A Química Forense como base no ensino de Reações Químicas para o Ensino Médio.
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1 A Química Forense como base no ensino de Reações Químicas para o Ensino Médio. Juliane Cristina Bieda (IC)*, Jackson Góis (PQ) e Fernando José Righi (FM) jhulie_cristina@hotmail.com, julianecristina@ufpr.br. Palavras-chave: Forense, reações, tecnologia Área Temática: RESUMO: UNIDADE DIDÁTICA DESENVOLVIDA PARA ENSINO MÉDIO COM BASE EM MÉTODOS E CONCEITOS DA QUÍMICA FORENSE. SOBRE A QUÍMICA FORENSE A Química Forense é a área que investiga casos e crimes para atender à demanda do judiciário, considerando quimicamente como e o que aconteceu em determinada situação. Fornece dados para o juiz baseada em análises científicas, com o uso de métodos e técnicas laboratoriais e científicas. Além disso, trabalha juntamente com a Criminalística e a Medicina Forense, sendo uma ramificação da Química Analítica. As análises feitas pelo perito são consideradas evidências primordiais dentro do processo de investigação do crime. Entre as atividades que um químico forense (ou perito criminal) realiza, pode-se destacar: identificação de entorpecentes, análise de disparo de arma de fogo e adulteração de veículos e documentos, revelação de impressões digitais, e constatação de sangue em peças e locais de crimes. Para trabalhar nesta área, exige-se formação em Química (ou outros cursos da área) e a aprovação em concurso público em nível federal ou estadual. Após o teste, a própria polícia aplica um curso de treinamento para o profissional, que pode escolher ser perito de laboratório ou de cenas de crimes. No Brasil, apenas a USP e, recentemente, a UFPel possuem cursos de graduação para a área. Atualmente, séries de televisão e filmes que abordam a Química Forense fazem sucesso e despertam o interesse da população para a área muitas vezes, entretanto, de forma idealizada. POR QUE TRABALHAR ESSE TEMA COM ALUNOS DE ENSINO MÉDIO? Como foi dito anteriormente, a Química Forense vem atraindo cada vez mais pessoas e ganhando espaço na televisão, literatura e cinema, chamando a atenção dos jovens, em especial (a série CSI, Crime Scene Investigation, é o melhor exemplo). Com isso, pode-se trabalhar os conteúdos de Química previstos para o Ensino Médio (segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN) de forma
2 mais atrativa e contextualizada como tem sido proposto por vários educadores e pedagogos. Justamente por ser um tema em voga na sociedade atual, visto que o número de crimes, infelizmente, é crescente, a Química Forense se aproxima da realidade dos alunos e pode motivá-los a seguir essa carreira claro, numa visão otimista para poderem mudar a sociedade que vivem. Se esse objetivo não for conquistado, pelo menos o preconceito que se tem a respeito da Química pode diminuir, pois verão que a matéria não é tão complicada quanto dizem, nem se restringe à bombas, explosivos e venenos. Outro fator motivador para a escolha desse assunto é a quantidade de materiais e experimentos que podem ser apresentados aos alunos para a explicação do conteúdo escolar, pois a prática em laboratório ajuda na ilustração do que se deseja ensinar. A REALIDADE DA ESCOLA ONDE O PROJETO FOI APLICADO Um dos objetivos propostos para os bolsistas do PIBID Química da UFPR foi o desenvolvimento e a aplicação de uma unidade didática em um dos dois colégios que o trabalho vem sendo realizado. No caso deste projeto, foi aplicado no Colégio Estadual Prieto Martinez, localizado em uma área próxima ao Centro de Curitiba. Por conta disso, recebe alunos de vários bairros da capital e até de cidades da região metropolitana, aumentando a diversidade cultural na escola. O espaço físico do colégio não é grande e a maioria das salas foi projetada para comportar cerca de 30 alunos. Possui uma biblioteca considerável em número de obras, mas precária em tamanho. A sala de informática, apesar de pequena, conta com diversos computadores em perfeito estado para uso dos alunos. Por fim, o laboratório tem uma estrutura boa, embora não fosse usado com frequência tanto que ao iniciar o projeto na escola, uma pequena reforma e limpeza tiveram que ser realizadas, para acomodar melhor os reagentes e vidrarias que seriam adquiridos e para que os alunos se sentissem mais confortáveis naquele ambiente. A escola não tem histórico de confusões comportamentais dos alunos e tem um ambiente tranquilo. Algumas turmas são agitadas e um pouco difíceis de serem trabalhadas, mas nada que pudesse impedir o bom andamento das aulas. A equipe de professores e funcionários do colégio se mostrou solícita em ajudar com o projeto, o que facilitou muito sua aplicação, pois houve grande liberdade para se trabalhar em diversos ambientes e de várias formas com os alunos. A turma na qual o projeto foi aplicado foi o 2ºD, no turno da tarde. A sala tem apenas 15 alunos, que são bem unidos, o que favoreceu um ambiente agradável para as atividades. A UNIDADE DIDÁTICA
