Conclusões do Seminário: Mecanismos Estaduais de Prevenção em Países Federais Buenos Aires, 16 de agosto de 2013
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- Giovana Fonseca Azambuja
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1 Conclusões do Seminário: Mecanismos Estaduais de Prevenção em Países Federais Buenos Aires, 16 de agosto de 2013 A. Processos de criação dos mecanismos estaduais de prevenção à tortura: fatores ou ações que contribuem para processos exitosos de estabelecimento de mecanismos estaduais de prevenção à tortura (MEPT) 1. Pressão e intervenção por parte de organismos internacionais (Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Corte Interamericana de Direitos Humanos, Associação para a Prevenção da Tortura (APT), Subcomitê para a Prevenção da Tortura), através de diferentes ações (visitas aos países/estados, casos, relatórios, recomendações, etc). Foi feita especial referência à utilização do litígio estratégico perante o Sistema Interamericano como um instrumento para se conseguir um compromisso dos Estados de estabelecer mecanismos estaduais de prevenção (tanto na Província de Mendoza (Argentina) como no Estado de Pernambuco (Brasil), a criação do mecanismo estadual de prevenção se deu como resultado dos processos de Solução Amistosa das Medidas Provisórias perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, sendo incorporada como uma das medidas de reparação a ser satisfeita pelo Estado). 2. Existência de janelas de oportunidades que ocorrem devido a certas situações concretas (por exemplo, denúncias de casos individuais que alcançam grande visibilidade pública com repercussão nos meios de comunicação) ou conjunturais (por exemplo, contexto préeleitoral, visita de organismos internacionais de direitos humanos ao país), que geram a oportunidade para inserir o tema na agenda política do Estado e acelerar o processo de criação dos MEPT. 3. Participação da sociedade civil organizada em todas as etapas do processo de criação, designação e funcionamento dos MEPT. Destacou-se que a existência no âmbito local de organismos da sociedade civil com reconhecida atuação no monitoramento de lugares de privação de liberdade e na proteção dos direitos humanos das pessoas privadas de liberdade representa um plus que não somente fortalece e acelera o processo de criação, 1
2 designação e instalação dos MEPT, como também tem um impacto em assegurar um modelo de mecanismo que observe integralmente os Princípios de Paris e que garanta uma ampla participação da sociedade civil. 4. Identificação e envolvimento de parlamentares comprometidos com o estabelecimento de MEPT eficazes. 5. A Secretaria de Direitos Humanos do Brasil vem fomentando e promovendo em muitos estados a adoção e implementação de políticas públicas de prevenção da tortura, aproximando-se e dialogando com as autoridades locais de forma a promover a criação de mecanismos estaduais. 6. Colaboração entre os mecanismos estaduais, de maneira a gerar uma dinâmica conjunta e articulada de apoio cruzado entre os estados para a criação dos respectivos mecanismos, promovendo-se a difusão de boas práticas. Contudo, é importante levar em consideração que a simples cópia de modelos de mecanismos pode apresentar riscos. A seleção da estrutura organizacional dos MEPT deve atender ao contexto social, político e administrativo específico de cada estado. 7. Adoção de uma estratégia integral de promoção e incidência no âmbito do estado que aborde possivelmente três etapas: difusão ampla do tema (as obrigações que os Estados adquirem quando ratificam o Protocolo Facultativo e que são os MEPT); capacitação e formação dos atores potencialmente relevantes para o processo; discussão do anteprojeto de lei com a participação de uma ampla gama de atores, que inclua, entre outros, organizações da sociedade civil, secretarias estaduais de direitos humanos (e afins), parlamentares que apoiem a matéria, Ministério Público, Defensoria Pública, conselhos estaduais de direitos humanos. B. Independência dos mecanismos 8. Deve-se buscar modelos de composição de MEPT que prevejam que os integrantes do MEPT não representem, nem estejam vinculados, a outras instituições, públicas ou privadas. Que os integrantes do MEPT pertençam aos quadros ou representem uma outra instituição, entidade, ou Poder do Estado debilita, ou mesmo impede, a independência funcional do MEPT e de seus membros. É imperativo que se garanta a independência dos mesmos. 2
