Advogado: Bianka Caelli Barreto Rodrigues, OAB/AM Recebido, no plantão judicial, em , às 08:00 hs.

Transcrição

1 PLANTÃO JUDICIAL MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR Plantonista: Juiz Dídimo Santana Barros Filho. Impetrante: Márcio Silva de Almeida. Advogado: Bianka Caelli Barreto Rodrigues, OAB/AM Impetrado: Juiz da 8ª Zona Eleitoral Coari/AM. DECISÃO Recebido, no plantão judicial, em , às 08:00 hs. Trata-se de MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de liminar, impetrado por MARCIO SILVA DE ALMEIDA contra ato da MM. Juíza da 8ª Zona Eleitoral Coari/AM. Relata o impetrante que é o primeiro suplente da Vereadora CLEICIANE DA CRUZ E SILVA, assim eleita no pleito de 2012, e que por força da sentença proferida pelo Juízo da 8º ZE de Coari/AM, na AIME nº proposta pelo MPE, o mandato da referida parlamentar municipal foi cassado. Afirma que assim assumiu o cargo de Vereador do município de Coari/AM.

2 Posteriormente, a referida parlamentar propôs ação cautelar para dar efeito suspensivo ao seu recurso eleitoral, que foi concedida pelo Juiz Plantonista, tendo sido a liminar cassada pelo relator, após a distribuição. Aduz o Impetrante que vinha exercendo o mandato de Vereador de Coari/AM até que foi surpreendido recentemente com o Ofício nº 81/2015, de 23 de março de 2015, expedido pela Autoridade Impetrada, no qual informa ter procedido à retotalização dos votos, gerando um novo resultado do pleito. Em decorrência dessa retotalização, o Juízo Eleitoral determinou ao Presidente da Câmara de Coari/AM "proceda a posse do vereador eleito MÁRCIO AYONE CHAMY DE OLIVEIRA", alijando o impetrante do referido cargo. Argumenta que não há lugar para retotalização de votos, pois a Vereadora cassada teve seu registro de candidatura deferido, de modo que os votos por ela obtidos são computados para o partido no qual fez seu registro. Assevera que a sentença da AIME não determina, em momento algum, a nulidade dos votos computados para o partido nem faz referência a retotalização. Portanto, a autoridade impetrada incorreu em abuso de poder, já que praticou o ato sem que estivesse investida de legitimidade para tanto, porquanto à mingua de comando normativo que a autorizasse a assim agir. Afirma que ao proceder a retotalização dos votos a Autoridade Impetrada violou os artigos 175, 4º do CE e 16-A da Lei das Eleições e com isso acabou por ofender o direito líquido e certo do impetrante de manter-se no cargo de Vereador. Requer, ao fim: a) seja concedida initio littis e inaudita altera parte, com base no art. 7º, III, da Lei nº /2009, liminar para suspender imediatamente os efeitos do ofício

3 nº 81/2015 expedido pelo Juízo da 8ª ZE de Coari/AM, referente à retotalização dos votos e, em consequência, seja novamente empossado o Impetrante no cargo de Vereador do município de Coari/AM, na vaga decorrente da cassação da Vereadora CLEICIANE DA CRUZ E SILVA, até o julgamento do recurso eleitoral interposto por esta; b) seja notificada autoridade impetrada e como litisconsorte o candidato indevidamente empossado; c) seja expedido ofício para o Presidente da Câmara Municipal de Coari/AM, dando-lhe conhecimento da decisão liminar e posse do impetrante; Juntou vários documentos. O relatório, no essencial. O mandado de segurança é remédio constitucional (art. 5º, LXIX, CF/88) destinado à proteção de direito líquido e certo contra ato ilegal ou abusivo perpetrado por autoridade pública. Ensina Hely Lopes Meirelles (Mandado de Segurança: ação popular, ação civil pública, mandado de injunção, "habeas data" ed. Atual. Pela Constituição de São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 1989) que "Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante: se sua existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se o seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros meios judiciais" (pp. 13/14).

4 Portanto, o direito líquido e certo deve estar plenamente demonstrado por prova pré-constituída. De outro lado, para a concessão da liminar devem concorrer dois requisitos legais, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante se vier a ser reconhecido na decisão de mérito fumus boni juris e periculum in mora. No presente caso, em um exame de cognição sumária, restaram demonstrados os requisitos autorizadores da concessão da liminar requerida. Da simples análise dos documentos extrai-se que com a cassação do mandato da Vereadora CLEICIANE DA CRUZ E SILVA em decorrência da sentença proferida na AIME deveria assumir o cargo de vereador o Impetrante, por ser o primeiro suplente daquela, o que efetivamente ocorreu. Contudo, a Autoridade Impetrada praticou ato ilegal ao proceder a retotalização de votos e alterando o resultado do pleito, porquanto a procedência de Ação de Impugnação de Mandato Eletivo de candidato eleito pelo sistema proporcional não anula os votos para a legenda pela qual concorreu. A retotalização de votos da eleição proporcional somente poderia ocorrer quando no momento da eleição municipal a candidata não tivesse registro de candidatura deferido, circunstância que imporia a anulação dos votos a ela conferidos e o recálculo do quociente eleitoral e partidário, o que não é o caso dos autos. Assim dispõe o art. 175, 3º e 4º, do Código Eleitoral: Art Serão nulas as cédulas:

