O Facebook como rede social de aprendizagem e ensino de língua inglesa

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1 O Facebook como rede social de aprendizagem e ensino de língua inglesa Adriena Casini da Silva Esta pesquisa foi desenvolvida no Curso de Línguas Aberto à Comunidade (CLAC), projeto de extensão voltado para o ensino e a pesquisa de línguas por graduandos da Faculdade de Letras (UFRJ), oferecido ao público em geral, durante o período letivo de As discussões e o corpus trabalhado têm como base minha experiência enquanto monitora de Língua Inglesa nas turmas de Inglês 1 (uma de e uma de ) e Inglês 2 (uma turma de ) no CLAC, sendo este estudo um trabalho desenvolvido ao longo do semestre em disciplina optativa de orientação de monitores de Língua Inglesa do projeto, elaborado sob a orientação da Profª. Drª. Christine Nicolaides. Objetivou-se investigar como grupos criados no facebook foram utilizados como recurso didático por alunos e por mim, como monitora das turmas em questão. A partir desses dados, é possível notar a importância da rede social para a aprendizagem, que é um meio interessante para fomentar diálogos críticos e complementares aos iniciados em sala de aula. Sendo um fenômeno social, a cibercultura afeta as práticas de comunicação e compartilhamento de informações. Ela afeta, ainda, a produção de significados ao envolver um grande número de recursos de comunicação e tecnologia que, ao colocar em relação pessoas dos mais próximos aos mais longínquos pontos do planeta, cria uma aventura dinâmica e rica de experiências de aprendizagem. (CASTRO, 2011: 51) Possivelmente pelo maior envolvimento dos alunos com recursos de comunicação e tecnologia, como sinaliza Castro (idem), no início das aulas, as turmas sentiram a necessidade de um grupo online para que houvesse uma interação, fora do espaço escolar, de modo mais dinâmica e acessível do que se ocorresse por uma lista de s, por exemplo. Logo, ao longo do semestre, percebeu-se que os usuários do paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº

2 grupo estavam se apropriando da rede social, não só como uma ferramenta para a comunicação, mas também de fins acadêmicos 1. Os tradicionais cursos presenciais são curtos, e o tempo para interagir é escasso, mas a rede de aprendizagem está sempre disponível. (...) Os membros da comunidade acabam se conhecendo e se tornando amigos. (HARASIM, 2005: 55-56) Conforme Harasim (idem), um dos motivos para que o facebook tenha sido aproveitado academicamente foi porque criou-se a oportunidade das discussões em sala de aula terem uma extensão além dos muros do curso e da distância social, o que se relaciona ao que Diaz (2008) desenvolve sobre a dimensão social da participação online. A dimensão social da participação transformou a rede num espaço mais democrático e generalizado de publicação e partilha, promovendo a diminuição da distância social e da integração online através da acessibilidade tecnológica, e o consequente aumento da fluência digital". (DIAZ, 2008: 03). A interação das minhas turmas em seus grupos deu-se de forma livre, tanto pelos alunos quanto por mim. Logo, a participação no grupo não ajudava, por exemplo, com uma pontuação extra ou constituía uma das notas do nível cursado. No entanto, deu-se em um continuum por meio dessa rede de comunicação, que passou a ser cada vez mais uma rede de aprendizagem. O propósito de troca de informações e conhecimentos foi expandido, o que foi viável observar nas 163 postagens, em Língua Inglesa e em Língua Portuguesa, com diferentes objetivos. Pela análise dos dados, obtidos nos próprios grupos online das turmas, pode-se considerar quatro categorias diferentes de postagem: 1 Fez-se oportuno denominar fins acadêmicos, de forma livre, ao uso da rede social pelos usuários, já que ocorreram, frequentemente, estudos coletivos online e o compartilhamento de materiais extras relacionados aos conteúdos estudados em sala, ampliando o propósito do grupo, sendo uma ferramenta de aprendizagem e ensino. Anteriormente, esperava-se que seria apenas um meio de comunicação mais acessível e rápido para todos. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº

3 a) Informacional: postagens que continham informações relacionadas ao funcionamento do curso, calendário e eventos 38 postagens (apenas nove contribuições de alunos). b) Comunicação: postagens com o objetivo de estabelecer um diálogo foram aquelas em que alunos sugeriram que ouvíssemos ou estudássemos uma música ou até mesmo quando aproveitavam o grupo para resolver questões relacionadas a trabalho ou para me lembrar de algum material sugerido que poderia ser postado, como um vídeo que vimos em sala (turma de Inglês 2) sobre a compra de casas nos EUA 46 postagens (30 de alunos). c) Atividades online: promovidas para suprir a falta a algumas aulas por conta de feriados e pontos facultativos. Os alunos trabalharam a análise de quadrinhos da Turma da Mônica, em Inglês, observando não só elementos textuais, como os não-verbais também, para explicar o humor, trabalhar modais e o gênero lido. 17 postagens (promovidas por mim). d) Materiais extras: materiais extras recomendados e postados por todos os usuários, a fim de compartilhar recursos interessantes para estudar sobre a língua inglesa, para com os demais 48 postagens (oito de alunos). e) Dúvidas: dúvidas escritas em Língua Portuguesa e em Língua Inglesa sobre aspectos linguísticos e até mesmo sobre mudanças no calendário do curso 14 postagens (2 por mim). A partir do número de postagens e de suas finalidades, pode-se refletir sobre como a interação estava acontecendo, de fato, entre os membros dos grupos de forma acadêmica, ou se a rede social estava apenas sendo utilizada como uma ferramenta para a comunicação, como explicado na categoria b acima. Por exemplo, a maioria das postagens teve uma finalidade mais informacional; porém, o grupo do Inglês se diferenciou neste sentido, pois paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº

4 foi uma turma que apresentou mais postagens para a comunicação do que os demais grupos. Logo, para essa turma, o facebook foi mais útil para esse fim. Vídeos e links sobre a cultura de países ou falantes de Língua Inglesa foram compartilhados e debatidos (em Inglês), especialmente no grupo do Inglês Ou seja, a conversa e a aprendizagem da língua e da cultura foram contínuas e valorizadas por essa turma, que buscava informações relacionadas a uma grande diversidade sociocultural de falantes da língua estrangeira que estavam aprendendo. Como monitora, acabei postando mais materiais extras do que meus alunos. Porém, foi interessante perceber que os alunos também trouxeram materiais, entre curiosidades e vídeos, ainda que de forma tímida em relação às minhas publicações. Em alguns momentos, os alunos participaram compartilhando dúvidas, informações e entre outros recursos que foram suficientes para expressar o caráter democrático dos grupos online. Por isso, nota-se que a voz do aluno também foi valorizada, o que se espera de qualquer espaço de aprendizagem, seja online ou presencial. A reflexão mais significativa sobre esse trabalho com a rede social fora a de que os alunos precisam interagir mais, pois participar no grupo foi sempre uma atitude tomada pelo aluno e os grupos foram criados pelos próprios alunos, o que foi uma boa iniciativa de descentralização do professor como aquele que deve criar a oportunidade de interação. Possivelmente, a necessidade de compartilhar informações importantes e materiais extras tenha garantido o maior número de postagens por mim, como monitora responsável pelas turmas, embora constantes lembretes a todos que o grupo pertencia a todos os membros, logo, todos poderiam e deveriam postar em seus grupos. Portanto, a intenção nunca foi de ser um grupo centrado no professor, mas como a dinâmica mais comum em sala de aula ainda é a do teacher-centered, talvez um certo comodismo a essa metodologia tradicional ou até mesmo a falta de exercício paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº

5 de participação ativa em seu próprio processo de ensino-aprendizagem, durante toda a sua vida escolar, seja algo a ser superado e trabalhado pelos alunos. Portanto, pode-se concluir que o Facebook é um recurso democrático e que deve ser considerado se o professor deseja trocar informações de forma rápida, mas também acrescentar vídeos e materiais que sejam complementares ao ensino e mostrem mais do dia-a-dia e da cultura de países falantes da língua. Não se trata de uma rede que servirá apenas como depósito de materiais, trata-se de uma rede social que pode ter propósitos acadêmicos e servir como uma ferramenta de superação de distâncias sociais e de um espaço para continuar ou iniciar debater sobre estes materiais. Quanto ao aluno, este deve usar o grupo livremente, tendo em mente que este é uma expansão dos estudos e discussões realizados presencialmente e que esse espaço deve ser aproveitado por todos da turma, para uma interação significativa, tanto quanto a sala de aula presencial interativa e comunicativa que o CLAC propõe como metodologia. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, Andrea de Farias. Da Sala de Aula Ao Ciberespaço: trabalhando por uma nova prática pedagógica. In: Cadernos de Letras (UFRJ). nº. 28 Julho de P Disponível em: castro.pdf. Acesso em 20 de dezembro de DIAS, Paulo. "Da e-moderação à mediação colaborativa nas comunidades de aprendizagem". In: Educação, Formação & Tecnologias. Vol. 1. Universidade do Minho (Portugal), P Disponível em: - Acesso em 02 de setembro de HARASIM, Lara. Redes de aprendizagem: um guia para ensino e aprendizagem on-line. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº

7 Adriena Casini Da Silva Cursando Mestrado em Educação (UFRJ) e Licenciatura em Letras Português-Inglês (UFRJ), Adriena Casini é monitora de Língua Inglesa no Clac-UFRJ desde 2012, sendo formada em Bacharelado em Letras Português- Inglês (UFRJ) e em Licenciatura em Pedagogia (UERJ). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº