CINEMA QUEER: O QUE É ISSO, COMPANHEIR@S?
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- Victorio Wagner Canto
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1 CINEMA QUEER: O QUE É ISSO, COMPANHEIR@S? Tatiana Brandão de Araujo 1 Resumo: Neste trabalho será analisado o documentário Fabulous! The Story of Queer Cinema de 2006, dirigido por Lisa Ades e Leslie Klainberg. O filme pretende fazer uma cronologia de produções feitas por/para/sobre gays e lésbicas, principalmente, nos EUA a partir da década de Um dos principais temas que ele aborda, enquanto traça sua cronologia, é a questão da visibilidade, e de que como gays e lésbicas ficaram ausentes por muito tempo enquanto sujeitos das representações cinematográficas. Nesse sentindo, além da temática da visibilidade, o filme discute representação, voz, auto-expressão, e a importância da identificação com o que se vê na tela. Os filmes citados no documentário rompem de alguma forma com os padrões normativos de feminilidades e masculinidades, mas em que sentido o termo queer é pensado quando se referem a estas produções? Segundo Annamarie Jagose (1996) e Jack Halberstam (2005), o queer não pode ser considerado sinônimo de homossexualidade, significando assim, que nem todos gays e nem todas as lésbicas poderiam ser considerados queer. E sendo o queer uma crítica a política de identidades, seria este um termo coerente para demarcar e identificar certos filmes? Palavras-chave: visibilidade. Queer. Cinema. A pergunta O que é Cinema Queer? não se trata de um questionamento simples, já que possivelmente se encontrarão diferentes respostas. Na tentativa de buscar uma resposta, entendo que é importante a discussão do termo queer e do entendimento do mesmo para a teoria, assim como, do modo como essas discussões refletem nas produções cinematográficas. O caminho que escolhi para tentar achar uma resposta é analisar de que forma o documentário Fabulous! The Story of Queer Cinema trabalhou essas questões, quais filmes foram citados, o que existe em comum para estarem ali, e se a Teoria Queer se faz presente no discurso que construiu as escolhas dos títulos apresentados. Entendo que o documentário citado acima, dirigido por Lisa Ades e Lesli Klainberg, tem como principal tema a questão da visibilidade, e de que como gays e lésbicas ficaram ausentes por muito tempo enquanto sujeitos das representações cinematográficas, não somente como representados, mas também como produtores. Ao contrário das primeiras décadas da história do cinema, em que essas representações eram relegadas a subtextos ou partindo apenas de um ponto de vista heteronormativo, com a afirmação dos movimentos sociais, a partir de 1960 nos EUA, os grupos considerados minorias começaram a produzir suas próprias representações, produzindo um contra-imaginário à heteronormatividade vigente na maioria dos filmes lançados até então. Essa heteronoramatividade presente no cinema não acabou, mas atualmente se encontram mais filmes que apresentam outras visões sobre como as pessoas vivem suas relações, seus corpos e 1 Aluna do Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Brasil. Bolsista CNPq Brasil. 1
2 seus afetos. Desta forma, o documentário analisado procura traçar uma cronologia, mostrando que se presenciamos um momento no qual gays e lésbicas não são mais raridade no cinema, é por que houve um caminho árduo percorrido por cineastas que vivenciaram maiores dificuldades das encontradas hoje em dia. Como B. Ruby Rich afirmou no documentário, no período anterior à década de 60 não existia uma produção de filmes voltados para um público específico homossexual. Segundo a autora, o diretor Kenneth Anger e seu curta Fireworks foram importantes para o começo do que ela chama de uma gay sensibility. Porém, foi apenas nos anos 60 (os filmes do Andy Warhol fazem parte deste marco), e, principalmente, na década de 1970 (momento após Stonewall) que mais filmes começaram a surgir. Apesar de ficarem relegados a um circuito alternativo, eles demonstraram que existia um público que correspondia a esse outro olhar sobre a questão. E para entender a questão da visibilidade no cinema é importante pensar no contexto desses movimentos sociais, e nas discussões que eram feitas naquele momento. Questionamentos esses, versando sobre a representação e voz no espaço público, que tomaram conta de discussões acadêmicas, e também de produções artísticas. Mulheres, negros, homossexuais, queriam representar-se, tomar o lugar de fala, e construir olhares diferentes do dominante, que os colocava como objeto do olhar do homem branco e heterossexual. Na década de 1970 surgiram artistas que caminhavam na margem dos discursos dominante. Filmes como The Rocky Horror Picture Show de Jim Sharman, ou os filmes do diretor John Waters e sua personagem Divine. Títulos que fizeram sucesso, principalmente, nas chamadas sessões de meia noite, e que demonstravam o interesse de um público por temáticas que subvertiam as narrativas normativas predominantes na Hollywood da época. O caminho percorrido pelo documentário tem relação direta com as questões discutidas pelos movimentos de gays e lésbicas, assim como o crescimento e ampliação dessas mesmas discussões. Apesar do contexto conservador estadunidense nos 80, cresceram o número de produções que representavam relações homossexuais, e estas começavam a sair dos circuitos alternativos. E assim como mencionado no filme, com o surgimento do VHS, esses filmes se tornaram mais acessíveis, facilitando para que mais pessoas tivessem contato com essas produções. No documentário, a autora B. Ruby Rich afirma que nos anos 80 existe uma vontade maior de criar essas imagens com as quais gays e lésbicas pudessem se identificar diretamente, na tentativa de conquistar um espaço público para essas representações e para os sujeitos em si, caracterizando o momento em que tais sujeitos não queriam mais ser relegados a uma subcultura. 2
3 Nessa época começou uma produção independente mais forte, procurando romper com a narrativa clássica, representando outros tipos de personagens, e nesse panorama, gays e lésbicas começam a emergir mais dessas representações. E não somente em um formato tão diferente, mas até mesmo assumindo gêneros mais clássicos, como no caso do romance Desert Hearts de 1985, dirigido por Donna Deitch O histórico proposto pelo documentário é muito interessante, pois além de ser uma discussão importante, trata de alguns filmes que são relegados à marginalidade sendo esta uma maneira de conhecê-los. Porém, ao acompanhar a discussão do documentário dá para entender que a compreensão do que significa uma produção cinematográfica queer refere-se apenas aos sujeitos LGBT. Nesse sentindo o mesmo fixa um significado que é contestado por teóricos que trabalham com Teoria Queer, como Richard Miskolci e Annamarie Jagose, e não abre possibilidades para outras desconstruções da heteronormatividade. Segundo Judith Halberstam, o termo queer: refers to nonnormative logics and organization of community, sexual identity, embodiment, and activity in space and time (2005, p.6). Sendo assim, o significado do queer não pode ser limitado à orientação sexual, tendo outros fatores que devem ser pensados. Fabulous! The Story of Queer Cinema traz questões para pensar nessas discussões, no termo Cinema Queer, e quais suas possíveis relações com a teoria. Sobre a teoria queer: Para falar sobre Cinema Queer, entendo como importante traçar alguns paralelos com a Teoria Queer que começou na década de 1980 nos EUA. Como destaca o autor Richard Miskolci (2012), essa teoria surge sob a influência de movimentos sociais de duas décadas atrás. Segundo o autor, foram movimentos... associados à emergência de novos sujeitos históricos que passam a demandar direitos e também a influenciar na produção de conhecimento (Miskolci, 2012, p.13). No entanto, algumas reivindicações feitas nos movimentos de contracultura das décadas de 60 e 70 não foram suficientes para comportar outras identidades que não estavam sendo contempladas. No caso dos feminismos, questionava-se que o movimento não era inclusivo, e tinha como foco dominante mulheres brancas, ocidentais, e heterossexuais. Referente aos movimentos homossexuais, a questão da epidemia da AIDS foi de grande impacto, e os questionamentos queer surgem desse momento de crise, no qual novas idéias e práticas eram necessárias para incluir sujeitos que não estavam nas reivindicações dos antigos movimentos. Como afirmou Annamaria 3
