CARACTERIZAÇÃO HIDROMORFOLÓGICA DA BACIA DO RIO MEIA PONTE 1
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- Geovane Lombardi Figueira
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1 CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line ISSN Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia CARACTERIZAÇÃO HIDROMORFOLÓGICA DA BACIA DO RIO MEIA PONTE 1 Aldrei Marucci Veiga Serviço Geológico do Brasil (CPRM) aldrei.veiga@cprm.gov.br Cézar Clemente Pires dos Santos Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) cezarbiologo@gmail.com Murilo Raphael Dias Cardoso Universidade Federal de Goiás (UFG) muriloshinobi@gmail.com Natalia Cristina Lino Universidade Federal de Goiás (UFG) natalia.c.lino@gmail.com RESUMO As metodologias de caracterização hidromorfológica pautaram-se na aplicação das quatro leis de Horton. Para desenvolvimento deste estudo foi coletado informações da estação fluviométrica que fica localizada mais a jusante no rio Meia. No trabalho foram utilizados dados relativos da malha hidrográfica e o Modelo Digital de Elevação (MDE). A análise hidromorfológica e os cálculos de perímetro e área foram executados utilizando um modelo hidrológico gerado a partir do MDE da bacia hidrográfica do rio Meia, na escala de 1: Os resultados obtidos para as quatro leis de Horton: número de canais, comprimento de canais, declividade e área mostraram-se válidas para a bacia. A bacia hidrográfica do Rio Meia tem área Km², a hierarquia fluvial é da sétima ordem, tem forma não circular, o comprimento médio dos cursos d água tem crescimento positivo em relação ao crescimento da ordem dos canais. A forma da bacia contribui para o escoamento fluvial, o que não favorece a ocorrência de enchente e inundações. A densidade de drenagem apresentada caracteriza a área como pouco drenada e o índice de sinuosidade como pouco sinuosa. Palavras-chave: Bacia Hidrográfica, caracterização hidromorfológica, SIG. HYDROMORPHOLOGICAL CHARACTERIZATION OF RIVER BASIN HALF BRIDGE ABSTRACT The hydromorphological characterization methodologies guided in the application of the four laws of Horton. To develop this study was collected information fluviometric station which is located further downstream in the Meia River. At work we used data on the mesh area and Digital Elevation Model (DEM). Hydromorphological analysis and calculations of perimeter and area were executed using a hydrological model generated from the MDE watershed Meia River, on the scale of 1:100,000. The results obtained for the four laws Horton number of channels, channel length, slope, and proved to be valid area for the basin. The basin of the Meia River area has 12,323 sq km, the hierarchy is the seventh order river, has a non-circular, the average length of the watercourses have positive growth compared to the growth of the channel order. The shape of the basin contributes to the river flow, which does not favor the occurrence of floods and floods. The drainage density presented characterizes the area as little drained and the index of sinuosity as little twisty. Keywords: Watershed, hydromorphological characterization, GIS. 1 Recebido em 14/01/2013 Aprovado para publicação em 28/06/2013 Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 126
2 INTRODUÇÃO Conforme Cardoso (2011), o estudo das características físicas das bacias hidrográficas tem a finalidade de proporcionar o conhecimento de uns dos fatores que determinam a natureza da descarga de um rio. A importância desse conhecimento está no fato de que através da avaliação dos parâmetros que condicionam essa vazão pode-se fazer comparações entre bacias, podendo assim entender os fenômenos passados e fazer extrapolações. Desse modo, o aproveitamento dos recursos hídricos pode ser feito de maneira mais racional com maiores benefícios à sociedade em geral e contribuindo para fundamentar o diagnóstico e ações que visem um manejo racional do uso da terra. Segundo Christofoletti (1970), as características fundamentais estudadas na análise hidromorfológica são: Área; Comprimento da drenagem; Declividade. Christofoletti (1999) explica a importância do estudo da área da bacia, o comprimento da drenagem e a declividade média, sendo que a área é um dado importante para definir a potencialidade hídrica de uma bacia, uma vez que a bacia é a região de captação da água da chuva. Assim, a área da bacia multiplicada pela lâmina precipitada ao longo de um intervalo de tempo define o volume de água recebido ao longo deste intervalo de tempo. O comprimento da drenagem principal é uma característica fundamental da bacia hidrográfica porque está relacionado ao tempo de viagem da água ao longo de todo o sistema. O tempo de viagem da gota de água da chuva que atinge a região mais remota da bacia até o momento em que atinge o exutório é chamado de tempo de concentração da bacia (TUCCI, 2002). A declividade média da bacia e do curso d água principal também são características que afetam diretamente o tempo de viagem da água ao longo do sistema. O tempo de concentração de uma bacia diminui com o aumento da declividade (TUCCI, 1998). A utilização das características físicas pode ser resumida a três utilidades básicas: 1ª) Explicação de observações passadas ou criação de cenários futuros, como por exemplo, no planejamento de drenagem de uma cidade, prevendo-se as áreas impermeabilizadas futuras e tendência a enchentes; 2ª) Suporte nos estudos para transposição de dados entre bacias, onde é muito comum não se dispor de dados observados de vazões no local de interesse de um projeto, entretanto, encontrando-se uma bacia vizinha com dados históricos ou eventualmente dados do mesmo rio, mas em seções distantes, pode-se através de fórmulas empíricas ou por uma análise estatística regional correlacionar os dados de vazões com as características físicas da bacia; 3ª) Criação de fórmulas empíricas para generalizações regionais dessas correlações, em geral, efetuadas de forma independente à uma necessidade de estudo específico, mas de cunho mais científico (VEIGA et al., 2011). A análise hidromorfológica de bacias hidrográficas é a análise quantitativa da configuração dos elementos do modelado superficial que geram sua expressão e configuração espacial, de um conjunto de vertentes e canais que compõem o relevo, sendo os valores medidos correspondentes aos atributos desses elementos (CHRISTOFOLETTI, 1999). Arai et al.(2012), Belén (2011), Cardoso et al.(2011), Gomes e Pinto (2012) e Veiga et al.(2011) realizaram estudos sobre caracterização hidromorfológica em bacias hidrográficas utilizando o sensoriamento remoto e obtiveram bons resultados sendo recomendado tal ferramenta para o mencionado estudo. A Bacia Hidrográfica do Rio Meia localiza-se no centro-sul do Estado de Goiás (figura 01), na região central do Brasil. As principais vias de acesso e deslocamento da região são formadas pelas rodovias federais BR-153/BR-060 (interligando a capital ao norte da região, no sentido Goiânia-Brasília; e ao sul, até a divisa com o Estado de Minas Gerais); e rodovias estaduais GO-070, GO-040, GO-020 e GO-147. Sua área territorial corresponde a 3,6% do Estado, onde estão inseridos 39 municípios e onde se concentra 48% da população goiana. Trata-se de uma região acentuadamente populosa, com elevada densidade demográfica nos municípios de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Senador Canedo e Itumbiara. A região Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 127
3 onde está inserida a bacia de estudo abriga o maior contingente populacional do Estado, apresentando grande importância estratégica do ponto de vista social, econômico e ambiental. Em relação ao tamanho da área ocupada pela bacia em cada município, Goiânia, Hidrolândia, Piracanjuba, Morrinhos, Goiatuba e Itumbiara são os que apresentam maior área, enquanto que os municípios de Taquaral, Damolândia, Abadia de Goiás, Silvânia e Terezópolis de Goiás, são os que possuem menor área territorial ocupada por essa bacia hidrográfica. De acordo com dados do IBGE referentes ao ano de 2010, Goiás tem cerca de 2 milhões e 700 mil habitantes, em seus 246 municípios. Na agropecuária, Goiás tem a 8ª maior participação no total do VA (Valor Adicionado) nacional, com 5,6%, sendo destaque na produção agrícola de algodão (3ª colocação), cana de açúcar, milho, soja e produção de grãos (4ª colocação). A área de drenagem dessa bacia é de Km², desde suas nascentes localizadas no município de Itauçu, até seu deságue no rio Paranaíba, no município de Cachoeira Dourada (a uma distância rodoviária de 234 Km de Goiânia). Figura 01. Municípios Integrantes da Bacia do Rio Meia. O objetivo desse trabalho é estudar a hidromorfologia da bacia do rio Meia, a fim de compreender se a bacia é propensa a inundações, quantificar e disponibilizar dados fisiográficos que interferem na dinâmica hidrológica da bacia. MATERIAL E MÉTODOS Estudo morfométrico da bacia através de processamento de imagem ASTER Delimitação da bacia e aquisição de dados O mapa de elevação do terreno pode ser obtido por meio dos modelos digitais de elevação MDE, que são representações matriciais do terreno com valores de altimetria para cada elemento de área (LIMA, 2011). Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 128
