REPRODUTIBILIDADE DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS

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1 Alim. Nutr., Araraquara v. 16, n. 2, p , abr./jun ISSN REPRODUTIBILIDADE DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS Juliana Alvares Duarte Bonini CAMPOS* Leonor de Castro Monteiro LOFFREDO* RESUMO: Este estudo teve por objetivo avaliar a reprodutibilidade intra-examinador para medidas antropométricas de uma amostra de 20 escolares da cidade de Araraquara (SP). Medidas de peso e altura foram feitas, por um único examinador, em duplicata, com intervalo de 1 semana entre os exames. A partir destas medidas calculou-se o Índice de Massa Corpórea (IMC) e classificou-se os escolares de acordo com seu estado nutricional. Para os dados quantitativos (peso, altura e IMC) foi empregado o Coeficiente de Correlação Intraclasse ( ) e para os dados qualitativos a estatística Kappa ( ). Observou-se valores de concordância no limite máximo para peso ( = 0,999), para altura ( = 1,000), IMC ( = 1,000) e para estado nutricional (k = 1,00), apontando para uma reprodutibilidade intraexaminador excelente. Deste modo, pode-se concluir que a reprodutibilidade intra-examinador de medidas antropométricas referentes a peso, altura, IMC e estado nutricional são altamente confiáveis. PALAVRAS-CHAVE: Antropometria; escolares; reprodutibilidade. Introdução A antropometria é um método de avaliação do estado nutricional que possibilita analisar as tendências evolutivas do cenário nutricional de uma população 1,5,12. Tem sido utilizada na avaliação da saúde e de riscos nutricionais, especialmente em crianças, colaborando para o estabelecimento de prioridades, implementação e avaliação de programas em nutrição 24. De acordo com Sigulem et al. 20 as medidas antropométricas são facilmente obtidas, operacionalmente de baixo custo além de não oferecer risco e ser passível de reprodução. Entre elas, destacam-se peso e altura, sendo de grande importância para o entendimento do estado nutricional e pela possibilidade da determinação do Índice de Massa Corpórea (IMC). Por outro lado, a obtenção destas medidas está sujeita a erros que poderão ocorrer por falta de calibração, por anotação distorcida ou por processamento das informações com falhas de digitação. Em quaisquer dessas circunstâncias, é interessante se quantificar o erro que possa ter ocorrido nas aferições realizadas por dois observadores 10 ou por um único observador, em duas ocasiões distintas, configurando os estudos de reprodutibilidade intere intra-examinador, respectivamente. Segundo Klipstein-Grobusch et al. 11 a determinação da variabilidade nos resultados, quando a mensuração é repetida deve ser avaliada, com o objetivo de verificar o nível de confiabilidade das medidas. Este estudo tem por objetivo verificar a reprodutibilidade intraobservador de dados antropométricos, como um aspecto de relevância em confiabilidade no diagnóstico do estado nutricional à luz destes dados. Material e métodos A amostra foi constituída por 20 escolares de 8 anos de idade, sendo 12 do sexo feminino e 8 do sexo masculino de uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Araraquara (SP). As medidas antropométricas foram realizadas por um único examinador, previamente treinado e familiarizado com o método empregado 24, em duas ocasiões distintas, com intervalo de uma semana. O peso foi obtido com o auxílio de uma balança portátil digital (Glicomed G-tech, modelo Glass II) com precisão de 0,1 Kg e a altura com uma fita métrica milimetrada presa em uma parede lisa e sem rodapé e com um esquadro de madeira posicionado acima da cabeça da criança. De posse destas medidas calculou-se o Índice de Massa Corpórea (IMC) dado pela divisão do peso (Kg) pelo quadrado da altura (m 2 ) e classificou-se os escolares de acordo com seu estado nutricional, em sobrepeso, obesidade e sem sobrepeso ou obesidade segundo os pontos de corte propostos por Cole et al. 6 que estabelece pontos de corte para sobrepeso (meninos: > 18,44; meninas: > 18,35) e pontos de corte para obesidade (meninos: > 21,60; meninas: > 21,57) para idade de 8 anos. A reprodutibilidade intra-examinador para dados quantitativos (peso, altura e IMC) foi analisada por meio do Coeficiente de Correlação Intraclasse 8,9 e para dados qualitativos (classificação do estado nutricional) pela estatística Kappa 15, utilizando-se os programas Excel e Epi- Info respectivamente. O grau de concordância entre os resultados obtidos em duas ocasiões distintas (x e y), para variáveis quantitativas (peso, altura e IMC), é dado pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse ( ) que, a partir da tabela de *Departamento de Odontologia Social - Faculdadade de Odontologia de Araraquara - UNSP Araraquara - SP - Brasil.

