Myriam Jeannette SEREY LEIVA (USP)
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- Maria da Assunção Guterres Tavares
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1 Myriam Jeannette SEREY LEIVA (USP) ABSTRACl': In this paper, we study false cognates which, due to their similar/same appearance, cause lexical-semantical interference. We propose a dejintion and classification of false cognates and present the analysis of results from data of native Spanish speakers who are learning Portuguese as a second language. KEY WORDS: False Cognates, Portuguese/Spanish, Interference, Acquisition- Learning, Similarity. Richman (1965:89, 115) fez um estudo comparativo do portugues e do espanhol, e chegou a conclus!o de que essas linguas sio as mais pr6ximas entre as linguas rominicas. Para tanto, ele fez uma analise do porturgues, espanhol, frances e italiano. Ainda, verificou que 0 portugues e 0 espanhol tem acima de 90% de igualdade l~xica, em que 60% sio cognatos identicos, do tipo uvaluva e mais ou menos 30% de cognatos nio-identicos, do tipo cuaderno/cademo. A seme~a entre 0 portugues e 0 espanhol, deve-se a vanos fatores: A) geograficos: a fronteira comum entre Espanha e Portugal; B) hist6ricos: 0 domfnio espanhol de Portugal, entre 1580 a 1640; C) literanos: no ~ulo XIII, a poesia lirica dos portugueses teve sua epoea aurea, levando os espanh6is a escreverem em portugues; no seculo XV, na Renascenca, a Espanha atingiu seu auge literano, levando os portugueses a escreverem em espanhol; D) emprestimos de fonte comum: o larim classico, 0 grego, 0 arabe, 0 frances, 0 ingles, etc.; e E) a origem comum das duas Unguas: 0 larim falado latim vulgar. Essa seme~a leva, assim, a transferencia majoritariamente positiva da L1 para a 1.2, ja que, como Wode (Apud Davies et ai, 1984:175, 176) afirma, basta uma certa similaridade tipol6gica para que a transferencia ocorra. Enlio, 0 processo de aquisicio-aprendizagem de portugues e de espanhol, por falantes de espanhol e Este trabalho ~ um resumo da minba Disserta~o de Mestrado, orientada pela Prof" Dr" Eunice RJ.1leiroHenriques. defeodida em dezembro de na UNICAMP.' 760
2 portuguas, respectivamente, necessariamente segue 0 caminho da transferencia de elementos morfo-sintaticos, fonetico-fonol6gicos e lexico-semanticos. da sua lingua materna para a lingua-alvo. Fato que se torna mais saliente se 0 compararmos com a aquisi~ao-aprendizagem dessas lfnguas. por falantes de lfnguas mais distantes ou se 0 compararmos com a aquisiclo-aprendizagem de lfnguas mais distantes. por esses mesmos falantes de portugues e de espanhol. Daf decorre. 0 que Ingram (Apud Allen & Corder, 1975:171) declara. lfnguas pr6ximas 810 mais faeeis de aprender do que linguas distantes. Como a interferetlcia surge da difere~ dos esquemas formais entre as duas linguas (James. 1987:22), riosso interesse se centra nos falsos cognatos, que se inserem nos 6% (mais ou menos) de difere~ lexicais, pois possibilitam a ocorrencia de interferencia semantica, devido a sua caracteristica intrfnseca, sua apar~ncia de igualdade, 0 que vem dificultar a aquisiclo-aprendizagem dessas lfnguas. A partir de uma amilise etimol6gica dos falsos cognatos coletados (300) para 0 nosso trabalho. chegamos a seguinte definiclo: Falsos cognatos 810 formas linguisticasque pertencem a duas linguas cognatas, que bistoricamente rem uma fonte comum. mas, que se distanciaram ao tomar caminhos diferentes na sua evoluclo. Tambem. conseguimos identificar quatro categorias de falsos cognatos. que mostram como 0 portugues e 0 espanhol substitufram ou conservaram 0 significado de origem: l' Duas foilila es baseadas em duas palavras latinas diferentes. porem com radicais identicos. Por exemplo, vaso/vaso. Esp. vaso. do latim < vas, vasis (=utensfiio de cozinha). Port. vaso, do latim<vasum,i (=vaso. Navio. Veia. Recipiente, vasilha). esp. vaso significa copo. o port. vaso significa recipiente para plantas e flores e vaso sanitario. 2' Duas formacoes baseadas em uma Unicapalavra de origem. As duas conservam 0 significado original. e ambas (ou uma delas) acrescentam uma ou mais acepcocsou estreitam seu campo semantico. Por exemplo, exquisito/esquisito. Do latim<esquisitus,a, um (=apurado. escolhido, distinto, elegante, requintado). o esp. exquisito significa distinto, elegante e gostoso. saboroso. o port. esquisito significa raro e. a partir do sec. XVI. por extensio, passou a "estranho".