4 Conforme Lima, 2011 e Rávila, 2013, existem diversas fontes para obtenção de um MDE, como por exemplo: ETOPO1 - Global Relief Model, produzido pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), o qual possui resolução de 1 grau de latitude e longitude. ASTER GDEM Global Digital Elevation Model Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer, produzido por uma parceria entre o governo do Japão e a National Aeronautics and Space Administration (NASA), com resolução espacial de 30 m. SRTM Shuttle Radar Topography Mission, um projeto internacional liderado pela National Geospatial-Intelligence Agency (NGA) e pela NASA, possui resolução espacial de 90 m para o globo e resolução de 30 m para o território dos Estados Unidos. Nesse trabalho foram utilizadas imagens de radar ASTER (Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer) com resolução de 30 metros baixados gratuitamente do site da NASA. Essas imagens, baixadas em quadrantes, foram mosaicadas em uma só e depois recortadas com o limite da bacia em estudo.com o MDE (Modelo Digital de Elevação) delimitado, deu-se início a delimitação das suas sub-bacias principais através de um programa SIG. O primeiro passo foi extrair a drenagem. A extração da drenagem foi feita utilizando o acúmulo das feições do MDE, as regiões mais baixas e/ou para onde se direciona o fluxo hipsométrico. O contorno do acúmulo representa a hidrografia, ou seja, o curso do rio. Contudo, essa hidrografia pode ser gerada em diversas escalas pré-estabelecidas pelo usuário do programa SIG. Quanto maior o valor estabelecido pelo usuário, menor o número de feições e conseqüentemente, menor será a escala. Gerada a rede hidrográfica da área de estudo, no caso desse trabalho na escala 1:100000, delimitou-se as suas respectivas bacias. A delimitação foi feita semi-automaticamente utilizando um programa SIG onde o usuário informa para o programa onde se encontra o exutório do curso d água do qual deseja extrair a bacia e o programa gera a bacia para aquele determinado curso d água. Foram utilizados os seguintes comandos do sofware ArcGIS 9.3, aplicativo ArcMap: *Fill: preencher a superfície do raster removendo pequenas imperfeições; *Flow Direction: avaliação de direção de fluxo; *Flow Acumulation: cálculo do fluxo acumulado; *Watershed: delimitação da bacia; *Raster to Features: transformação para polígono.com o polígono da bacia delimitado, utilizou-se o comando Stream Network para traçar automaticamente a rede hidrográfica, com o posterior corte através do comando Clip. Através do programa citado, também foi possível obter as informações referentes a área e perímetro da bacia bem como ao comprimento do curso d água principal. Delimitação da bacia e aquisição de dados Em seus estudos, Veiga (2012) descreve que o estudo morfométrico da bacia é dividido em 3 parâmetros: linear, zonal e hipsométrico. Os parâmetros lineares quantificam a rede de drenagem por meio de seus atributos (comprimento, número, hierarquia) e da relação entre eles, sendo dados por: hierarquia fluvial, relação de bifurcação, relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem, relação entre os gradientes dos canais e índice de sinuosidade do canal principal. Os parâmetros zonais quantificam os atributos da bacia hidrográfica correlacionando-os a valores ideais e à rede de drenagem da mesma área de estudo, sendo dados por: índice de circularidade, densidade de drenagem, densidade hidrográfica, relação entre área de bacias e coeficiente de manutenção. Os parâmetros hipsométricos correlacionam a variação altimétrica à área e a rede de drenagem de uma mesma bacia, sendo representados pelo índice de rugosidade e declividade. Hierarquia fluvial (Hf) Corresponde a ordenação dos canais fluviais dentro de uma bacia hidrográfica. Existem dois tipos de hierarquização da rede de drenagem. A primeira, de Strahler (1952), considera que os canais de primeira ordem são aqueles que não apresentam tributários, isto é, são canais de cabeceiras de drenagem. Os canais de segunda ordem são os canais subseqüentes à confluência de dois canais de primeira ordem e assim sucessivamente, sendo que a confluência com canais de ordem hierárquica menor não altera a hierarquização da rede. O segundo tipo de hierarquização, de Horton (1945), também considera os canais de primeira Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 129
