Gêneros Literários. Gêneros Literários Professor: Diogo Mendes 30/05/2014. Empurrão para o ENEM. Texto I
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- Pedro Henrique Castelo Mendonça
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1 Texto I O doutor Urbino agarrou o louro pelo pescoço com um suspiro de triunfo: ça y est. Mas o largou de pronto, porque a escada resvalou sob seus pés e ele ficou um instante suspenso no ar, e então conseguiu perceber que se matava sem comunhão, sem tempo para se arrepender de nada nem se despedir de ninguém, às quatro e sete minutos da tarde de domingo de Pentecostes. Fermina Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando ouviu o grito de horror de Digna Pardo e o alvoroço da criadagem da casa e depois da vizinhança. Atirou a colher de pau e tratou de correr como pôde com o peso invencível da idade, gritando feito uma louca sem saber ainda o que acontecia debaixo da copa da mangueira. E o coração lhe estourou em estilhaços quando viu seu homem estirado de costas no lodo, já morto em vida mas resistindo ainda um último minuto à chicotada final da cauda da morte para que ela sua mulher tivesse tempo de chegar. Chegou a reconhecê-la no tumulto através das lágrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento: Só Deus sabe quanto amei você. (García Marquez, Gabriel. In: O amor nos tempos do cólera. Tradução Antonio Callado. Rio de Janeiro: Record, 2006) Texto II Cena V DUNSINANE. DENTRO DO CASTELO. (Entram, com tambores e bandeiras, Macbeth, Seyton e soldados.) (...) SEYTON: A rainha está morta, senhor. MACBETH: Ela só devia morrer mais tarde; Haveria um momento para isso. Amanhã, e amanhã e ainda amanhã Arrastam nesse passo o dia a dia Até o fim do tempo pré-notado. E todo ontem conduziu os tolos À via em pó da morte. Apaga, vela! A vida é só uma sombra: um mau ator Que grita e se debate pelo palco, Depois é esquecido; é uma história
2 Que conta o idiota, toda som e fúria, Sem querer dizer nada. (Entra um mensageiro.) Não tens língua? Depressa, a história. (SHAKESPEARE, William. Macbeth. Tradução: Barbara Heliodora. São Paulo: Abril, 2010.) Texto III Para além da curva da estrada Talvez haja um poço, e talvez um castelo, E talvez apenas a continuação da estrada. Não sei nem pergunto. Enquanto vou na estrada antes da curva Só olho para a estrada antes da curva, De nada me serviria estar olhando para outro lado E para aquilo que não vejo. Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. Se há alguém para além da curva da estrada, Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. Essa é que é a estrada para eles. Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. Por ora só sabemos que lá não estamos. Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva Há a estrada sem curva nenhuma. (CAEIRO, Alberto. Disponível em: Acesso em 01 de maio de 2014.) Exercícios Texto para a questão 1. Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas?
3 Leviandade. (...) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. (...) (Ramos, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro. São Paulo: Record, 1984) 1. (UERJ) Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. Com a frase acima, o escritor lembra um princípio básico da literatura: a verossimilhança isto é, a semelhança com a verdade é mais importante do que a verdade mesma. A melhor explicação para este princípio é a de que a invenção narrativa se mostra mais convincente se: a) parecer contar uma história real. b) quer mostrar seu caráter ficcional. c) busca apoiar-se em fatos conhecidos. d) tenta desvelar as contradições sociais. Texto para a questão 2. Na última série do curso colegial, antes que eu completasse dezoito anos, o professor de Matemática, com mais de trinta, invadiu a sala de aula montado num corcel que pertencera a Sir Percival, metido na armadura que roubara do Rei Artur. Ao tirar o elmo, percebi que seus cabelos dourados, numa grandiosa revolução sobre a testa, quase encobriam o azul das íris. Em seguida, saltou do cavalo e veio até minha carteira, de espada em punho, apontar as duas incógnitas da equação em que eu me transformara: o amolecimento dos membros inferiores e a taquicardia de cento e vinte por minuto. Não houve jeito. Fiquei apaixonada e me casei no ano seguinte. Mas o casamento foi um teorema que só serviu para demonstrar a inutilidade da espada: era de papelão e não resistia ao menor embate. Em sete anos praticamente assexuados, sem ao menos um filho para chorar o silêncio de nossas noites, meu príncipe encantado se desencantou sob a forma de uma gema arrebentada em cima da clara. (GIUDICE, Victor. Salvador janta no Lamas. Rio de Janeiro: José Olympio. 1989) 2. (UERJ) Pelo trecho passam várias representações da figura do herói na literatura, através do personagem do professor de Matemática. Para a narradora, ele se transforma de um tipo de herói em outro. Essa transformação pode ser comprovada pela identificação do personagem do professor, respectivamente, com os seguintes tipos de herói: a) épico e anti-herói b) medieval e moderno c) intelectual e provedor d) verdadeiro e problemático 3. (ENEM)
4 Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação. COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, (Adaptado.) Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que: a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva. b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores. c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros. d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais. e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral. 4. (ENEM - Adaptada) Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio,
5 Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! (PESSOA, F. Poemas escolhidos. São Paulo: Globo, 1997.) Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo fazer poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no plano criativo do que no plano concreto, e criar foi a grande finalidade de sua vida. Poeta da Geração Orfeu, assumiu uma atitude irreverente. Com base no texto e na temática do poema Isto, conclui-se que o autor a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto. b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais. c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta. d) apresenta a concepção de que a voz do poeta é a expressão pura dos sentimentos. e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu lírico. Texto para a questão 5. Autorretrato falado Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz. Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei pelo que fui salvo. Descobri que todos os caminhos levam à ignorância. Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore. MANOEL DE BARROS Poesia completa. São Paulo: Leya, (UERJ) Uma obra literária pode combinar diferentes gêneros, embora, de modo geral, um deles se mostre dominante.
6 O poema de Manoel de Barros, predominantemente lírico, apresenta características de um outro gênero. Identifique esse gênero e cite duas de suas características presentes no poema. Gabarito 1. A 2. A 3. C 4. E 5. Narrativo. Ele apresenta os fatos numa sequência temporal / conta uma história. Além disso, apresenta ritmo marcado nem rimas, aproximando-se da fala.
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