PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO - 4ª REGIÃO RIO GRANDE DO SUL

Transcrição

1 Fl. 1 Reclamante: Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postais, Telegráficas e Similares do Estado do Rio Grande do Sul - SINTEC/RS Reclamada: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT VISTOS, ETC. Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postais, Telegráficas e Similares do Estado do Rio Grande do Sul - SINTEC/RS, na qualidade de substituto processual, ajuíza ação de cumprimento contra Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT em 07/03/2012, postulando o imediato cumprimento da cláusula 61, 7º, do dissídio coletivo do ano de 2011, no que tange ao pagamento da parcela denominada vale cesta extra, no valor de R$ 563,50 para todos os trabalhadores do estado do Rio Grande do Sul que preencham os requisitos estabelecidos no dissídio. Requer a concessão do benefício da justiça gratuita e honorários assistenciais. Atribui à causa o valor de R$ ,00. A reclamada aduz a incompetência do Juiz de primeiro grau e a ilegitimidade ativa para postular em nome de todos os trabalhadores do estado do Rio Grande do Sul. Argui a prescrição qüinqüenal. Sustenta que houve erro material na cláusula invocada pelo autor quanto à concessão de crédito extra no valor de R$ 563,50 a título de vale extra. Diz que o acórdão que julgou o dissídio coletivo incorporou a proposta de acordo apresentada em audiência, que no item e.3 estabelece vale extra de R$ 575,00. Ressalta que os empregados receberam o vale extra no mês de dezembro de 2011 no valor de R$ 575,00, não sendo devido novo pagamento, com pretendido na petição inicial. Requer a aplicação ao autor da pena de litigância de má-fé. Assevera não atendidos os requisitos legais ao deferimento da assistência judiciária. Ressalta que goza dos mesmos privilégios assegurados à Fazenda Pública. Na instrução processual, juntam-se documentos. Há razões finais, sendo rejeitadas as propostas de conciliação. É o relatório.

2 Fl. 2 ISTO POSTO: I PRELIMINARMENTE 1. INCOMPETÊNCIA. A reclamada argui a incompetência do Juiz de primeiro grau, asseverando que a matéria é de competência do Tribunal Superior do Trabalho, pois envolve discussão sobre erro material constante em cláusula de sentença normativa. Ressalta que o Tribunal Superior do Trabalho ao julgar os embargos na ação de dissídio coletivo entendeu pela incompetência absoluta dos Juízos locais. Requer a extinção do processo, sem resolução de mérito, de acordo com o art. 267, IV, do CPC. Na forma do parágrafo único do art. 872 da CLT a competência para a ação de cumprimento é da instância ordinária. No processo de dissídio coletivo n estabeleceu-se competência exclusiva do TST apenas para os desdobramentos daquele dissídio, a qual não prevalece para dirimir questões posteriores ligadas ao cumprimento da sentença normativa. Neste sentido, transcrevo parte dos fundamentos lançados no acórdão que julgou os embargos de declaração em agravo regimental (fls ): Conforme explicitado na decisão agravada: de fato, estabeleceu-se a competência exclusiva do TST - contudo apenas quanto aos desdobramentos daquele dissídio coletivo de greve - que foi julgado em 11/10/2011; é fato notório e incontroverso que o movimento paredista se encerrou na quinta-feira, dia , tratando-se, neste instante, de interpretação das cláusulas da sentença normativa e do seu cumprimento ou descumprimento; as decisões dos juízos de primeiro grau, embora se relacionem com a sentença normativa proferida no dissídio coletivo, foram exaradas em ações autônomas em que se debate acerca do cumprimento da sentença normativa, com

3 Fl. 3 a interpretação de suas cláusulas; as medidas processuais indicadas pela ECT não se referem ao movimento paredista, à greve, porém à forma de cumprimento da sentença normativa. (...) Observe-se que houve expressa referência a questões afetas -ao presente dissídio coletivo- e à nulidade de decisões proferidas que dirimiram questões subjacentes ao dissídio. Ou seja, é clara a intenção contida no comando judicial do TST de declaração de nulidade das decisões paralelas que já haviam sido proferidas no momento do julgamento, não se referindo a questões futuras decorrentes do cumprimento da sentença normativa, mas a incidentes contemporâneos ao processamento do dissídio coletivo (ou seja, no curso da greve e na pendência de julgamento do dissídio coletivo). Não há dúvida de que a sentença normativa não é executada (ao contrário da sentença em processo individual ou plúrimo). Ela pode ser objeto de cumprimento. Somente na ação de cumprimento, poderão ser discutidos e defendidos interesses oriundos da sentença normativa, com a busca da concretização dos direitos abstratos reconhecidos judicialmente. E a competência para processar a ação de cumprimento é dos Juízos do Trabalho do local da prestação do serviço (parágrafo único do art. 872 da CLT). Portanto as questões afetas ao estabelecimento de um cronograma de reposição dos dias parados e à possibilidade prática de efetuar essa compensação não poderão ser definidas por esta Corte Superior, que apenas estabeleceu as diretrizes gerais relativas à greve, compondo o conflito pela sentença normativa examinada. O parágrafo único do art. 872 da CLT, ao determinar que é

