Piometra em cadela Maurício Stefane Rivera Pereira 1, Patrícia Renault Silva 2

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1 Medicina Veterinária Piometra em cadela Maurício Stefane Rivera Pereira 1, Patrícia Renault Silva 2 RELATO DE CASO 1 Aluno de graduação do Curso de Medicina Veterinária 2 Professora Mestre do curso de Medicina Veterinária Resumo O complexo hiperplasia endometrial cística ou piometra é uma doença que apresenta altas taxas de morb i- dade e mortalidade. Pode ser classificada de duas formas, cérvix aberta e cérvix fechada. O acúmulo de líquido no lúmen do útero e glândulas endometriais, associadas à diminuição da contratilidade do miométrio causada pela progesterona favorecem a invasão de bactérias. Os sinais clínicos e exames complementares são essenciais para o fechamento do diagnóstico. O tratamento clínico nem sempre é eficaz, sendo mais recomendado o tratamento cirúrgico. Por se tratar de uma doença de grande importância na rotina de médicos veterinários, o objetivo deste estudo foi relatar um caso de piometra em uma cadela da raça Shih Tzu de nove anos de idade, evidenciando os métodos diagnósticos e terapêuticos da afecção. Palavras-Chave: piometra; cadela; ovariosalpingohisterectomia. Abstract The complex cystic endometrial hyperplasia or pyometra is a disease with high rates of morbidity and mo r- tality. It can be classified in two forms, open and closed cervix cervix. The accumulation of fluid in the lumen of the uterus and endometrial glands, associated with decreased contractility of the myometrium caused by progesterone favor the invasion of bacteria. Clinical signs and laboratory tests are essential for closing the diagnosis. Clinical treatment is not always effective, and most recommended surgical treatment. Because it is a disease of great importance in routine veterinary doctors, The aim of this study was to report a case of pyometra in a nine years old female Shih Tzu, demonstrating the diagnostic and therapeutic methods of disease. Keywords: pyometra; female; ovariosalpingohisterectomy. Contato: mauri.7@hotmail.com Introdução O Complexo Hiperplasia Endometrial Cística é uma alteração endometrial do útero de cadelas e gatas. Está correlacionada a altos níveis de estrógeno e exposição prolongada de progesterona seja endógeno ou exógeno (HAGMAN, 2006). É considerada um dos fatores predisponente para que ocorra hidrometra, mucometra e piometra (DOW, 1959). Piometra é o acúmulo de material purulento no interior do útero (FOSSUM, 2014), ocorrendo em decorrência de alterações hormonais e geralmente está associada à infecções bacterianas (COGGAN et al., 2004). Acomete mais cadelas do que gatas, e algumas raças predispostas incluem Rottweiler, Golden Retriever, Collie, Cocker Spaniel Inglês, Chow Chow, Schnauzer miniatura e São Bernardo. É mais comum acometer gatas de pêlo curto e os siameses do que outras raças. Geralmente ocorre em cadelas e gatas com média de idade de 8 anos (HAGMAN et al., 2011; FOSSUM, 2014). Pode ser classificada em cérvix aberta, quando há secreção vaginal ou cérvix fechada, quando não há drenagem do fluido, o que causa uma forma da doença mais grave. O fluido que encontra-se no lúmen do útero pode ser classificado como hidrometra, quando há fluido estéril, mucometra, secreção mucóide, ou hematometra, secreção sanguinolenta (FOSSUM, 2014). Os resultados de alguns estudos têm demonstrado que a Escherichia coli é a mais frequentemente isolada do material coletado do conteúdo uterino de cadelas com piometra

