REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA SAÚDE DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA. Situação da epidemia de Cólera em Moçambique em 2009

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1 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA SAÚDE DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA Situação da epidemia de Cólera em Moçambique em 2009 Maputo, Janeiro de 2010

2 I. Introdução Tradicionalmente, a epidemia de cólera afectava os principais centros urbanos do país (cidades de Maputo, Beira, Nampula e Quelimane), sendo de curta duração, mas de grande magnitude. Na última década, as epidemias passaram a caracterizar-se por uma maior dispersão (atingindo todas as províncias, incluindo também as zonas rurais), com uma menor magnitude, mas de longa duração. Devido a estas novas características, o perfil epidemiológico da doença passou de doença epidémica para doença endémica, com o ocorrência de casos durante todo o ano. Esta nova condição, deve-se à deterioração progressiva das condições de saneamento do meio, que têm principais factores: (i) o deficiente abastecimento de água em quantidade e qualidade à população; conspurcação dos poços; (ii) venda de produtos alimentares desprotegidos e em locais impróprios; (iii) a prática de fecalismo a céu aberto; (iv) a escassez de latrinas e a não utilização correcta das existêntes, associada à existência de tabus relativos a sua utilização. Outros aspectos, como a falta de manutenção das infraestruturas existentes, nomeadamente, a degradação progressiva da rede de esgotos, a reduzida capacidade dos municipios na remoção e tratamento dos resíduos sólidos e reduzida consciencialização dos munícipes na gestão dos resíduos sólidos domésticos; o baixo nível económico da população, a urbanização desordenada e a densidade populacional elevada nas zonas urbanas e periurbanas; as calamidades naturais contribuem grandemente para a endemicidade da cólera que têm assolado o país nos últimos anos. II. Casos de cólera notificados em 2009 No ano 2009, todas as províncias do país foram afectadas pela epidemia de cólera (Figura 1), tendo sido notificados através do Sistema de Vigilância Epidemiológica para epidemias, um total de casos, 156 óbitos e uma taxa de letalidade de 0,8%. Figura 1: Situação da cólera em 2009 Fonte: Departamento de Epidemiologia 2

3 As Províncias que notificaram mais casos foram a Zambézia (24,7%), Cabo Delgado (20,6%), Nampula (18,6%) e Manica (10,4%). No que concerne à taxa de letalidade (Tabela 1), Inhambane, Maputo, Niassa, Cabo Delgado e Tete, esta foi superior à esperada (1%), pressupondo uma fraca preparação para resposta por parte destas Províncias. Para tal, aspectos como a educação para a saúde sobre a doença e a sensibilização da população de modo para evitar a procura tardia dos cuidados de saúde devem ser reforçados. Tabela 1: Comparação de casos e óbitos registados por províncias em 2008 e Evol. Casos PROVÍNCIAS Casos Óbitos T. Letal Casos Óbitos T. Letal 2008/2009 CIDADE DE MAPUTO ,6% ,5% 23,6% PROVÍNCIA DE MAPUTO ,6% ,0% -81,8% GAZA ,3% ,0% -84,8% INHAMBANE ,4% ,8% -57,5% SOFALA ,0% ,2% 41,4% MANICA ,2% ,3% 127,5% TETE ,7% ,1% -6,0% ZAMBÉZIA ,1% ,7% 553,1% NAMPULA ,3% ,6% -10,9% CABO DELGADO ,3% ,2% 965,9% NIASSA ,0% ,9% -21,5% TOTAL ,3% ,8% 61,2% Fonte: Departamento de Epidemiologia Comparativamente ao ano 2008, verificou-se um aumento de 61% dos casos em 2009 (total cumulativo de casos contra em 2008). Em relação aos óbitos verificou-se uma ligeira redução (0,6%). O número de distritos que notificaram casos de cólera aumentou em 37.5%, ou seja 66 distritos notificaram casos em 2009 contra 48 em 2008 (Figura 2). Esta situação espelha a progressiva deterioração das condições de saneamento do meio, particularmente, o deficiente abastecimento de água em quantidade e qualidade, à população e a prática de fecalismo a céu aberto. Figura 2: Mapeamento dos distritos afectados em 2008/2009 Distritos afectados por cólera 2008 Distritos afectados por cólera Distritos afectados em Distritos afectados em 2009 Fonte: Departamento de Epidemiologia 3

4 2.1. Análise comparativa da situação da cólera por província (tabela 1 e figura 2 em anexo) Em seguida é apresentado um breve resumo sobre o número total cumulativo de casos e óbitos de cólera por Província, notificados em Mapeamento dos distritos afectados pela cólera em 2009 Cidade de Maputo Em 2009, foram notificados casos e 7 óbitos (taxa de letalidade de 0,5%) contra casos e 6 óbitos em O número de casos registados em 2009 corresponde a um aumento em 23,6%. A Cidade de Maputo não regista casos desde 31 de Março de Província de Maputo Em 2009, foram notificados 147 casos e 3 óbitos (taxa de letalidade de 2%) contra 806 casos e 13 óbitos em O número de casos registados em 2009 corresponde a uma redução de 82%. Os Distritos que registaram mais casos (ordem decrescente) foram os da Matola, Namaacha, Manhiça, Moamba e Matutuine. A Província encontra-se livre da epidemia desde 4 de Abril de Província de Gaza Em 2009, foram notificados 128 casos sem registo de óbito, contra 842 casos e 19 óbitos em 2008, o que equivale a uma redução de casos em 85%. O Distrito afectado foi o de Chibuto e não regista casos desde 2 de Abril de