5 ordem os que não apresentem afluentes ou tributários, isto é, correspondem aos canais de cabeceiras de drenagem. Entretanto, não são todas as nascentes que correspondem aos canais de primeira ordem, visto que os canais de maior hierarquia estendem-se até a cabeceira de maior extensão (CHRISTOFOLETTI, 1970). Relação de bifurcação ( ) Parâmetro definido primeiramente por Horton (1945) e reformulado por Strahler (1952), como sendo a razão entre o número total de canais de certa ordem e o número total de canais de ordem imediatamente superior, cujos valores, dentro de uma mesma bacia, devem ser constantes e jamais inferior a 2. França (1968) verifica que esse índice está intimamente relacionado ao comportamento hidrológico dos solos, sendo maior para solos menos permeáveis e menor para solos mais permeáveis. Strahler (1952) comenta que, apesar desse parâmetro ser altamente estável, varia de acordo com o controle estrutural, ou seja se a bacia tem alta ou baixa energia na drenagem. A equação utilizada é dada por: s em que, é o número total de canais de determinada ordem; e w+1 corresponde ao número total de canais de ordem imediatamente superior (SANTA CATARINA, 1997). Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem ( ) Esse parâmetro apresenta a relação de normalidade de uma dada bacia hidrográfica, sendo que o comprimento médio dos canais se ordena segundo uma série geométrica direta, cuja razão é pelo comprimento médio dos canais de determinada pelo número de segmentos encontrados na respectiva ordem. A equação utilizada é dada por: em que, é o comprimento médio dos canais de determinada ordem; e u é o comprimento médio dos canais de ordem imediatamente inferior (SANTA CATARINA,1997). Relação entre os gradientes dos canais ( ) É a representação matemática da terceira lei de Horton e verifica o grau de normalidade de uma dada bacia hidrográfica, relacionando a declividade média dos canais de cada ordem com a declividade dos canais de ordem imediatamente superior (CHRISTOFOLETTI, 1980). Esta relação é dada pela seguinte equação: em que, é a declividade média dos canais de determinada ordem; w-1 é a declividade média dos canais de ordem imediatamente superior. Esse parâmetro possibilita a leitura isolada da normalidade da declividade dos canais de uma dada bacia por ordem e pode servir para correlacionar o grau de normalidade entre bacias adjacentes. Índice de sinuosidade do canal principal ( ) Parâmetro apresentado inicialmente por Horton (1945) e descrito por Alves e Castro (2003) como sendo uma das formas de representar a influência da carga sedimentar, a compartimentação litológica e estrutural. A equação utilizada no cálculo é dada por: em que, é o comprimento do canal principal; e é a distância vetorial entre os pontos extremos do canal, sendo que os valores próximos a 1 indicam elevado controle estrutural ou Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 130
6 alta energia e valores acima de 2 indicam baixa energia, sendo os valores intermediários relativos a formas transicionais entre canais retilíneos e meandrantes. Índice de circularidade ( ) Esse índice foi proposto por Miller em 1953 (CHRISTOFOLETTI, 1980) e, assim como o comprimento vetorial (d v ) do canal, o valor de Ic correlaciona um valor ideal a um mensurado. O índice de circularidade é dado pela seguinte equação: em que, é a área da bacia; é a área de um circulo que tenha o perímetro idêntico ao da bacia considerada, sendo o valor máximo considerado igual a 1,0. Conforme apresenta Alves e Castro (2003), esse parâmetro indica que uma bacia mais alongada (com índice abaixo de 0,51) favorece o escoamento e, se estiver acima de 0,51, a bacia tem forma geométrica mais circular