2 (COGGAN et al., 2004; SILVA et al., 2004). O quadro de desidratação associado ao choque séptico por E.coli pode levar o animal a uma azotemia pré-renal. Além disso, a presença da bactéria gera uma glomerulonefrite de origem imunológica. Esses fatores podem levar a uma insuficiência renal aguda (OLIVEIRA et al, 2007). O uso de progestágenos ou estrógenos para prevenção da prenhez é contra-indicado por aumentar a incidência de piometra, já que o estrógeno exógeno aumenta o número de receptores de progesterona no útero (NELSON e & COUTO, 2015). A progesterona estimula a secreção das glândulas endometriais e o acúmulo de líquido no lúmen uterino. Além disso, reduz a contratilidade uterina, a qual favorece a retenção desse líquido e cria um ambiente favorável para o desenvolvimento bacteriano e a consequente instalação da piometra (JOHNSTON, et al apud SCHWEIGERT, 2009). A atual conduta terapêutica considerada mais adequada e frequentemente realizada é a ovariosalpingohisterectomia (OSH), visto que resultados insatisfatórios são observados quando o animal é submetido a um tratamento somente com antimicrobianos (LARA, 2008). Devido à importância da piometra em cadelas, uma das maiores causas de óbito na espécie, foi desenvolvido o presente trabalho com o objetivo de detalhar essa patologia através de um relato de caso. na ingestão de água. Ao exame clínico observou-se pulso fraco, abdome distendido, dor à palpação abdominal, apatia, turgor cutâneo diminuído e Tempo de Preenchimento Capilar (TPC) aumentado. Realizou-se a coleta de sangue através da veia jugular para realização de exames laboratoriais. A hematologia constatou leucocitose, leucócitos e trombocitopenia, plaquetas. Os exames bioquímicos realizados no animal seguem listados na Tabela 1. Tabela 1. Resultados dos exames laboratoriais. *Kaneko et al., (1997) Após análise detalhada dos exames e do histórico clínico da cadela, fechou-se o diagnóstico de piometra e o animal foi encaminhado para realização de OSH terapêutica no dia seguinte. A cadela permaneceu internada, recebendo tratamento medicamentoso composto por antibióticos, analgésico, protetor de mucosa gástrica e antiemético, descritos na tabela 2. Tabela 2. Terapia medicamentosa realizada durante o período de internação da cadela. Descrição Relato de caso Uma cadela da raça Shih Tzu, de 9 anos de idade e pesando 6,3 kg foi atendida no Hospital Veterinário da Faculdade Icesp Promove no dia 22 de Outubro de Durante a anamnese, o proprietário relatou que a cadela sempre foi saudável, não era portadora de nenhuma doença crônica, mas que há alguns dias estava inapetente, prostrada e havia observado aumento Após a realização da cirurgia, a cadela foi encaminhada para internação no Hospital Veterinário de Taguatinga, continuando o

3 tratamento iniciado na faculdade. Passados cinco dias da realização da OSH, a paciente foi avaliada e recebeu alta, com prescrição de Amoxicilina com Clavulanato de Potássio, na dose de 20mg/Kg a cada 12 horas, por via oral, como antibioticoterapia preventiva. Discussão O diagnóstico de piometra é facilitado pela história clínica e pelos achados do exame físico. Esta é basicamente uma moléstia de fêmeas de meia-idade e ativas reprodutivamente (ETTINGER, 1997; FOSSUM, 2014). Sendo assim, uma anamnese completa e um exame físico detalhado foram realizados durante a avaliação da cadela. HAGMAN et al., 2006, afirmam que cadelas com piometra de cérvix aberta podem apresentar distensão abdominal, dor à palpação e secreção vaginal e que os efeitos sistêmicos podem ser: letargia, depressão, anorexia, poliúria, polidipsia, vômitos, diarréia, febre, leucocitose, hipotensão, choque séptico e morte. A cadela do caso relatado apresentou distensão abdominal, letargia, depressão e leucocitose. Em alguns casos, o exame citológico vaginal é importante para identificar a fase do ciclo estral em que a cadela se encontra, e a ultrassonografia também pode ser útil na confirmação do diagnóstico, já que é possível avaliar presença de líquido no lúmen, tamanho e espessura do útero. (BOJRAB, 1996). A realização desses exames para fechamento do diagnóstico não foi possível. Dessa forma, a junção dos resultados dos exames laboratoriais e da avaliação clínica do animal, foram suficientes para concluir o diagnóstico. O leucograma, em alguns casos de piometra aberta, pode apresentar-se normal, enquanto que em casos de piometra fechada esse exame pode estar alterado, apresentando uma leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda e neutrófilos tóxicos (JOHNSON, 1995; CHEN et al., 2007 ). A leucocitose por neutrofilia foi evidenciada no leucograma da cadela, não havendo secreção vaginal, concluiu-se que o caso tratava-se de piometra de cérvix fechada. FRANSSON E RAGLE (2003) elucidam que exames complementares devem ser realizados para avaliar o grau de comprometimento renal, septicemia e alterações metabólicas e recomendam realização de hemograma, perfil bioquímico e urinálise. No presente caso, exames de hemograma completo e perfis bioquímicos foram realizados, evidenciando graus de septicemia e comprometimento renal moderados. O tratamento deve ser imediato e agressivo, já que a septicemia e/ou a endotoxemia podem se desenvolver em qualquer momento, se já não estiverem presentes. Para tanto, é indicada a fluidoterapia intravenosa para melhorar a função renal, para manter a perfusão tecidual correta e para correção de déficits eletrolíticos existentes. Também deve ser administrado um antibiótico de amplo espectro de ação até que sejam conhecidos os resultados dos testes de susceptibilidade aos antibióticos. Sabe-se que a OSH é o tratamento de eleição para a piometra (GILBERT 1992; JOHNSON, 1995). Realiza-se uma incisão retro-umbilical sobre a linha alba. Com o aumento do útero pode ser necessário ampliação da incisão. Após localização dos cornos uterinos identifica-se os ovários e pinça-se o complexo artéria e veia ovariana com a pinça hemostática. Coloca-se uma terceira pinça sobre o ligamento entre o ovário e o corno uterino, rompe-se então o pedículo ovariano. Coloca-se uma sutura de transfixação preferencialmente com fio absorvível. Após verificar que não há sangramentos localizase a cérvix realizando a mesma técnica das três pinças (BOJRAB,2008). Após romper o corpo uterino liga-se as artérias e veias uterinas, realizando uma sutura de