5 Província de Inhambane Em 2009, foram notificados 37 casos e 4 óbitos na Cidade de Inhambane e Distrito de Zavala (taxa de letalidade de 10,8%) contra 87 casos e 3 óbitos em O número de casos registados em 2009 corresponde a uma redução de 57,5%. A Província está livre da doença desde 3 de Março de Província de Sofala Em 2009, foram notificados um total de casos e 3 óbitos (taxa de letalidade de 0,2%) registados nos Distritos de Beira, Marromeu, Nhamatanda, Chibabava e Búzi, contra casos sem óbitos em Em 2009 verificou-se um aumento de casos em 41%. Actualmente a província encontra-se a registar casos de cólera na Cidade da Beira e Nhamatanda. O Distrito de Chibabava embora já não notifique casos à mais de 30 dias ainda permanece sobre vigilância epidemiológica. Província de Manica Foram notificados no ano 2009 um total de casos, 6 óbitos (taxa de letalidade de 0,3%), contra 910 casos e 11 óbitos registados em Comparativamente ao ano 2008 verificou-se um aumento de casos acima de 100%. Com a excepção de Guro todos os distritos registaram casos da doença. A província encontra-se livre de epidemia desde 23 de Abril de

6 Província de Tete Em 2009, foram notificados um total de casos, 14 óbitos (taxa de letalidade de 1,3%), contra casos e 24 óbitos em Em relação ao ano 2008 registou-se uma redução de casos em 6%. Os distritos afectados foram os de Tete e Moatize. A província não regista casos desde 14 de Abril de Província da Zambézia Esta foi a Província mais afectada com um total de casos, afectando em ordem decrescente os Distritos de Quelimane, Mocuba, Morrumbala, Chinde, Maganja da Costa, Inhassunge, Namacurra, Nicoadala, Mopeia, Alto Molocué, Gurué e Gilé. O número total de óbitos notificado na província foi de 33 óbitos, perfazendo um taxa de letalidade de 0,7%. Comparativamente ao ano 2008 foram registados 750 casos e 8 óbitos tendo se verificado um aumento de casos acima de 100%. Actualmente, a província encontra-se a registar casos da doença no distrito de Gurué. Província de Nampula Em 2009, a Província notificou casos, e 23 óbitos (taxa de letalidade de 0,6%) contra casos e 54 óbitos registados em 2008 o que corresponde a redução de casos em 11%. Os distritos afectados foram os de Nampula, Angoche, Eráti, Monapo, Meconta, Malema, Mecubúri, Mongincual, Muecate, Murrupula e Nacarrôa. A província não regista casos da doença desde 12 de Maio de

7 Província de Cabo Delgado Em 2009, foram notificados um total de casos, 50 óbitos (taxa de letalidade de 1,2%), contra 384 casos e 1 óbito em Em relação ao ano 2008 registou-se um aumento acima de 100% dos casos. Os distritos que registaram casos foram os de Chiúre, Montepuez, Pemba, Mocimboa da Praia, Namuno, Muidumbe, Mecúfi, Palma, Macomia e Ancuabe. A província registou casos ao longo de todo o ano e actualmente encontra-se a notificar casos nos distritos de Montepuez, Namuno e Cidade de Pemba. Província de Niassa Em 2009, foram notificados 700 casos e 13 óbitos (taxa de letalidade de 1,9%) contra 892 e 18 óbitos o que equivale a uma redução de 21%. Os casos foram registados nos Distritos de Cuamba, Lichinga, Mandimba e Mecanhelas. Actualmente, a província encontra-se a registar casos da doença no distrito de Cuamba. III. Recomendações Para a redução do impacto da morbi-mortalidade causado pela cólera na população, foi desenvolvido o Plano Multisectorial de Combate à Cólera e Outras Diarreias Agudas ( ). A sua implementação ao nível dos diferentes sectores envolvidos nomeadamente, Educação, Saúde, Obras Públicas e Habitação, Ambiente, Agricultura, Justiça, Defesa, Interior, Mulher e Acção Social, a todos os níveis, bem como, dos Municípios e Governos Provinciais e Distritais será um marco importante na luta contra estes de saúde pública do país. 7

8 As principais actividades propostas para a prevenção e controlo da epidemia encontram-se descritas abaixo. Actividades de prevenção Tipo de custo Responsabilidade Educação sanitária da população sobre as medidas de higiene individual (lavagem das mão) e colectiva, gestão de lixo doméstico, construção e uso correcto de latrinas, protecção e manuseamento correcto dos alimentos. Baixo Educação, Interior, Defesa, Justiça, Municípios, Saúde, Comunidade, Educação, Saúde, Ambiente, Agricultura, Mulher e Acção Social, sociedade civil Construção de latrinas Controlo da qualidade de água e alimentos Comunidade, Municípios, Governos locais, Ministério das Obras Públicas Ministério da Saúde Construção/manutenção de poços e furos de água Baixo a moderado Comunidade, Ministério das Obras Pública, Governos locais Construção de aterros sanitários Baixo/moderado a elevado Comunidade, Municípios, Governos locais, Ministério das Obras Públicas e MICOA Abastecimento de água potável à população Moderado a elevado Ministério das Obras Públicas Ampliação e manutenção do sistema de recolha de residuos sólidos Ampliação e manutenção dos sistemas de drenagem Elevado Municípios, Governos locais Municípios, Governos locais, Ministério das Obras Públicas Actividades de Controlo Diagnóstico e tratamento dos doentes Moderado e elevado Ministério da Saúde 8