4 Fl. 4 do Juízo da Vara a competência para o cumprimento da decisão normativa, viabiliza a condução de atos complexos e variados que não poderiam ser impelidos diretamente pelo TST. Isso porque o dissídio coletivo é um processo peculiar, cujas consequências - como se dá neste caso concreto - podem atingir trabalhadores em todo o País. Caberá às partes buscar a solução dos incidentes que pontualmente se verificarem no cumprimento da sentença normativa junto aos Juízos locais, que terão competência e possibilidade de verificar as especificidades surgidas em cada situação concreta. Por essas razões, as particularidades que advierem do cumprimento da sentença normativa terão de ser solucionadas pelo Juízo do local em que ocorrerem. Desta forma, rejeito a argüição de incompetência. 2. ILEGITIMIDADE ATIVA. Alega a reclamada que em caso de eventual procedência da ação, a condenação deve abranger apenas os empregados lotados no âmbito de atuação do sindicato autor. Assiste razão à reclamada, pois o sindicato autor não tem legitimidade para representar trabalhadores lotados fora de sua base territorial. Desta forma, reconheço que o sindicato autor tem legitimidade para representar apenas os empregados da região compreendida por todos os municípios que se encontram na lista do estatuto social do SINTECT/RS, conforme se apurar em liquidação de sentença, em caso de condenação. II MÉRITO 1. PRESCRIÇÃO. Considerando que na presente ação é pretendido o pagamento de vale cesta extra devido no mês de dezembro de 2011, de acordo com o art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal, não há prescrição a ser pronunciada.

5 Fl VALE CESTA EXTRA. O autor pretende o cumprimento da cláusula 61, 7º, do dissídio coletivo do ano de 2011, no que tange ao pagamento da parcela denominada vale cesta extra, no valor de R$ 563,50 para todos os trabalhadores do estado do Rio Grande do Sul que preencham os requisitos estabelecidos no dissídio. A reclamada sustenta que foram realizadas reuniões de negociação, tendo proposto vale extra no valor de R$ 575,00 a ser pago no mês de dezembro de 2011, proposta esta formulada pela Exma. Ministra que presidiu a audiência de conciliação realizada em 04/10/2011. Diz que a audiência foi suspensa e quando reaberta, as partes concordaram com a proposta da Exma. Ministra. Refere que esta mesma proposta foi apresentada na audiência realizada em 07/10/2011. Assevera que por equívoco o acórdão do processo n decidiu incorporar a proposta de acordo apresentada em audiência quanto ao vale extra no valor de R$ 575,00 e deferir um crédito extra no valor de R$ 563,50. Ressalta que não existem dois vales, mas apenas a correção do valor de R$ 563,50 para R$ 575,00, tendo a reclamada pago o segundo valor em dezembro de Equivoca-se a reclamada, na medida em que não restou caracterizada erro material no acórdão do processo de dissídio coletivo n , pois proferido nos seguintes termos: VIII) DECIDIU, ainda, por unanimidade, incorporar a proposta de acordo apresentada na audiência de conciliação e julgamento, e aceita, de início, pelas partes, para deferir: Cláusula 61 - VALE REFEIÇÃO/ALIMENTAÇÃO - A ECT concederá aos seus empregados, até o último dia útil da primeira quinzena de cada mês, a partir de agosto/2011, Vale Refeição ou Vale Alimentação no valor facial de R$ 25,00 (vinte e cinco reais) na quantidade de 23 (vinte e três) ou 27 (vinte e sete) vales, para os que têm jornada de trabalho regular de 5 (cinco) ou 6 (seis) dias por semana, respectivamente, e Vale Cesta no valor de R$ 140,00 (cento e quarenta reais). (...) 7º - Concessão de 01 crédito extra no valor total de

