Parágrafo único. Essa vedação não impede a União de condicionar a entrega de recursos ao pagamento de seus créditos.

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1 Estudos Técnicos/CNM março de 2016 Repasses Zerados do Fundo de Participação dos Municípios 1. Conjuntura do FPM A situação de queda nominal dos últimos repasses realizados ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é extremamente preocupante. Isso porque o montante repassado é menor e quando somada aos efeitos negativos da inflação o torna ainda menos expressivo. Mas, segundo as previsões da Secretaria do Tesouro (STN) há expectativa de melhora para os próximos meses. Para março e abril a STN espera crescimentos nominais de 6,1% e 11,1%, respectivamente. Hoje, o acumulado do FPM soma de R$ 15,983 bilhões. Foram transferidos aos cofres municipais no mês de fevereiro R$ 8,8 bilhões em 2016, frente aos R$ 8,3 bilhões no mesmo período de Isso representa um crescimento de 7,04% ou R$ 584 milhões, em termos nominais e brutos. O cenário econômico do país, o desequilíbrio da estrutura federativa e o processo eleitoral para 2016 vão complicar ainda mais as gestões municipais consequentemente se agravará a situação de muitos prefeitos. Outro fato relevante é a retenção do FPM devido as dívidas previdenciárias. A retenção do FPM ocorre devido à dívida previdenciária, as quais muitas vezes os municípios se obrigam a não efetuar o pagamento por falta de recursos, o que acaba se transformando em um problema maior ainda, uma vez que os municípios mais atingidos são os de pequeno porte, ou seja, municípios com até 50 mil habitantes. 2. Legislação Outro agravante que atinge diretamente os Municípios são os descontos e retenções do FPM. O art.160 da Constituição Federal de 1988 veda a retenção ou restrição de recursos aos municípios, porém o parágrafo único excepciona o caput, conforme abaixo: Art É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos. Parágrafo único. Essa vedação não impede a União de condicionar a entrega de recursos ao pagamento de seus créditos.

2 A partir disso, deve-se observar também as leis previdenciárias que estão em anexo neste estudo. 3. Análise dos repasses zerados nos primeiros meses de A legislação exposta explica o porquê de tantos municípios não receberem integralmente o valor do FPM. Enquanto o município possui dívidas previdenciárias com a União, ela poderá deduzir do valor devido que seria repassado. 3.1 Janeiro Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) demonstra que os valores mais expressivos são referentes ao primeiro decêndio de cada mês, ou seja, correspondem em média a 49% do valor repassado no mês. Mediante isso, o desconto torna-se maior que os dos demais decêndios. O ano mal começou e muitos municípios já sofreram com as retenções do FPM. No primeiro decêndio de janeiro municípios tiveram entre 70% a 100% do repasse zerado, destes 717 foram os mais atingidos uma vez que, não receberam o primeiro decêndio. Os estados com maior incidência, ainda no primeiro decêndio foram São Paulo, Minas Gerais e Bahia, com 101, 65 e 61 municípios, respectivamente. Gráfico 1: Quantidade de Municípios que tiveram o 1º Decêndio de FPM retido No segundo decêndio de janeiro a retenção nos repasses atingiu 448 municípios, um número menor se comparado ao 1 repasse. Destes, 314 não receberam a 2 parcela do FPM, o que contribuiu para aumentar a preocupação por parte dos gestores municipais. Já no terceiro foram 42 municípios atingidos.