4 Jagose (1996), o queer apresentou as limitações das categorias de identidade para a representação política. A perspectiva branca, Ocidental, classe média e heterossexual não compreendia os múltiplos sujeitos, e suas diferentes vivências de seus corpos, sexualidades, e relacionamentos. Para Miskolci (2012), os movimentos homossexuais dos anos 60/70 queriam incorporação da sociedade vigente, aceitando os valores dominantes, já o queer desafiava e pedia por mudanças dessa sociedade, criticando os valores hegemônicos que a regia. Por mais que queer tenha sido uma palavra usada pejorativamente para falar sobre homossexuais, e depois incorporada pela própria comunidade, a idéia da teoria não refere-se a um sinônimo de homossexualidade, ela abrange outras questões, e vai além da vivência da sexualidade. O queer, portanto, não é uma defesa da homossexualidade, é a recusa dos valores morais violentos que instituem e fazem valer a linha da abjeção, essa fronteira rígida entre os que são socialmente aceitos e os que são relegados à humilhação e aos deprezo coletivo (Miskolci, 2012, p.25) As queer is unaligned with any specific identity category, it has the potential to be annexed profitably to any number of discussions (Jagose, 1996, p.2). Nesse sentido, como afirmou Miskolci, a teoria queer enriquece tanto os estudos gays e lésbicos trazendo uma perspectiva feminista, assim como os estudos feministas, apresentando que as discussões vão além da categoria mulher. Uma questão importante apontada pela teórica Judith Butler, e que se trata de um das discussões queer, é da necessidade de desconstruir uma relação de causalidade entre sexo-gênerodesejo, apresentando que essa suposta estabilidade não é natural, mas sim reforçada por um pensamento heteronormativo. A autora fala dos chamados gênero inteligiveis (Butler, 2003, p.38), que seguem o sistema afirmado acima, e que estes constituem na estabilização de uma fronteira para o aceito e o não-aceito. Judith Butler (2007) trabalha a idéia de que esses corpos normativos são construídos por discurso, e que sua materialização é fruto do mesmo. Porém por não se tratar de algo natural, exige a constante reafirmação de seu status normativo. Desta forma, a autora afirma que nessas brechas e instabilidades que corpos e identidades não normativas vão encontrar meios de colocar em debates os saberes dominantes que os consideram abjetos perante a sociedade. O abjeto designa aqui precisamente aquelas zonas inóspitas e inabitáveis da vida social, que são, não obstante, densamente povoadas por aqueles que não gozam do status de sujeito, mas cujo habitar sob o signo do inabitável é necessário para o domínio do sujeito circunscrito (ibid., p.155). Por isso, deve-se ter em mente que essa matriz que constrói uma idéia de (hetero) normatividade é sempre excludente. E a materialização de seus corpos, que correspondem a uma 4
5 coerência entre sexo-gênero-desejo, é construída sempre pensando no que seria o oposto dessa norma, estabelecendo assim a margem do aceitável, do normal, daquilo que deve ser seguida por homens e mulheres. (New) Cinema queer: O início dos anos 90, principalmente nos EUA, foi um contexto importante para gays e lésbicas no cinema, e/ou o que pode se chamar de cinema queer. Novas e mais produções começaram a ser feitas, tendo espaços em grandes festivais, e apresentando uma variedade de histórias que não correspondiam necessariamente a um imaginário positivo sobre a homossexualidade. Aliás, a tentativa era romper com essa necessidade de incorporação social, pois como afirmado anteriormente, com a epidemia da AIDS dos anos 80 2, outras questões precisavam aparecer, não somente nas discussões acadêmicas, mas também na produção de imagens artísticas. Neste sentido, uma leva de filmes, dirigidos majoritariamente por homens brancos e gays chegaram aos festivais (como o de Sundance, por exemplo) apresentando uma nova proposta, não somente de temática, mas rompendo com uma narrativa clássica hollywoodiana. Filmes que tinham