3 3 Duas foilwlc(lesbaseadas em uma Unica palavra de origem com uma ou mais accwocs, que do conservadas por uma das duas linguas. A ourtra conserva apenas uma das ac~s originais ou nenhuma (e pode ate coo, mais tarde, uma outra palavra para suprir a falta da(s) outra(s). Por exemplo, sugesti6nlsugestao. Do latim <suggestio, onis (=~ao de construir. Adi~o sucessiva. Por debaixo; levar, trazer debaixo. Fornecer. Proporcionar. Sugerir) o esp. sugesti6n signitica ~o hipn6tica. o port. sugestaosignifica proposta; insin~. Indu~o hipn6tica. (j esp. criou, mais tarde, "sugerencia", do latim <suggero, com as acepeoes de proposta e de insin~o. 4 Duas fo~ semelhantes (ou identicas), porem de origem e significado diferentes. Por exemplo, rato/rato. Esp. rato do latim <raptus, us (=rapto. Port. rata do grego <ratte. o esp. significa instante, momento. o port. significa mamifero roedor. Figurado, instante). Segundo a nossa defini~o de falsos cognatos, as categorias 1-3 representam os Falsos Cognatos Propriamente Ditos, isto e, tem uma fonte comum, e a 4 categoria corresponde a 0 que denominamos Falsos Cognatos Acidentais, baseandonos na nomenclatura de Rose Nash (p. 159), na sua classifica~o de cognatos do englai'iol. Esta categoria Ilio esta contemplada nessa defini~o, porque essas palavras nao tern uma fonte comum, mas as consideramos falsos cognatos porque do iguais ou semelhantes em sua forma ortogrmica e/ou fonol6gica, e podem causar 0 mesmo tipo de dificuldades para 0 aprendiz. Na parte aplicada do nosso trabalho, ftzemos grav~s com tres sujeitos, falantes de espanhol, em diferentes estagios de aquisi~o-aprendizagem de portugues: o sujeito 1 (SI), est! no est!gio av~, considerando que fala quase como urn falante nativo; o sujeito 2 (S2), est! no estagio semi-avancado, considerando que seu desempenho esta proximo do falante nativo, mas Ilio tanto quanto 0 sujeito 1; o sujeito 3 (S3), esta no est!gio inicial, considerando que fala s6 algumas palavras e expressoessoltas.
4 Gravamos em si~o de comunic~o natural e em entrevistas, em portugues e em espanhol, a flm de isolar os falsos cognatos e veriflcar sua ocorrencia. Na analise desses dados, verif1camosque a frequencia de falsos cognatos, da Ll (espanhol) na L2 (portuguas), e maior em falantes menos proflcientes (83), com tendcnciaa diminuir, de acordo com a co.tencia lingiifsticado falante (S2 e SI). E que a frequencia de falsos cognatos, da Lt (portugucs) na Ll (espanhol), e zero, em falantes menos proflcientes (S3), com urn aurnento no mvel semi-avancado (S2) e urna tend8ncia a diminuir no mvel mais avancado (SI). Por outro lado, constatamos que a si~o de fala nio influenciou em nada. 0 que pode ser explicado pela proximidade das linguas e das culturas, 0 que faz com que as diversas situa~s nio sejam totalmente desconhecidas e 0 aprendiz flque mais conflante para arriscar, com grandes possibilidades de acertar. Os falsos cognatos do urn fator de interfer8ncia na prod~o oral e na escrita do aprendiz de portugu8s ou de espanhol, cuja lingua nativa e 0 espanhol ou 0 portugucs (dependendo do caso), pois, de fato, diflcultam a compreensao e a comunic~o, na forma de mal-entendidos e de si~s embar~sas e/ou hilariantes. Podemos conferir esta ~o no seguinte exemplo, retirado dos nossos dados: S2: (Depois de ler urn texto em espanhol) como quitan nossa sexualidade mas tam~m 0 verbo quitar em castelhano e (.) 