3 9. É problemático o envolvimento do Poder Executivo, e também do Poder Judiciário ou outros setores na composição dos MEPT. 10. É recomendável que o mecanismo seja criado como uma ente extra-poder. 11. É fundamental que o processo de designação dos integrantes do MEPT se desenvolva através de concurso público, aberto e transparente, levando em consideração critérios de idoneidade pessoal. Da mesma forma, é importante que os membros sejam nomeados por mandato de tempo determinado. 12. Necessidade de assegurar o orçamento e a autonomia financeira dos MEPT, garantindo-lhes competência para preparar seus próprios orçamentos anuais e poder decidir como utilizar os recursos de maneira independente, livre do controle governamental ou da necessidade de uma autorização ou aprovação de qualquer autoridade pública. 13. Relembramos que o Protocolo Facultativo contém a obrigação positiva de que os Estados Partes forneçam os recursos financeiros necessários e suficientes para o funcionamento eficaz dos MEPT. Contudo, quando existam obstáculos ou limitações financeiras, se sugere que os MEPT procurem articular-se e coordenar com outras entidades que trabalhem temáticas semelhantes, tais como as organizações da sociedade civil, conselhos profissionais, comitês e conselhos de direitos humanos que possam apoiá-los fortalecendo sua capacidade técnica, financeira e estrutural. 14. Necessidade de que a lei que cria os MEPT contenha a previsão de que os cargos dos integrantes dos MEPT sejam remunerados e que trabalhem em regime integral de maneira a assegurar sua eficácia. 15. A maneira como se desencadeia o processo local de criação do MEPT até sua designação tem um impacto no modelo de composição e de estrutura organizacional do MEPT. Em contextos locais onde exista uma sociedade civil ativa e fortalecida no monitoramento dos lugares de privação de liberdade, se há constatado que os modelos de composição dos MEPT costumam garantir um maior grau de independência de seus membros e uma maior participação da sociedade civil no funcionamento dos MEPT. 3
4 C. Prerrogativas e atribuições dos mecanismos 16. Realização das visitas de monitoramento: é necessário ter uma visão ampla da definição de lugares de privação de liberdade e, sobretudo, que os MEPT se empenhem em monitorar certos lugares de privação de liberdade privados que não costumam ser identificados desta forma, como orfanatos e abrigos para crianças. 17. Participação de um corpo médico independente: a importância de que o MEPT conte com peritos médicos e especialistas para realizar perícias rapidamente. Por exemplo, em situações de tortura utilizando-se choque elétrico, é imprescindível uma investigação extremamente rápida. 18. Construir e manter banco de dados e registros. 19. Recomendações; eficácia e falta de resposta: a prerrogativa de emitir recomendações é um instrumento chave dentro das atribuições do MEPT. Contudo, foi mencionado que as autoridades públicas não costumam responder às recomendações. Os MEPT devem refletir sobre maneiras de conseguir estabelecer algum sistema de acompanhamento e seguimento às recomendações de forma a saber se as recomendações vão sendo cumpridas ou não. Destacou-se a necessidade de difundir e realizar um trabalho de comunicação relativo às recomendações e implementar algum tipo de controle de seu cumprimento. 20. Atuação em processos criminais: muitos MEPT encaminham casos e denúncias, porém é um pouco mais complicado quando querem envolver-se no processo criminal em juízo. Costuma ser um ponto de debate interno no seio dos MEPT seu papel de litigar casos. Uma estratégia possível, levantada pela Procuración Penitenciaria de la Nación argentina, é envolver-se em alguns poucos casos penais, no marco de alguns litígios identificados como estratégicos segundo o plano de trabalho operacional dos MEPT. Poderia considerar-se como boa prática que os MEPT se envolvam em alguns casos específicos que possam servir de maneira estratégica para abrir precedentes e fortalecer as ações de prevenção da tortura e maustratos, já que não é a função primordial dos MEPT litigar, e, de qualquer forma, não contam com o pessoal e o orçamento suficiente para litigar um número elevado de casos. 21. Interação dos mecanismos com autoridades; distintas experiências: o Situação de colaboração: o MEPT do Rio de Janeiro destacou que nunca teve problemas para ter acesso a qualquer lugar de privação de liberdade. Acredita que seja uma consequência do 4