3 Conforme orientação, a unidade didática foi desenvolvida para ser aplicada em cinco aulas, utilizando tecnologias e contextualização. O conteúdo abordado com a unidade didática escolhido foi reações químicas simples troca, dupla troca, combustão, síntese e decomposição. O planejamento elaborado para essas aulas envolveu a apresentação de dois vídeos (de uma série de reportagens da televisão) sobre o trabalho de um perito criminal, a explicação formal do conteúdo, um jogo online sobre reações químicas, a resolução de exercícios de vestibulares sobre o assunto, a leitura de um texto sobre o reagente Luminol, um experimento para identificação de sangue em uma amostra e um trabalho relacionando o conteúdo visto em sala com a resolução de algum crime repercutido na mídia. A APLICAÇÃO DA UNIDADE DIDÁTICA Como o conteúdo escolhido não é ministrado logo no início do ano letivo, nas primeiras semanas de aula apenas acompanhei as aulas que o professor Fernando, docente da instituição e um dos orientadores do projeto, deu. Fui apresentada para a turma como professora em treinamento e fiz algumas observações sobre a classe e seu comportamento. Assim que foi possível, comecei minha unidade e tive um bom retorno por parte dos alunos quando souberam que as aulas seriam baseadas na Química Forense (ou no CSI, como dizem). O professor Fernando assistiu apenas a essa aula, pois achou que ficaria mais a vontade sem sua presença na sala. Logo após minha apresentação, pedi para a turma ocupar as primeiras carteiras da sala, para que pudessem ver e ouvir melhor os vídeos os alunos sentavam no fundo, ficando assim mais dispersos, apresentados na televisão fornecida pelo governo (cada sala possui uma). Essa mudança nos locais que os alunos ocuparam permaneceu durante o resto da unidade didática, sem que fosse preciso pedir novamente. A atenção e o silêncio durante a exibição da série foi grande e a discussão que seguiu foi interessante, pois mesmo sem terem muito conhecimento sobre o assunto, os alunos se esforçavam para acharem as respostas e questionavam o que viram. Um trabalho também foi pedido para os alunos. Estes deveriam se reunir em grupos e escolher um crime de repercussão na mídia para pesquisarem. A pesquisa deveria conter as informações sobre como ocorreu o crime, quem foram os envolvidos, quando aconteceu, o que a Polícia Criminal fez e qual o veredito dado pela Justiça. A apresentação do trabalho ficou a critério de cada equipe essa foi uma das formas de avaliação da turma. E assim, terminou a primeira aula dessa unidade didática.
4 Na segunda vez que entrei em sala para aplicar a unidade tive mais tempo para realizar as atividades, pois eram duas aulas geminadas. Comecei levando a turma para a sala de informática e pedi que sentassem em duplas ou trios para usarem os computadores. Assim que o jogo (Little Alchemy) foi aberto por todos, fiz uma breve explicação de como deveriam fazer (o jogo consiste em combinar os quatro elementos iniciais para formarem outros fogo, terra, água e ar), e dei cerca de vinte minutos para que encontrassem o maior número de elementos a equipe que criasse mais, ganharia um pequeno prêmio. Os grupos interagiram entre si, trocando os elementos que formaram e competindo para ver quem conseguiria mais compostos. No retorno para a sala, discuti com os alunos sobre reações que eles acharam interessantes no jogo e fiz algumas analogias com reações químicas laboratoriais. Figura 1: interface do jogo online Little Alchemy Após o jogo, fiz uma pequena revisão do conteúdo das reações químicas com a turma síntese, decomposição, simples troca e dupla troca -, pois o professor Fernando já havia explicado essa matéria. Como não tiveram dúvidas, uma conversa sobre vestibular começou. Aproveitei que tinham perguntas sobre esse assunto e expliquei como eram a primeira e segunda fase da UFPR, como poderiam estudar e a diferença dessa prova para o ENEM. Na terceira aparição enquanto professora da turma, li um texto sobre o reagente Luminol (um dos mais famosos para a identificação de sangue), a turma colaborou lendo junto comigo. Em seguida, revisei o conteúdo de combustão e fiz três exercícios de vestibulares com os alunos (dois objetivos UFRJ e ITA e um discursivo do ITA), deixando que eles tentassem resolver sozinhos e depois corrigindo e explicando.
5 Por fim chegou o momento mais esperado pelos alunos: a ida ao laboratório. Contei com a ajuda do professor Fernando e de um colega do PIBID (que aplicará seu projeto na mesma escola). Enquanto preparava o reagente, esse colega fez o experimento do sangue do diabo uma mistura de fenolftaleína, amoníaco e álcool etílico e o demostrou para a turma. Para o reagente do meu experimento (chamado de Kastle-Mayer), precisei de zinco em pó, hidróxido de sódio, água oxigenada, álcool etílico, água, fenolftaleína, chapa de aquecimento e um pedaço de carne contendo sangue. Após prepara-lo, um pouco do sangue da carne foi despejado no béquer com a solução e a reação foi mostrada para os alunos pois na presença de sangue, mais precisamente a hemoglobina, a solução torna-se rosa. Essa foi, de longe, a atividade com maior participação e interesse da turma. Durante as aulas, não houve problemas de comportamento e a própria sala pedia silêncio caso houvesse conversa. DADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS A unidade didática foi bem sucedida, considerando o interesse dos alunos e a aprendizagem do conteúdo. Basicamente, três dados foram extraídos da aplicação: rendimento dos exercícios, interesse na unidade didática e interesse por atividade realizada. Gráfico 1: Rendimento aplicados dos exercícios
6 O alto rendimento na primeira questão é explicado pelo nível da questão ser bem simples e parecida com as que foram vistas em livros e em sala com o professor Fernando. Já na segunda questão, o rendimento caiu; um dos motivos para a queda foi o aumento na dificuldade de resolução, pois esta não trazia a equação química escrita, devendo ser deduzida pelos alunos situação comum no Ensino Médio: os alunos tem problemas para lerem os nomes dos compostos e os associarem com a fórmula correspondente. Enfim, na terceira questão não houve acerto algum; isso se deve ao fato da questão ser discursiva (do ITA, diga-se de passagem) e com um nível alto de conhecimento. Após a resolução, as dúvidas foram tiradas e a matéria compreendida. Gráfico 2: Participação durante a unidade didática, num todo Agora, considerando a participação da classe durante toda a unidade didática, observa-se pouca indiferença, mas muito interesse mediano, ou seja, os alunos prestavam atenção na atividade, mas distraíam-se facilmente. Foram poucos os que participaram efetivamente de todas as atividades. Essa observação foi simples de ser feita devido ao número de alunos da sala: apenas 15. Durante as cinco aulas, poucas foram as vezes em que precisei aumentar a voz para pedir silêncio ou não tive colaboração da sala. Por fim, estabeleci uma média de atenção e interesse por atividade realizada com a turma, obtendo, no geral, médias boas e chegando à conclusão de que as atividades que mais tiveram participação foram aquelas que saíram do comum
7 (quadro-negro e explicação formal). Quanto mais precisavam falar e interagir uns com os outros, melhor o rendimento da atividade. Gráfico 3: Interesse por atividade Conclui-se, portanto, que a unidade didática foi aplicada com sucesso, tanto que os alunos pediram mais aulas. Esse é um dos indícios de que ela poderá ser aplicada novamente (claro, fazendo alguns ajustes e melhorias) e que o tema realmente interessa aos alunos, de modo geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FARIAS, R.F., Introdução à Química Forense. Editora Átomo, FILHO, C.R.D. e ANTEDOMENICO, E., A Perícia Criminal e a Interdisciplinaridade no Ensino de Ciências Naturais. Química Nova na Escola, v. 32, p 67-72, 2010, disponível em < OLIVEIRA, M.F., Química Forense: A Utilização da Química na Pesquisa de Vestígios de Crimes. Química Nova na Escola, v. 24, p , 2006, disponível em < CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DO CEARÁ. Química Forense. Disponível em < Acesso em: 18 maio MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências Naturais, Matemática e Suas Tecnologias. Disponível em <
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