2 164 valores x e y, é construída uma Tabela em que cada par ordenado é contado duas vezes: (x,y) e (y,x). Assim, o grau de concordância é obtido pela fórmula 21 : = 2 (p 1 -x m ) (p 2 -x m ) (p 1 -x m ) 2 + (p 2 -x m ) 2 Resultados Para as variáveis de estudo quantitativas (peso, altura e IMC), foi calculada a correlação intra-classe, sendo que, para finalidade ilustrativa está exposta uma planilha em Excel com os achados para a variável peso (Figura 1). onde: p 1 : medidas obtidas na 1 e 2 ocasiões, p 2 : medidas obtidas na 2 e 1 ocasiões e x m : média aritmética das medidas. Em função do valor de obtido, pode-se ainda classificar o grau de concordância entre os dados 8, segundo as categorias indicadas na Tabela 1. Tabela 1- Classificação da concordância, segundo o valor de. concordância -0,31 Nula < 0,31? 0,51 Medíocre 0,51? 0,71 Moderada 0,71? 0,91 Boa 0,91?1,00 Excelente Para representação gráfica destes dados quantitativos, Bulman & Osborn 4 firmam que as alternativas mais apropriadas são: - a sugerida por Bland & Altman 2 onde a média da diferença entre os valores é designada para o eixo das ordenadas e a média aritmética dentre os valores para o eixo das abscissas e, - o gráfico de dispersão, onde os pares ordenados representam a concordância perfeita quando os pontos se distribuírem sobre a linha de igualdade (y = x). Para aferir a concordância entre informações de natureza qualitativa foi calculada a estatística Kappa ( ), sendo classificada segundo padrões de Landis & Koch 13, como se observa na Tabela 2. Tabela 2 - Interpretação do valor de Kappa ( ). concordância <0,00 Ruim 0,00? 0,21 Fraca 0,21? 0,41 Sofrível 0,41? 0,61 Regular 0,61? 0,81 Boa 0,81? 1,00 Ótima Este estudo foi realizado após a Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara UNESP (protocolo n 97/2002). FIGURA 1 - Planilha do programa Excel com os dados referentes ao peso obtido para o mesmo indivíduo, em duas ocasiões distintas e com os cálculos necessários para obtenção do Coeficiente de Correlação Intraclasse ( ). Deve-se notar (Figura 1) que nas colunas relativas a p 1 e p 2, tem-se os dados obtidos nas duas ocasiões, de tal forma que conste os pares ordenados (x,y) e (y,x); nas colunas posteriores foram realizados os cálculos para a aplicação da fórmula (1), com respectivos somatórios. Na amostra estudada, houve uma concordância excelente para as variáveis peso ( =0,999), altura ( =1, 000) e IMC ( =1, 000), mostrando que os procedimentos de coleta de dados foram precedidos de calibração prévia adequada, tanto na tomada da medida propriamente dita como no uso do instrumento de medida e anotação, o que colabora para que sejam medidas altamente confiáveis.

3 165 As Figuras 2 e 3 ilustram estes achados. p2 - p1 0,5-0,5 Peso p2 - p1 0, (p1 +p2)/ 2 p Peso p113 p ,5 Altura p2 - p1 0, (p1 + p2)/ Altura p1 30, p2 25, 20, 15, IMC -0, (p1 + p2)/ 2 IMC 10, 10, 15, 20, 25, 30, p2 FIGURA 2 - Limites de concordância para as variáveis, peso, altura e IMC. Araraquara (SP), A reprodutibilidade da classificação do estado nutricional segundo as categorias propostas (sobrepeso, obesidade, sem sobrepeso ou obesidade) foi analisada segundo a estatística Kappa (k) 15, como exposto na Tabela 3. FIGURA 3 - Gráfico de dispersão para dados de peso, altura e IMC, obtidos em duas ocasiões distintas. Araraquara (SP), Pela observação da Tabela 3 pode-se notar que houve alta concordância entre os diferentes exames (k = 1,00), refletindo excelente reprodutibilidade intra-examinador para estado nutricional. Tabela 3 - Classificação do estado nutricional de escolares segundo a classificação de Cole et al. 6, realizada em dois exames distintos. Araraquara, Estado Nutricional Estado Nutricional 2 exame 1 exame sobrepeso obesidade sem sobrepeso e sem obesidade Sobrepeso Obesidade sem sobrepeso e sem obesidade Total Total