com escoamento reduzido e alta probabilidade de cheias. Além dessa relação com a velocidade do fluxo de água, esse parâmetro representa a transmissividade do escoamento superficial concentrado, isto é, se o tempo de concentração da bacia é lento ou rápido. Densidade de rios (Dr), ou densidade hidrográfica (Dh) Esse parâmetro, proposto por Horton (1945), estabelece a relação entre o número de cursos d água e a área de uma dada bacia, sendo dada pela seguinte equação: em que, é o número total de rios; e é a área da bacia. Esse parâmetro, quando gerado para os canais de primeira ordem de hierarquia fluvial, representa o comportamento hidrográfico das bacias, uma vez que, em bacias com alta densidade hidrográfica, pode-se inferir uma maior capacidade de gerar canais, independentemente de suas extensões. Densidade de drenagem ( ) Esse parâmetro estabelece a relação entre o comprimento total ou ordem hierárquica dos canais de drenagem e a área de drenagem. Sendo dado pela seguinte equação: em que, é o comprimento total dos canais; é a área total da bacia. Esse parâmetro, ao tratar de bacias hidrográficas em um mesmo ambiente climático, representa o comportamento hidrológico definido pela litologia e estrutura geológica (lineamentos, acamamentos, falhamentos, fraturas, por exemplo), imprimindo a capacidade de infiltração e de formação de canais superficiais (CHRISTOFOLETTI, 1970). Christofoletti (1980) comenta que a Dd apresenta relação inversa à densidade hidrográfica (Dh), visto que, segundo este autor, quanto mais canais existirem, menos extensos eles serão. Relação entre as áreas das bacias ( ) Esse parâmetro estabelece a relação do tamanho médio das bacias para cada um dos canais de uma determinada ordem e as bacias de ordem sucessivamente inferior, representando matematicamente por: em que, é a área média das bacias de determinada ordem; w-1é a área média das bacias de ordem imediatamente inferior. Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 131
7 As Leis de Horton expressam o comportamento observado em uma bacia, ou seja, dizer se há ou não anomalias na configuração da bacia, portanto esse parâmetro representa a quarta lei de Horton (CHEREM, 2008) expressando o grau de normalidade da composição da bacia apresentado por Horton e confirmado por Schumm (1956). Coeficiente de manutenção ( ) Esse parâmetro corresponde a área necessária para formação de um canal com fluxo perene. Entretanto, sua expressão matemática demonstra que ele nada mais é do que a razão inversa da densidade de drenagem da bacia (Dd). Schumm (1956) considera esse parâmetro um dos mais importantes para a realização de análises hidromorfológicas. Esse parâmetro é dado seguinte equação: Índice de rugosidade ( ) Expressa um número adimensional, o qual representa, segundo Strahler (1958) aspectos da declividade e comprimento da vertente por meio do contrabalanço da amplitude altimétrica ( ) à densidade de drenagem ( ), visto que bacias hidrográficas com Ir elevado têm maior potencial para ocorrência de cheias e são bacias de alta energia (dada a elevada amplitude altimétrica) e/ou são bacias com alta transmissividade hidráulica, já que todos os pontos da bacia estão mais próximos da rede de drenagem, convertendo o fluxo de vertente em fluxo fluvial em menor tempo. Se a aumenta enquanto o valor de permanece constante, a distância horizontal média entre a divisória e os canais adjacentes será reduzida, acompanhada de aumento na declividade das vertentes. Se o valor de aumenta enquanto a permanece constante, também aumentarão a declividade e as diferenças altimétricas entre o interflúvio e os canais. Os valores extremamente altos do índice de rugosidade ocorrem quando ambos os valores ( e ) são elevados, isto é, as vertentes são longas e íngremes (CHRISTOFOLETTI, 1980). Esse parâmetro é dado pela seguinte equação: Declividade média (Dm) Expressa a energia e a intensidade de atuação dos processos morfogenéticos, incluindo a dinâmica dos escoamentos superficiais concentrados e difusos (laminar) nas vertentes. Quando associada à declividade máxima, possibilita comparações sobre energia máxima e média dentro das bacias hidrográficas. E é expresso pela equação: em que, Alt.máx. sendo a altitude máxima em determinada ordem (em metros); Alt.mín. sendo a altitude mínima em determinada ordem (em metros) e Dist.horizontal a distância projetada no eixo x entre as altitudes máxima e mínima da ordem analisada (em metros). RESULTADOS E DISCUSSÃO Nota-se que as regiões mais altas da sub-bacia (Figura 02) estão localizadas na extremidade superior de seu limite e que as regiões mais baixas estão próximas ao Rio Paranaíba. Hierarquia fluvial (Hf) A tabela 1 descreve a quantidade de canais de 1ª a 7ª ordem com seus respectivos comprimentos (km) e densidade de canais em ordem na bacia do Rio Meia (Tabela 01). Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 132
