3º Domingo Tempo Comum

Transcrição

1 3º Domingo Tempo Comum Homilia comentada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb Chegou o Reino de Deus Mc 1, Introdução. A Liturgia deste Domingo convida-nos a meditar seriamente sobre o tempo e a sua importância na História da Salvação. Na 1ª Leitura, Jonas grita: «Dentro de 40 dias, Nínive será destruída». Na 2ª Leitura o apóstolo São Paulo adverte os Coríntios: «Digovos, irmãos, que o tempo é breve». E no Evangelho é o Senhor quem nos recorda: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto». 2. A que vem Jesus? Que quer fazer Jesus e qual o centro da Sua mensagem? Jesus não começa a falar de Si mesmo ou da Igreja. A causa de Jesus é a causa de Deus no mundo. Numa frase Jesus resume o Seu projeto: Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho (Mc 1,14).

2 Deus é o Senhor do mundo e dos homens. Jesus anuncia uma nova ordem que envolve o interior e o exterior, o espiritual e o mundano, o indivíduo e a comunidade, este mundo e o outro. Não se trata dum entusiasmo improvisado mas do homem todo. O Deus de Jesus é o Deus que vem. Jesus não diz Deus existe mas Deus vem. Não Se instala numa história já cumprida, mas convoca pela Sua promessa para a realização dum futuro sempre novo e melhor. A fé n Ele é ao mesmo tempo esperança. 3. Encontro de Jesus e João. Como foi o encontro destes dois colossos do espírito, João e Jesus? Muitas coisas os aproximava, mas eram mais ainda as que os distinguiam. Hoje, pela primeira vez, Jesus toma a Palavra, uma palavra escaldante, interpelante, sedutora com a apresentação dum programa próprio. Convida à aventura de receber e construir um Reino, uma forma de estar, uma forma de abraçar um estilo de vida original. 4. Conversão e vida nova. Para que este Reino aconteça nas pessoas é preciso converter-se, mudar de mentalidade e de vida e aceitar o convite de Jesus. Implica, portanto, uma adesão total a Jesus Cristo e à Sua Palavra. Jesus não é um moralista, mas um Evangelizador. A resposta do homem ao chamamento de Deus passa por um caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus. É um convite a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar a Sua palavra

3 e o Seu anúncio, a fazerem-se discípulos que aderem à Sua proposta de salvação. Mas tudo começa ainda com o ver e o fazer. Jesus viu Simão e André, Tiago e João, e chamou-os: Vinde atrás de mim, e farei de vós pescadores de homens. Eles deixaram logo as redes e seguiram-n O. Foram «atrás de» Jesus, sem reticências nem calculismos. 1 Cor 7, Brevidade da vida. S. Paulo lembra, contudo, que o tempo passa depressa e que o importante é viver desapegado das coisas e dos interesses deste mundo. Para mudar de vida, amanhã pode ser tarde. Vivemos apenas com a certeza do hoje, não do amanhã. É o único tempo que temos; e São Paulo diz que é breve, passageiro, apenas cenário. Mas o nosso tempo é importante e valioso, pois é na sua provisoriedade e finitude que vamos ganhar ou não os valores definitivos e eternos. Com a ressurreição de Jesus, o futuro de Deus tornou-se presente na realidade do mundo. O (filme) que passa na tela é este mundo!. Jonas 3, Os desígnios de Deus. O livro de Jonas, escrito depois do regresso do célebre exílio da Babilónia, que durou 70 anos, é uma obra de ficção mas profundamente teológica. Jonas não aceita o mandato de Deus e foge num barco.

4 A baleia lança-o na praia para que o projeto de Deus se cumpra. Apesar de contrafeito não resiste a Deus e vai pregar aos ninivitas. Os ninivitas, símbolo da perversão, convertem-se. Acolheram a mensagem do profeta e abriram-se à misericórdia de Deus; e Deus desistiu do castigo... A lógica de Deus não é a lógica do homem. A salvação de Deus é universal. Não tem fronteiras. Aquele que acredita e abandona o pecado já faz parte do Povo de Deus. Foi o que aconteceu com os ninivitas. 7. Troca de olhares. O Evangelho de João e as sua cartas usam muito os verbos dos sentidos: ver, olhar, tocar...no Evangelho de hoje encontramos o verbo olhar. João Baptista põe o seu olhar em Jesus e diz quem Ele é. Jesus olha André e o seu companheiro, interroga-os e convidaos a vir e a ver. Estes veem onde Ele mora e ficam com Ele. André leva o seu irmão a Jesus que põe nele o Seu olhar e dálhe um novo nome, o que é todo um programa. Olhares que interrogam, olhares que nomeiam, olhares que convidam, olhares que traduzem a amizade. Se Jesus olha os homens, é porque Deus os olha. Deixemo-nos olhar por Deus e aceitemos olhá-l O, olhando o Seu Filho Jesus. Então pode-se estabelecer a relação. Saibamos olhar para os filhos, para a esposa, para o marido, para os amigos e inimigos, numa palavra, para os nossos irmãos e vejamos neles um outro Cristo, um outro Jesus, o rosto de Deus.

5 Revelação sagrada Arrependei-vos e acreditai no Evangelho Mc 1,15 Vasto mar da Galileia horizonte perdido Teus olhos abrigam revelação Jesus e João Cena resplandente evangelho da esperança Semente doutro mar no coração amado Onde tudo muda e se faz fascínio estrelado Duma nova vida dum novo luar para amar Quanto te quero, ó Deus por mim amado Tantas vezes perdido e tantas encontrado Quanta beleza florida na minha Galileia Pétalas caídas do meu olhar magoado Espinhos agudos entrelaçados no Teu amor Sempre a morrer sempre a nascer com dor. O tempo é breve, diz Paulo, mas é tão grande Infinita fragrância, alegria de querer viver Atrás de Pedro e André, Tiago e João irei Vagas agitadas acalmarei, a brisa respirarei Nela almirante-mor serás Tu ó meu Jesus Piloto divino em mim, que ao céu me conduz. Ó Deus Tudo de quem sou indigno de Te ver Olhar-Te na luz do luar e em Ti sonhar De olhos rasos pecador me confesso Meu Pai fitando Teu olhar empalideço Tu és tudo e eu nada sou, que Te mereço? Misericórdia com dor e amor Te peço.

6 Faz-me das redes do Teu reino pescador Não de peixes mas dos que vão na minha barca No meu nada meus filhos possam ser estrelas Que brilham no amor de tanto lhes querer Na paixão de tanto os amar com todo o meu ser Num tempo grávido de alegria no meu amanhecer Se o Teu reino alcancei só me resta acreditar Ser um Jonas contrafeito mas crer no perdão Na misericórdia, na Tua infinita bondade Com cantos de anjos alcançarei a eternidade Onde Tu estás numa manhã de Páscoa A receber-me. Cansado de mim irei chegar para Te amar. J. Rocha Monteiro in Liturgia cósmica