O Direito humano à água e ao saneamento
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- Edite Macedo Cabral
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1 O Direito humano à água e ao saneamento Jaime Melo Baptista Presidente da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) Portugal Luanda, 24 a 27 de Setembro de 2013 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE ENERGIA E ÁGUAS INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENERGY AND WATER Centro de Convenções de Talatona, Luanda 25 a 27 de Setembro de 2013
2 O que caracteriza os serviços de águas?
3 Os serviços de águas Consumidores Saneamento de excreta Serviço de abastecimento de água (primeira parte do ciclo urbano da água) Relação contratual Entidades gestoras do serviço Serviço de saneamento de águas residuais (segunda parte do ciclo urbano da água) Recursos hídricos utilizáveis (variáveis no espaço e no tempo)
4 Os serviços de águas Água potável Água residual... ao bem estar dos cidadãos e à saúde pública (ex. redução da mortalidade infantil)... 1 investido nestes serviços poupa 9 em despesas de saúde. Resíduos urbanos Serviços estruturais e insubstituíveis das sociedades modernas, essenciais e às atividades económicas. 1 investido nestes serviços pode representar 6 em benefícios económicos. Estima-se que o aumento de longevidade desde a revolução industrial se deve em cerca de 80% às melhorias nos serviços de águas!
5 Os serviços de águas Estes serviços devem obedecer aos seguintes princípios: Universalidade tendencial de acesso ao serviço. Continuidade do serviço. Adequação do serviço em quantidade. Adequação do serviço em qualidade. Eficiência e equidade de preços do serviço.
6 Qual a situação internacional dos serviços de águas?
7 O enquadramento internacional Os cidadãos têm condições de abastecimento de água muito diferentes uns dos outros:?!
8 Os serviços de águas Os cidadãos têm condições de saneamento de águas residuais / excreta muito diferentes uns dos outros:?!
9 Os serviços de águas Os cidadãos têm condições de condições ambientais muito diferentes uns dos outros:?!
10 Os serviços de águas Esta situação tende a agravar-se face às previsões de crescimento da população mundial: Grande crescimento da população urbana dos países em desenvolvimento
11 Qual o enquadramento internacional dos serviços de águas?
12 O enquadramento internacional Os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, aprovados pelas Nações Unidas em 2000, estabelecem metas para os serviços de águas em termos de cobertura da população: Os países devem reduzir para metade até 2015 a população sem acesso a água potável e a saneamento. As Nações Unidas declararam o acesso aos serviços de abastecimento e saneamento como direitos humanos (2010): Os países membros das Nações Unidas têm a obrigação de promover as medidas necessárias para os concretizarem. (UN resolution 64/292 of 28 July 2010 )
13 O que não significa a obrigação dos Estados em implementarem esta Resolução?
14 O que não significa? Esta Resolução não significa que os Estados membros: Tenham que providenciar de imediato estes serviços a toda a população. Tenham que providenciar eles próprios diretamente estes serviços. Tenham que providenciar estes serviços gratuitamente.
15 O que significa a obrigação dos Estados em implementarem esta Resolução?
16 O que significa? Significa o direito de todos os cidadãos terem acesso a serviços adequados e seguros de abastecimento de água e de saneamento, essenciais à saúde pública e à proteção do ambiente, através de: Sistemas coletivos tradicionais; Sistemas coletivos simplificados; Sistemas individuais.
17 O que significa? Enquanto direitos humanos, os serviços devem ser: Fisicamente acessíveis. Adequadamente dimensionados. Higienicamente seguros. Economicamente acessíveis. Culturalmente aceitáveis. Enquanto direitos humanos, devem assegurar: Acesso sem descriminação. Participação dos cidadãos nas decisões. Monitorização e reporte.