4 transfixação (BOJRAB, 2008). Dessa forma, após a conclusão diagnóstica do caso, a cadela permaneceu um dia internada recebendo fluidoterapia e já iniciando a antibioticoterapia, visando uma melhora do estado geral. No dia seguinte, foi submetida ao tratamento cirúrgico, que é o tratamento de eleição para a enfermidade. Conclusão A piometra é uma patologia grave, que se não identificada e tratada da forma correta pode levar o animal a óbito. Devido à alta incidência dessa doença nos atendimentos clínicos, é de suma importância evidenciar casos clínicos elucidando o tratamento utilizado, assim como os métodos diagnósticos. Agradecimentos À instituição de ensino que proporcionou as instalações necessárias para a realização do atendimento ao animal, aos proprietários, à médica veterinária Aline Daudt que foi a responsável pelo atendimento no ambulatório da Instituição e aos estagiários envolvidos.

5 Referências: BOJRAB, M. J. Mecanismo da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2ª.Ed. São Paulo.EditoraManole, p , CHEN, R. F. F. et al., PIOMETRA ABERTA EM UMA CADELA DE 10 MESES. Rev. Acad., Curitiba, v. 5, n. 3, p , jul./set COGGAN, J.A.; OLIVEIRA, C.M.; FAUSTINO, M. et al. Estudo microbiológico de conteúdo intra-uterino de cadelas com piometra e pesquisa de fatores de virulência em cepas de Escherichia coli. Arq. Inst. Biol., v.71, p , Disponível em: _DE_CONTEDO_INTRA- UTERINO_DE_CADELAS_COM_PIOMETRA_E_PESQUISA_DE_FATORES_DE_VIRULNCIA_EM_CEPAS _DE_ESCHERICHIA_COLI/links/0fcfd4fe85ca2a955c pdf. Acesso em: 28 de Abril de COUTO, R. W.; NELSON, C. G. Distúrbios da vagina e do útero. In: Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, p DOW, C The cystic hyperplasia-pyometra complex in the bitch. Journal of Comparative Pathology. 69: FOSSUM Theresa. Cirurgia de Pequenos Animais.4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, p FRANSSON, B. A; RAGLE, C. A. Canine Pyometra: An Update on Pathogenesis and Treatment. Compedium, Washington, v. 25, n. 8, p , GILBERT, R. O Diagnosis and treatment of pyometra in bitches and queens. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, Lawrenceville, v. 14, n. 6, p , 1992.FRANSSON, B. A; RAGLE, C. A. Canine Pyometra: An Update on Pathogenesis and Treatment. Compedium, Washington, v. 25, n. 8, p , HAGMAN, R.; KINDAHL, H.; LAGERSTEDT, A. S. Pyometra in bitches induces elevated plasma endotoxin and prostaglandin F2a metabolite levels. Acta VeterinariaScandinavica, v. 47, p , Disponível emhttp://dx.doi.org/ / Acesso em: 30 de Abril de Hagman R, Largerstedt AS, Hedhammar A, et al.: Abreed-matched case-control study of potential riskfactors for canine pyometra, Theriogenology75:1251, In: FOSSUM, TW.(Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, JOHNSON, A. C. Cystic endometrial hyperplasia, pyometra and infertility. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine. 4 thed. Philadelphia: W, B. Saunders Company, v. 2, p JOHNSTON, S. D.; KUSTRITZ, M. V.R.; OLSON, P. N. S. Canine and feline Theriogenology. Philadelphia: WB Saunders Company, p KANEKO JJ, HARVEY JW, BRUSS ML. Clinical Biochemistry of domestic animals. San Diego. Academic Press p. LARA V.M., et al. Multirresistência antimicrobiana em cepas de Escherichia coli isoladas de cadelas com piometra. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. vol.60 no.4 Belo Horizonte Aug Disponível em: Acesso em: 28 de Abril de OLIVEIRA, N.G.; KOSHIYAMA, M. H.; SCANDURA, S.C.; BARROS,M.A.;LEME,F.F.;TORRES, M.L.M.; LOURENÇO,M.L.G.; OLIVERIA,P.C. Uso de Aglepristone e cloprostenol no tratamento de piometra em cadela- Relato de Caso. São João da Boa Vista- SP. Unifeob, Disponível em:

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