5 o trabalho de legitimação e divulgação do papel e das atribuições do MEPT que foi realizado nos primeiros meses de sua instalação (especialmente com a APT). Na Argentina, foi mencionado que muitas vezes se confunde o MEPT com uma ONG e o ingresso aos estabelecimentos lhe é negado. Situação de não diálogo 22. Ressaltada a conveniência das mesas de diálogo com envolvimento das pessoas detidas através de mecanismo de representação, como delegados e porta-voz. 23. Linha telefónica permanente (com atendimento 24 horas) através da qual se possa denunciar casos ou situações de tortura. D. Próximos Passos / Recomendações 24. Aproveitar o momentum criado com a promulgação das leis federais que instituem o Sistema Nacional de Prevenção à Tortura e os mecanismos nacionais, tanto na Argentina como no Brasil, para promover e fomentar a criação dos MEPT no âmbito das províncias e estados. 25. Os MEPT podem aplicar ao Fundo Especial do Protocolo Facultativo (observados os critérios do artigo 26 do Protocolo Facultativo) para solicitar recursos para contribuir na implementação das recomendações do SPT depois de uma visita ao país e para financiar programas de treinamento dos MEPT. Contudo, deve-se recordar que o Protocolo Facultativo impõe aos Estados Partes a obrigação positiva de fornecer os recursos e o financiamento suficiente para o funcionamento eficaz dos MEPT. 26. A execução de qualquer política pública depende de dotação orçamentária específica. Não é possível executar políticas públicas sem dotação orçamentária suficiente. Recomenda-se pleitear o debate quanto à criação de um fundo específico, em âmbito federal, que apoie e incentive iniciativas de estabelecimento dos MEPT. 27. Fomentar uma dinâmica de apoio, de estabelecimento de redes de troca de informação e articulação entre os mecanismos existentes, que inclua que membros dos MEPT visitem outros estados para articular e fazer um intercâmbio com outros MEPT e a realização de atividades de divulgação sobre os mecanismos de prevenção e o Sistema Nacional de Prevenção à Tortura. Também se propõe a cooperação entre os mecanismos locais e as organizações da sociedade civil daqueles estados que ainda não possuam mecanismos. 5
6 28. Em âmbito regional, se propõem instâncias de cooperação e articulação entre os mecanismos estaduais e nacionais de países do Cone Sul. Particularmente, foi comentada a problemática que se apresenta em países como Brasil e Argentina quanto à sua vasta extensão territorial que representa um sério obstáculo para que se possa manter um contato regular com as pessoas privadas de liberdade e entre os membros dos MEPT. Tal problemática poderia ser abordada através da articulação entre os distintos organismos que trabalham esta temática em âmbito local. 29. Destacou-se a necessidade de articulação entre os mecanismos estaduais com o mecanismo nacional, assim como com as organizações da sociedade civil e as instituições públicas (Defensorias Públicas, Ministério Público, Procuracion Penitenciaria de la Nación, etc.). 30. Organizar encontros sobre a nova lei federal e os mecanismos estaduais em estados que ainda não instituíram seu MEPT, ou que tenham promulgado leis ainda não implementadas, de maneira a fomentar e acelerar nestes estados a instalação de MEPT em conformidade com o Protocolo Facultativo. 31. Criação de uma plataforma virtual (por exemplo, um grupo e Facebook) de cooperação e intercâmbio de experiências entre os distintos organismos, para dar seguimento a este seminário e fortalecer os processos estaduais de criação dos mecanismos. Esta plataforma também deveria reunir e sistematizar materiais e informação relevantes que possam ser de utilidade aos atores que trabalham em prol da instituição de MEPT (por exemplo, leis, projetos de lei, diretrizes do SPT, conclusões de workshops e seminários, etc.). 32. Pleitear que o Ministério de Justiça e Direitos Humanos da Argentina se pronuncie, apoie e fomente ativamente junto às autoridades das províncias a designação e criação de mecanismos estaduais. 6
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