18 O que significa? A prossecução destes direitos pelos Estados membros significa: Obrigação de respeitar (não ameaçar nem limitar o acesso). Obrigação de proteger (prevenir ameaças ou limitações por terceiras parte, incluindo prestadores de serviços de águas). Obrigação de cumprir: Facilitar (apoiar os cidadãos no acesso); Promover (educar sobre cuidados de higiene); Providenciar (assegurar o acesso aos cidadãos mais vulneráveis).
19 O que devem os Estados fazer para implementarem esta Resolução?
20 O que devem os Estados membros fazer Os Estados membros devem criar as condições necessárias à gradual generalização do acesso de toda a população a estes serviços. Devem para isso definir uma adequada política pública para estes serviços. Essa política fazer uma abordagem global e integrada (holística) para garantir o desenvolvimento sustentável destes serviços, compreendendo:
21 O que devem os Estados membros fazer 1. Existência de um plano estratégico nacional de abastecimento de água e saneamento de águas residuais / excreta, correspondendo à visão do Estado para o setor, função da sua realidade. 2. Definição de um enquadramento institucional adequado, com clara atribuição de responsabilidades pelas entidades públicas envolvidas, mormente: Regulador dos serviços de águas; Regulador de saúde pública; Regulador dos recursos hídricos; Regulador ambiental.
22 O que devem os Estados membros fazer 3. Definição dos modelos de governância passíveis de serem utilizados, por ex.: Gestão direta; Gestão delegada; Gestão concessionada. 4. Definição de um enquadramento legislativo e normativo adequado que contemple: Regime jurídico dos serviços; Regime jurídico da regulação; Regulamentação tarifária; Regulamentação da qualidade de serviço; Regulamentação da qualidade da água; Regulamentação técnico.
23 O que devem os Estados membros fazer 5. Definição de uma organização territorial otimizada para a gestão destes serviços, com aproveitamento de economias de escala, em geral a nível: local; regional. 6. Capacitação para a eficiente gestão de recursos financeiros, nomeadamente de fundos externos e de cooperação. 7. Construção de um vasto património de infraestruturas, implicando naturalmente avultados investimentos.
24 O que devem os Estados membros fazer 8. Capacitação de recursos humanos em número e competências, em gestão, engenharia, economia, direito, etc. 9. Definição (realista) de objetivos de qualidade de serviço, com posterior monitorização regular. 10.Definição de uma política tarifária, tendente a uma recuperação gradual de custos compatível com a capacidade económica da população. 11.Introdução de incentivos a uma melhoria da eficiência, quer estrutural do sector quer operacional das entidades gestoras.
25 O que devem os Estados membros fazer 12.Criação de instrumentos adequados de proteção dos consumidores, nomeadamente os mais carenciados. 13.Promoção do envolvimento da população (informado) nos processos de decisão. 14.Promoção de investigação e desenvolvimento, criando conhecimento endógeno e assegurando crescente autonomia nacional. 15.Criação de um quadro regulatório capaz de promover a prestação serviços com qualidade adequada e a preços socialmente aceitáveis.
26 Qual o papel da regulação dos serviços de águas?
27 A regulação dos serviços O que se pretende com a regulação: Promover o acesso a serviços de águas (prestados em regime de monopólio) com qualidade adequada e a preços socialmente comportáveis: Acesso + Qualidade de serviço Acessibilidade física do serviço Interrupções no abastecimento Qualidade da água Água não faturada e perdas reais Adequação da capacidade de tratamento Reabilitação de condutas Ocorrência de avarias em condutas Adequação dos recursos humanos Eficiência energética Destino de lamas do tratamento Preço do serviço Acessibilidade económica ao serviço pelo consumidor. Sustentabilidade económica e financeira das entidades gestoras.... com um nível de risco aceitável.
28 A regulação dos serviços O modelo regulatório passa por: Acompanhar a estratégia para o sector. Promover regras claras para o setor. Aplicar mecanismos de controlo de cada entidade gestora, a nível: legal e contratual; económico; de qualidade de serviço; de qualidade da água; da relação com os consumidores. Disponibilizar informação credível do setor. Incentivar a inovação no setor.