personagens gays que não se conformavam, e até mesmo se rebelavam, perante a sociedade em que viviam, refletindo a revolta do contexto. These filmes give voice to the marginalised not simply in terms of focusing on the lesbian and gay communitiy, but on the sub-groups contained within it (Aaron, 2004, p.3). Desta forma, o contexto da epidemia da AIDS, mais as discussões da Teoria Queer, não podem ser pensadas como questões distanciadas dessas produções cinematográficas. Como afirmou Miskolci, o queer em termos políticos, tem relação com...a luta por desvincular a sexualidade da reprodução, ressaltando a importância do prazer e a ampliação das possibilidades relacionais (2012, p.22). Não somente subverter a relação de causalidade entre sexo-gênero-desejo, apresentando que as normas não se restringem apenas aos relacionamentos heterossexuais, mas também aos homossexuais. Queer represents the resistance to, primarily, the normative codes of gender and sexual expression but also to the restrictive potential of gay and lesbian sexuality (Aaron, 2004, p.5). A autora B. Ruby Rich considerou enquanto um movimento esses filmes que foram lançados no início dos anos 90, reconhecidos em festivais, e que possuíam como características um 2 A maior parte das pessoas, sobretudo as que estavam com HIV, não faziam parte desse grupo pelo qual o movimento homossexual forjado na década de 1960 lutava. Em sua maior parte, o movimento homossexual emerge marcado por valores de uma classe média letrada e branca, ávida por aceitação e até mesmo incorporação social (Miskolci, 2012, p.24). 5
6 desafio à narrativa normativa cinematográfica, assim como os temas e sujeitos tratados nas histórias - ela chamou este movimento de New Queer Cinema. No ano de 1991, quando Paris is Burning de Jennie Livingston e Poison de Todd Haynes ganharam o grande prêmio do júri em Sundance, se apresentou uma mudança e uma abertura que ficaria clara no festival do ano posterior. Mais filmes com personagens gays, de diretores com propostas diferentes, e com narrativas que desafiavam o que costumeiramente se via nos cinemas. New Queer Cinema is gay independent cinema, made in the midst of the AIDS crisis, that defies cinematic convention. This defiance can take the form of being fragmented, non-narrative, and ahistorical (Pearl, 2004, p.23). Para Monical Pearl não tem como dissociar o contexto da AIDS com essa produção de filmes dos anos 90, e independente se eles abordam diretamente a questão da doença ou não, ela estará refletida inclusiva na forma como os filmes são montados narrativamente. It s my contention that New Queer Cinema is AIDS cinema not only because the films (...) emerge out of the time and the preoccupations with AIDS, but because their narratives and also their formal discontinuities and disruptions, are AIDS-related (ibid., p.23). Segundo a autora, as produções do New Queer Cinema podem ser consideradas o oposto do que é produzido no mainstream, contexto no qual não se caracteriza por apresentar desafios e normalmente não representa sujeitos que estão na margem, ou considerados abjetos perante à heteronormatividade. Como B. Ruby Rich afirmou em Fabulous! The Story of Queer Cinema, o momento do New Queer Cinema já passou, e estamos vivenciando um outro momento na representação de sujeitos LGBT no cinema (e também na televisão). Pode-se pensar, inclusive, que existe uma demanda de mercado, e por isso, personagens gays ou lésbicas não são mais um dado raro. Sendo assim, retorno a minha pergunta inicial. Afinal, o que é Cinema Queer? Existe um número de filmes que podem ser classificados como queer? E tal classificação não seria criar uma identidade fechada da qual a própria teoria queer gostaria de evitar? Essa expressão pode ser válida para pensar uma produção que deseja contestar um discurso que legitima a heteronormatividade, mas a questão de como utilizá-la é que ainda permanece em aberto. Considerações finais Se o queer nasceu como uma crítica à política de identidade, e para trazer novas questões aos movimentos LGBT e feministas, falar da existência de um Cinema Queer poderia significar uma limitação? Não seria mais interessante encontrar elementos que tornem um filme queer? E 6