5 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não registrados. 4º O disposto no parágrafo anterior não se aplica quando a decisão de inelegibilidade ou de cancelamento de registro for proferida após a realização da eleição a que concorreu o candidato alcançado pela sentença, caso em que os votos serão contados para o partido pelo qual tiver sido feito o seu registro. Como é de fácil percepção, os votos conferidos a candidatos somente são nulos se conferidos a inelegíveis ou não registrados. O 4º do art. 175, por sua vez, estabelece que mesmo quando o cancelamento do registro do candidato se dê após as eleições, os votos serão computados para a legenda. Neste sentido, já decidiu o TSE, in verbis: ELEIÇÕES AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. ELEIÇÕES PROPORCIONAIS. CANDIDATA CASSADA. CÔMPUTO DE VOTOS PARA A LEGENDA. ART. 175, 4º, DO CÓDIGO ELEITORAL. NÃO PROVIMENTO. 1. Os votos obtidos por candidato, cujo registro encontrava-se deferido na data do pleito eleitoral, não são anulados, mas contados a favor da legenda pela qual o parlamentar posteriormente cassado se candidatou, por força do disposto no art. 175, 4º, do Código Eleitoral. (Precedentes: MS n /MS e MS n /CE). 2. A norma constante do art. 16-A, parágrafo único, da Lei n 9.504/97, introduzido pela Lei n /09, não afastou a aplicação do art. 175, 4, do Código Eleitoral, e sim inseriu na legislação eleitoral um entendimento que já havia sido adotado pela jurisprudência da Corte em julgados anteriores à vigência do referido dispositivo.

6 3. Agravo regimental desprovido. (AgR-REspe - nº Porto Alegre/RS, Acórdão de 29/04/2014 Relator(a) Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI, DJE - Data 27/05/2014 ) ERESPE - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº Quixadá/CE, Acórdão de 11/09/2007, Relator(a) Min. JOSÉ AUGUSTO DELGADO, DJ - Data 28/09/2007. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. INDEFERIMENTO ANTES DAS ELEIÇÕES. ANULAÇÃO DOS VOTOS. NOVO CÁLCULO DO QUOCIENTE ELEITORAL. 1. Confirmei em meu voto, após os votos-vistas dos Ministros Marcelo Ribeiro e Arnaldo Versiani, a tese de que são nulos os votos conferidos a candidato que teve seu registro de candidatura indeferido antes da realização da eleição, assim permanecendo até o trânsito em julgado do pedido de registro, embora seu nome constasse na urna eletrônica. Prevaleceu, nesse sentido, recente interpretação do art. 175, 3º, do Código Eleitoral (MS nº 3.525/PA, Rel. Min. Carlos Ayres Britto, sessão de ). 2. Não há a alegada omissão quanto ao art. 5º da Res.-TSE nº /2004, dispositivo que não afeta a conclusão do aresto combatido, apenas apresenta o entendimento do TSE sobre o que são registros sob o crivo da justiça especializada eleitoral. 3. O art. 3º da Res.-TSE nº /2004 condicionou o cômputo dos votos à legenda do partido ao indeferimento do registro após a eleição, o que não é a hipótese dos autos. 4. Não estando assegurados, ao partido ou ao candidato, a contagem dos votos para qualquer efeito, correta a determinação de que se proceda ao recálculo do quociente eleitoral. Aplica-se ao caso o seguinte precedente: "(...) indeferido ou cassado o registro, antes do pleito, a mera pendência de recurso contra a

7 decisão não assegura ao candidato nem ao partido - sempre na hipótese de eleições proporcionais - a contagem do voto para qualquer efeito (...)" (TSE, MS nº 3.100/MA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de ). 5. Os embargos declaratórios prestam-se para integração e servem apenas para ajustar e corrigir deficiências do acórdão que, no caso em comento, não ocorreram. 6. Embargos de declaração não providos. A candidata CLECIANE DA CRUZ E SILVA teve o mandato cassado em razão da procedência da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, tendo em vista o acolhimento das provas que indicavam violação ao art. 41-A da Lei nº 9.504/97. Dessa forma, a sentença de cassação do mandato não repercutiu no deferimento do registro de candidatura da Vereadora, o que implica o reconhecimento da validade dos seus votos para a legenda, sendo ilegal o ato de retotalização e exclusão daqueles votos no quociente eleitoral e partidário. Por todo o exposto, neste exame de cognição sumária, defiro a liminar para suspender o ato de retotalização levado a efeito pela autoridade impetrada por violar expressamente os comandos do art. 175, 3º e 4º do Código Eleitoral. Determino a imediata posse de MÁRCIO SILVA DE ALMEIDA, ora impetrante, no cargo de Vereador do Município de Coari/AM, por ser o primeiro suplente da candidata cassada Cleiciane da Cruz e Silva. Comunique-se com urgência o Juízo Eleitoral de Coari/AM para o devido cumprimento desta decisão.

8 Notifique-se a autoridade coatora para prestar informações no prazo legal, bem como o órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada. Cite-se o litisconsorte passivo necessário MARCIO AYONE CHAMY DE OLIVEIRA para se manifestar. Publique-se e intime-se. Distribua-se o feito, conforme o regimento interno. Manaus, 08 de abril de Juiz DÍDIMO SANTANA BARROS FILHO Plantonista