8 Figura 02. Mapa Hipsométrico da Bacia do Rio Meia. Tabela 01. Ordem dos canais, quantidade de canais e comprimento linear por ordem na bacia do Rio Meia. Ordem dos Canais Nº Ordens Total Quantidade Km 5312,8 2780,4 1486,1 712,3 262,9 164,4 491, ,8 Relação de bifurcação (R b ) Strahler (1952) redefiniu os valores da relação de bifurcação onde dentro de uma mesma bacia, devem ser constantes. Estes valores, em sua maioria, devem variar entre 3 e 5. Na bacia do Rio Meia a relação variou de 2,99 a 5,27, com média de 3,99 (Tabela 02). Tabela 02. Relação de bifurcação da na bacia do Rio Meia. Ordem 1 Ordem 2 Ordem 3 Ordem 4 Ordem 5 Ordem 6 Ordem 7 Média - 2,99 3,31 5,27 4,71 4,66 3 3,99 Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem (RL m ) O estudo da relação do comprimento médio dos canais de cada ordem concluiu que há uma correlação positiva do crescimento da ordem e o comprimento médio dos cursos d água. (Tabela 3). Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 133
9 Tabela 03. Relação entre o comprimento médio dos cursos d água ( Ordem Quantidade % Comprimento Total (km) ) de cada ordem do Rio Meia. RLm , ,8 1, , ,4 2, , ,1 4, ,31 712,3 10, ,27 262,9 18, ,05 164,4 54, ,02 491,4 491,4 Total ,8 - Relação entre os gradientes dos canais ( ) Esse parâmetro possibilitou concluir que a bacia do Rio Meia tem normalidade da declividade dos canais por ordem (Tabela 04). Tabela 04. Gradiente do canal, comprimento do talvegue e declive dos rios Meia, João Leite, Dourados, Caldas e Ribeirão da Boa Vereda. Nome do rio Altitude (m) Gradiente (m) Nascente Foz Comprimento Talvegue (km) Declive (m.km-1) Meia ,4 0,94 João Leite ,64 1,76 Dourados ,69 1,96 Caldas ,49 3,84 Rib. da Boa-Vereda ,27 1,77 Índice de sinuosidade do canal principal (Is) Para a bacia em estudo esse parâmetro apresentou valor próximo de 2, indicando uma baixa energia (Tabela 05). Tabela 05. Gradiente do canal, comprimento do talvegue e distância vetorial dos rios Meia, João Leite, Dourados, Caldas e Ribeirão da Boa Vereda. Nome do Rio Comprimento (km) Dv Is Meia 491,4 264,12 1,86 João Leite 66,64 47,21 1,41 Dourados 139,69 83,18 1,68 Caldas 104,49 59,79 1,75 Ribeirão da Boa-Vereda 41,27 42,85 0,96 Índice de circularidade (Ic) Esse parâmetro indicou que a bacia tem uma for mais alongada, devido seu valor ser aproximadamente igual a 0,20 km.km -1 (Tabela 06) e com isso o escoamento superficial é favorecido. Além dessa relação com a velocidade do fluxo da água, esse parâmetro representa a transmissividade do escoamento superficial concentrado, isto é, se o tempo de concentração da bacia é lento ou rápido (CHEREM, 2008), portanto sem quantificar o tempo de concentração mas analisando o Ic leva-se a suposição que esse tempo é relativamente alto. Tabela 06. Índice de circularidade dos rios Meia, João Leite, Dourados, Caldas e Ribeirão da Boa Vereda. Nome do Rio Área (Km 2 ) Raio (Km) Ac (Km) Ic Rio Meia 12323,31 142, ,29 0, Rio João Leite 730,51 25, ,72 0, Rio Dourados 1767,03 42, ,73 0, Rio Caldas 1295,84 30, ,51 0, Ribeirão da Boa-Vereda 473,03 23, ,75 0, Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 134
10 Densidade de rios (Dr), ou densidade hidrográfica (Dh) O resultado desse parâmetro para a bacia do Rio Meio foi de 0,41 km -2 (Tabela 07), ou seja, a bacia tem 0,41 canal por km 2, representando de moderada a baixa densidade hidrográfica, ou seja, é uma bacia com baixa razoabilidade na rede de drenagem. Densidade de drenagem (Dd) O valor de 0,91 km.km -2 para esse parâmetro reflete que a bacia do Rio Meia não é muito bem drenada (Tabela 07), correspondendo ao resultado do parâmetro Dd. Tabela 07. Densidade de rios e densidade de drenagem da bacia dos rios Meia, Dourados, Caldas e Ribeirão da Boa-Vereda. Nome do rio Área (km 2 ) Comprimento do