por serem eles parte integrante da coisa principal. Nesta situação, estando de má-fé, o possuidor deverá restituir aqueles que foram colhidos e percebidos, os fraudulentamente foram retirados por antecipação, bem como os que, por sua culpa, deixou de perceber. No máximo, o possuidor de má-fé terá direito ao ressarcimento das despesas de produção e custeio, a fim de evitar o enriquecimento indevido por parte do proprietário. 2. Benfeitorias e Direito de Retenção: Previsão do artigo do Código Civil: O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Complementarmente, artigo 1.220: Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Entende-se por benfeitoria, toda obra realizada na estrutura da coisa com objetivo de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la, podendo ser de três espécies a depender do 2
3 escopo da alteração: i) Necessária (conservação CC art. 96, 3 ); ii) Útil (melhoramento - CC art. 96, 2 ); iii) Voluptuária (embelezamento - CC art. 96, 1 ). Destarte, tratando-se de possuidor de boa-fé, no momento em que restituir a coisa ele deverá ser indenizado pelo proprietário, no valor atual das benfeitorias necessárias e úteis (CC, art ), vez que elas valorizaram o bem. No que diz respeito às benfeitorias voluptuárias, é facultado ao possuidor levantá-las, quando isso for possível sem implicar em detrimento do bem. Ademais, o legislador ainda confere ao possuidor de boa-fé o direito de retenção (jus retentionis), que é a autorização para que retenha o bem consigo, por tempo indeterminado, até que receba a justa indenização (CC, art ). Diversa será a regra quando tratar-se de possuidor de má-fé. Neste caso, ele será indenizado apenas pelas benfeitorias necessárias, ficando a cargo do reivindicante da posse escolher entre pagar o valor atual e o valor do seu custo (CC, art ). As eventuais benfeitorias úteis e voluptuárias serão perdidas pelo possuidor de má-fé. Em qualquer situação, não lhe assistirá também o direito de retenção, devendo primeiro fazer a entrega do bem e posteriormente pleitear por alguma indenização (CC, art ). Complementarmente, importa-nos relembrar lições de direito das obrigações, especialmente destacando que os contratos de locação, arrendamento, comodato e outros similares, estabelecem ao possuidor direto uma obrigação de restituir coisa certa, sendo que o próprio artigo 242 do Código Civil prevê que em casos de melhoramento da coisa certa, tendo o devedor empregado trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas do mesmo estatuto atinentes às benfeitorias. Outrossim, nunca é demais observar que enquanto viger o contrato o possuidor direto terá posse justa e de boa-fé, contudo, se não fizer a devolução no termo estipulado, a posse se converterá em injusta e de má-fé, dada a precariedade (abuso de confiança). Assim, as benfeitorias realizadas até o termo final (dies ad que) seguirão a regra do artigo 1.219, enquanto que as realizadas após esta data seguirão a regra do artigo
4 Para fechar esse estudo, aprofundando o máximo possível do ponto de vista técnico, não poderíamos ignorar as normas especiais da lei de locações. Estabelece o artigo 35 da Lei 8.245/91 que, salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel. Assim, observemos a possibilidade da existência de cláusula de renúncia, autorizada, inclusive, por súmula do STJ: Súmula Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. Entretanto, em se tratando de contrato de adesão, não será considerada abusiva a cláusula que abranger também as indenizações por benfeitorias necessárias, como pacificou interpretação a V Jornada de Direito Civil: Enunciado n. 433 do CJF/STF A cláusula de renúncia antecipada ao direito de indenização e retenção por benfeitorias necessárias é nula em contrato de locação de imóvel urbano feito nos moldes do contrato de adesão. 3. Responsabilidade pela Perda ou Deterioração: Conforme regra prevista nos artigos 238 e 239 do Código Civil (obrigação de restituir coisa certa), res perit domino (a coisa perece para o dono). Assim, fácil é compreender a regra do artigo 1.217, cuja dicção: o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. O possuidor de boa-fé somente responderá pela perda ou deterioração do bem, quando culpado pela ocorrência, ou seja, tiver agido com imprudência, negligência ou imperícia na sua utilização. Por sua vez, o possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante (CC, art ). No direito obrigacional temos regra 4
5 semelhante, ao tipificar que o devedor da restituição, quando estiver em mora responde pela impossibilidade da prestação, ainda que resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada (CC, art. 399). Pelo exposto, concluímos então que a responsabilidade do possuidor de boa-fé é subjetiva, pois depende da comprovação de sua culpa (dolo, imprudência, negligência ou imperícia); enquanto que a responsabilidade do possuidor de má-fé é objetiva, pois independe da comprovação de culpa. Sendo responsabilidade objetiva, inverte-se o ônus da prova, par que o possuidor de má-fé tente demonstrar que o dano à coisa ocorreria mesmo que estivesse com o reivindicante. 4. Posse que conduz à Usucapião: Um dos últimos efeitos da posse, que será melhor estudado quando tratarmos do direito real de propriedade, é que a posse ad usucapionem exercida de forma mansa, pacífica, contínua e duradoura, por determinado período de tempo pode implicar em aquisição do domínio. É a posse sendo utilizada como meio hábil para captar o direito real de propriedade. 5
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