29 Deveremos continuar a adotar as atuais soluções tecnológicas?
30 Os serviços de águas do futuro Os países em desenvolvimento têm que enfrentar diversos desafios em termos de serviços de águas: Cobertura das zonas rurais; Cobertura das zonas periurbanas; Reabilitação/reforço das zonas urbanas; Construção de novas cidades. Devemos construir infraestruturas nos países em desenvolvimento replicando as soluções tecnológicas utilizadas no último século e meio? Não!
31 Os serviços de águas do futuro Veja-se o atual sistema centralizado e linearizado: Ciclo urbano da água - Abastecimento Ciclo urbano da água - Saneamento Estação de tratamento de água bruta Água para beber, cozinhar e higiene pessoal Água para lavagens e limpezas e urinóis Estação de tratamento de águas residuais (fecais e cinzentas) Água para sanitários Água para utilizações exteriores e irrigação Drenagem de águas de escorrências
32 Os serviços de águas do futuro Este sistema centralizado e linearizado permite um serviço de qualidade mas: Implica elevados custos de investimento, nomeadamente de transporte. Utiliza intensamente os recursos hídricos, pois a água é utilizada uma só vez. Consome muita energia no transporte e no tratamento. Tem dificuldade em ser implementado faseadamente, originando capacidade ociosa. Implica elevados encargos futuros para os consumidores para se assegurar a sua sustentabilidade económica e financeira.
33 Os serviços de águas do futuro Mas atualmente... Dispomos de tecnologia (de membranas) para tratar a água de origens alternativas (salgadas, salobras ou de menor qualidade), multiplicando origens de água mais próximas dos centros urbanos e reduzindo custos de transporte e distribuição. Dispomos de tecnologia para utilizarmos e voltarmos a utilizar (reutilizar) águas residuais em ciclos contínuos, em locais relativamente próximos da utilização. Sabemos produzir energia nomeadamente a partir das águas residuais, transformando os serviços de águas de grandes consumidores em produtores de energia. É pois viável um novo paradigma!
34 Os serviços de águas do futuro Imagine-se um sistema semi-centralizado do futuro: Ciclo urbano da água - Abastecimento Ciclo urbano da água - Saneamento Estação de tratamento de água bruta Estação de tratamento de água reutilizada Drenagem e tratamento de águas de escorrências Água para beber, cozinhar e higiene pessoal Água para lavagens e limpezas (e urinóis?) Água para sanitários Água para utilizações exteriores e irrigação Infiltração no solo Estação de tratamento de águas residuais cinzentas Estação de tratamento de águas residuais fecais Produção de fertilizante Lixo orgânico (cozinhas) Produção de energia (metano) Produção de energia (bomba de calor) Lagos de armazenamento, auto purificação e lazer inseridos no espaço urbano Aquífero Canais e descarregador de emergência
35 Os serviços de águas do futuro Este sistema semi-centralizado permitirá igualmente um serviço de qualidade mas: Utilizará muito menos recursos hídricos do que atualmente. Utilizará muito menos energia e poderá mesmo ser produtor líquido. Permitirá a recuperação de subprodutos (ex. nutrientes). Pode ser implementado faseadamente de acordo com as necessidades. Será mais fácil a sua sustentabilidade ambiental, económica/financeira.
36 Que sugestões finais?
37 Sugestões Os Estados membros devem definir (adequadas) políticas públicas no acesso à água e ao saneamento, com uma visão global e integrada. Essas políticas devem incluir aspetos legislativos, institucionais, de governância, económicos, financeiros, técnicos, operacionais e sociais. A sua implementação deve ser progressiva, focalizada nas prioridades e dando especial atenção às populações mais carenciadas. Essas políticas devem resolver os problemas atuais, mas sem esquecer os desafios do futuro.
38 IRAR Lisboa, setembro 2014
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42 IRAR Lisboa, setembro 2014 Contamos consigo!
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