7 sendo assim, a discussão dependeria do espectador, e daquele que se propor a discutir o que tal filme discute ou apresenta que pode ser contestador, ou legitimador, da heteronormatividade. Partindo da discussão do documentário, os filmes citados pelo mesmo são muitos diferentes, do circuito alternativo ao mainstream, da história de amor, à história de crime, tragédia. Porém, todos são sobre relacionamentos e personagens homossexuais. Se queer não é um sinônimo para homossexual, o documentário tem um entendimento diferente do que o pensado por essa teoria que surgiu na década de 80. A palavra queer é usada como referência a sujeitos que sentem desejo pelo mesmo sexo, mas isto não significa, que esta palavra seja um sinônimo para palavras como gay, lésbica e homossexual (Jagose, 1996) Uma coisa é pensar em Festivais de Cinema LGBT, já que estes se organizam a partir de uma temática, focando em sujeitos e relacionamentos que não são heterossexuais. Porém, isso não significa que sejam filmes que apresentam uma visão de mundo queer, com elementos que contestem a heteronormatividade. E esta é uma diferenciação importante de se fazer. Se não é sinônimo de homossexualidade, filmes que apresentam relações ou sujeitos heterossexuais, mas que fogem à heteronormatividade, também deveria ser abordado, mas isso o documentário não faz. Acredito que o melhor caminho para pensar na questão das representações cinematográficas seja na maneira com a qual refletiremos sobre o filme. Não o enquadrando, mas elencando de que maneira sua proposta rompe com a heteronormatividade, se é em sua narrativa, em sua estética, nos temas abordados, ou tudo isso unido. Talvez se um filme apresente inúmeros elementos que podem ser considerados queer, ele pode ser caracterizado como Cinema Queer, mas isso não impede, e não deve excluir, as pequenas subversões que acontecem também em produções mais mainstream, e, consequentemente mais normativas. Segundo Michele Aaron (2004) houve um progresso referente à representação de gays e lésbicas no cinema. Porém, é importante ser cauteloso no momento que se comemora essa suposta vitória. Como a autora afirmou, for it its only certain form of queerness that are flirted with, embraced or even championed by the mainstream (p.198). Entendo como negativo quando nega-se as produções mais mainstream como se não tivessem valor, mas é sempre importante manter o olhar crítico (e também não somente com essas produções, com as independentes também), e pensar sobre as identidades que ainda se encontram invisíveis por trás dessas representações que tanto chegam até nós. Acredito que é indiscutível o alcance da visibilidade de sujeitos LGBT no cinema, e na cultura pop em geral. No meu entendimento, uma vitória que faz parte de todo esse caminho que 7
8 mostrou o documentário Fabulous! The Story of Queer Cinema, e da história daqueles que lutaram para terem suas representações apresentadas nas salas de cinema, e programas de televisão. Dentro disso, a questão queer se apresenta como uma discussão bastante complexa perante a constante legitimação da heteronormatividade. Segundo Michele Aaron, as queerness moves into the centre of mainstream production, it inevitably loses it edge (2004, p.198). A radicalidade dos teóricos e dos cineastas que configuraram o movimento New Queer Cinema se perde na maioria das representações atuais. O que se pensou enquanto um Cinema Queer continua caminhando pelas margens, mas pode-se encontrar pequenas subversões, elementos queer, em produções mais acessíveis, e que são vendidas enquanto algo mais convencional, e que até mesmo, se moldam em gêneros clássicos do cinema. O próprio documentário que inicia falando de produções mais independentes e marginais, como os filmes de John Waters, ou os filmes que chegaram a Sundance no anos de 1991 e 1992, termina por falar em produções como Billy s Hollywood Screen Kiss de Tommy O Haver, D.E.B.S de Angela Robinson, e Saving Face de Alice Wu. Os últimos são filmes que se encaixam em um tipo de história e narrativa mais tradicional, mas apresentam elementos que contribuem para a construção de um