Canal (km) Número de canais Densidade de Rios Densidade de Drenagem Meia 12323, , ,41 0,91 João Leite 730,51 665, ,45 0,91 Dourados 1767, , ,47 0,88 Caldas 1295, , ,39 0,86 Rib. da Boa-Vereda 473,03 368, ,33 0,78 Relação entre as áreas das bacias ( ) A Tabela 08 ilustra a relação entre as áreas dos tributários da bacia do rio Meia. Tabela 08. Relação entre as áreas das sub-bacias da bacia do Rio Meia. Nome do rio Comprimento Talvegue (km) Área de Drenagem (km 2 ) Relação Comprimento Área (km) Rio Meia 491, , ,38 Rio João Leite 66,64 730,51 701,2896 Rio Dourados 139, , ,349 Rio Caldas 104, , ,006 Ribeirão da Boa-Vereda 41,27 473,03 454,1088 Coeficiente de manutenção (C m ) Para a bacia hidrográfica do Rio Meia o Cm é 908,67, ou seja, são necessários aproximadamente 909 km 2 para formar um canal com fluxo perene (Tabela 09). Tabela 09. Coeficiente de manutenção da bacia do Rio Meia. Nome do rio Coeficiente de Manutenção Rio Meia 908,67 Rio João Leite 910,60 Rio Dourados 877,06 Rio Caldas 860,06 Ribeirão da Boa-Vereda 778,17 Índice de rugosidade (Ir) Esse índice é função da densidade de drenagem e declividade média (Tabela 10), então conforme visto nos parâmetros acima, o valor de Dd é pequeno e é amplitude altimétrica alta, implicando que o escoamento superficial é rapidamente direcionado a calha do rio que é bem encaixada com poucos locais de extravasamentos, e pelo fato do canal principal ser bem alongado permite que o tempo de concentração seja alto. Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 135
11 Tabela 10. Índice de rugosidade da bacia do Rio Meia. Nome do rio Índice de Rugosidade Rio Meia 685,23 Rio João Leite 106,47 Rio Dourados 241,12 Rio Caldas 344,86 Ribeirão da Boa-Vereda 56,94 Declividade média (Dm) A bacia do rio Meia apresenta a declividade média de 0,94 m.km -1 (tabela 11). Tabela 11. Índice de rugosidade da bacia do Rio Meia. Nome do rio Declividade Média (m.km -1 ) Rio Meia 0,94 Rio João Leite 1,76 Rio Dourados 1,96 Rio Caldas 3,84 Ribeirão da Boa-Vereda 1,77 CONCLUSÕES Este estudo revela a importância das técnicas adotadas para a análise morfométrica e os resultados expostos trouxeram boas respostas aos objetivos desta análise. Espera-se que, a partir das considerações levantadas por este trabalho, surjam novas investigações mais detalhadas e quantitativas, considerando cada atributo ou variável da organização paisagística, possibilitando um melhor entendimento dos processos geomorfológicos atuantes na paisagem em questão, além de trabalhos de outra natureza, pois acreditamos que estes estudos estão em fase de expansão. Tais contribuições podem fornecer subsídios fundamentais aos estudos geoambientais, pois a ciência geomorfológica além de ser uma ferramenta que estuda o relevo, também oferece técnicas que facilitam o entendimento espacial desses ambientes naturais, como é o caso dos mapeamentos geomorfológicos e das caracterizações morfométricas de bacia hidrográfica. De forma geral, em seus 491,4 km de extensão o Rio Meia verifica-se na bacia uma variação altimétrica entre a altitude mínima de 412 metros e a máxima de 840 metros, com declividade média de 0,94 m.km -1. Pelo estudo da Dd afirma-se que a rede de drenagem é baixa inferindo que a bacia não é muito bem drenada permitindo que o escoamento superficial gerado na bacia seja conduzida ao curso d água principal, conforme o Ir, e por ser uma bacia alongada verificado pelo Ic e com certo grau sinuosidade detectado na análise do Is (PISSARA et al., 2004), a bacia em questão tem baixa energia estrutural permitindo que o tempo de concentração seja alto desfavorecendo a enchentes. Analisando a Rb conclui que o valor corrobora com o obtido pelo Ir, ou seja, conforme Castro e Carvalho (2009) quanto maior for o índice de bifurcação (Rb) maior será o grau de dissecação, então para a bacia em estudo apresenta um grau moderado de dissecação, permitindo concluir que o escoamento gerado superficialmente é direcionado rapidamente a calha do rio, mas essa apresenta baixa energia estrutural devido principalmente pela sua sinuosidade. Pelas informações geradas e expostas acima, sugere-se que haja uma especial atenção por parte da comunidade e poder público para que sejam sempre mantidas preservadas as vertentes da bacia hidrográfica do Rio Meia, com práticas conservacionistas, pois se houver a degradação do relevo há grande possibilidade de gerar enchentes nas partes mais baixas do curso d água principal, próximo ao exutório. Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 136