0 certo teria sido aqui negar ne? como negam nossa sexualidade E: qual e 0 outro significado do verbo quitar? S2: quitar e arrancar mesmo estirpar cortar E: terminar com (..) em portugucs 0 sentido mais literal seria terminar com uma coisa com [--] S2: em castelhano e: de acabar com/com uma coisa E: e a mesma coisa 0 sentido e 0 mesmo S2: nio mas e no sentido de roubar ne tirar quitar e roubar e arrancar E: nao S2: estirpar E: em portugucs 0 sentido de quitar e diferente e no sentido de quando voce nao rouba voce simplesmente encerra voce acerta tudo e encerra 0 sentido comurn e terminar mas 0 terminar 0 como que faz a difere~a faco uma qui~o eu faco tu40 acerto naquele momento S2: mmm E: mas eu faco [---] nio roubo aquilo termina (..) ent!o ai hi uma difere~a de sentido S2: para nos quitar e roubar se apoderar de alguma coisa nesse sentido
5 Esse exemplo mostra claramente a dificuldade que acarreta a presen~a de um falso cognato, porque 0 que S2 pretendia discutir com E era 0 tema da sexualidade e nio sobre urn termo em espanhol. Porem, os falsos cognatos nio chegam a impedir a comunica~o nem a inter~o com falantes nativos, porque a grande seme~ das 1fnguase das si~s de fala permitem que 0 aprendiz seja capaz de se apropriar da situaelio e, fmalmente, ter sucesso na negocia~o de sentidos, saindo sem traumas para uma nova inter~o. Nisso, e claro, 0 seu interlocutor tern urn papel importante, pois ele pode ser muito ativo nessa negoci~o, ja que ele nlio desconhece totalmente a lingua do aprendiz. Da experiencia, entio, ficara a anedota eo novo significado para uma velha conhecida (a palavra ou expresslio). Mas, e necessario ressaltar que isso nio quer dizer que ele vai usa-io, mais tarde. E isto ja e tema para urn outro estudo. RESUMO: Neste trabalho, jocalizamos os jalsos cog1ujtosque, pew sua aparencia de igualdade, levam a interferencias luico-semmmcas. Apresentamos uma defini D de jalsos cog1ujtose 0 resultado da aruuise dos dados, jornecidos por jalantes de espanhol, em processo de aquisi~llo de ponugues, como segunda lfngua. PALAVRAS-CHAVE: Falsos Cognatos, PortugueslEspanhol, Interferencia, Aquisi~o-Aprendizagem, Semelhan~. BLAS, A., J. L. 1991). Problemas te6ricos en el esludiode la interferencia lingofstica. Rtvista de LingUistica. 1. pp Espailola ELUS, R. (198S). Understanding Stcond LangUllgt Acquisition. London: OUP. GASS, S. & L. SELINKER (1983). LangUllgt Trans/tr in LangUllgt LtfJT7ling. Rowley, Mass.: Newbury House. GRANGER, S. & H. SWALLOW (1988). False friends: a kaleidoscope of translation difficulties. Langagt tt I'Homme. 13. pp INGRAM, E. (197S). Psychology and language learning. In Allen & Corder. Tht Edinburg CourSt in App/itd Linguistics. London: Oxford University Press. pp JAMES, C. (1987). ContrastiVt Analysis. Singapore: Longman. JENSEN, J. B. (1989). On the mutual intelligibility of Spanish and POrtuglJcse. Hispania, 71. pp S2. NASH, R. (sem data). Phanton cognates and other curiosities in Puerto Rican Englaftol. La Monda Linguo-PrtJIJknw. 5. Centro de Esploro tai Dokumcntado pri La Monda Lingua-Problema. pp.is? ODLIN, T. (1989). LangUllgt Transftr: Crosss-Linguistic lnjlumct in LangUllgt LtfJT7ling. Cambridge: Cambridge University Press.
6 RICHMAN, S. H. (1965). A comparative study of Spanish and Portuguese. Department of Romance Languages, University of PeDSylvania,Ph. D. Thesis. TAKEUCHI, N. N. (1984). La semejanza con la lengua materna: ttopiezos para el aprendizaje de espafloi. Revista Lttras,33. pp WEINREICH, U. (1970). Languoges in Contaa: Findings and Problems. La Hay&,Mouton.
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