contra-imaginário, questionando uma verdade sobre como as pessoas vivem suas relações, sexualidades e corpos. Em acordo com o acima exposto é possível afirmar que a teoria queer, e as discussões que surgem a partir da mesma, pode ser muito válida no momento da análise de um filme, e como este apresenta seus sujeitos e suas relações. Tentando refletir sobre como a história de determinado filme trabalhou as categorias de identidade de gênero, sexualidade, e heteronormativdade, e se seus personagens (heterossexuais ou homossexuais) legitimam posturas normativas ou tentam rompê-las, e quais as formas que isso ocorre. Por isso pode ser mais interessante pensar de que forma tal história é ou não queer, do que categorizá-la como Cinema Queer, como se isso, tivesse se tornado uma espécie de gênero cinematográfico. A proposta do documentário Fabulous! The Story of Queer Cinema é coerente, o mesmo se propôs a tratar de produções que foram feitos por/sobre/para um público LGBT, e a partir disso traça uma cronologia trabalhando a importância da visibilidade e da construção de um outro imaginário. Porém, é importante relativizar a categoria queer, e pensar nas outras possibilidades que ela questiona, e não se fechar apenas sobre uma questão de sexualidade. Referências 8
9 AARON, Michele. New Queer Cinema: An Introduction In: AARON, Michele (Ed.) New Queer Cinema: A Critical Reader. New Jersey: Rutgers University Press, AARON, Michele. The New Queer Spectator In: AARON, Michele (Ed.) New Queer Cinema: A Critical Reader. New Jersey: Rutgers University Press, BEIJO Hollywoodiano de Billy, O. Direção: Tommy O'Haver. 92 min, color Título original: Billy's Hollywood Screen Kiss. BUTLER, Judith. Sujeitos do sexo/gênero/desejo In: BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Corpos que Pesam: sobre os limites discursivos do sexo In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, CORAÇÕES Desertos. Direção: Donna Deitch. 96 min, color Título original: Desert Hearts. D.E.B.S - As Super Espiãs. Direção: Angela Robinson. 91 min, color Título original: D.E.B.S FABULOUS! The Story of Queer Cinema. Direção: Lesli Klainberg; Lisa Ades. 82 min, color HALBERSTAM, Judith. Queer Temporality and Postmodern Geographies In: HALBERSTAM, Judith. In a Queer Time and Place: Transgender Bodies, Subcultural Lives. New York: New York University Press, JAGOSE, Annamarie. Queer Theory: An Introduction. New York: New York University Press, LIVRANDO a Cara. Direção: Alice Wu. 91 min, color Título original: Saving Face. MILSKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica Editora, PEARL, Monica. AIDS and New Queer Cinema In: AARON, Michele (Ed.) New Queer Cinema: A Critical Reader. New Jersey: Rutgers University Press, Poison. Direção: Todd Haynes. 85 min, black and white/color ROCKY Horror Picture Show, The. Direção: Jim Sharman. 91 min, color What is queer cinema? Abstract: This work will analyze the documentary Fabulous! The Story of Queer Cinema (2006), directed by Lisa Andres and Leslie Klainberg. The film aims at building a chronology of the productions made by/for/about gays and lesbians, mainly in the USA beginning in the 1940 s. One of the main themes the film approaches while tracing this chronology is the question of visibility, and of how gays and lesbians as subjects were absent from the cinematographic representations for a long time. In this sense, beyond the thematic of visibility, the film discusses representation, voice, self-expression, and the importance of identification with what is seen on screen. The films cited in the documentary in some ways break with the normative patterns of femininity and masculinity, but 9
10 in what sense the term queer is thought of when referring to these productions? According with Annamarie Jagose (1996) and Jack Halberstam (2005), queer cannot be consideres synonym with homosexuality, meaning, thus, that not all gays and lesbians could be considered queer. Moreover, being queer a criticism of identity politics, would it be a coherent term to demarcate and identify certain films? Keywords: visibility. Queer. Cinema. 10
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