4 166 Discussão As medidas antropométricas são essenciais para descrever a composição corporal e o estado nutricional sendo consideradas como indicadores do estado de saúde, onde medidas como peso e altura são de grande valia na avaliação do desenvolvimento infantil 5,19. A padronização, o treinamento das técnicas de medida e o controle de qualidade na coleta dos dados são pré-requisitos importantes para a obtenção de informações precisas 11,17,19. A determinação da variabilidade intra-examinador das medidas antropométricas, em ocasiões distintas, e das classificações de estado nutricional torna-se assim uma etapa importante para promover uma medida confiável 4,11. No entanto, Bulman & Osborn 4 salientam que muitos trabalhos têm se utilizado de métodos equivocados para a determinação da reprodutibilidade, destacando o uso do coeficiente de correlação de Pearson que mede apenas a força de relação entre duas variáveis e não a concordância entre elas, o que posteriormente foi ressaltado por Bland 2. Assim, o coeficiente de correlação intraclasse se constitui o método estatístico mais recomendado para este fim, uma vez que estima o grau de concordância entre dois valores quantitativos obtidos em ocasiões distintas e tem sido amplamente utilizado na literatura 7,14,16,,23. A excelente reprodutibilidade intra-examinador para medidas antropométricas de peso, altura e IMC verificada no presente estudo está de acordo com a observada em outros trabalhos 11,16,18,22, o que pode ser atribuído ao treinamento prévio da aplicação da técnica para obtenção das medidas, à calibração dos instrumentos de medida 11, à atenção na anotação dos resultados obtidos bem como transferência dos mesmos para o banco de dados. Quanto ao estado nutricional, pôde ser observado que houve coincidência na classificação do estado nutricional nos dois períodos, o que colaborou para o nível máximo de concordância de 1. Sonnenschein et al. 22 salientam que, geralmente, ocorre maior variabilidade nas medidas antropométricas puras do que nas classificações em categorias de classe. Desta maneira, frente à importância da determinação das medidas antropométricas como indicador da saúde infantil sugere-se que o estudo da reprodutibilidade destas medidas deva ser realizado previamente à execução de um projeto, que vise um diagnóstico de saúde nutricional confiável. Conclusão A reprodutibilidade intra-examinador de medidas antropométricas quantitativas (peso, altura, IMC) e qualitativa (estado nutricional) se mostrou excelente em antropometria, sendo altamente confiáveis. CAMPOS, J.A.D.B.; LOFFREDO, L.C.M. Reproducibility of anthropometric measurements. Alim. Nutr., Araraquara, v. 16, n. 2, p , abr./jun ABSTRACT: The purpose of this study was to assess the intra-observer reproducibility of anthropometric measurements in a sample of 20 school children from Araraquara (SP Brazil). Body weight (Kg) and height (cm) were determined by one calibrated observer on two different occasions, independently, within a period of one week. Body mass index was also calculated (BMI) and the nutritional status (in score) was performed for each student. It was applied intraclass correlation coefficient ( ) and kappa statistics ( ) in order to estimate reproducibility in relation to quantitative data (body weight, height and BMI) and qualitative data (nutritional status), respectively. It was observed an excellent level of reproducibility ( =0.999, = 1.000, = in relation to body weight, height and BMI, respectively) and =1 in relation to nutritional status. In conclusion, the anthropometrical variables related to weight, height, BMI and nutritional status are reliable. KEYWORDS: Anthropometry; school children; reproducibility. Referências bibliográficas 1. BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n.1, p , jul BLAND, J. M. An introduction to medical statistics. New York: Oxford University Press, p BLAND, J.M.; ALTMAN, D.G. Statistical methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet, London, v.1, p , BULMAN, J.S.; OSBORN, J.F. Measuring diagnostic consistency. Br. Dent. J., London, v.166, n.20, p , May BUVINICH, M.R. A infância brasileira nos anos 90. In: MONTEIRO, C.A. Panorama nutricional. Brasília, D.F. Fundo das Nações Unidas para a Infância, p COLE, T.J. et al. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. Br. Med. J., London, v.320, n.6, p.1-6, May ELIASZIW, M.; DONNER, A. Comparison of recent estimators of interclass correlation from famlial data. Biometrics, Washington, v.46, n.2, p , Jun FERMANIAN, J. Measure de l accord entre deux juges: cas quantitatif. Rev. Epidemiol. Sante Publique, Paris, v.32, p , 1984.

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