3 O FPM, principal receita de grande parte dos municípios brasileiros, não acompanhou o crescimento dos custos das prefeituras em 2015, o que justifica o quadro de crise existente em quase todos os municípios brasileiros, e que não apresenta melhorias em Do total de municípios brasileiros, os de pequeno porte são aqueles que se mantêm basicamente do FPM e, por meio deste estudo, foi possível verificar que são estes também os mais atingidos com os descontos das dívidas previdenciárias, elevando ainda mais a dificuldade das prefeituras que já estão em crise. Existem também 42 municípios que não receberam nenhum dos decêndios do FPM em janeiro de 2016, um número que está crescendo constantemente, devido ao cenário o qual os municípios estão envoltos. Colocando em destaque novamente o estado de São Paulo, conforme demonstrado na tabela 1. Tabela1: Municípios que não receberam nenhum decêndio de janeiro Municípios que Não receberam nenhum decêndio em Janeiro Municípios que Não receberam nenhum decêndio em Janeiro Município UF Porte Município UF Porte Manoel Urbano AC 2 Alto do Rodrigues RN 3 Marechal Thaumaturgo AC 3 Areia Branca RN 4 Delmiro Gouveia AL 5 São José de Mipibu RN 4 Itabuna BA 6 Canindé de São Francisco SE 4 São Desidério BA 4 Japaratuba SE 3 Itaú de Minas MG 3 Pirambu SE 2 Lassance MG 2 Rosário do Catete SE 3 Pará de Minas MG 5 Araraquara SP 6 Sete Lagoas MG 6 Carapicuíba SP 7 Ribas do Rio Pardo MS 4 Guaratinguetá SP 6 Diamantino MT 4 Guarulhos SP 8 Juruti PA 5 Guatapará SP 2 Parauapebas PA 6 Luís Antônio SP 3 Mataraca PB 2 Martinópolis SP 4 Ipojuca PE 5 Monte Azul Paulista SP 3 Rio Formoso PE 4 Paulicéia SP 2 Boa Hora PI 2 Regente Feijó SP 3 Cristino Castro PI 3 Salto SP 6 Uruçuí PI 4 São Carlos SP 6 Valença do Piauí PI 4 Vinhedo SP 5 Engenheiro Beltrão PR 3 Peixe TO 3 Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria Com o crescimento do valor do FPM repassados aos Munícípios no mês de fevereiro, os impactos foram menores, apenas 4 municípios tiveram os três decêndios com a retenção total de recursos.

4 Retenção Total do FPM em Fevereiro Município UF Porte Canindé de São Francisco/SE SE 4 Carmópolis/SE SE 3 São Carlos/SP SP 6 Vinhedo/SP SP 5 Fonte: Banco do Brasil / Cálculos Próprios Fevereiro No primeiro decêndio de fevereiro, 25 municípios tiveram retenção total deste repasse, ainda que esse tenha demonstrado um crescimento de 9,97% se analisado em termos reais e bruts, com relação ao mesmo período de No entanto nos segundo e terceiro decêndio apresentaram 17 e 4 municípios tiveram a retenção total do repasse, respectivamente. Porém ressalva-se que no primeiro decêndio de fevereiro, 164 municípios tiveram de 70% a 99,99% de seu FPM retido. Dos municípios brasileiros, tiveram algum percentual de retenção referente às dívidas previdenciárias. Quer seja, com a falta de aviso prévio por parte da União referente a essa retenção e a falta de critérios, faz com que os gestores municipais fiquem em uma situação de alerta. Hoje é desconhecido o valor dessa dívida, muitos gestores já receberam suas prefeituras com essas pendências e os descontos simplesmente acontecem. Portanto é preciso que ocorra de forma urgente uma reforma previdenciária, bem como um ajuste no formato de retenção do FPM. 4. Projeto de Lei PL 3.626/2015 Existe um projeto de lei tramitando na Câmara dos Deputados, o PL 3.626/2015 do deputado Tadeu Alencar, que prevê a regulamentação do procedimento das cotas de retenção do FPM. O projeto propõe que o valor mensal das obrigações previdenciárias correntes seja apurado com base na respectiva Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e de informações à Previdência Social GFIP, ou no caso de não apresentação a média das 12 últimas competências recolhidas anteriores ao mês de retenção prevista. O projeto também contempla a comunicação aos gestores municipais com o prazo de 30 dias que antecedem o débito. Diante disso, seria possível uma reorganização nas finanças municipais a fim de minimizar os danos aos cofres das prefeituras.

5 5. Conclusão: Os gestores municipais já enfrentaram dificuldades, em 2015, para custear medicamentos, para custear o transporte de alunos, para pagar fornecedores e servidores públicos e manutenção de salários de médicos e de professores do magistério. Diante disso e das previsões pessimistas para este ano, é possível prever que a crise dos municípios brasileiros será agravada no ano de 2016, como já possível notar nos primeiros passos do ano. A situação de queda nominal dos repasses realizados ao fundo é extremamente preocupante. Isso porque o montante repassado é menor e quando somada aos efeitos negativos da inflação o mesmo se torna ainda menos expressivo. Mas, segundo as previsões da Secretaria do Tesouro (STN), há expectativa de melhora para os próximos meses. Para março e abril a STN espera crescimentos nominais de 6,1% e 11,1%, respectivamente. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) continua a luta por um encontro de contas que atenda de forma ampla e irrestrita todos os Municípios brasileiros, de forma a possibilitar-lhes que realmente conheçam a sua dívida previdenciária. É importante ressaltar que essas retenções não são apenas oriundas da dívida previdenciária, existem outros tipos tais como FGTS, BNDES, Medidas provisórias, dentre outras.