6 Fl. 6 R$ 563,50 (quinhentos e sessenta e três reais e cinquenta centavos) a título de Vale Cesta extra, respeitados os percentuais de compartilhamento previstos no parágrafo 1, alíneas (a), (b) e (c) desta cláusula, que será pago até o último dia útil da primeira quinzena de dezembro/2011. Farão jus a esta concessão. I - Os empregados em atividade admitidos até 31/7/2011. II - Os empregados que, em 30/11/2011, estejam afastados pelo INSS (auxílio doença e acidente do trabalho) por até 90 (noventa) dias; III - Empregadas em gozo de licença-maternidade de até 120 (cento e vinte dias) e em licença adoção (conforme legislação especifica), inclusive as que optarem pela prorrogação da licença, quando do referido pagamento; (...) XI) DECIDIU, também, incorporar a proposta de acordo apresentada na audiência de conciliação de julgamento, e aceita, de início, pelas partes, para deferir: (...) b) por unanimidade, vale extra no valor de R$ 575,00 (quinhentos e setenta e cinco reais), a ser pago, no mês de dezembro de 2011, aos trabalhadores admitidos até 31 de julho de Diversamente do alegado pela reclamada, verifico que as parcelas possuem denominação diversa, quais sejam, vale cesta extra e vale extra. Também os requisitos para fazer jus ao benefício são diversos, não havendo elementos de que as parcelas possuem a mesma origem. De ressaltar que a reclamada deveria ter suscitado através de embargos de declaração a alegada duplicidade de pagamento. No entanto, os embargos de declaração apresentados não versaram sobre a questão. Assim, permanece o comando da sentença normativa para pagamento de vale cesta extra e vale extra de forma cumulativa. Nesta senda, condeno a reclamada a pagar vale cesta extra, no valor de R$ 563,50, conforme previsto no cláusula 61, 7º dissídio coletivo n aos trabalhadores substituídos da região compreendida por

7 Fl. 7 todos os municípios que se encontram na lista do estatuto social do SINTECT/RS. 3. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. Rejeito a pretensão da reclamada de aplicação ao autor da multa por litigância de má-fé, por não caracterizada nenhuma das hipóteses previstas no art. 17 do CPC. 4. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. Carece de amparo legal a pretensão de concessão ao sindicato-autor do benefício da assistência judiciária, na medida em que esta se destina ao trabalhador e não à entidade sindical. 5. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. A Instrução Normativa nº 27/2005 do Tribunal Superior do Trabalho estabelece em seu art. 5º: Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência. Assim, com base no disposto no art. 20 do Código de Processo Civil, defiro honorários advocatícios ao procurador do autor, fixados em 10% sobre o valor da condenação. 6. PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA. Aplicável o entendimento expresso na Súmula 45 do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, in verbis: ECT. DEPÓSITO RECURSAL E CUSTAS. ISENÇÃO. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos-ECT se equipara à Fazenda Pública no que diz respeito às prerrogativas previstas no Decreto-Lei 779/69, estando dispensada da realização do depósito recursal e do recolhimento das custas processuais.

8 Fl JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. Os juros e a correção monetária decorrem de imposição legal, devendo obedecer à lei vigente à época da liquidação de sentença, quando haverá a sua incidência. Desta forma, relego para o momento oportuno a fixação dos critérios de atualização monetária. Ante o exposto, nos termos da fundamentação, preliminarmente, rejeito a argüição de incompetência e limito a legitimidade do sindicato autor à representação dos empregados da região compreendida por todos os municípios que se encontram na lista do estatuto social do SINTECT/RS. No mérito, julgo PROCEDENTE a ação para condenar a reclamada Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT a pagar, nos termos e critérios da fundamentação, em valores a serem apurados em liquidação de sentença, acrescidos de juros e correção monetária na forma da lei, vale cesta extra, no valor de R$ 563,50, conforme previsto no cláusula 61, 7º dissídio coletivo n aos trabalhadores substituídos da região compreendida por todos os municípios que se encontram na lista do estatuto social do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postais, Telegráficas e Similares do Estado do Rio Grande do Sul -SINTEC/RS. A parcela possui natureza indenizatória, não incidindo contribuições previdenciárias e fiscais. Condeno, ainda, a reclamada a pagar honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação. Custas de R$ 240,00, calculadas sobre o valor arbitrado à condenação de R$ ,00, pela reclamada, isenta do recolhimento. Intime-se a União.

9 Fl. 9 CUMPRA-SE após o trânsito em julgado. Sentença publicada em Secretaria no dia 20/08/2012, às 17h, estando as partes cientes. NADA MAIS. LENARA AITA BOZZETTO Juíza do Trabalho