12 REFERÊNCIAS ALVES, J. M. P.; CASTRO, P. T. A. Influência das feições geológicas na morfologia da bacia do rio do Tanque (MG) baseada no estudo de parâmetros morfométricos e análise de padrões de lineamentos. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 33, n. 2, p , ARAI,F.K.; PEREIRA,S.B.; OLIVEIRA,F.C.; DAMÁLIA,L.S. Caracterização hidromorfométrica da bacia do Dourados localizada no centro-sul do Mato Grosso do Sul. Revista Agrarian, vol.5, n.17, BELÉN,S.B. Revisión, Análisis Y Actualización del Modelo de Témez em el ámbito de Las Comarcas de La Marina Alta Y La Marina Baja (Alicante). (Dissertação de mestrado). Máster em Ingeniería Hidráulica y Medio Ambiente. Universitat Politècnica de València. 282p. València. Set., CASTRO, S.B.; CARVALHO, T.M. Análise morfométrica e geomorfologia da bacia hidrográfica do rio Turvo GO, através de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento. Rev. (eletrônica) Scientia Plena, vol.5, n CHEREM, L.F.S. Análise Morfométrica da Bacia do Alto Rio das Velhas MG. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Programa de Pós- Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais. 111p. Belo Horizonte-MG, CHRISTOFOLETTI, A. Análise morfométrica das bacias hidrográficas do Planalto de Poços de Caldas. Tese (Livre Docência). Faculdade de Filosofia, Universidade Estadual de São Paulo, Rio Claro, CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1980, 186p. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgard Blücher, 1999, 186p. CHRISTOFOLETTI, A. Análise morfométrica das bacias hidrográficas do planalto de Poços de Caldas (MG) Tese de Livre-Docência, Cadeira de Geografia do Brasil. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, 1970, 215p. CARDOSO, M.R.D.; MARCUZZO, F. F. N.; PINTO FILHO, R. F. Caracterização Física da Bacia do Rio Araguaia visando determinar susceptibilidade a enchentes. In: XIV Simpósio Brasileiro de Geografia Aplicada. Universidade Federal de Viçosa, v.1, GOMES, J.; PINTO,M.L.C. Caracterização hidromorfométrica da bacia hidrográfica do rio São João, Carambeí PR. Publicatio UEPG. Ciências Exatas e da Terra, Ciências Agrárias e Engenharias (impresso), HORTON, R.E. Erosional development of streams and their drainage basins: Hydrographical approach to quantitative morphology. Geological Society of America Bulletin, v.56, n.2, p , IBGE. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Disponível em: < Acesso em: 07 de maio de PISSARA, T.C.T.; POLITANO, W.; FERRAUDO, A.S. Avaliação de características morfométricas na relação solo-superfície da bacia hidrográfica do córrego Rico, Jaboticabal. São Paulo.Rev. Brasileira Ciência do Solo, 28: , SOUZA, R. M. ; FORMIGA, K. T. M. ; VEIGA, A. M. Caracterização morfométrica e delimitação da bacia hidrográfica do Córrego Samambaia GO a partir de dados do SRTM. In: XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu. v. 16, p , SANTA CATARINA. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura. Zoneamento da disponibilidade e da qualidade hídrica. Plano de gestão e gerenciamento da bacia do rio Araranguá. Florianópolis SDM Instituto Cepa, v. 3, 62p, Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 137
13 SCHUMM, S. A. Evolution of drainage systems and slopes In badlands at Perth Amboy." Geological Society of America Bulletin, N. Jersey, v.67, p , STRAHLER, A. N. Dimensional analysis applied to fluvial eroded landforms. Geological Society of America Bulletin, v.69, p , STRAHLER, A. N. Hypsometric (area-altitude) analysis of erosion al topography. Geological Society of America Bulletin, v.63, n.10, p , VEIGA, A. M.; FORMIGA, K. T.; LINO, N. C.; CARDOSO, M. R. D.; Caracterização Hidromorfológica da Bacia do Rio Vermelho. In: XI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos do Nordeste, João Pessoa, TUCCI, C. E. M. Modelos Hidrológicos. 1 a ed. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS / Associação Brasileira de Recursos Hídricos, TUCCI, C. E.M. Regionalização de vazões Ed. Universidade / UFRGS, Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14, n. 46 Jun/2013 p Página 138
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